06 agosto 2006

DIA DE MÃE



Logo na noite que antecede o dia das mães, meu carro dá o prego. Lá estão na mala, objetos bem acondicionados em embalagens coloridas com laços de fita, que não chegarão às mãos de minha mãe na data escolhida para ela.

Nessa manhã de domingo, dia das mães, a casa, aqui, toda em desalinho, tudo fora do lugar, provocado pela balbúrdia da véspera, mas por incrível que pareça existe silêncio, só quebrado pelo tilintar de pratos sendo lavados na pia da cozinha, e pelo cantar dos pardais em bando pelo quintal. È neste clima que me arvoro a escrever sobre MÃE. Como diz o adágio popular: todo mal na vida traz um bem, o incidente do carro me inspirou este ensaio.

Dia das mães, em conseqüência, também é o dia dos filhos. Dia em que os filhos perguntam para si mesmos: Pode uma mãe esquecer-se de um filho?

Ainda bem, que este dia não é comemorado na véspera. Dia este, em que reina o corre-corre louco das pessoas, a se baterem umas nas outras, suadas e angustiadas na dúvida sobre o que a mãe vai TER. Engarrafamentos fenomenais, até batidas de automóveis, tudo isto acompanhado por um barulho ensurdecedor dos alto falantes a misturar aquelas emotivas e velhas canções aos apelos comerciais insistentes e repetitivos, onde o que mais se ouve é: demonstre o seu amor para com sua mãe, e leve este lindo objeto com preço especial para este dia.

A mãe já tão cansada pelo peso da idade, não merecia uma véspera tão barulhenta e artificial como esta, em que os filhos já sabem o que as mães vão TER, após um sufocante entra e sai das lojas. A referência feita aqui ao “frenesi” das compras, tem o intuito de levar a uma reflexão mais profunda, pois é no mundo do TER, no mundo dos objetos, que os filhos estão envolvidos, quando, na verdade, ela, a mãe, não diz, mas lá no seu íntimo, ela gostaria mais de estar no mundo do SER. É que tudo, que é de objeto presenteado, será possivelmente guardado em um guarda roupa, um armário, ou em uma gaveta, não aliviando a carência de gratidão que a acompanhará até o próximo “dia das mães”.

Dia das mães é todo dia, porque não há um dia sequer que ela não se lembre, e que não peça a Deus por seu filho. Ofereçam a ela essas duas opções, e vejam qual será a sua escolha: Um caro presente, ou um ALÔ, ao telefone, perguntando como ela está! Mas, é o telefone, este valoroso instrumento, a que ela recorre para poder ouvir o seu filho, que surpreso responde à distância: Diga mãe, o que a Senhora quer? Ao que ela responde na mais sublime frase de Mãe ao telefone: “Queria ouvir só a tua voz, estava com tanta saudade”.

( Ensaio por Levi. B. Santos, em 13 de Maio de 2006)



Um comentário:

Anônimo disse...

Esse Ensaio foi 10!!
Realista e cômico!!! A sua cara rsrsrs
Sinto-me honrada por tê-lo lido, de primeira mão, no próprio Dia das Mães. Em casa da matriarca, sua sogra: Percides. Em volta da mesa, cercada de mães. Foi uma experiência excelente!!!
CRISTIANE