10 agosto 2007

A IGREJINHA DE PALHA




Juan estava radiante. Era o mês de agosto de 2039, no qual, juntamente com o seu pai Pablo, comemoraria o trigésimo aniversário do majestoso templo de Mineros, na Bolívia.

Fazia um frio tremendo, como era comum naquela época do ano, e Juan todo encapotado da cabeça aos pés, reservara aquele dia para dar uma olhada nos arquivos antigos do computador de seu pai, um aparelho de última geração, que era acionado pela simples voz humana.

Diante da potente máquina digital Juan colocou os seus óculos tridimensionais, sentou-se no banquinho fofo e falou pausadamente:

─Arquivos de agosto de 2007! Assunto: Assembléia de Deus Boliviana!

Em milésimos de segundo apareceu na imensa tela de cristal líquido, a foto digital de uma igrejinha em forma de palhoça, em três dimensões.

Fitou demoradamente a foto, até os olhos ficarem umedecidos de lágrimas. A emoção que estava sentindo naquela hora era indescritível. Fora buscar no porão da memória, lembranças dos seus oito anos de idade. Tinha sido naquela igrejinha de palha que ele tinha ouvido pela primeira vez, falar de Um Deus, que tinha um filho chamado Jesus. E que este filho, tinha vindo trazer a verdadeira “luz” para um mundo de trevas tenebrosas.

Juan continuava a olhar detidamente a foto. A igrejinha tinha no lugar da calçada uma cerca de arame entrançado, com plantas trepadeiras fechando o espaço entre os fios metálicos, e um portão de caibo de madeira roliça, ao lado.

Recordava que no local do púlpito estavam três pessoas, que apesar de não serem bolivianas, não lhe eram estranhas: Havia um senhor de olhar penetrante, cabelos bem penteados, portando óculos, com a esposa impecavelmente vestida e o filho ao lado com um olhar meio vago, como um passarinho fora do ninho.

Agora sim, subindo mais a foto na tela do computador, Juan podia ler o que estava escrito na barra inferior da foto: “Agosto de 2007 - visita de João Camilo, Leni Bronzeado e seu filho J.Neto, missionários Paraibanos do Brasil ─ responsáveis pela primeira publicação da foto digital, via Internet, da pioneira igrejinha de Mineros".

Juan lembrava-se do que seu pai dissera naquela ocasião: “graças aos nobres missionários, hoje, todo mundo está tomando conhecimento, e vendo o nosso humilde templo, via satélite”.

Juan olhava a foto com orgulho, dizendo para si mesmo: "bravos missionários, que com enormes sacrifícios, deixaram o aconchego do seu lar no ano de 2007, para em um lugar tão inóspito e distante, fundar a Editora Epístola, lançando as bases da atual: Casa Publicadora da Ass. de Deus Boliviana".

A Editora estabelecida em Santa Cruz de la Sierra, hoje, em 2039, é responsável pela publicação de um acervo cultural-religioso-filosófico que atinge além fronteira. Basta dizer que as lições bíblicas da Escola Dominical estão sendo regularmente distribuídas em todos os paises latino-americanos de língua espanhola. A Companhia editorial que consta de doze departamentos e noventa funcionários é dirigida pelo fervoroso homem de Deus, Hernandes Morales, neto do ex-presidente Evo Morales

Antes de desligar o computador, Juan, com a saudade a lhe apertar o peito, decidiu prestar uma singela homenagem à “igrejinha de palha” que lhe servira de “berço espiritual”. Rabiscou, e não gostando, deletou por três vezes uma pequena quadra, e por fim deixou na memória do computador de seu pai o seguinte verso:


.............................Tenho saudades de ti “Igrejinha”.

.............................És a minha raiz, fincada no chão.

.............................Tu me abrigaste como criancinha,

............................. Hei de guardar-te no meu coração.


..............................( Mineros, 10 de agosto de 2039)

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