25 setembro 2007

CRISTIANISMO - OU JUDAÍSMO DISFARÇADO?




Uma reflexão sobre o nosso valor máximo, que é a Religião, hoje, se faz necessária, pois vivemos em um mundo de constantes transformações e mutações nos mais diversos campos: da cultura, da ciência, da filosofia e da lingüística, entre outros. Somos um País, na sua grande maioria, “cristão”, divididos entre irmãos católicos e protestantes, que à maneira de duas tribos guerreiras e inimigas, estão a lutar, não com armas físicas, como antigamente se fazia, mas através de uma linguagem rebuscada e revestida de intolerância, que, às vezes, descamba para o emocionalmente agressivo.

Ora, sabemos de antemão, que não há na subjetividade de nossos pensamentos, uma linguagem capaz de definir o Divino. Nenhum homem ou comunidade poderá ter êxito ao pretender encerrar o que é “transcendente” em ritos e dogmas, como afirma com muita propriedade o escritor e estudioso da história das religiões, Roger Garaudy: “Essa auto-suficiência de limitar Deus é a própria negação da transcendência”.

Só realizando uma autocrítica, sem parcialidade, é que vamos entender que o “cristianismo”, desde o primeiro século, sofreu influência de raízes fortes da cultura judaica, grega e romana. Foi assim, que ele pôde sobreviver até os nossos dias. Os Poderes Políticos infiltraram nos ensinamentos de Cristo, suas idéias e seus conceitos. Uma prova disso aconteceu no tempo do Imperador Constantino, quando a igreja cristã foi alçada a religião oficial do Império Romano, e que para isso, teve que ceder em pontos estratégicos de sua doutrina, em troca do amparo legal para seus cultos. A partir daí, a religião e a política passaram a andar juntas. Esqueceram das palavras do Mestre: “Daí a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus”.

O Judaísmo, apesar de hoje ser professado por um pequeno número de adeptos ─, cerca de três por cento do número de cristãos ─ conseguiu como um fermento, levedar toda a massa religiosa ocidental. De modo que não temos hoje um cristianismo autêntico, e sim um simulacro. A lei mosaica e todo o ritual vétero-testamentário comandam o que se prega hoje, como Evangelho de Cristo. Fala-se então de uma tradição “judaico-cristã”. Para o professor de Humanidades e Ciências da religião da Universidade de Yale “Harold Bloom” (descendente de judeu), esta tradição é uma falácia. No livro: “A mais bela história de Deus”, Hélène Monsacré e Jean Schlegel mencionam a ruptura em relação ao judaísmo provocada pela mensagem, exemplos e comportamento de Jesus, deixando no ar as seguintes perguntas: “Por que Jesus rompeu com sua tradição e seu povo?” “Foi Ele, de fato, quem se afastou do judaísmo ou os primeiros cristãos estão na origem dessa ruptura?”.

Judaísmo e Cristianismo, na verdade, são duas instâncias irreconciliáveis, como bem demonstra o caso De “Saulo de Tarso”, que no zelo pela Lei de Deus, perseguia o próprio Cristo. A primeira vista, Saulo se encontrava diante de um verdadeiro paradoxo, pois no afã de defender o Judaísmo (religião do Pai), perseguia os adeptos do cristianismo (religião do Filho)

“Marc-Alain Ouaknin, rabino, filósofo e professor universitário, afirma que o essencial está na revelação da lei. A ética dos direitos do homem nasceu no Sinai. Desse ponto de vista, o cristianismo nada inventou”. Para ele, no cristianismo, Deus se fez homem. No Judaísmo, Ele se fez texto (Torá).

Ora, se não existe uma cultura “judaico-cristã”, o que há então de religião no mundo ocidental? A resposta será fatalmente esta: o que existe é um judaísmo dúbio revestido com uma capa ilusória, denominada: cristianismo, tendo em vista, que se continua a usar a lei mosaica como instrumento de intolerância e de julgamento, entre os inúmeros “seguidores de Cristo”.

Judaísmo e Cristianismo são antagônicos, desde o tempo do apóstolo Paulo, passando pelas cruzadas, quando se verificaram os primeiros massacres de judeus na Alemanha(1096), em Israel(1099) e na Inglaterra(1188). Segundo Renato Mezan, psicanalista e estudioso da História Judaica, "aqueles acontecimentos fizeram parte de uma barbárie indescritível, que chocou os espíritos civilizados da época, e que tinha como pretexto, recuperar os lugares sagrados, onde se desenrolara a História Sagrada. Foi nessa época que os judeus começaram a ser expulsos dos territórios cristãos, criando-se a figura do ‘judeu errante’. Como expiação pelo assassinato de Cristo, o judeu devia vaguear sem repouso, pelos quatro cantos da terra, até a nova vinda de Cristo.”

Muitos adeptos do cristianismo, ainda hoje, não conseguem se desvincular da influência judaica. Para os seus, prega o amor e perdão; para os de fora prega o jugo da Lei. Assimilaram com o passar do tempo, grande parte da essência da lei mosaica, que sob a forma de uma espada, ainda hoje é usada para excluir aquele que foge de sua doutrina. Em contrapartida, o evangelho de São João, por ser duro contra os judeus, é tido como anátema pelo Judaísmo ortodoxo. Os Judeus de uma maneira geral, não suportam o que está escrito em João 1.17: “Pois a lei foi dada por intermédio de Moisés, mas a graça e a verdade vieram por meio de Jesus Cristo”.

Maria Rita Kehl, escritora e psicanalista, no seu livro "Sobre Ética e Psicanálise" faz uma abordagem interessante sobre a perda da tradição religiosa, afirmando: “a Reforma Protestante criou uma nova relação dos homens com seus semelhantes. Ela veio individualizar a relação dos homens com a palavra de Deus, isto é, com a verdade, tornando-os mais responsáveis pela salvação da alma, ao propor o fim da tutela das autoridades eclesiásticas sobre as manifestações de fé. A quebra do poder absoluto da igreja Católica como detentora da verdade do Pai, possibilitou a emergência de uma multiplicidade de saberes, forçando os homens a uma interpretação pessoal dos textos sagrados A partir daí, o homem é quem decide”. “Onde existe a escolha, a verdade já não é mais UMA”.

Com a emergência do individualismo cristão, o homem ficou mais livre para formar grupos com experiências transcendentais as mais diversas, que numa estranha contradição tornou-se um antivalor, pois a convivência com o diferente trouxe mais problema que solução. A modernidade que veio com a Reforma, decretou a falência das autoridades encarregadas de dizer o que era certo e o que era errado, emancipando o homem para um livre pensar. Esta liberdade trouxe consigo o seu preço: uma infinidade de cultos ao “sagrado” baseado na exclusão do outro semelhante. Estava aberta a porta para os mais mesquinhos sentimentos, que estavam antes recalcados ou reprimidos no inconsciente humano. O maniqueísmo: “do bem está conosco, e o mal está com os outros”, grassou no meio cristão. A partir daí, o cristianismo dá uma grande derrocada, usando os instrumentos da Lei de Moisés, para se impor aos demais. A vingança e o ressentimento passaram a ser a tônica. Amaldiçoar voltou a ser uma palavra muito usada. Nunca se leu tanto o livro de Êxodo, para citar, como exemplo. Não há nada mais atraente para o ser humano, que o desejo de juízo sobre o outro.

A Igreja Católica, a grande prostituta (Babilônia), como passou a ser denominada pelos Protestantes, fez de tudo, para não perder o seu poderio, inclusive, usando dos mesmos meios cruéis contra os insurgentes.

Um dos fatores de maior discórdia entre católicos e protestantes, continua a ser a prática de adoração dos ídolos (imagens de escultura). Para corroborar, esta assertiva, os protestantes recorrem frequentemente a um dos pilares básicos do Judaísmo, citando Êxodo 20.4: “Não farás para ti imagem de escultura, nem semelhança alguma do que há em cima dos céus, nem embaixo na terra, nem nas águas debaixo da terra.” Foi justamente este preceito, que fez com que os judeus não se destacassem na arte da pintura e da escultura. Já os cristãos (da Reforma), não se sentem constrangidos em ornamentar os seus templos com imagens da natureza, como: rios, mares, peixes, árvores, sol, estrelas e anjos, etc. Dessa forma, numa espécie de maniqueísmo, obedecem só a primeira parte do versículo (Êxodo 20.4), esquecendo, que as outras representações imaginárias do restante do mandamento, são também proibitivas. Justificam-se, manobrando a Escritura a seu bel prazer.

Por falar em ídolos, direcionemo-nos para a cidade de Éfeso, berço do Filósofo Heráclito, que viveu quinhentos anos antes de Cristo. Foi lá que o apóstolo Paulo, ao contemplar a grande idolatria, dos Efésios, adoradores da grande deusa Diana, promoveu um dos seus grandes embates, contra este tipo de pecado. Interessante, é que Paulo numa lucidez espiritual incomum, ao se dirigir aos habitantes convertidos ao cristianismo, escreveu desta maneira: “Pois bem sabeis isto: Nenhum devasso, ou impuro, ou avarento, o qual é idólatra, tem herança no reino de Cristo”.( Efesios 5. 5). Paulo, coincidentemente, ou propositadamente, quis mostrar aos ex-idolatras, e agora cristãos de Éfeso, uma outra idolatria, quem sabe, mais perigosa, que nasce no coração do homem. Admoestou-os, pois este tipo de ídolo, por ser sutil, se instala sorrateiramente na mente contaminando os pensamentos. Estes ídolos sim, podem ser comparados a traves nos olhos. Sem que se tome consciência do ídolo interno, se parte para tirar os ciscos (ídolos visíveis) dos olhos dos outros. São estes lampejos de espiritualidade, que nos fazem admirar a sabedoria do apóstolo dos gentios.

O Ph.D em teologia, Russell Norman Champlin, em sua exaustiva e robusta obra de quase cinco mil páginas (“O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo”), nos dá uma elucidação, com base no grego, à respeito da palavra “idólatra” usada por Paulo naquela ocasião: “No Antigo testamento havia alusão direta à adoração idólatra. Quando no Judaísmo posterior, cessou a idolatria aberta, os Rabinos passaram a interpretar esse conceito de forma mais ampla, fazendo-o referir-se a pecados arraigados, sobretudo a cobiça. E tal interpretação é própria, visto que tais pecados, mormente o da cobiça, se entronizam no coração como se fossem ídolos, sempre indicando alguma modalidade de egoísmo, de tal modo, que o próprio eu, é o deus adorado.”

Uma grande corrente de judeus ortodoxos aprisionou Deus em uma instituição, que para vivenciá-Lo, se fazia necessário adotar uma série de rituais, tradições e sacrifícios. Esqueceram que a Sua palavra se tornou errante, exorbitando o espaço exíguo de suas mentes petrificadas. Os horizontes curtos de sua visão, os deixaram sem entender o sentido de um Deus feito homem.

Na atualidade, o que vem causando sensação no meio religioso é a mensagem de certas correntes ditas “cristãs”, que à maneira de um disfarçado judaísmo, enveredaram pelo caminho perigoso da banalização dos símbolos bíblicos. As subdivisões institucionais religiosas que primam por esse filão, são tantas no intuito de abarcar o “sagrado”, que as pobres almas com sede de justiça, se sentem desorientadas, sem saber onde encontrar guarida, ouvindo de todos os lados, mensagens as mais estapafúrdias e inimagináveis, pelo rádio, jornais, televisão e carros de propaganda, que mais parecem a gritaria louca dos camelôs oferecendo os seus produtos, em meio ao tumulto das feiras.

O que se vê hoje, são profissionais da “fé” usando de mil artifícios, a fim de aumentar os seus rebanhos em progressão geométrica. Algumas almas aceitam as “verdades” apelativas, dirigidas a elas através de ameaças apocalípticas. Outras, à procura de alívio para as suas doenças, adquirem tudo que lhes vem às mãos, até sabonetes fabricados com gorduras derretidas de ovelhas de Israel, oferecidas publicamente pelos supostos guardiões de Deus. Areias do deserto da “terra santa” são comercializadas, a fim de ser espalhadas pelos cômodos das casas, para afastar maus fluidos. Frascos com águas do rio Jordão, para pingar entre as pálpebras, a fim de tirar a concupiscência dos olhos, entre outras cavilações, que em respeito aos de boa índole, aqui deixamos de mencionar. Executam, enfim, uma paródia ordinária, deturpando e abusando dos elementos fascinantes do judaísmo arcaico.

É em meio a esta banalização do “sagrado”, que nos vem à lembrança um Cristo indignado a expulsar os vendilhões do templo. Hoje, em analogia ao que ocorria no antigo templo, comercializam réplicas de símbolos judaicos, com supostos poderes de afastar espíritos imundos, à semelhança dos amuletos usados tradicionalmente no mundo pagão.

Este horrendo espetáculo teatral vem transformando o que resta do cristianismo primitivo, em uma mera comédia, que a cada representação, comprova a irreconciliabilidade da mensagem dos evangelhos com os “pressupostos” do Judaísmo ortodoxo.

Ante um mundo que fez da mensagem de Cristo o maior e mais caro espetáculo da terra, aqui fica um conselho de Paulo, em I Timóteo 6.11: “Mas tu, ó homem de Deus, foge destas coisas[...]”.


Ensaio por: Levi B. Santos
Guarabira, 25 de Setembro de 2007

19 setembro 2007

DESTRUIRAM AS NOSSAS "TORRES GÊMEAS"


Os EUA tiveram o seu 11 de setembro há seis anos. Nunca mais se apagará da memória de seu povo, aquele tão monstruoso e covarde atentado contra a DEMOCRACIA.

Nós brasileiros de todas as camadas sociais temos agora o nosso 12 de setembro, que também ficará na História do nosso País, como o dia em que conseguiram destruir o pilar básico (ética e decoro parlamentar), daquela que foi a nossa maior instituição política: o Senado Federal. A casa que deveria ser a maior trincheira na defesa de causas nobres, se dobrou ao insano desejo de locupletar-se através de espúrias tramas tão transparentemente expostas nos meios de comunicação, que provocaram comentários reprovativos até de ministros da alta Corte Federal.

Para quem ainda não sabe, aquelas duas conchas que embelezavam o prédio do Congresso Nacional tinha um significado todo especial. Pela simbologia do projeto do arquiteto Oscar Niemeyer aquelas duas cúpulas representavam o poder e a relação de contrapesos implícita no sistema bicameral. A cúpula convexa da Câmara, maior e aberta no alto, sugeriria que aquele plenário estava aberto direto às ideologias, tendências, anseios e paixões do povo. Já a cúpula côncava do Senado, menor e emborcada, retrataria um local propício para a reflexão, serenidade, ponderação, equilíbrio, onde poderiam ser valorizados o peso da experiência e o ônus da maturidade.

Porém, vejam o que aconteceu recentemente: fizeram da cúpula fechada do senado, um refúgio para se esconderem da vista do povo, a fim de tramarem sordidamente contra a própria República. Simplesmente, eles ratificaram a perda da credibilidade do poder público em todos os níveis, desmoralizando a sociedade brasileira. Os cidadãos, em sua grande maioria vivem eu um mundo de necessidade, que os deixam de certa forma anestesiados, sem ter as mínimas condições de exercer um julgamento racional. Os votos de 11 milhões de famílias que fazem o sucesso do “bolsa família” são usados como massa de manobra para fins eleitoreiros. Como mobilizar uma sociedade que é obrigada a ver com naturalidade este tipo de corporativismo insano, que nada tem de acompanhamento metodológico.

Se, grande parte da população não tem acesso a uma condigna educação, como poderá se submeter a debates sobre ética e valores morais na coisa pública? Como poderá angariar a capacidade de opinar e de escolher com liberdade?

Eles, os senadores ao assassinarem a ética e a moral, deixaram a sociedade órfã, sem poder reagir vigorosamente na cobrança dos governos por soluções drásticas e imediatas que pudessem extinguir esse estado imoral do “toma-lá-dá-cá” do favorecimento ilícito.

Hoje, quando um mar de putrefatos e vis procedimentos, invade a outrora respeitada instituição do senado, não podemos deixar de citar o trecho de um veemente discurso proferido em 1914, em plenário, pelo destemido senador da República Rui Barbosa, que passamos a reproduzi-lo neste triste momento de vergonha nacional:

“A falta de justiça, Srs. Senadores, é o grande mal de nossa terra, o mal dos males, a origem de todas as nossas infelicidades, a fonte de todo o nosso descrédito é a miséria suprema desta pobre nação”.
“A injustiça, Senhores, desanima o trabalho, a honestidade, o bem, cresta em flor o espírito dos moços, semeia no coração das gerações que vem nascendo a semente da podridão, habitua os homens a não acreditar senão na estrela, na fortuna, no acaso, na loteria da sorte, promove a desonestidade, promove a venalidade, promove a relaxação, insufla a cortesania, a baixeza, sob todas as suas formas”.
“De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver se agigantarem os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto.”



14 setembro 2007

INDENIZAÇÃO POR BÊNÇÃO NÃO RECEBIDA




Uma reportagem escrita no jornal “O GLOBO” do dia 11 de setembro do corrente ano, despertou muito a minha atenção, especialmente, por ter o fato inédito ocorrido no nosso “sublime” e obscuro mundo religioso. Como uma “querela” trágico-cômica protagonizada no âmbito da fé, foi parar na mesa de um Tribunal de Justiça?

Vamos aos fatos.

A manchete no topo de uma das páginas do primeiro caderno de O GLOBO, jornal Carioca de maior circulação no País, trazia a seguinte frase: “Justiça manda Igreja devolver dinheiro de fiel”. Logo a seguir vinha o relato pormenorizado em duas grandes colunas, das quais extraí o “miolo” ou essência desse inusitado “bolo” para uma apurada reflexão minha e do leitor(a).

Pasmem:

“A igreja Universal foi condenada a devolver doação de dois mil reais, corrigidos desde janeiro de 1999, feita por um motorista do interior de São Paulo. De acordo com a decisão do Tribunal de Justiça de São Paulo, o fiel foi convencido a fazer o que não queria, com a promessa de que sua situação financeira melhoraria se entregasse o que tinha à Igreja. O desembargador relator da ação na quarta Câmara de Direito Privado sentenciou que o aconselhamento acabou por induzir o apelante a sofrer algum tipo de influência, a praticar ato por ele efetivamente não desejado”.

“Anteriormente, em primeira instância o Juiz Carlos Eduardo Lora Franco da primeira vara de General Salgado-SP, não reconheceu o direito do motorista Luciano Rodrigo, de ter o seu dinheiro de volta, por entender que o Pastor não forçou a vítima a fazer a doação. Ele tinha vendido um Del Rei por dois mil e seiscentos reais, entregando dois mil ao dirigente da igreja”.

“No recurso feito à quarta vara, o motorista alegou que a suposta doação não tinha sido espontânea, no que recebeu o aval dos desembargadores da quarta vara. Um dos julgadores sustentou em suas justificações que, se a preocupação da igreja fosse ajudar de fato o fiel a começar uma nova vida, mais próspero, o mais indicado seria que devolvesse o mais rapidamente possível, o dinheiro do arrependido chofer”.

“Por meio de sua assessoria os dirigentes da igreja disseram que vão recorrer da decisão. Cabe recurso. Os assessores jurídicos da instituição estão providenciando as medidas necessárias”.

O leitor, agora é meu convidado para conjeturar sobre quem estará com a verdade: o motorista, ou a Instituição Religiosa?

Como entrar no universo subjetivo e imaginário das vítimas? É difícil. Missão quase impossível.

É doloroso aceitar que em todo esse imbróglio, o nome de Deus se encontre imiscuído como co-participante de uma vil “querela”, uma vez, que só Ele teria o poder de distribuir as benesses ou bênçãos frustradas.

Pergunto eu, caro leitor:

─ Se, na verdade houve falta de fé por parte do fiel, o negócio ou contrato realizado poderia, ou não, ser anulado?

Digamos que o reclamante estava com intenção de realizar um investimento material e nada recebeu de "bônus", não seria o caso de devolver-lhe o principal, isto é, os dois mil reais?

Por outro lado, promessa “divina” não tem tempo estipulado para se realizar. A igreja poderia muito bem valer-se do caso de Sara, esposa do patriarca Abraão, cujo filho da promessa só veio vinte e cinco anos após ter sido proferida a profecia, tendo mais um agravante: o pai dos Hebreus já contava com noventa anos. Olhando por esse ângulo a igreja poderia ganhar no recurso impetrado, pois o reclamante só teve a paciência de esperar por apenas oito anos (de 1999 à 2007).

Já em favor do motorista há um argumento muito forte: não se pode ter uma certeza absoluta de que o Deus da Universal realmente estava a par do negócio efetuado, uma vez que, para esta emblemática comprovação, teria de constar nos autos o depoimento do próprio Deus em pessoa. Além do mais, na sua decisão, o juiz como um bom cristão, fatalmente irá concluir que Deus é Espírito, e Espírito pela Lei não pode depor. O tempo como "senhor da razão", é quem vai dizer. Aguardemos.

De uma coisa eu tenho quase certeza: não seria aceita pelos veneráveis juízes, por ocasião do recurso, uma suposta palavra em nome de Deus, dita pelos pastores, que desta forma estariam se autofavorecendo. Como supostos “servos de Deus” estariam legalmente impedidos de apelar para o seu Senhor (parte interessada) .

Esse processo vai se tornar realmente uma pedreira para os magistrados.

Caso a assessoria jurídica da igreja seja derrotada no seu recurso impetrado, estará aberto um precedente muito perigoso, daí o seu interesse imenso em ganhar a causa. Já pensou: todo aquele que colaborar com o intuito de ser próspero em pouco tempo, e não for atendido, entrar com um processo contra a instituição religiosa a que pertence? Com certeza, a avalanche de processos dilapidaria paulatinamente o patrimônio da denominação religiosa.

Dentre os vários argumentos para a igreja livrar-se desta briga, existe um bastante genial, se alegaria que tudo funcionaria à maneira de uma loteria, como as da Caixa Econômica Federal. Os perdedores, isto é, os de má sorte, não tinham do que reclamar. Citaria-se por cima, o velho ditado popular: “quem não arrisca não petisca”.

Por outro lado, os advogados da igreja poderiam alegar que a contribuição se trataria de uma doação espontânea e não onerosa ─, negócio jurídico em que uma parte cede fração de seu patrimônio em espécie ou não, com liberalidade, sem estipular um benefício em favor do doador. No último caso, ao gemer os últimos estertores, a igreja poderia afirmar que se trataria de uma obrigação de “meio”, e não de “fim”, como a obrigação que o advogado tem de defender uma causa, sem, no entanto, garantir o êxito de determinado direito. Porém, o advogado do motorista poderia se sair muito bem contrapondo-se ao argumento dos defensores da igreja, alegaria que o seu constituinte teria feito com os pastores, um contrato verbal de troca da sua oferta por futuros benefícios, e, realçaria a sua controvérsia com a célebre frase de São Francisco de Assis: “é dando que se recebe”.

Quando coisas desta natureza chegam a acontecer em lugares que deveriam ser sagrados, realmente podemos afirmar como se costuma dizer no meio religioso: “chegamos ao fundo do poço”, na banalização do que deveria ser Divino. Nunca é demais lembrar um fato acontecido há dois mil anos: os evangelhos relatam com cores fortes, a maneira como Jesus entrou decididamente no templo, a fim de expulsar os que usavam o espaço sagrado para trocas comerciais em nome da fé.

Hoje, quando as negociatas em nome de Deus chegam de forma ignominiosa aos Tribunais, é tempo de se indignar e bradar as palavras de Cristo (Marcos 11, 17): “[...] a minha casa será chamada casa de oração para todas as nações! Mas vós a fizestes covil de ladrões”.

Crônica por: Levi B. Santos

Guarabira, 14 de setembro de 2007