09 janeiro 2009

AS DUAS IMAGENS: A DA TELINHA E A NOSSA




Já duram catorze dias os bombardeios de imagens que adentram os nossos lares, transmitidas pelas nossas telinhas de TV. As cenas de crianças e adultos despedaçados em meio a prédios destruídos nos deixam comovidos e estupefatos. Em um recente artigo, Reinaldo de Azevedo fala que os cadáveres de crianças palestinas mostrados pela mídia televisiva têm um efeito pior do quem as bombas jogadas por Israel, por estimular mais ainda o anti-semitismo em todo o mundo.


A cada dia que se passa, as manchetes dos maiores jornais do país estampam a gradativa soma de mortos no conflito Palestino- Israelense. Diz a Folha de São Paulo de 07/01/2009: “Já são mais de setecentos os mortos do lado Palestino”.


Vejam que paradoxo:
A grande tragédia que está acontecendo no Sudão, não nos causa nenhum transtorno, justamente pela escassez de imagens transmitidas da carnificina naquele recanto do mundo. “Uma imagem vale mais do que mil palavras”. Sendo assim, ficamos de olhos fechados para uma mortandade trezentas vezes maior do que a do Oriente médio, por falta de cobertura. Os senhores governantes muçulmanos da guerra do Sudão, já contam 300 mil mortos entre cristãos e animistas, afora os três milhões de refugiados que se deslocaram para Darfour. Diante dessa gigantesca guerra civil no Sudão, o conflito da palestina parece ser coisa secundária.


Lógico, que não interessa a mídia apresentar as imagens dos nossos paupérrimos irmãos africanos sendo dizimados de forma selvagem. Com certeza, as guerras tribais desse povo não elevam o Ibope. Lá não há jogo político de grandes proporções, nem riquezas econômicas que despertem interesses nos paises ricos. Enfim, a África não é a vitrine do mundo. Afinal, as vidas dos africanos são a nossa nódoa maior, e como tal foi colocada lá no porão do esquecimento, como uma criança faz com um brinquedo velho e imprestável.


Para nós, que estamos de longe, a imagem da vitrine do ódio e da violência que nos é transmitida, parece ser só coisa que se passa lá no Oriente médio. Entretanto devemos abrir os olhos para uma outra imagem: a imagem interna, que está intrínseca no nosso ser, e que nos ameaça através de um mecanismo patológico ─ “o da projeção”. Por mais estranho que pareça, o inimigo surge como personificação de todo o mal, porque todo o mal que sinto em mim se projeta nele. Já que o mal foi transferido para o outro lado, eu me considero a personificação de todo o bem. O resultado é a indignação e o ódio contra o inimigo, e a minha autoglorificação sem crítica. Esse pensamento individual quando se torna uma paixão coletiva, desemboca na destruição mortal das guerras.


Levi Bronzeado dos Santos
Guarabira, 09 de janeiro de 2009

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