29 maio 2009

O Estandarte Gospel - VAI PASSAR...





A música Vai Passar do nosso grande ourives do palavreado, poeta e escritor Chico Buarque de Hollanda, foi composta em 1983 ─ época em que a Ditadura Militar dava seus últimos estertores. A chegada de um tempo novo, de esperança de que a página infeliz de nossa história fosse virada, inspirou essa canção, que se transformou no famoso hino das “Diretas Já!”.


Como cristão, ainda esperançoso de que um bloco carnavalesco denominado “neo-pentecostalismo” explorado de maneira infame pela mídia gospel, finalmente PASSE de uma vez por todas, resolvi fazer uma paródia, usando a letra do samba “VAI PASSAR”. Fiz simples alterações, para no mesmo espírito da letra original, enquadrar a “ópera bufa” que vem sendo executada dentro de “estranhas catedrais”. A paródia, por obedecer a mesma métrica do samba do velho Chico, pode ser cantada no mesmo ritmo e dentro da mesma harmonia.


Um lembrete ao caro leitor: esse samba, para ser executado com mais emoção, é bom que inclua além de sua voz, o som de um tamborim e de um violão.


VAMOS A PARÓDIA :


Vai passar nesse Brasil uma igreja popular
Cada cristão verdadeiro desse velho país essa noite vai se arrepiar
Ao lembrar que aqui passaram crentes imortais,
Que aqui sangraram pelos nossos pés,
Que aqui pregaram nossos ancestrais.
Mudaram do evangelho toda a sua história,
E sua Palavra transformada em escória
Por
muitos jovens santarrões.
Dormia a nossa Igreja Mãe tão distraída,
Sem ver que estava sendo corrompida
Por pregadores fanfarrões.
Seus filhos caminham cegos e dizem que são crentes,
Com amuletos feito penitentes
Dentro de estranhas catedrais.
E no arraial tinham direito a uma histeria fugaz,
Uma ofegante epidemia que nós chamamos reteté,
o reteté, o reteté.
Vai passar, palmas pra ala dos chorões famintos,
O bloco dos camaleões retintos
Com o seu “amor” comercial
Meu Deus, esse mal, com fé um dia desaparecerá;
Cai – cai, “unção” e cambalhota, não vai aqui mais habitar.


Ficarei na boa, olerê,
Ficarei na boa, olará,
O estandarte do ofertório geral vai passar.
Estarei na boa, olerê,
Estarei na boa, olará,
O estandarte do expiatório geral vai passar.


P.S.: Para ouvir o samba original do Chico que deu origem a esta paródia, CLIQUE AQUI


24 maio 2009

SENTIMENTO DE AMOR: O que há por trás?



Eu te amo meu amor”. Quantas vezes recitamos e ouvimos essa frase “clichê” pela vida afora. Quantas vezes a palavra “amor” está sendo repetida por esse mundão de Deus, agora mesmo, quando me debruço para escrever sobre o que sutilmente se encontra por trás desse tão falado e decantado afeto.

Quero falar do sentimento de amor que se confunde com o senso de “poder”. O poder intuitivo de dominar o outro, de tomar posse do outro. Afeto esse, que na maior parte das vezes não se torna consciente, por se encontrar escondido nas instâncias mais obscuras e profundas do nosso ser.

Será que ele mentiu quando disse que a amava tanto, que não podia viver sem ela?.

Será que traduzindo em miúdos, o “amor”, para o galanteador, não se resume a um mero sentimento de posse ─, o desejo possessivo de ter uma pessoa transformada em instrumento ou objeto em suas mãos?.

Às vezes, dizemos que amamos a esposa, o filho, o empregado de casa, ou mesmo um mendigo de rua, sem se ater a uma reflexão mais criteriosa. Reflexão essa, que pode simplesmente desembocar na constatação de que esse “amor” não passa de um sentimento de gratidão, por essas pessoas terem se tornado objetos de nossa dominação. Então, imaginamos que dominamos àquelas vidas, pelo simples fato de “amá-las” muito; na verdade, “as amamos” porque as dominamos.

Por vezes, aprisionamos nossos filhos em gaiolas douradas, e dizemos para nós mesmos: “é para sua proteção”. Racionalizamos que essa preocupação natural é “amor”. No entanto, essa percepção não passa de uma dominação ou propriedade.

O resultado é que quando o filho cresce, o que fica plantado nele é o receio de amar, pois o amor para ele, subtende-se, que é ficar preso e obstado. O amor que trava a liberdade não é amor, é possessão.

Infelizmente, em nossa cultura tratamos os outros como mercadoria. Achamos que para adquiri-los basta que eles fiquem dependentes de nós. Erich Fromm ─ o grande humanista da filosofia clássica alemã, escreveu: “Só há um sentido para a vida: o próprio ato de viver”.

Poderemos até pensar que a educação ensina a amar. Educar como se doma um animal, nunca vai fazer nascer na criança o sentimento do amor. Não podemos negar que, na grande maioria das vezes, o que as crianças aprendem na escola, são modos de representação para indicar para sociedade que elas gostam e aprovam aquilo que foi infundido em suas mentes. Tanto os pais, como os professores ensinam a criança a ser indiscriminadamente amistosa, como os trejeitos ensaiados de como sorrir e tagarelar.

Então, em suma, o que se esconde por trás desse amor artificialmente imprimido?

Escondem-se a jovialidade e a cordialidade adquiridas e expressas no que denominamos: “bons modos sociais”, ditas em outras palavras: “reações condicionadas”. E nós, os pais, ficamos na incumbência de ligar e desligar o interruptor dos nossos autômatos filhos.

Por outro lado, a religião corrobora com todo esse mecanismo de dominação, ao ensinar a esconder os próprios sentimentos. Os atos psíquicos originais da criança, através de subornos, são substituídos por meros clichês de convivência social. Sem poder expressar os seus sentimentos, o ser em formação vai se adaptando a um regime de escravidão psicológica dentro de um mundo ilegítimo e estéril.

Ela, a criança, aprenderá no mínimo, que AMAR, é ter que dominar o outro, e submetê-lo aos seus próprios poderes.

Como haverá lugar para o amor, se o mais alto valor humano é o sucesso? Como haverá lugar para o amor se em nossa vida diária o objetivo principal é nos transformarmos em um mero instrumento de competição dentro de uma máquina que nós mesmos construímos? É no meio dessa engrenagem chamada “sociedade” que tudo se confunde: desejo se confunde com fé; dependência se confunde com benevolência; ações egoístas se confundem com amor e altruísmo.

Vivemos dentro dos meandros de um amor utilitarista que depende da aprovação alheia ─ que faz o homem perder a sua identidade, alienando de si mesmo. É essa alienação constituída pela indiferença a si próprio e aos outros, que faz deitar raízes maléficas em toda a nossa cultura secular.

Não há dúvida de que há muita inverdade e artificialidade por trás daquilo que tão “humanamente” denominamos de “amor”.

O escolástico Hugo de São Victor (século XI), à respeito do amor desinteressado, assim se pronunciou: “[..]Pois o que é amar, senão querer possuir a quem se ama? Na realidade não procuras outra coisa em troca de teu amor, e no entanto procuras e desejas algo naquilo mesmo que amas”.

O Apóstolo Paulo no final de seu memorável sermão sobre o amor, disse: “Agora vemos em espelho, de maneira obscura [...];” (I Coríntios 13 :12)

Está escrito: “o amor é paciente, é benigno. O amor não inveja, não se vangloria, não se ensoberbece, não se porta inconvenientemente, não busca os seus próprios interesses, não se irrita, não suspeita mal. O amor não se alegra com a injustiça, mas se regozija com a verdade. Tudo sofre, tudo crê, tudo suporta, nunca falha [...]” (Coríntios 13). Nesse mesmo capítulo fala-se de fé e esperança. Esperemos então esse verdadeiro sentimento pleno de amor. “Um dia o veremos face a face” ─ disse o apóstolo Paulo, resignadamente.

Peçamos a Deus que nos dê de sua graça e estenda a sua misericórdia sobre nós, pois, somos reles humanos, vendidos como escravos ao pecado. Quanto mais lutamos para conhecer esse amor em toda a sua plenitude ─ do qual Cristo foi portador ─ mas afundamos dentro de nossa desprezível pequenez. “A minha graça te basta, pois o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza” ─ foi a resposta Divina dada a Paulo num momento em que ele se deixou levar pelo “poder” da exaltação.

Mas, finalmente, o que há por trás desse sentimento de amor que permeia nossa vida de relação? Será que existe em nós uma verdade latente que resistimos em aceitá-la? Será que não estamos a confundir o sentimento de amor com os nossos discursos amorosos, provisórios e às vezes antagônicos, em relação ao outro? Será que por trás desse discurso afável, de belos gestos e belas palavras, não se escondem odiosos pensamentos e os mais repulsivos intentos? Será que o poder racional de convencimento, que manejamos tão bem, não é uma “meia verdade” que se oculta por trás do nobre sentimento de amor, que tanto se fala, se canta, e se declama em versos, ensaios e prosas?



“...porque o AMOR é forte como a morte, e duro como a sepultura o ciúme.”
(Cantares de Salomão 8: 6)




Ensaio por Levi B. Santos
Gurabira, 23 de maio de 2009



19 maio 2009

PARA QUE CRISTO AFINAL?




Bem, não sei se foi sonho, visão, ou se foi fruto de minha imaginação. Mas que eu vi, vi. Vi um membro da igreja “O Céu Aqui e Agora” com uma Bíblia em suas mãos. Notei que o Livro Sagrado que ele carregava, tinha volume muito reduzido. Chegando mais para perto dele, pude observar que a sua Bíblia não continha o Novo Testamento.


Fiquei muito curioso, e resolvi abordar o portador do referido livro:

─ Moço! Sua bíblia está faltando a parte principal. A parte que fala da história de Cristo.

Fiquei pasmo e estático com o sermão que ele me pregou como resposta, o qual, passo a relatar aqui na íntegra:



Se em minha igreja, através de sacrifícios, eu me relaciono diretamente com Deus ─, para que Cristo afinal?

Se eu tenho o “Manto Sagrado da Prosperidade” para tocar, e tal qual uma vara de condão, adquirir tudo de “bom” que existe na terra, além de transformar o meu saldo bancário de devedor em credor ─, para que Cristo afinal?

Se eu tenho comigo o exército dos “Trezentos e dezoito”, que pelejam por mim ─, para que Cristo afinal?

Se eu tenho a “Escada do Sucesso” para escalar e alcançar os píncaros da prosperidade financeira ─, para que Cristo afinal?

Se eu tenho o “cajado de Moisés” para me fazer atravessar os “mares vermelhos” da vida ─, para que Cristo afinal?

Se eu tenho a “água do Rio Jordão” para curar sarnas, lepras, psoríases e outras dermatoses de origem demoníaca ─, para que Cristo afinal?

Se eu tenho o “Óleo do Jardim das Oliveiras” para curar as minhas cefaléias e depressões ─, para que Cristo afinal?

Se eu tenho a “Rosa Ungida” para me trazer a paz de espírito ─, para que Cristo afinal?

.Se eu tenho a água do “Mar da Galiléia” para usar como colírio, a fim de tirar a concupiscência dos olhos ─, para que Cristo afinal?

Se eu tenho semanalmente a “Sessão do Descarrego”, que me limpa de todo o pecado ─, para que Cristo afinal?

Se eu tenho, com uma simples contribuição monetária - o direito de participar da “Fogueira Santa de Israel” e receber instantaneamente tudo que almejar ─, para que Cristo afinal?

.Se eu tenho a qualquer hora, quem tire os meus “encostos” que atrapalham a minha vida familiar ─, para que Cristo afinal?



Depois de expor o seu rosário de práticas, evidenciando a desnecessidade de recorrer a Cristo, o moço desapareceu subitamente de minha visão. Fiquei então a matutar com os meus botões.

Foi a partir desse encontro emblemático, que eu pude entender a razão pela qual, na visão daquele jovem, tudo tinha que ser pago: “é que ele realmente não conhecia ainda as ‘Boas Novas’ do Evangelho, onde tudo é de graça, por graça e pela graça”.


NOTA DO AUTOR: Qualquer semelhança com a realidade, não é mera coincidência, pois eu juro que tudo que ouvi do personagem inventado, é a mais pura verdade.



Por Levi B. Santos
Guarabira, 19 de maio de 2009

12 maio 2009

NASCIDO E CRIADO NO"EVANGELHO"

Foto do editor do Ensaios & Prosas entre os seis e sete anos de idade. As "asas" simbolizam a "santidade" projetada sobre ele.



Nunca ninguém havia encontrado algo que desabonasse a sua conduta de “menino crente”. Desde os primeiros anos de “banco” em sua igreja, era um exemplo de criança dedicada e obediente. Do jeito que a sua mãe o colocava no assento, ele permanecia sem se mexer durante todo o culto. Ficava tão impassível em seu lugar, que a um primeiro olhar, mais parecia uma estátua. A mãe se orgulhava quando todos sem exceção diziam: “esse menino é um santo, faz gosto mesmo de ver”.

Chegara à adolescência, sem ter recebido uma só repreensão de seus mestres da escola dominical. Era tido como um verdadeiro gênio das hostes divinas. Todos ficavam abismados com a sua capacidade de decorar textos. As pessoas ao seu redor extasiavam-se ao vê-lo recitar os comentários das lições bíblicas da escola dominical, decoradas em seus mínimos detalhes.

O Pastor eufórico dizia para a mãe do menino-prodígio: “Como é bom ter um filho nascido no evangelho, que nunca provou das coisas do mundo”. “Esse, minha irmã ─ vai longe” ─ dizia com muito orgulho. “Fique certa: Se a irmã o criar assim, separado do mundo, sem deixar ele se misturar com essa molecada imunda das ruas, a senhora vai ver Deus fazer maravilhas extraordinárias através dele. Disto eu tenho absoluta certeza” ─, concluía o entusiasmado ministro eclesiástico, mergulhado em seu paraíso utópico.

A casa do “menino que nascera crente” era todo o dia, visitada por parentes e outros que não faziam parte de sua grande família. A sua parentela era imensa, correspondendo, mais ou menos, a sessenta por cento de toda a igreja.

Certa vez, o Pastor em visita a sua casa, disse para sua mãe: “Olhe minha irmã, toda vez que eu prego sobre a parábola do filho pródigo, eu me lembro do seu filho. Vejo Deus mesmo, apontando para o seu filho, como se estivesse a dizer: Esse nunca procederá como o filho pródigo, pois foi criado dentro da doutrina santa e imaculada”.

Às vezes, o menino ouvia alguns admiradores dizerem: “Este foi escolhido desde o ventre da mãe para a obra do Senhor”.

Nunca passara por sua cabeça contestar algo, ou ir de encontro ao que se pregava como recado divino. Era enfim um robô passivo à serviço do Rei.


Foi por volta dos seus 9 anos de idade que um acontecimento surpreendente fizera desmoronar o seu mundo ilusório de santificação. Os “filhos pródigos da vida” ou moleques de rua como eram considerados por sua grande família “cristã”, desmascararam a esquisita história da cegonha contada desajeitadamente em seu meio. Foi um choque, ficar sabendo através do linguajar rude dos meninos de rua (os perdidos), a verdade escondida pelos seus, sobre como tinha sido gerado e vindo ao mundo.


Não era mais um anjo, pois perdera as suas asas. Agora, se sentia “um igual” entre os meninos mal educados de rua. As falsas certezas apreendidas desmancharam-se instantaneamente, dando lugar à desconfiança. Ao perceber que fora enganado, deixou de voar junto aos seus queridos pais, e, o único remédio que encontrou para aliviar as feridas feitas de maneira dolosa, foi sair da inocência do “Jardim do Éden”, caminhando com os seus próprios pés.


Agora, livre das amarras das asas angelicais, ele refletia sobre o avesso da parábola do filho pródigo. Ao ler e reler essa emblemática história bíblica chegou à conclusão de que, por caminhos tortuosos, o seu Pastor tinha alguma razão no que falava. É que, a continuar com o seu virtuosismo, ele estava fadado pela meritocracia eclesiástica, a ser o eterno irmão mais velho da “parábola do filho pródigo” , aquele rapaz exemplar, obediente e cheio de virtudes exteriores, mas que lá no fundo ardeu-se de ressentimento e inveja, ao ver o seu desordenado irmão ser perdoado graciosamente pelo Pai.


Ele, enfim, abriu os olhos para enxergar o óbvio: não queria mais ser a cópia de um anjo, a exalar santidade através da mudez de seu comportamento exemplar. Não mais seria uma criatura arrogante e intolerante com os de fora, nem mais espargiria o veneno do ressentimento contra os desprestigiados, sem méritos e sem virtudes , os quais, pelas suas próprias condições, tinham tudo para serem alcançados pela graça e misericórdia Divinas. Aliás, graça e misericórdia, ele só conhecera de ouvir falar, pois, ao ser forjado e projetado para ser um anjo, jamais poderia entender a história de um Deus deixando o seu trono para provar em sua própria carne, da ambivalente fragilidade humana, e só assim, poder salvar os que tinham se extraviados pelos descaminhos do mundo.


A fotografia no topo desse ensaio revela claramente o olhar atemorizado do menino que, no dizer dos seus, “nascera no evangelho”. Sobre os seus ombros pesava o fardo da “santidade” regada pelos seus tutores, que ao invés de projetarem sobre ele a graça redentora de Cristo, transformaram-no na figura de um anjo submetido aos caprichos humanos.

A expressão vaga do menino, na foto, é a de quem realmente não pode corresponder ao que o Pastor e seus jovens pais tanto esperavam.


Olhando, agora, para o seu passado longínquo, ele não podia de maneira nenhuma negar que ali estampada na foto, estava a fiel imagem de quem se sentia realmente desamparado, triste, e ameaçado por temores vindos não sei de onde.


Analisando a sua imagem de menino de ontem, o velho de hoje não pode deixar de reconhecer que a fotografia, apesar de estar encardida pelo tempo, revela com cores fortes a contrariedade de quem foi forçado na infância a representar um “eu” irreal.


Ao continuar observando demoradamente o seu retrato de 55 anos atrás, por um instante, sentiu-se como o personagem principal de uma estéril peça teatral eclesiástica.


Estava tão absorto na concentração de sua antinatural imagem infantil, que em sua imaginação, via pender sobre os seus ombros, duas enormes asas angelicais. No entanto, a sua fisionomia triste emoldurada na foto, mais que tudo, revelava um coração bem distante de toda aquela antiga artificialidade religiosa, em que foi criado e exposto, para gáudio de uma platéia ávida de um “sacrossanto” perfeccionismo doentio e inumano.




Ensaio biográfico por Levi B. Santos
Guarabira, 12 de maio de 2009


11 maio 2009

SELO - Grandes Pensadores da Blogosfera



Recebi de meus grandes amigos e parceiros de link Teóphilo Noturno, Rodrigo Melo e Leonardo Gonçalves,
o honroso selo ao lado, que foi idealizado pelo Rodrigo Magalhães do blog “Pensamentos Sobre a Vida”.

As regras pedem que eu indique outros cinco blogs para serem agraciados com esta premiação.

Cada premiado deverá seguir a seguinte norma:


● Entrar em contato com os blogs premiados

● Montar uma postagem explicativa, nos moldes desta;

● Ter o link do blog que o indicou;

● Manter o link do selo direcionando para este post;

● Apresentar os blogs homenageados.


Aí vão os 5 blogs de pensadores amigos, que escolhi para receber o selo “Grandes Pensadores da Blogosfera”:


Poemas e Poesias

Despertai Ceifeiros

Crônicas de um Observador

Veshame Gospel

Bereianos



Sou grato pelo triplo presente, apesar de não me considerar um grande pensador.


Levi B. Santos

09 maio 2009

DIA DAS MÃES ─ “ELA SÓ QUER OUVIR A TUA VOZ”.






Logo na noite que antecede o dia das mães, meu carro dá o prego. Lá estão na mala, objetos bem acondicionados em embalagens coloridas com laços de fita, que não chegarão às mãos de minha mãe na data escolhida para ela.

Na manhã de domingo, dia das mães, com certeza, a casa, amanhecerá toda em desalinho, tudo fora do lugar, provocado pela balbúrdia da véspera. Mas, por incrível que pareça, estou a experimentar um fio de silêncio, no alvorecer desse dia, só quebrado pelo tilintar de pratos sendo lavados na pia da cozinha, e pelo cantar dos pardais em bando pelo quintal. È neste clima que me arvoro a escrever sobre MÃE. Como diz o adágio popular: “todo mal na vida traz um bem” ─ o incidente do carro me inspirou este ensaio.

Dia das mães, em conseqüência, também é o dia dos filhos. Dia em que eles perguntam para si mesmos: “Este ano, o que eu vou dar para ela?”.

Ainda bem, que este dia não é comemorado na véspera. Dia este, em que o corre-corre louco das pessoas a se baterem umas nas outras, suadas e angustiadas, nos traz mais transtornos que paz de espírito. Na dúvida sobre o que a mãe vai TER no seu dia, enfrentamos engarrafamentos fenomenais, até batidas de automóveis, tudo isto acompanhado por um barulho ensurdecedor dos alto falantes a misturar aquelas emotivas e velhas canções aos apelos comerciais insistentes e repetitivos, onde o que mais se ouve é: “demonstre o seu amor para com sua mãe, e leve este lindo objeto com preço especial para este dia”.

A mãe já tão cansada pelo peso da idade, não merecia uma véspera tão barulhenta e artificial como esta, em que os filhos já sabem o que as mães vão TER, após um sufocante entra e sai das lojas.

A referência feita aqui ao “frenesi” das compras, tem o intuito de levar a uma reflexão mais profunda, pois é no mundo do TER, no mundo dos objetos, que os filhos estão envolvidos, quando, na verdade, ela, a mãe, não diz, mas lá no seu íntimo, ela gostaria mais de estar no mundo do SER. É que tudo, que é de objeto presenteado, será possivelmente guardado em um guarda roupa, um armário, ou em uma gaveta, não aliviando a carência de gratidão que a acompanhará até o próximo “dia das mães”.

Dia das mães é todo dia, porque não há um dia sequer que ela não se lembre, e não peça a Deus por seu filho.

Ofereçam a ela essas duas opções, para ver qual ela escolherá:

1. Um caro presente enviado via malote pelos correios

2. Um ALÔ ao telefone, perguntando como ela está.

Para uma mãe, não há dinheiro que pague a fala daquele que saiu de suas entranhas. E é o telefone, neste dia, o mais valoroso instrumento, a que ela recorrerá para ligar para ele, a fim de poder ouvi-lo dizer à distância: “Diga mãe, o que a Senhora quer?”.
Ao que ela responderá na mais sublime frase de Mãe ao telefone:

“Queria só ouvir a tua voz, estava com tanta saudade”.



Ensaio por Levi. B. Santos.
Guarabira, 09 de maio de 2009



04 maio 2009

DAS TREVAS PARA A ESCRAVIDÃO ECLESIÁSTICA




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Dessa vez ele não resistiu. Disse para si mesmo: “hoje eu saio dessa prisão”.

O cárcere do sentir-se culpado e amedrontado por tudo o que tinha praticado desde a sua mocidade constituía-se em sua maior e tormentosa treva. Na sua imaginação, o que o mantinha ainda vivo, eram as penitências que realizava para expiar uma culpa, que a cada dia aumentava mais, tal qual uma bola de neve.

Tinha ouvido por diversas vezes, através do rádio, em praças públicas, nas feiras, nos templos, os pastores falarem: “Deus é amor, Ele já fez tudo por você”. “Ele carregou todas as tuas culpas na cruz do calvário” “Se aceitá-Lo você estará liberto do fardo da culpa”.

Continuava sem entender como expiar tantas culpas que carregava consigo, sem dar em troca algo de si a Deus.

Procurou uma igreja para se congregar.

─ Enfim ─ disse ele ─, irei provar dessa libertação que não está associada a nenhuma sorte de sacrifício.

Por cinco anos conseguira muitas amizades e um bom relacionamento no meio religioso em que sem muitos problemas foi inserido. Galgara alguns postos na hierarquia da igreja. Vivia um trabalho tão intenso que raramente tinha tempo para fazer uma reflexão, ou uma retrospectiva sobre toda a transformação que vinha vivenciando.

Apreciava sempre em seus sermões, historiar como tinha sido a sua conversão:

─ Logo na primeira semana de crente ─ dizia enfronhadamente ─, tinha feito as suas maiores renúncias: jogado fora o cigarro, o baralho, deixado de beber e farrear até altas horas da noite.
Decorridos dez anos de atividade eclesiástica, ele tinha se acostumado a uma frenética rotina, que denominava de “divina”. Não perdia um culto. Sentia-se como se estivesse sendo cobrado por Deus quando por algum motivo perdia as reuniões na sua igreja. Foi por esse tempo que começou a se dedicar ao exercício da meditação em suas madrugadas insones.

Certa vez, em uma de suas profundas reflexões, chegara até pensar que não era um convertido, isto é, que não tinha nascido de novo. Mas, nessas ocasiões em que a dúvida sorrateiramente assomava a sua alma, algo em si dizia: “Se deixaste de fumar, de beber é porque és um crente”. Ele então se acalmava.

Na verdade, em suas horas de desvelamento, ele já vinha vislumbrando que algo não estava batendo com o verdadeiro evangelho de Cristo.

Primeiro ele notou que a igreja estava com dois tipos de pregações: para “os de fora”, ela tinha um espécie de sermão evangelístico tipo “Deus te ama”, “Deus te aceita do jeito que estás”. Para “os de dentro”, os sermões eram quase sempre ameaças doutrinárias, tipo: “Cuidado irmão! Deus é fogo consumidor”; eram ordens e mais ordens: “não faça assim, Deus pode requerer”.

Foi então por esse tempo, que ele descobrira a razão de sua tão alta ansiedade. Vivia se mortificando, se sacrificando cada vez mais, à medida que se achava culpado por não ter alcançado aquela virtude que ainda lhe faltava. Chegava a orar por horas seguidas, intercaladas por dois ou três dias de jejum durante a semana.

Na sua visão atrofiada pela neurose eclesiástica, agora, ele não via só dez mandamentos, via mais de trinta, requerendo dele mais esforço, mais empenho, mais desprendimento. Ele ainda não acordara para entender que aquilo que pensava que era amor, na verdade, era apenas uma artificialidade com seu rol de aspectos exteriores. Aquela preocupação doentia em produzir para Deus, não passava de outro tipo de escravidão.

Para completar o quadro, ele começou a sentir medo, medo de errar, medo de tomar decisões erradas. Algumas vezes, o que surgia em sua imaginação o deixava ainda mais culpado e tenso. Perguntava constantemente para si mesmo: “Crente pode isso?” “É pecado tal coisa?”. Começou a se cobrar mais. Era tão intensa a sua vida espiritual, que já não tinha nem mais tempo para o lazer com sua esposa e filhos. Achava-se tão culpado que sentia como se a ira de Deus estivesse pesando sobre sua cabeça. Quanto mais ouvia sermões de admoestações, mais longe ficava da imagem perfeita de Deus. Por não poupar os seus erros, o sentimento de culpa ia lhe sufocando mais, a cada dia que passava. O ritual, mesmo que meticulosamente por ele executado, não era suficiente para trazer paz a sua consciência embotada pela necessidade premente de práticas expiatórias.

Ele agora se via naquela figura temerosa de criança, recebendo ordens severas do pai. Sua vida de crente parecia mais a de uma criança adotada e insegura.

Talvez, um dia, quem sabe, ele viesse a ter consciência de que as suas práticas religiosas, não passavam de uma penitência inútil pelos erros cometidos em sua vida pregressa. Um dia, talvez, ele pudesse despertar da letargia religiosa que o prendera em uma outra prisão que, tal qual a de antes o tinha condenado a viver de sacrifício em sacrifício, tentando apagar uma culpa, que só Cristo como verdadeiro amigo e irmão poderia redimir.

Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres” (João 8 : 36)



Ensaio por Levi B. Santos
Guarabira, 05 de maio de 2009

01 maio 2009

A GOSPELÂNDIA EM CORDEL




......Com a chegada da INTERNET,
......O mundo agora encurtou.
......É que um país bem distante,
......Da gente se aproximou.
......Para provar sua douçura,
......É pra lá mesmo que eu vou.


......Deixei todos meus pertences,
......Para poder lá entrar.
......Troquei minhas vestimentas
......Por um horroroso “abadá”.
......Puseram então no meu rosto,
......Uma máscara de tafetá.


......É um país desmiolado,
......Que todo dia tem festa.
......Para assistir aos seus shows
......Se leva um sinal na testa,
......Com os dizeres escritos:
......Aqui “Deus” se manifesta.


......Uma barulheira infernal
......Me deixou atordoado.
......De frevo, axé e samba,
......Eu já estava enjoado.
......O brado que mais se ouvia
......Era: “está tudo amarrado”.


......No meio da Gospelândia,
......Um grande palco existia,
......Onde os fariseus de Deus,
......Seu “espírito” recebia.
......Eu achei muito esquisito,
......Pois macumba parecia.


......Senti falta da Palavra,
......E ao pregador perguntei:
......Onde aqui se lê a Bíblia?
......Respondeu-me: eu nada sei,
......E ainda disse por cima:
......Dela eu nunca precisei.


......Você não estuda a Bíblia?
......Perguntei interessado.
......Ele respondeu na bucha:
......Ela me deixa estressado,
......É melhor viver aqui,
......Onde o mal tá dominado.


......Disse ainda para mim:
......Aqui eu tenho sossego,
......Não preciso de Jesus,
......Para viver o meu chamego.
......E pra tirar todo aperreio
......Tem sessão de descarrego.


......Eu fiquei estarrecido
......Quando sério me falou:
......Tenho tudo e nada falta,
......Temos coisa de valor,
......Abriu então uma caixa,
......De amuletos. Que horror!


......No país da Gospelândia
......Pobreza é maldição,
......As doenças são demônios,
......Pecado é ter aflição.
......Prosperidade é dinheiro,
......O estudo abominação.


......Um profeta gospel falou:
......Se vivemos em realeza,
......Com ouro, prata e saúde,
......Tendo tudo com moleza,
......Burrice é pregar o céu, ......
......Sendo dono de riquezas.


......Retirei a minha máscara,
......Despi-me da fantasia,
......Voltei para minha terra,
......Do mal de todos os dias.
......Desisti da Gospelândia,
......Pra ter Cristo como guia.



......Prosa em versos por Levi B. Santos
......Guarabira, 01 de maio de 2009