30 julho 2011

Ética e Política São Inconciliáveis?


Nas nações supostamente democráticas, muito se tem debatido sobre ética na política. Aqui nas terras de D. João VI a vivência demonstra com tons fortes que os conselhos de ética em política ao invés de lutarem pela transparência de suas ações, caminham mais no sentido de abafar os delitos cometidos por seus próprios membros.

Mas será que existe mesmo um abismo intransponível entre a política e a ética?

O cientista político, Noberto Bobbio (falecido em 2004) foi de longe quem mais se aprofundou no estudo nas relações da moral com a política. Ele diz no seu livro “Elogio da Serenidade” (página 50) que, “o problema das relações entre ética e política é mais grave porque a experiência histórica mostrou, que o político pode se comportar de modo diferente da moral comum, que um ato ilícito em moral pode ser considerado e apreciado como lícito em política, em suma, que a política obedece a um código de regras ou sistema normativo que não se coaduna, e em parte é incompatível com o código de regras ou sistema normativo de conduta moral”.

Mais adiante (na página 90) o cientista político italiano, afirma: “Não há esfera política sem conflitos. Ninguém pode esperar levar a melhor num conflito sem recorrer à arte do fingimento, do engano, do mascaramento das próprias intenções. A “finta”, o “mentir” fazem parte da suprema estratégia para enganar o adversário. Não há política sem o uso do segredo. O segredo não só tolera como exige a mentira. Ficar preso ao segredo significa ter o dever de não revelá-lo, o dever de não revelá-lo implica o dever de mentir”.

Segundo Bobbio, a tradicional máxima Salus Rei Publicae Suprema Lexa ‘Salvação do Estado é a Lei suprema’, se explica dessa maneira: “A separação entre a moral política nasce do fato de que a conduta política é guiada pela máxima de que ‘os fins justificam os meios’. Nesse caso, o bem público, o bem comum ou coletivo é tão superior ao bem do indivíduo, que acaba por justificar a violação das regras morais fundamentais que valem para os indivíduos”.

Há quem traduza o episódio da tentação de Cristo, relatada nos evangelhos, como uma metáfora que mostra claramente uma faceta intrínseca ou inseparável dos fundamentos da política. No mito cristão, há um messias que em uma de suas crises existenciais (tentação) chega a desejar, talvez num nível inconsciente, o poder político. O “Tudo isso será meu, se eu aceitar o código do “toma lá dá cá” – deve ter passado por Sua imaginação. E o “posso, mas não devo” – pilar básico e central da ética, deve ter rechaçado a sua vontade de, quem sabe, tornar-se chefe de uma facção política de um sofrido proletariado urbano, que em Jerusalém proporcionara-Lhe uma entrada triunfal digna de um grande revolucionário, que enfim, iria livrar os oprimidos do jugo romano.

Os evangelhos dão a entender que Cristo já percebia a inconciliabilidade entre a ética e a política do seu tempo. Recusou enveredar pelos meandros do poder político que ele denominava “O Reino desse Mundo. Trezentos anos depois de sua morte, o imperador Constantino numa atitude totalmente diversa, e destruindo tudo que o Mestre plantara em seus ensinamentos, selou um pacto político com a igreja, acordo esse, que dura até os dias de hoje. Ora, o que a maioria dos negociadores “cristãos” sempre desejou inconscientemente, foi sentar à mesa do rei. Mas para isso, a ética que é incompatível com a política teve que ser jogada às favas.

Constantino, um exemplo de cristão político “nota dez” do nosso tempo, mudou as diretrizes de Cristo, reforçou de forma inteligente o seu poder, tanto é, que atenuou a crise do Estado com a colaboração da “santa igreja”, realizando àquilo que Cristo não conseguira: premiar os apóstolos ainda nessa frágil vida terrena, alçando-os aos mais altos cargos do império (consulados, prefeitura de Roma, Prefeitura do Pretório).

Pablo Henrique de Jesus, em sua tese de mestrado que versou sobre “A Cisão Entre Ética e Política na Filosofia de Hannah Arendt” , assim escreveu:

“A política, e considerando junto com ela todas as referências conceituais que lhe competem, é um fenômeno estritamente mundano, ao passo que a ética pode-se dizer, considerada estritamente na relação de seus princípios fundamentais, é um evento que de toda sorte compete exclusivamente à vida interna da consciência. [...] É aí que se situa, pode-se dizer, o motivo principal da cisão entre a vida ética e a vida política do ser humano”.

Maquiavel, na sua maior obra, “O Príncipe”, já dava a entender que, o objetivo principal de um político, não é apenas conquistar o poder político do Estado, mas se manter lá, a qualquer custo, não importa o que ele tenha que fazer para se manter lá no poder”.

E o leitor e eleitor amigo o que me diz?


Por Levi B. Santos

Guarabira, 30 de julho de 2011


26 julho 2011

Sai Freud, Entra a Pílula da Felicidade




Em um tempo sombrio e altamente estressante, como esse que estamos a vivenciar, se faz necessário abordar o crescente sofrimento psíquico do homem ante o imenso arsenal medicamentoso de ação neurocerebral (a felicidade sintética) que a indústria farmacêutica vem colcocando à disposição da sociedade.

O reducionismo em diagnosticar angústia, ansiedade e depressão como um desequilíbrio de fundo biológico ou bioquímico, tem sido a tônica em todo o mundo. O indivíduo, como a parte mais fraca dessse elo, vem sucumbindo, paulatinamente, ao poder do marketing farmacêutico. Há poucos dias assistia na TV Cultura uma equipe de jornalistas entrevistando o ex-ministro da Saúde – José Gomes Temporão –, que tratava da submissão ou rendição do médico ao poder da indústria farmacêutica. Dizia ele, que os americanos tinham expulsado Freud dos EUA, aproveitando o fato de que o “corre-corre” frenético do cotidiano das pessoas já não permitia que as mesmas passassem cerca de 50 minutos numa consulta com um psicanalista.

Como na contemporaneidade não há lugar para se intermediar através da palavra as angústias existenciais, a indústria de medicamentos de ação cerebral vem levando adiante a idéia de que o prazer, que está fortemente vinculado à felicidade, pode ser conquistado através da pílula, contrariando o maestro e músico Tom Jobim, que na letra do seu emblemático samba A Felicidade”, dizia: “Tristeza não Tem Fim, Felicidade Sim”.

É para ressaltar a importância atual desse interessante tema que nos toca de perto, que, após essse curto prólogo, trago a esta sala a entrevista de Miguel Chalub – uma das maiores autoridades brasileiras em depressão –, publicada na revista ISTOE (edição 2115), de 27 de maio de 2010, com o título

"O homem não aceita mais ficar triste":

Por que tantas previsões alarmantes sobre o aumento da depressão no mundo?

MIGUEL CHALUB -

Porque estão sendo computadas situações humanas de luto, de tristeza, de aborrecimento, de tédio. Não se pode mais ficar entediado, aborrecido, chateado, porque isso é imediatamente transformado em depressão. É a medicalização de uma condição humana, a tristeza. É transformar um sentimento normal, que todos nós devemos ter, dependendo das situações, numa entidade patológica.

ISTOÉ -

Por que isso aconteceu?

MIGUEL CHALUB -

A palavra depressão passou a ter dois sentidos. Tradicionalmente, designava um estado mental específico, quando a pessoa estava triste, mas com uma tristeza profunda, vivida no corpo. A própria postura mostrava isso. Ela não ficava ereta, como se tivesse um peso sobre as costas. E havia também os sintomas físicos. O aparelho digestivo não funcionava bem, a pele ficava mais espessa. Mas, nos últimos anos, a palavra depressão começou a ser usada para designar um estado humano normal, o da tristeza. Há situações em que, se não ficarmos tristes, é um problema – como quando se perde um ente querido. Mas o homem não aceita mais sentir coisas que são humanas, como a tristeza.

ISTOÉ -

A que se deve essa mudança?

MIGUEL CHALUB -

Primeiro, a uma busca pela felicidade. Qualquer coisa que possa atrapalhá-la tem que ser chamada de doença, porque, aí, justifica: “Eu não sou feliz porque estou doente, não porque fiz opções erradas.” Dou uma desculpa a mim mesmo. Segundo, à tendência de achar que o remédio vai corrigir qualquer distorção humana. É a busca pela pílula da felicidade. Eu não preciso mais ser infeliz.

ISTOÉ -

O que diferencia a tristeza normal da patológica?

MIGUEL CHALUB -

A intensidade. A tristeza patológica é muito mais intensa. A normal é um estado de espírito. Além disso, a patológica é longa.

ISTOÉ -

Quanto tempo é normal ficar triste após a morte de um ente querido, por exemplo?

MIGUEL CHALUB -

Não dá para estabelecer um tempo. O importante é que a tristeza vai diminuindo. Se for assim, é normal. A pessoa tem que ir retomando sua vida. Os próprios mecanismos sociais ajudam nisso. Por que tem missa de sétimo dia? Para ajudar a pessoa a ir se desonerando daquilo.

ISTOÉ -

Quais são os sintomas físicos ligados à depressão?

MIGUEL CHALUB -

Aperto no peito, dificuldade de se movimentar, a pessoa só quer ficar deitada, dificuldade de cuidar de si próprio, da higiene corporal. Na tristeza normal, pode acontecer isso por um ou dois dias, mas, depois, passa. Na patológica, fica nas entranhas.

ISTOÉ -

Ainda há preconceito com quem tem depressão?

MIGUEL CHALUB -

Não. É o contrário. A vulgarização da depressão diminuiu o preconceito, mas criou outro problema, que é essa doença inexistente. Antes, a pessoa com depressão era vista como fraca. Hoje, as pessoas dizem que estão deprimidas com a maior naturalidade. Não se fica mais triste. Se brigar com o marido, se sair do emprego, qualquer motivo é válido para se dizer deprimido. Pode até ser que alguém fique realmente com depressão, mas, em geral, fica-se triste. O sofrimento não significa depressão. E não justifica o uso de medicamentos.

ISTOÉ -

Os médicos não deveriam entender este processo?

MIGUEL CHALUB -

Os médicos não estão isentos da ideologia vigente. O que acontece é: você vem ao meu consultório. Eu acho que você não está deprimido, que está só passando por uma situação difícil. Então, proponho que você faça um acompanhamento psicoterápico. Você não fica satisfeito e procura outro médico, que receita um antidepressivo. Ele é o moderno, eu sou o bobão. Para não ser o bobão, eu receito um antidepressivo logo. É uma coisa inconsciente.

ISTOÉ -

Inconsciente?

MIGUEL CHALUB -

Os médicos querem corresponder à demanda. Senão, o paciente sairá achando que não foi bem atendido. Receitando um antidepressivo, eles correspondem à demanda, porque a pessoa quer ser enquadrada como deprimida. Mas há a questão dos laboratórios. Eles bombardeiam os médicos.

ISTOÉ -

A ponto de influenciar o comportamento deles?

MIGUEL CHALUB -

Se for um médico com boa formação em psiquiatria, mesmo que não seja psiquiatra, ele saberá rejeitar isso, mas outros não conseguem. Eles se baseiam nos folhetos do laboratório. Não é por má-fé. Os laboratórios proporcionam muitas coisas. Pagam passagens, almoços, dão brindes. O médico, sem perceber, começa a fazer o jogo. Porque me pagaram uma passagem aérea ou me deram um laptop, acabo receitando o que eles estão querendo.

ISTOÉ -

O médico se vende?

MIGUEL CHALUB -

Sim. Por isso é que há uma resolução da Agência Nacional de Vigilância Sanitária proibindo os laboratórios de dar brindes aos médicos. Nenhum laboratório suborna médico, não que eu saiba, nem vai chegar aqui e dizer: “Se você receitar meu remédio, vou lhe dar uma mensalidade.” Mas eles fazem esse tipo de coisa, que é subliminar. O médico acaba tão envolvido quanto se estivesse recebendo um suborno realmente.

ISTOÉ -

Esse lobby é capaz de fazer um médico receitar certo remédio?

MIGUEL CHALUB -

Aí é a demanda e a lei do menor esforço. Se o paciente chegar se queixando de insônia, por exemplo, o que o médico deveria fazer era ensiná-lo como dormir. Ou seja, aconselhar a tomar um banho morno, um copo de leite morno, por exemplo. Mas é mais fácil, tanto para o paciente quanto para o médico, receitar um remédio para dormir.

ISTOÉ -

Os demais especialistas também receitam remédios psiquiátricos, não?

MIGUEL CHALUB -

Quem mais receita antidepressivos não são os psiquiatras, são os demais especialistas. Os psiquiatras têm uma formação para perceber que primeiro é preciso ajudar a pessoa a entender o que está se passando com ela e depois, se for uma depressão mesmo, medicar. Agora, os outros, não querem ouvir. O paciente diz: “Estou triste.” O médico responde: “Pois não”, e receita o remédio. Brinco dizendo o seguinte: se você for a um clínico, relate só o problema clínico. Dor aqui, dor ali. Não fale que está chateado, senão vai sair com um antidepressivo. É algo que precisamos denunciar.

ISTOÉ -

Os psiquiatras deveriam ser os únicos autorizados a receitar esse tipo de medicamento?

MIGUEL CHALUB -

Não acho que seja motivo para isso. Os outros especialistas têm capacidade de receitar, desde que não entrem nessa falácia, nesse engodo.

ISTOÉ -

Mas os demais especialistas estão capacitados para receitar essas drogas?

MIGUEL CHALUB -

Em geral, não.

ISTOÉ -

É comum o paciente chegar ao consultório com um “diagnóstico” pronto?

MIGUEL CHALUB -

É muito comum. Uma vez chegou um paciente aqui que se apresentou assim: “João da Silva, bipolar.” Isso é uma apresentação que se faça? Quase respondi: “Miguel Chalub, unipolar.” É uma distorção muito séria.

ISTOÉ -

O acesso à informação, nesse sentido, tem um lado ruim?

MIGUEL CHALUB -

A internet é uma faca de dois gumes. É bom que a pessoa se informe. A época em que o médico era o senhor absoluto acabou. Mas a informação via Google ainda é precária. Muitas vezes, a depressão, por exemplo, é ansiedade. Mas as pessoas não querem conviver com a ansiedade, que é uma coisa desagradável, mas que também faz parte da nossa humanidade. Tenho uma paciente que disse: “Ando com um ansiolítico na bolsa. Saí de casa, me aborreci, coloco ele para dentro.” Então é isso? Se alguém me fala algo desagradável, eu tomo um ansiolítico? Isso é uma verdadeira amortização das coisas.

ISTOÉ -

O que causa a depressão?

MIGUEL CHALUB -

Esse é um dos grandes mistérios da medicina. A gente não sabe por que as pessoas ficam deprimidas. O mecanismo é conhecido, está ligado a uma substância chamada serotonina, mas o que o desencadeia, não sabemos. Há teorias, ligadas à infância, a perdas muito precoces, verdadeiras ou até imaginárias – como a criança que fica aterrorizada achando que vai perder os pais. As raízes da depressão estão na infância. Os acontecimentos atuais não levam à depressão verdadeira, só muito raramente. Justamente o contrário do que se imagina. Mas mexer na infância é muito doloroso. Não tem remédio para isso. Precisa de terapia, de análise, mas as pessoas não querem fazer, não querem mexer nas feridas. Então é melhor colocar um esparadrapo, para não ficar doendo, e pronto. É a solução mais fácil.

ISTOÉ -

O antidepressivo é sempre necessário contra a depressão?

MIGUEL CHALUB -

Quando é depressão mesmo, tem que ter remédio.

ISTOÉ -

Há quem diga que hoje a moda é ter um psiquiatra, não um analista. O que sr. acha disso?

MIGUEL CHALUB -

As pessoas estão desamparadas. Desamparo é uma condição humana, mas temos que enfrentá-lo, assim como o fracasso, a solidão, o isolamento. Não buscar psiquiatras e remédios. Em algum momento, isso pode ficar tão sério, tão agudo, que a pessoa pode precisar de uma ajuda, mas para que a ensinem a enfrentar a situação. Ensina-me a viver, como no filme. Não é me dar pílulas, para eu ficar amortecido.

ISTOÉ -

O que é felicidade para o sr.?

MIGUEL CHALUB -

A OMS tem uma definição de saúde muito curiosa: a saúde é um completo estado de bem-estar físico, mental e social. Essa é a definição de felicidade, não de saúde. Felicidade, para mim, é estar bem consigo mesmo e com o outro. Estar bem consigo mesmo é também aceitar limitações, sofrimento, incompetências, fracassos. Ou seja, felicidade também é ficar triste de vez em quando.


Prólogo de Levi Bronzeado

Guarabira, 26 de julho de 2011

22 julho 2011

Um Deus Mercado Para Nosso Consumo

Na história do primeiro herói hebreu — Abraão, há um chamado a deixar o que se tem: terra e família para ir ao encontro do desconhecido. O deserto é uma metáfora dessa libertação: lá não tem cidades, não tem riquezas, não há lugar para posses. Só se tem o essencial para a vida.

Mas, de forma contrária à atitude abraâmica, surge lá do centro maior do cristianismo — o EUA, o imperativo de “se TER algo para poder SER”. De lá vêm os ventos “celestiais” que dizem: “sei que um dia morrerei; tenho que garantir a posse de alguma coisa para não perder minha posição social”.

Um exemplo emblemático da voz do deus “Mercado” ocorreu logo após a queda das torres gêmeas nos EUA. O mundo inteiro ainda estava absorto ante a calamidade da tragédia do 11 de setembro de 2001, quando o presidente Bush, mal sabendo o número de mortos recolhidos nos escombros das duas torres, sai para dirigir uma palavra a nação impactada a chorar a perda de seus familiares queridos. A primeira mensagem endereçada por ele à nação minutos após a tragédia foi dizer em alto e bom som: “Não tenham medo, saiam às compras”. Tudo dentro do figurino definido por Zygmunt Bauman, em seu livro “Vida Para Consumo” (A transformação de pessoas em mercadoria): “Para tanto fazem o máximo possível e usam os melhores recursos que têm à disposição, para aumentar o valor de mercado dos produtos que estão vendendo. E os produtos que são encorajadas a colocar no mercado, promover e vender são elas mesmas. São ao mesmo tempo, os promotores das mercadorias e as mercadorias que promovem”. Contudo, há autores americanos que encontram o lado “bom” desse comércio: dizem que o deus “mercado aplaca a ansiedade e o luto. Vá ver que eles possam até ter um pouco de razão...

O caráter religioso que dos EUA inundou o Brasil, é um fenômeno de cunho puramente mercantil. Os “fiéis” são considerados como mercadorias com valor de uso e valor de troca.

Seria assim, se pudéssemos traduzir a oração inconsciente do crente tipo importação: “Não sou nada! Sou como o deus mercado deseja que eu seja”.

As igrejas viraram empresas, seus membros se tornaram instrumentos despersonalizados dessa megamáquina monstruosa de lavagem cerebral. Para a religião do deus “Consumo” os que não adentram aos seus shoppings vivem no sofrimento eterno do isolacionismo. Seguindo o lema sartreano que diz que o “Inferno são os Outros”, os adeptos dos shoppings “sagrados” têm medo do OUTRO que não freqüenta o seu recinto, pois o considera um doente fechado em si mesmo, um ser que perde o seu precioso tempo a pensar, pensar..., coisa que nas catedrais do consumo se torna proibitiva, por que pensar ou refletir vai de encontro a lógica mercantil religiosa da expansão de vendas dos seus manuais de alcançar a felicidade em dez lições.

E FOI ASSIM QUE O SAGRADO TRANSFORMOU-SE NUM BOM NEGÓCIO LÁ NAS TERRAS DO TIO SAM. QUANDO CHEGOU ÀS TERRAS DE D. JOÃO VI, A COISA DEGRINGOLOU DE VEZ.

Por Levi B. Santos

Guarabira, 22 de Julho de 2011

Imagem do topo: http://panaceiadosesregulares.blogspot.com/2011/04/os-adoradores-de-dinheiro-e-o-deus.html

P.S.: A foto abaixo mostra uma igreja pentecostal na cidade de Detroit (sede da GM, da Ford e da Chrysler) tendo em cima do púlpito três carros utilitários (um de cada empresa). Fiéis pedem a proteção de Deus pelos fabricantes. Tudo realizado de uma forma "solene" ao som do hino: "Em Busca de Um Milagre" [Acervo da Revista VEJA]