09 dezembro 2015

Carta a Mãe





Uma recente carta recheada de lamúrias e descontentamentos atribuída ao vice-presidente da República, Michel Temer, foi motivo de intensa repercussão, as mais humoradas, nas redes sociais. A carta está eivada de expressões daquilo que na psicanálise freudiana denomina-se “ressentimento”. E por falar nesse tipo de afeto, não poderia deixar de expor, aqui, o que diz a Psicanalista da PUC de São Paulo, Maria Rita Kehl, em seu preciosíssimo livro Ressentimento [Editora Casa do Psicólogo – página 19]:

O ressentimento é uma cobrança indireta de um bem cedido ao outro por submissão ou covardia. Instalado no lugar do queixoso o ressentido não se arrepende: acusa. Sua reivindicação não é clara: ele não luta para recuperar aquilo que cedeu e sim para que o outro reconheça o mal que lhe fez. No entanto, não espera obter reparação: o que ele quer é uma espécie de vingança.”

A Psicanalista austríaca, Melanie Klein, também da linha freudiana, dedicou-se de corpo e alma à análise psíquica de crianças, tirando muitas lições da ambivalência já presente no bebê esse pequeno ser que, totalmente dependente da mãe, se lambuza de prazer quando no seu colo é aconchegado e amamentado, e por vezes sente desprazer ou chora de raiva quando deseja mamar e não é prontamente atendido.

Nas redes sociais a carta de Temer refletiu, em suas tiradas carregadas de humor, exatamente o que a psicanálise fala sobre esse afeto, que tem início em nossa tenra infância, como bem demonstra o jornalista, Ricardo Pereira, em seu Twitter: “Já escrevi uma carta semelhante a do Temer. Tinha sete anos. Para o Papai que não trouxe o autorama que pedi”. [#CartaDoTemer]

Maria Rita kehl, em seu expressivo livro, vai mais fundo, evidenciando que esse afeto, mesmo em intelectuais adultos, já bem vividos no campo do relacionamento político, não deixa de pregar-lhes peças, até em público, como foi a missiva do vice de nossa República, que bem poderia ter por título, “Carta a Mãe”:

Uma das condições centrais do ressentimento é que o sujeito estabeleça uma relação de dependência infantil com um outro supostamente poderoso a quem caberia protegê-lo, premiar seus esforços, reconhecer seu valor. O ressentimento também expressa a recusa do sujeito em sair da dependência: ele prefere ser protegido ainda que prejudicado a ser livre, mas desamparado.” [“Ressentimento” página 14].


Por Levi B. Santos
Guarabira, 09 de dezembro de 2015


7 comentários:

RODRIGO PHANARDZIS ANCORA DA LUZ disse...

A carta do Temer lembrou-me o personagem Kiko do Chavez. (rsrsrs)

RODRIGO PHANARDZIS ANCORA DA LUZ disse...

Ele seria o Kiko do Jaburu...

RODRIGO PHANARDZIS ANCORA DA LUZ disse...

Mas falando serio. Se nao foi uma falha da assessoria do vice-presidente, fica dificil tentar entender o que ele pretende obter com essa carta ridicula. Na verdade, Temer nao mascara qua agora interessa a ele e ao seu PMDB caracterizar um afastamento do governo e passar pra oposicao.

Levi B. Santos disse...

Rodrigão

O indivíduo ressentido (aquele eternamente infantilizado que morre de medo de perder o precioso líquido que suga das tetas da Mãe Gentil) adora assumir a posição de vítima. Ele nunca diz: Eu me enganei, só sabe dizer: Eu fui enganado (rsrsrs)

RODRIGO PHANARDZIS ANCORA DA LUZ disse...

No caso do Temer, tenho duvidas se ele ou o seu PMDB foram mesmo enganados. Tentando ler nas entrelinhas psicanaliticas, a missiva mostra o grau de maturidade do nosso vice-presidente. Essa lamuria toda nao da a entender o que ele de fato deseja? Pode ser que algo do inconsciente vazou... Mas como seria diferente se os peemedebistas passaram tres mandatos e quase um quarto de mandato se beneficiando com o PT? Teria ele algo que nao fosse aquilo pra dizer?

Levi B. Santos disse...

“Mas como seria diferente se os peemedebistas passaram tres mandatos e quase um quarto de mandato se beneficiando com o PT? Teria ele algo que não fosse aquilo pra dizer?” (Rodrigo)

A criança autora da “Melosa Cartinha”, como toda criança, é muito astuta: seu compromisso é a eterna dependência. Com referência ao autor da carta: seu compromisso é ficar à sombra do Poder. A astúcia, nesse caso, se resume em dar uma no cravo e outra na ferradura. Ao agradar a gregos e troianos, quem for o ganhador lhe recompensará. Então ele fica nesse movimento pendular (que varia de acordo com as circunstâncias): ora aparece na carruagem oposicionista, ora faz juras de amor eterno a sua Mãezona.

É assim que funciona a Democracia na nossa República (agora denominada de República do Pixuleco). Isso vem de longe. As trapalhadas encenadas pelo primeiro presidente de nossa triste História - Deodoro da Fonseca e seu Vice Floriano Peixoto, não me deixam mentir. (rsrs)

RODRIGO PHANARDZIS ANCORA DA LUZ disse...

E hoje ele foi chamado ate de presidente pela Dilma quando a matriarca do governo disse que nao vai se meter nos assuntos do PMDB. Acho que o equivoco foi proposital da parte dela.