08 fevereiro 2018

O Samba "Politicamente Incorreto" de Stanislaw Ponte Preta




Como estamos iniciando o período momesco, nada melhor do que trazer para o momento, algo risível e emblemático de nossa história carnavalesca, que consagrou a expressão “Samba do Crioulo Doido”, criada por Sergio Porto (1923 ― 1968). O cronista sempre assinava suas crônicas com o pseudônimo, Stanislaw Ponte Preta. Esse samba, composto em 1967 e gravado em 1968 (anos de chumbo) fez sua fama, que já era grande, repercutir estrondosamente pelo país inteiro. Foi no ano de 1966 que lançou o antológico livro  "Febeapá: Festival de Besteira que Assola o País",  o qual, versava sobre "causos" risíveis da "Redentora" (como ele denominava a Ditadura Militar).

No fundo o que Stanislaw queria com seu "Samba do Crioulo Doido", era ironizar a ditadura militar e seu exagerado e obtuso nacionalismo. A letra do samba é toda sem sentido, como que para demonstrar a confusão político-militar reinante na época.

A atitude excêntrica dos que organizavam a vida social era totalmente tresloucada ― um total paradoxo com o que se tinha, anteriormente, como habitual no Brasil.

O samba sem pé nem cabeça do satírico autor, afinal, refletia a louca conjuntura ditatorial que ele considerava carnavalesca ―, subentendido na “história de um compositor que durante muitos anos obedecia ao regulamento...”.

Nas estrofes desse samba-enredo perfilam celebridades históricas totalmente destituídas do seu contexto histórico, um embaralhamento estapafúrdio no que concerne a cronologia e a lógica dos fatos. Então, no samba doido, Tiradentes, o herói da Inconfidência, seguia planos de Chica da Silva, que depois se casaria com a princesa Leopoldina.

Inclusive, como acréscimo ao brilhante ensaio da doutora Berenice Cavalcanti (Professora de História da PUC) na revista "Nossa História" (outubro de 2004) -, garimpamos  dois elementos preciosos que destacam o gênio e a sutileza de Sérgio Porto: Quando ele se refere ao sobrenome "SILVA", faz alusão ao Presidente da República, Artur da Costa e Silva, que não por acaso, foi escolhido para governar o país em pleno carnaval de 1967. Para avivar a nossa memória, foi da pena desse General que saiu o famigerado AI.5 que, praticamente, pôs fim a liberdade de imprensa no país.

"Joaquim, que era também da Silva Xavier, queria ser dono do mundo, e se elegeu Pedro II" ― diz, uma estrofe do envenenado samba que, em seu final, faz referência a Proclamação da Escravidão.

Mas esse fenomenal samba encerra uma moral: "D. Pedro se transforma em uma estação e D. Leopoldina vira trem" A gozação chega ao máximo na parte final da melodia, que assim diz ― “O Trem tá atrasado ou já passou”.

O leitor pode conferir abaixo o vídeo do “Samba do Crioulo doido”, gravado originariamente pelo Quarteto em Cy, interpretado aqui pelos “Demônios da Garoa”.


FONTE CONSULTADA: Revista Nossa História – Ano 1/ n° 12

Site da Imagem: devign.com.br 

Título da Postagem Original - "Sobre o Samba do Crioulo Doido" (Ensaios & Prosas - 09 de fevereiro de 2013)

Um comentário:

RODRIGO PHANARDZIS ANCORA DA LUZ disse...

Boa tarde, Levi.

Inicialmente gratidão por nos contar algo sobre esse esquecido samba que as gerações mais novas simplesmente desconhecem mesmo tendo já escultado a expressão "samba do crioulo doido" sem saberem o porquê.

Lendo o que expôs, achei curioso que só em 2004, quase 40 anos após à composição, foi que uma pesquisadora concluiu que o Silva referia-se ao sobrenome do então presidente do país que "proclamou" o retrógrado AI-5, correspondendo à "escravidão".

No entanto, pelo que também já li de Costa e Silva, ele não concordava com o AI-5 e deu muitas oportunidades para que o seu vice, Pedro Aleixo, convencesse os demais conselheiros da segurança nacional acerca de uma tese contrária ao "golpe dentro do golpe" que, na prática, inaugurou a ditadura dentro do intervencionismo.

Aproveitando a oportunidade, desejo-lhe um ótimo período de Carnaval.

Abraço.