31 outubro 2012

HOJE É DIA DE RELEMBRAR DRUMMOND




Hoje é dia de Drummond de Andrade (31 de outubro de 1902   17 de agosto de 1987).
Como homenagem justa, nada melhor que trazer a atriz Fernanda Torres para declamar uma das maravilhosas poesias desse fenomenal poeta de Itabira - MG que tanto encantou e ainda encanta o Brasil: “Necrológio dos Desiludidos do Amor”




NECROLÓGIO DOS
DESILUDIDOS DO AMOR


Os desiludidos do amor
estão desfechando tiros no peito.
Do meu quarto ouço a fuzilaria.
As amadas torcem-se de gozo.
Oh quanta matéria para os jornais.

Desiludidos mas fotografados,
escreveram cartas explicativas,
tomaram todas as providências
para o remorso das amadas.
Pum pum pum adeus, enjoada.
Eu vou, tu ficas, mas nos veremos
seja no claro céu ou turvo inferno.

Os médicos estão fazendo a autópsia
dos desiludidos que se mataram.
Que grandes corações eles possuíam.
Visceras imensas, tripas sentimentais
e um estômago cheio de poesia…

Agora vamos para o cemitério
levar os corpos dos desiludidos
encaixotados competentemente
(paixões de primeira e de segunda classe).
Os desiludidos seguem iludidos,
sem coração, sem tripas, sem amor.

Única fortuna, os seus dentes de ouro
não servirão de lastro financeiro
e cobertos de terra perderão o brilho
enquanto as amadas dançarão um samba
bravo, violento, sobre a tumba.
_____________________________

 Guarabira, 31 de outubro de 2012


Site da Imagem: erudicao.wordpress.com

9 comentários:

  1. Levi, excelente lembrança.

    Resta-nos(e ainda bem!) a presença de Drummond em nossas estantes, sempre nos encantando quando abrimos um livro seu.

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  2. Boa lembrança. Hj é dia das bruxas, da dona de casa (triste coincidência) ambas com suas vassouras. Q bom que Drummond salvou o dia. Belo texto sobre a desilusão. Sempre achei que quem não ama a gente, curte um pouco com a nossa cara, mas sambar no caixão, é de doer. rsrs...

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  3. As sem-razões do amor

    Eu te amo porque te amo,
    Não precisas ser amante,
    e nem sempre sabes sê-lo.
    Eu te amo porque te amo.
    Amor é estado de graça
    e com amor não se paga.

    Amor é dado de graça,
    é semeado no vento,
    na cachoeira, no eclipse.
    Amor foge a dicionários
    e a regulamentos vários.

    Eu te amo porque não amo
    bastante ou demais a mim.
    Porque amor não se troca,
    não se conjuga nem se ama.
    Porque amor é amor a nada,
    feliz e forte em si mesmo.

    Amor é primo da morte,
    e da morte vencedor,
    por mais que o matem (e matam)
    a cada instante de amor.

    Carlos Drummond de Andrade

    boa lembrança levi!

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  4. Edu Mariani e Gil

    Um Convite Triste faço a vocês (rsrs:


    Vamos fazer um poema
    ou qualquer outra besteira.
    Fitar por exemplo uma estrela
    por muito tempo, muito tempo
    e dar um suspiro fundo
    ou qualquer outra besteira.
    (Drummond)

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  5. Amor é coisa boa de sentir
    que recusa científica explicação.
    Pobres neurocientistas:
    Colocaram eletrodo.
    Analisaram ressonâncias
    Concluíram que o amor é química.
    Ah, neurocientistas,
    Pobre necessidade essa de
    Documentar
    Provar
    Fazer ressonância
    pra definir amor.
    Quer um explicação para amor,
    Eu dou:
    Eu e meu filho,
    hoje à tarde,
    nos esbaldando na sala,
    bailando prá lá e prá cá,
    ao som de bom forró nordestino.

    Eduardo Medeiros, 31/10/2012

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  6. Levi, se você não leu esta edição da revista Cult com um grande dossiê da obra de Drummond, vale a pena baixar lá na minha revisteca.

    http://revistecadoedu.blogspot.com.br/2012/10/dossie-drummond.html

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  7. Caro poeta Eduardo

    Ao estilo drummondiano
    os teus versos
    Ruminei devagar,
    bem devagarinho.
    Um canto triste, pareci ouvir.
    Nas entrelinhas das palavras tuas,
    Ao invés de um animado forró
    Um violino sonoro, escuto,
    É o saudoso Villa Lobos,
    Numa“melodia sentimental”:
    “Acorda, vem olhar a Lua
    Que dorme na noite escura
    Que surge tão bela e branca
    Derramando doçura”.
    (Levi)

    P.S.:
    Com certeza, irei conferir o artigo sobre Drummond na revista Cult.

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  8. uhu!!!O Edu arrasou!!! Mas já que é para enfeitar o blog com essa coisa magnífica que é poesia deixo essa pra vcs que li, reli, ruminei e tive em uma agenda de escola com uma foio tirada de revista. Meu blog à moda antiga.

    "O amor é grande e cabe nesta janela sobre o mar. O mar é grande e cabe na cama e no colchão de amar. O amor é grande e cabe no breve espaço de beijar." (C. Drummond)

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