23 março 2014

Inconciliabilidade entre Freudismo e Marxismo




Foi por volta de 1955 que, Herbert Marcuse (1898 ― 1979) com seu livro “Eros e a Civilização”, tentou unir Freud e Marx, provocando no mundo todo um acalorado debate. O alemão Marcuse, da escola de Frankfurt, via nos conceitos freudianos a oportunidade de ouro para fazer o homem feliz. Ele, utopicamente, pensava que a infelicidade seria então banida pela correção de situações históricas sociais, em consonância com o apregoado ideal utópico do milenarismo cristão de paz e felicidade eterna.

Freud, que costumava olhar para dentro do ser, e não para fatores externos, já via que a ambição do homem por uma felicidade geral e ausência de guerra, era em si, um mecanismo de defesa contra recalques internalizados no mais profundo porão da psique. Estava em jogo a velha suposição religiosa de que o “mal” poderia ser expulso do sujeito para resolver o seu conflito interno, composto de afetos ambivalentes ou ambíguos.

Aqui, entre nós, o enjoado e virulento Paulo Francis, por essa época, lia intensamente as obras de Freud. Daniel Piza ―, biógrafo de Francis (Editora Relume Dumará) ― afirma que ele tinha aderido à esquerda socialista por uma reação passional (mecanismo de defesa psíquico). Segundo a psicanálise, por trás das abrasivas racionalizações do sujeito, se esconde a chama inexpugnável da emoção. O agitado jornalista carioca em pauta, em sua memorável obra, “Trinta Anos Esta Noite”, já se mostrava mais sereno e refeito da ilusão de um Brasil grandioso e anti-capitalista. Através de uma dolorosa auto-análise conseguiu com clareza enxergar os seus erros políticos e viu seu mundo ilusório cair. Dos 40 para os 50 anos de idade, ele se dividira entre as duas referências intelectuais: Marx e Freud. “Francis ficava extasiado admirando o realismo de Freud, sua noção de indivíduo como um torvelinho de ansiedades [...]. É simbólico que, após o golpe militar ele tenha levado para seu refúgio em Ipanema- RJ um livro de Freud ― ‘As Três Palestras Introdutórias à Psicanálise’. Freud passaria a ser a sua referência intelectual após o fiasco esquerdista de 1961-1964” ― escreveu, Daniel Piza.

Entre 1950 e 1960 o elo entre as doutrinas desses dois expoentes (Freud e Marx) que marcaram época no mundo científico, foi cansativamente explorado. “Tanto o freudismo quanto o marxismo, a primeira vista, preconizavam a libertação do homem. A Psicanálise visando à transformação do sujeito através da exploração do seu inconsciente; e o Marxismo visando transformar a sociedade através da luta coletiva”. (Elisabeth Roudinesco)

Freud não via com bons olhos a interligação entre as duas instâncias, tanto é que, sobre o regime socialista, chegou a afirmar: “...tentam resolver os problemas da sociedade, mas não percebem que os problemas começam na própria natureza humana”.

“Todos os psicanalistas que aderiram ao Marxismo foram expulsos ou marginalizados pela Associação Internacional de Psicanálise” ― Cita a psicanalista, Elisabeth Roudinesco, em seu livro “Dicionário de Psicanálise” (Editora Zahar – pág. 281).

O objetivo de Freud não era de fundo político-ideológico. O conflito humano em seu nascedouro não estaria entre classes e sim entre afetos internos da psique. Para o marxismo, as atitudes intelectuais e éticas dos indivíduos derivavam das relações econômicas entre eles, e, de forma alguma, levava em consideração os fatores psicológicos que têm na infância seu apogeu de reações ambivalentes frente a primeira autoridade, que é o pai ou tutor. “A psicanálise freudiana ao colocar sua ênfase no mundo interno como principal responsável por aquilo que o homem se torna, relega o meio externo a um papel quase irrelevante” (Freud e Reich – Claudio de Mello Wagner – pág. 59 – Summus Editorial)

Trotski, querendo puxar brasa para sua sardinha, argumentava que a psicanálise era materialista, dando preferência às experiências do russo Ivan Pavlov (1849 ―1936). A descoberta do reflexo condicionado pavloniano foi a senha para se declarar que a psicologia era compatível com o Marxismo. Segundo a historiadora da psicanálise, Elisabeth Roudinesco (Dicionário de Psicanálise), “o modelo Pavloniano dominava a psicologia na Rússia, e, por volta de 1930, a psicanálise freudiana foi erradicada da URSS para não atrapalhar os marxistas. Os livros de Freud foram relegados ao ostracismo, em benefício das obras de fundo neurológico baseadas nos reflexos condicionados que Pavlov experimentara em cães ― no que ficou conhecido como ‘freudismo reflexológico’”.

Para os marxistas que estavam acostumados a confiar na objetividade, no que era visível e palpável, foi um golpe tremendo, a descoberta do inconsciente por Freud. Recusaram o método psicanalítico porque ele conferia a fala e as palavras do analisado uma interpretação que ia de encontro às racionalizações da consciência.  Freud foi muito perseguido porque as suas incursões pelo mundo instintivo das pessoas mudaram radicalmente o modo como as pessoas se compreendiam.  Para ele, o mal-estar na civilização não decorria de fatores econômicos ou externos; era sim, resultado de uma motivação inconsciente. O marxismo nunca aceitou os conceitos freudianos de que todos nós trazemos, internamente, princípios ou arquétipos dos quais não temos consciência, e que exercem uma poderosa influência sobre nós.


Por Levi B. Santos
Guarabira, 23 de março de 2014


OBRAS CONSULTADAS:


1.       Eros e a Civilização – Herbert Marcuse Editora LTC
2.       Dicionário de Psicanálise – Elisabeth Roudinesco – Zahar Editora
3.       Freud e Reich – Claudio de Melo Wagner – Summus Editora
4.       Paulo Francis (biografia) – Daniel Piza – Editora Relume Dumará.


18 março 2014

Frases Risíveis e Célebres de Atores da Nossa República





“Vejam os senhores, quem lucrou no meio de tudo aquilo foi o cavalo”. (Marechal Deodoro da Fonseca ― Após proclamar a República)


“O senhor é um traidor! Traiu-me nas promoções.” (Benjamin Constant, reclamando de seu Chefe Deodoro da Fonseca)


“Se os juízes do Tribunal concederem habeas corpus aos políticos, eu não sei quem amanhã lhes dará o habeas corpus.” (Floriano Peixoto, ameaçando a Corte Suprema)


“Não era essa a República dos meus sonhos”. (Floriano Peixoto, desiludido no final da vida)


“Olho sempre com imensas saudades para os quartinhos do Hotel Leuenroth.” (D. Pedro II fugindo do Hotel de Petrópolis, onde mantinha encontros íntimos, para o exílio em Portugal)


“O militarismo está para o Exército como o fanatismo para a religião, como charlatanismo para a ciência, como o demagogismo para a democracia, como o absolutismo para ordem, como o egoísmo para o eu”. (Rui Barbosa)


“As Constituições são como as virgens, existem para serem violadas”. (Getúlio Vargas)


“Rouba, mas faz” (Adhemar de Barros)


"Neste país, milhões e milhões de homens trabalham, trabalham para uns poucos comerem, come­rem”. (Jânio Quadros)


“Estou de saco cheio de ver companheiro acusado, humilhado, e depois não se provar nada contra ele”. (Lulla)


“Eu tenho aquilo roxo”. (Collor de Melo)


“A esquerda é boa para duas coisas: organizar manifestações de ruas e desorganizar a economia”.  (Humberto de Alencar Castelo Branco)


“A única solução é dar um tiro no coco!” (General João Batista Figueiredo, respondendo sobre o que faria se vivesse do salário mínimo)

“Prefiro cheiro de cavalo do que cheiro de povo”. (Gen. João Batista Figueiredo)


“Está bem. Deus é brasileiro. Mas para defender o Brasil de tanta corrupção só colocando Deus no gol” (Millor Fernandes)


“Gosto muito de Passarinho, mas não bato continência para coronel”. (Presidente Médici, sobre uma possível candidatura de Jarbas Passarinho)


“Nosso mal foi ter durado tanto tempo”. (General Ernesto Geisel)

“Se é vontade do povo brasileiro eu promoverei a abertura política no Brasil. Mas chegará o tempo que o povo sentirá saudades da ditadura militar”. (Ernesto Geisel, no apagar das luzes)


“Criei um monstro!”. (Golbery do Couto, sobre os desmandos no SNI)


“Peça desculpas moleque!”. (General Newton Cruz dando uma gravata no jornalista Honório Dantas em pleno Jornal Nacional)


“Chega dessa república do nhem-nhem-nhem”. (Fernando Henrique Cardoso)


“Realmente estamos importando alimentos, mas isso é ótimo porque significa que quem não comia está comendo”. (José Sarney, na época da inflação de três dígitos)


“Todos os dias leio os jornais para saber o que penso”. (Fernando Henrique Cardoso)


“Estou me sentindo traído. Traído por práticas inaceitáveis das quais nunca tive conhecimento. Estou indignado pelas revelações que aparecem a cada dia e que chocam o país”. (Luiz Inácio Lula)


“...São trezentos picaretas com anel de doutor”. (Lula, acusando os parlamentares)


“Agora, à medida que construímos o bolo, nós repartimos o bolo. E isso leva sempre a um bolo muito maior que o inicial”. (Dilma Rousseff)


● “Eu vou ajudar você a transformar o Brasil em um imenso Maranhão”. (De Roseana Sarney para Dilma)


“Embora saibamos que regimes de exceção nos apartem da democracia, é importante que a verdade, a memória e a história venham à superfície e se tornem conhecidas principalmente para as futuras gerações” (Dilma, na Instalação da Comissão da Verdade)


“Pretendemos ter o trem-bala em funcionamento em 2014 para a Copa, até porque esta é uma região muito importante em termos de movimentação na Copa”. (Dilma, em discurso para cariocas e paulistas)



Guarabira, 18 de Março de 2014


Site da Imagem: guiadoestudante.abril.com


FONTES:

1.   Site de Pesquisa do Google

2.   1889 – Laurentino Gomes (Globo Livros) 

04 março 2014

Prenúncio de Tempestade Após Copa e Eleições




As nuvens densas e escuras que aparecem no horizonte dão indícios de que, depois da Copa e das eleições, uma tempestade cairá aqui em nossa Colônia.

Pequenas e boas notícias, por enquanto, nos animam, como esta: A maior instituição financeira da Alemanha ― o Deutsche Bank ― fez um acordo com o Ministério Público para devolver 10% dos 200 milhões de dólares que Paulo Maluf desviou da prefeitura de São Paulo em meados de 1990.(reportagem do correspondente internacional da Veja ― André Petry). A dinheirama que vai ser devolvida é apenas o dízimo do que Paulo Maluf embolsou. Mas a nossa Justiça, pasmem, diz que o ex-prefeito que está livre, leve e solto, não desviou um tostão do erário.

A “verdade otimista” brandida por algum tempo pelo partido majoritário, de que somos auto-suficientes em petróleo, evaporou-se: “A Petrobrás perdeu 43% do seu valor de mercado em três anos e passou da segunda para a quarta colocação no ranking das maiores empresas de gás dos EUA e da América Latina” ― noticiou o Jornal Estadão. Ou seja, a empresa que simbolizava a solidez do nosso país, está quase falida.

Tudo indica que o badalado “Pré-Sal” será mais um conto de Fada, uma farsa ou um canal de desvio de dinheiro para gente que está jogando aqui e fora do país ao mesmo tempo.

A conta, como sempre acontece, vai sobrar para o contribuinte. Há pouco mais de seis meses foi perdoada a dívida de 12 países africanos mantidos por ditadores. Ditadores como, Nguesso, do Congo, que possui 66 imóveis em áreas vizinhas a Torre Eiffel em Paris, estão recebendo ajuda do governo brasileiro. (vide LINK). O governo diz que é pouca coisa: são apenas 8 reais que cada brasileiro vai doar aos nossos irmãos de sangue na África.

Mas o governo brasileiro anda muito seguro, quando diz que não está só. Acercou-se da Argentina, Venezuela, Bolívia e Cuba, financiando (ops! – presenteando) e defendendo as suas ditaduras com unhas e dentes para manter de pé o sonho de seus ídolos ― Che Guevara e Fidel Castro.

Para escurecer mais ou tornar mais sombrias as nuvens ameaçadoras, some-se a tudo isso o dinheiro que está escorrendo pelo ralo, através de desvios fraudulentos sob a pecha de que está sendo usado em reforma de estádios para a Copa.

Pasmem: os mensaleiros condenados e presos por apropriação indevida das finanças do país para fins escusos estão mais ricos do que quando estavam em liberdade. A prisão encenada os tornou mais milionários: a vaquinha de R$ 2.800.000,00, “obtida” em poucos dias para pagar as multas que eles tinham na justiça, mais tarde, pesará em nossos bolsos. Por ora, tudo é festa, tudo é carnaval.

O Brasil da desigualdade social, da corrupção, do péssimo nível educacional, da violência urbana crescente, da farra com o dinheiro público é detentor dos 20 estádios de futebol mais caros do planeta; e isso tem um nome: SUPERFATURAMENTO para enriquecimento dos que deveriam gerir a coisa pública com total isenção. (Leia mais aqui).

“A matemática revela que o maior beneficiário da Copa de 2014 será mesmo a FIFA, e não o cidadão brasileiro, que paga a conta bilionária. Prevê-se que o lucro da entidade (com bônus para os parceiros do Rei – grifo meu) será de 4 bilhões, o dobro do que arrecadou a Alemanha e o triplo do que arrecadou a África do Sul. O resto é lorota para enganar ingênuos e fazer boi dormir” ― concluiu, um Editorial publicado no Estadão em junho de 2013.

A gastança do governo não pára de crescer. De acordo com o Portal Transparência, “só em cartões corporativos foram gastos mais de R$61 milhões em 2013. Sem falar nos 80 milhões torrados pelo o ex-presidente Lula, em 2010” (vide Link). “Segundo os dados do Tesouro Nacional o total das despesas do governo em 2013 bateu recorde, chegando aos impressionantes R$914 bilhões” (Fonte: Folha de São Paulo)

Com a vitória praticamente certa, Dilma já falou que depois da Copa e das eleições irá por em prática um plano de reestruturação no país. Trocando em miúdos, isso significa dizer: preparem os bolsos ou os guarda-chuvas que lá vem tempestade!


Por Levi B. Santos
Guarabira, 04 de março de 2014  


Site da Imagem: gamalivre.com.br

02 março 2014

O Poder Revelador do Lapso ou “Ato Falho”


Mantega avisa Miriam Belchior que ela chamou Dilma de “Presidenta Lula”


Na Psicanálise, os atos falhos e lapsos cometidos em nossas falas ou discursos vão além de meras trocas de palavras ocasionadas por simples distração. Esses atos revelam muito de nossa verdade escondida. Para Freud, os atos falhos não deixam dúvidas sobre a intenção real da pessoa: são fragmentos valiosos guardados a sete chaves, que chegam a escapar por algum descuido ou relaxamento do vigia que monta guarda no porão secreto da mente.

No calor dos discursos inflamáveis no nosso mundo político de vez em quando surgem lapsos ou atos falhos que merecem uma profunda análise.

A imprensa dá conta de que está havendo um racha no PT. Uma corrente de petistas insurgentes anda a reclamar de Dilma: é que ela insiste em não favorecer projetos de empresários e banqueiros ligados a Lula. Esse segmento está correndo para colo do ex-imperador, implorando por sua candidatura, no lugar da rainha que não lhes dá ouvidos. O Lula, por enquanto, só pede calma! calma!  

Para complicar tudo, formou–se um “blocão” composto de parlamentares da insossa sopinha de letras: PMDB, PR, PP, PSD, PTB, PDT, PSC e PROS, para minar a candidatura de Dilma em prol do velho “toma-la-dá-cá”, tão comum na época do Lula-lá.

Foi em meio a esse fuzuê, que a ministra do Planejamento, Miriam Belchior, numa entrevista, cometeu o significativo “ato falho” de que tanto Freud se debruçou para esmiuçá-lo por longos anos.

A ministra trocou as bolas e saudou Dilma com um sonoro: “Presidenta Lula!” (rsrs)

Sem querer querendo ela pode ter revelado o que de mais secreto residia no fundo de sua alma. Ou não?

Passemos, agora, a dar asas à imaginação. Sabendo que imaginar não é pecado, imaginemos então uma conversa à sós entre a presidenta e sua subordinada, após a fatídica entrevista:


Presidenta, pelo amor de Deus me desculpe! O inconsciente me traiu. Só minutos após, foi que me dei conta do ato falho quando a chamei de “Presidenta Lula ― segredou a ministra do planejamento ao pé do ouvido de sua superiora.

O inconsciente não trai, Miriam! O que sai dele, quando a gente abaixa a guarda, é a mais pura e cristalina verdade, que dos inimigos a escondemos nos nossos mais íntimos recônditos. Representamos minha cara, representamos o tempo todo!. A peça teatral a que nos submetemos é que foi traída. (risos de lado a lado).

Tem razão, cara amiga, a entrevista que dei, foi logo após uma reunião tensa que tive com os líderes partidários. Peço-lhe que me perdoe por ter embarcado no blá-blá-blá da base aliada que apresentava o plano B do PT,  que trata Lula como candidato em seu lugar.

Nas próprias hostes do partido governista, quase sua metade, anda cogitando que a candidatura, Dilma, corre risco. Como o leitor(a) muito bem sabe, o projeto petista de 20 anos no poder não pode de maneira alguma fazer água.

Não nego presidenta! Cheguei a pensar de modo igual aos rebeldes de nossa base de sustentação ― confessou perigosamente a ministra.

Sem ninguém por perto, a presidenta segreda ao ouvido de sua comandada:

― A culpa é do nosso patrão. Ele esta passando os pés pelas mãos, não acha? Interfere em meu governo o dia todo. Não suporto mais o seu bordão: “Dilma! Dilma! Negociar é preciso! Sem afagar as bases, o negócio degringola!”.

Tenha o máximo de cuidado!. Policie-se e treine muito antes de discursar, para assim, evitar “atos falhos”. Já pensou que encrenca seria, você, num lapso, revelar toda essa conversa ocorrida entre nós? ― acentuou Dilma, de olhos arregalados, diante de sua atordoada ministra.

Antes de se dirigir ao Trattoria da Rosário (restaurante dos políticos da corte) a presidenta põe o seu dedo indicador esquerdo verticalmente sobre os lábios:

Psiiiiiiiiiiiiuuuu!...

Por Levi B. Santos
Guarabira, 02 de março de 2014

Foto do Topo: folha.uol.com