Como estamos iniciando o
período momesco, nada melhor do que trazer para o momento, algo risível e emblemático
de nossa história carnavalesca, que consagrou a expressão “Samba do Crioulo Doido”, criada
por Sergio
Porto (1923 ― 1968). O cronista sempre assinava suas crônicas com o
pseudônimo, Stanislaw Ponte Preta. Esse samba, composto em 1967 e gravado em 1968 (anos de chumbo) fez sua fama, que já era grande, repercutir estrondosamente
pelo país inteiro. Foi no ano de 1966 que lançou o antológico livro ― "Febeapá: Festival de Besteira que Assola o País", o qual, versava sobre "causos" risíveis da "Redentora" (como ele denominava a Ditadura Militar).
No fundo o que Stanislaw
queria com seu "Samba do Crioulo Doido", era ironizar a ditadura militar e seu exagerado e obtuso nacionalismo. A letra do samba é toda sem sentido, como que para demonstrar a confusão político-militar reinante na época.
A atitude excêntrica dos que organizavam a vida social era totalmente tresloucada ― um total paradoxo com o que se tinha, anteriormente, como habitual no Brasil.
A atitude excêntrica dos que organizavam a vida social era totalmente tresloucada ― um total paradoxo com o que se tinha, anteriormente, como habitual no Brasil.
O samba sem pé nem cabeça
do satírico autor, afinal, refletia a louca conjuntura ditatorial que ele
considerava carnavalesca ―, subentendido na “história de um compositor que
durante muitos anos obedecia ao regulamento...”.
Nas estrofes desse samba-enredo perfilam celebridades históricas totalmente destituídas do seu contexto histórico, um embaralhamento estapafúrdio no que concerne a cronologia e a
lógica dos fatos. Então, no samba doido, Tiradentes, o herói da Inconfidência,
seguia planos de Chica da Silva, que depois se casaria com a princesa Leopoldina.
Inclusive, como acréscimo ao brilhante ensaio da doutora Berenice Cavalcanti (Professora de História da PUC) na revista "Nossa História" (outubro de 2004) -, garimpamos dois elementos preciosos que destacam o gênio e a sutileza de Sérgio Porto: Quando ele se refere ao sobrenome "SILVA", faz alusão ao Presidente da República, Artur da Costa e Silva, que não por acaso, foi escolhido para governar o país em pleno carnaval de 1967. Para avivar a nossa memória, foi da pena desse General que saiu o famigerado AI.5 que, praticamente, pôs fim a liberdade de imprensa no país.
Inclusive, como acréscimo ao brilhante ensaio da doutora Berenice Cavalcanti (Professora de História da PUC) na revista "Nossa História" (outubro de 2004) -, garimpamos dois elementos preciosos que destacam o gênio e a sutileza de Sérgio Porto: Quando ele se refere ao sobrenome "SILVA", faz alusão ao Presidente da República, Artur da Costa e Silva, que não por acaso, foi escolhido para governar o país em pleno carnaval de 1967. Para avivar a nossa memória, foi da pena desse General que saiu o famigerado AI.5 que, praticamente, pôs fim a liberdade de imprensa no país.
"Joaquim, que era também da Silva
Xavier, queria ser dono do mundo, e se elegeu Pedro II" ― diz, uma estrofe do envenenado samba que, em seu final, faz referência a Proclamação da Escravidão.
Mas esse fenomenal samba
encerra uma moral: "D. Pedro se transforma em uma estação e D. Leopoldina vira trem" A gozação chega ao máximo na parte final da melodia, que assim diz ― “O Trem
tá atrasado ou já passou”.
O leitor pode conferir
abaixo o vídeo do “Samba do Crioulo doido”, gravado originariamente pelo Quarteto em Cy, interpretado aqui pelos
“Demônios da Garoa”.
Boa tarde, Levi.
ResponderExcluirInicialmente gratidão por nos contar algo sobre esse esquecido samba que as gerações mais novas simplesmente desconhecem mesmo tendo já escultado a expressão "samba do crioulo doido" sem saberem o porquê.
Lendo o que expôs, achei curioso que só em 2004, quase 40 anos após à composição, foi que uma pesquisadora concluiu que o Silva referia-se ao sobrenome do então presidente do país que "proclamou" o retrógrado AI-5, correspondendo à "escravidão".
No entanto, pelo que também já li de Costa e Silva, ele não concordava com o AI-5 e deu muitas oportunidades para que o seu vice, Pedro Aleixo, convencesse os demais conselheiros da segurança nacional acerca de uma tese contrária ao "golpe dentro do golpe" que, na prática, inaugurou a ditadura dentro do intervencionismo.
Aproveitando a oportunidade, desejo-lhe um ótimo período de Carnaval.
Abraço.