11 julho 2015

Fragmentos Sobre Ressentimento




Na Literatura, Política, Psicologia e Sociologia muito já se debateu e se escreveu sobre “ressentimento”. Foi no livro “Aurora”(página 237), que Nietzsche expôs, de forma simples e sem rodeios, o que vai no âmago da alma do ressentido:

Aquele que é incapaz de realizar certa coisa, acaba por exclamar cheio de revolta: 'Que o mundo inteiro pereça!'. Este sentimento odioso é o cúmulo da inveja que gostaria de deduzir: 'uma vez que não posso ter uma coisa, o mundo inteiro não deve ter nada! O mundo inteiro deve não ser!”.

Na atualidade, esse sintoma social, como uma colante vestimenta, anda tão arraigado em nossas vidas, que já o percebemos como coisa mais natural do mundo. Mesmo sabendo que o ressentimento nos prejudica, recusamos sair debaixo de seu guarda-chuva protecional. A doutora e psicanalista da PUC (São Paulo), Maria Rita kehl, logo na introdução de seu livro “Ressentimento” (Editora Casa do Psicólogo) deixou uma pérola de definição sobre o que seria esse afeto que grassa como uma epidemia nos mais variados relacionamentos interpessoais.

Ressentir-se significa atribuir a um outro a responsabilidade pelo que nos faz sofrer. Um outro a quem delegamos, em um momento anterior, o poder de decidir por nós, de modo a poder culpá-lo do que venha a fracassar. […] O ressentido não luta para recuperar àquilo que cedeu e sim para que o outro reconheça o mal que lhe fez”.

Em todos os setores do mundo contemporâneo, o ressentimento se encontra sutilmente imiscuído na quase totalidade dos conflitos sociais. Para o ressentido àquele que não duvida de suas certezas sintomáticas , o problema está sempre no outro, seu superior na escala hierárquica.

Por sua vez, Jacques Lacan, ao fazer uma releitura de Freud, percebeu que o ressentido, no fundo, “não quer esquecer o objeto perdido”, razão pela qual mantém sua queixa indefinidamente. Ele faz da lamentação seu maior gozo.

Hegel, na dialética do Senhor (àquele que conseguiu ser vitorioso arriscando a própria vida) e do Servo (àquele que abdicou da guerra para não perder a vida) mostra que o ressentido, é o eternamente queixoso que, para compensar o que perdeu, vive inconscientemente adiando sua vingança. A agressividade daquele que se tornou servo para preservar a vida, retorna sobre a forma de ressentimento, afeto este expresso na forma de uma acusação moral contra o seu Senhor (representação daqueles que estão na escala social mais alta).

Discorrendo sobre o ressentimento na esfera política da sociedade brasileira, Maria Rita Kehl, no trecho abaixo, nada mais faz que ressoar o que Nietzsche tão bem dissecou sobre este ambíguo afeto em sua emblemática obra - “Genealogia da Moral”:

Ora, a origem do ressentimento reside justamente no apartamento entre os sujeitos e sua própria potência de agir. Nesses termos, a decepção com as promessas não-cumpridas não predispõe à ação; ela produz um exército de queixosos passivos, prontos a (se)realinhar ao que existe de pior entre os conservadores, como forma de reação amarga e estéril, carregada de desejos de vingança”.


Por Levi B. Santos

Guarabira, 11 de julho de 2015

5 comentários:

  1. Bebendo o seu próprio veneno o ressentido fica estagnado, mas sempre buscando destruir o objeto do seu ressentimento.

    Gosto sempre de consultar o meu coração evitando esta doença de caráter.

    Muito bom o texto.

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  2. Já dizia Camus: "o ressentido deleita-se antecipadamente com uma dor que ele gostaria de ver sentida pelo objeto de seu rancor"

    Porventura há alguém que nunca tenha experimentado esse afeto?

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  3. No fundo, o ressentido deseja estar bem com o seu desafeto, mas ainda não sabe como se reconciliar. É imaturo nas suas ações e exige reconhecimentos e desculpas extravagantes. Não sabe esperar e nem consegue lidar com as próprias frustrações.

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