28 agosto 2007

MISSÃO CUMPRIDA



É difícil aquilatar se uma determinada missão foi realmente executada satisfatoriamente, ou não, pois os parâmetros ou valores que usamos para este fim, são quase todos regidos por uma forma racional de pensamento, quer pelo que programamos através dos nossos desejos, quer pelo que se depreende das escutas de palavras proféticas. Não quero dizer com isso, que o ‘vaticínio’ seja algo que se deva desprezar. Não senhor! O problema não está na “palavra divinamente inspirada”, e sim, no fato de como chegamos tão facilmente a interpretá-la ao nosso modo.

Ora, sabemos muito bem, que o tempo de Deus não é o nosso. Aquela multidão que recebeu triunfalmente Jesus em Jerusalém, jamais pensou que três anos após aquele acontecimento, o mestre encerraria a sua missão na terra. Arrisco-me até a dizer, que a maioria daquela multidão esperava um “reino terreno”, e não um espiritual, como foi o do nosso Mestre. Foi um ministério curto para tão grande missão, o de Cristo? Na ótica humana (minha), foi. Na ótica Divina, o tempo da missão de Cristo foi simplesmente o necessário.

Como é difícil para nós, revisar os nossos conceitos, os quais, quase sempre, são inconscientemente carregados das sementes da vaidade e do egoísmo. Quando algo não sai como imaginávamos, prontamente rotulamos o resultado como derrota. Olvidamos, que aquele que planta, nem sempre é o que colhe, e que o resultado de uma missão só o futuro o dirá. Na hipocrisia do nosso imediatismo, queremos resultados em curto prazo, para alardeamos em alto-som, o cumprimento do que esperávamos, não para a glória de um Deus, e sim para satisfação do nosso “ego”.

Acredito que poucos, ou quase nenhum dos que estavam ali a receber Cristo com palmas e danças à entrada de Jerusalém, acompanharam-no na caminhada dolorosa do calvário. Não poderiam estar ali, pois as suas cabeças estavam mais programadas para o espetáculo do sensacionalismo exterior, que é mais baseado no que se vê, no que se pega, e no que se mede.

“Sabemos que todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus[...]”. (Romanos 8, 28). Desta forma, é totalmente descabida e insensata a conclusão de que uma missão foi frustrada, só pelo que se vê de palpável momentaneamente. Por mais simples que seja a missão; por mais curta que ela seja no espaço de tempo, só quem a experimentou, é que tem a autoridade de falar: se houve, ou não houve resultados ─, até porque, não fomos nós, os de fora, que doamos o nosso corpo à dureza de uma inóspita jornada.

Por vezes, a incompreensão humana a respeito do desfecho de uma missão no âmbito da espiritualidade, tende a deixar alguns, cabisbaixos. Não importa, se alguns, venham porventura traduzir como fraqueza, a imprevisibilidade de tudo quanto ocorreu. No entanto, o que importa é: que a opinião alheia jamais terá o poder de desestimular os missionários, em outros desafios ─, mesmo que tenham de enfrentar um acolhimento frio, no retorno ao seu torrão natal ─, em contraste com o clima apoteótico que aconteceu em sua viagem de ida.

Crônica por: Levi B. Santos - dedicada aos missionários João Camilo e Leni Bronzeado, que por três meses vivenciaram uma grandiosa experiência em Santa Cruz de La Sierra - BOLIVIA.

Guarabira, 28 de Agosto de 2007

10 agosto 2007

A IGREJINHA DE PALHA




Juan estava radiante. Era o mês de agosto de 2039, no qual, juntamente com o seu pai Pablo, comemoraria o trigésimo aniversário do majestoso templo de Mineros, na Bolívia.

Fazia um frio tremendo, como era comum naquela época do ano, e Juan todo encapotado da cabeça aos pés, reservara aquele dia para dar uma olhada nos arquivos antigos do computador de seu pai, um aparelho de última geração, que era acionado pela simples voz humana.

Diante da potente máquina digital Juan colocou os seus óculos tridimensionais, sentou-se no banquinho fofo e falou pausadamente:

─Arquivos de agosto de 2007! Assunto: Assembléia de Deus Boliviana!

Em milésimos de segundo apareceu na imensa tela de cristal líquido, a foto digital de uma igrejinha em forma de palhoça, em três dimensões.

Fitou demoradamente a foto, até os olhos ficarem umedecidos de lágrimas. A emoção que estava sentindo naquela hora era indescritível. Fora buscar no porão da memória, lembranças dos seus oito anos de idade. Tinha sido naquela igrejinha de palha que ele tinha ouvido pela primeira vez, falar de Um Deus, que tinha um filho chamado Jesus. E que este filho, tinha vindo trazer a verdadeira “luz” para um mundo de trevas tenebrosas.

Juan continuava a olhar detidamente a foto. A igrejinha tinha no lugar da calçada uma cerca de arame entrançado, com plantas trepadeiras fechando o espaço entre os fios metálicos, e um portão de caibo de madeira roliça, ao lado.

Recordava que no local do púlpito estavam três pessoas, que apesar de não serem bolivianas, não lhe eram estranhas: Havia um senhor de olhar penetrante, cabelos bem penteados, portando óculos, com a esposa impecavelmente vestida e o filho ao lado com um olhar meio vago, como um passarinho fora do ninho.

Agora sim, subindo mais a foto na tela do computador, Juan podia ler o que estava escrito na barra inferior da foto: “Agosto de 2007 - visita de João Camilo, Leni Bronzeado e seu filho J.Neto, missionários Paraibanos do Brasil ─ responsáveis pela primeira publicação da foto digital, via Internet, da pioneira igrejinha de Mineros".

Juan lembrava-se do que seu pai dissera naquela ocasião: “graças aos nobres missionários, hoje, todo mundo está tomando conhecimento, e vendo o nosso humilde templo, via satélite”.

Juan olhava a foto com orgulho, dizendo para si mesmo: "bravos missionários, que com enormes sacrifícios, deixaram o aconchego do seu lar no ano de 2007, para em um lugar tão inóspito e distante, fundar a Editora Epístola, lançando as bases da atual: Casa Publicadora da Ass. de Deus Boliviana".

A Editora estabelecida em Santa Cruz de la Sierra, hoje, em 2039, é responsável pela publicação de um acervo cultural-religioso-filosófico que atinge além fronteira. Basta dizer que as lições bíblicas da Escola Dominical estão sendo regularmente distribuídas em todos os paises latino-americanos de língua espanhola. A Companhia editorial que consta de doze departamentos e noventa funcionários é dirigida pelo fervoroso homem de Deus, Hernandes Morales, neto do ex-presidente Evo Morales

Antes de desligar o computador, Juan, com a saudade a lhe apertar o peito, decidiu prestar uma singela homenagem à “igrejinha de palha” que lhe servira de “berço espiritual”. Rabiscou, e não gostando, deletou por três vezes uma pequena quadra, e por fim deixou na memória do computador de seu pai o seguinte verso:


.............................Tenho saudades de ti “Igrejinha”.

.............................És a minha raiz, fincada no chão.

.............................Tu me abrigaste como criancinha,

............................. Hei de guardar-te no meu coração.


..............................( Mineros, 10 de agosto de 2039)

07 agosto 2007

ESCADARIA DE CHATICES!!!





Os congressos e CONVENÇÕES,

xxCom a melhor das INTENÇÕES

xxxxDeixam os nervos em TENSÕES;

...xxxxxDeixam a mil, .os ...CORAÇÕES,

xxxxxxxxAo mostrar mais .INVENÇÕES,

.....xxxxxxxxTal qual insossas REFEIÇÕES

......xxxxxxxxxxxFornecidas ..nas ..PENSÕES.



.............Tudo é coisa muito CHATA,

..............xxQue irrita a gente PACATA,

...............xxxxE que por educação ACATA

................xxxxxxA discussão - INSENSATA.

.................xxxxxxxxRecebe então uma - LATA,

....................................Que tem por dentro a NATA,

..........................................Se comer, ela o MALTRATA.





.............Após passar hora INTEIRA,

.................Acabada a BRINCADEIRA,

.......................Ele enrola a. BANDEIRA.

...........................Levantando da CADEIRA,

..............................E dormente. da TRASEIRA,

...................................Sai sentindo uma ZONZEIRA

.........................................De escutar tanta BESTEIRA.





Prosa em versos de: Levi B. Santos. Guarabira, 07 de Agosto de 2007

05 agosto 2007

MEU AVÔ E SUA REVELAÇÃO BOMBÁSTICA







Eu tinha dezesseis anos de idade quando transcorria o ano de 1962. Meu pai tinha falecido há mais ou menos uns três meses, e meu avô materno decidiu se instalar em minha casa. Acho que a sua decisão foi mais para dar apoio moral e espiritual a uma filha recém viúva e os seus filhos órfãos.

O velho Zé Raulino, meu avô, mudou o clima de relacionamento entre nós, pois ele era muito receptivo em casa, coisa que o meu falecido pai não era. Não me lembro de meu pai ter alguma vez conversado francamente comigo sobre qualquer assunto. Era assim o seu modo de ser: sempre caladão e com um ar sisudo de quem está prestes a brigar. Quando demorava mais tempo em casa, era para ouvir os seus velhos discos de setenta e oito rotações, nas vozes de Núbia Lafaiete, Ângela Maria, Maysa, Anísio Silva, Nelson Gonçalves e aquele de quem ele mais gostava: Luiz Gonzaga. Era quando a voz destes cantores enchia a casa toda com um som poluído pelos ruídos provocados pela agulha (que mais parecia um prego), extraídos de uma velha vitrola em forma de maleta.

Particularmente eu tinha um temor muito grande ao me dirigir a meu pai, pois poderia falar algo que o desagradasse. Talvez, a minha extrema timidez tenha se alimentado dos muitos carões e algumas surras que levei dele, por ter praticado as peraltices tão comuns na infância.

Não me esqueço nunca, tinha mais ou menos uns oito anos de idade, era um dia de Sábado, e estávamos todos em casa reunidos ao redor da mesa, para jantar. Nessa ocasião estava presente o Tio Neemias (cunhado de meu pai), nos visitando. Lembro-me bem do cardápio dessa noite: feijão verde com farinha para ser comido amassado nas mãos, em “bolos”, que antes de ser deglutidos eram molhados na graxa do toucinho de porco guisado, tendo ao lado, um molho feito com o caldo do feijão cheio de maxixes cozidos e pimenta malagueta. Só se ouvia o mastigar da comida gostosa com a graxa a escorrer pelos cantos das bocas dos convivas. Foi quando de repente, quebrando o silêncio daquele momento se ouviu algo como um suave apito vindo de baixo da mesa. Eu fiquei calado e com o rosto espantado de medo e terror, pois sem querer, o ar que tanto eu estava prendendo nos intestinos, tinha saído apitando baixinho no início, e com o meu nervosismo aumentou o tom, porém foi coisa rápida. Talvez por eu ter me prendido tanto, o “peido” saiu daquela forma: assoviando. Meu pai imediatamente diagnosticou: “Foi você seu safado, e interrompeu o jantar para me dar uma sonora surra”. Então no meu quarto, com as roupas molhadas de urina devido às lapadas que tinha recebido, fiquei atrás da porta, revoltado e encolhido, sob soluços, a pensar: ora, apesar de ter sido coisa feia, ele não poderia ter feito isso comigo, porque apesar dos meus esforços, contraindo os músculos glúteos e os forçando contra a cadeira, o “pum” saíra, rompendo a minha resistência. Eu não tinha culpa.

O pior, é que eu estava revoltado comigo mesmo, pois, se eu não tivesse me contraído tanto, na certa, o maldito tivesse saído de forma abafada e espontânea. E sem fazer barulho, seria mais difícil de reconhecer o autor da façanha, pois um diria: “ não fui eu”; outro responderia: “nem eu”; e assim todos se desculpariam. Há quem afirme: quer saber quem foi o autor? Veja quem primeiro gritou. Mas isso é presunção.
Já tinha presenciado em outras ocasiões diante de muitas pessoas, todo mundo negando a autoria da emanação de gases intestinais no ambiente, isto, quando não se ouvia o seu sinal sonoro, e apenas se pressentia o cheiro característico.
Naquela noite fatídica reconheci que tinha sido burro mesmo: era para ter deixado o danado sair sem pressão. Apanhei de graça.

O meu avô tinha tido mais intimidade com o genro, do que todo o restante da família. Ficou triste, porque no seu dizer, meu pai tinha morrido “desviado”. Esse termo ainda hoje é usado para denominar as pessoas que freqüentam a igreja e depois a abandonam. Meu avô tinha conhecimento de que meu pai antes do acidente de moto que o vitimou em via pública, vinha cantando uma música de carnaval. Na concepção sua e de muitas pessoas íntimas, meu pai morrera sem salvação, e que o destino dessas pessoas quando assim morrem, é o inferno.
Passado alguns meses do falecimento de meu pai, ali no mesmo terraço de minha casa, meu avô me chamou para me contar algo que pela sua fisionomia radiante de felicidade, eu pressenti logo que era algo de bom. Ele debruçado na mureta do alpendre dirigiu-se a mim desta forma:

─ Meu filho! Eu tenho uma coisa muito importante para lhe dizer ─ falou em tom solene, após ter dado as suas comuns cusparadas em direção a rua.
Eu sentando no batente do terraço ao lado dele, disse: Me conte vovô, o que foi?
─ Olhe, ontem a noite Deus me deu uma revelação maravilhosa. Ele me mostrou seu pai ( Moisés) no céu. Fique certo que ele não foi para o inferno, como todos estavam pensando. Deu tempo para ele se arrepender ─ disse o meu avô com ar de satisfação.
Eu me juntei à sua alegria naquele momento. Por três meses, meu avô conviveu com a idéia horrenda de imaginar que seu grande amigo e genro, estava se queimando nas labaredas do inferno. No entanto, dali em diante, me uniria a ele, a fim de desfazer a triste imagem que meu pai deixou no coração dos que ficaram.

Meu pai, dois meses antes de morrer, tinha me dado uma bicicleta de presente, por ter passado em primeiro lugar nas provas finais do colégio local. Ora, o que eu mais almejava, era uma bicicleta na cor azul, e ele me dera uma do jeito que eu sonhara. Eu já vinha pensando desde a sua morte: como meu pai depois de me dar um tão precioso presente, tenha tido o inferno como destino. Imaginava que aquilo era uma injustiça, pois ele já tinha sido penalizado com a morte na flor da idade.
Apesar de hoje ser meio cético com esta história de revelação, não nego que a visão bombástica do meu avô, deu-me naquela época um certo alento.
Meu avô era um homem extremamente religioso, e não se aborrecia com as insinuações que eu fazia sobre temas do mundo bíblico. Um dia, no mesmo terraço da casa de minha mãe eu perguntei para ele:

─ Vovô! O Sr. acredita nesta história da baleia ter engolido Jonas e depois de três dias ter vomitado ele vivo?

Meu avô respondeu rápido, sem titubear:

─ Meu filho! Se a Bíblia dissesse que Jonas tinha engolido a baleia, eu acreditaria.

O velho Zé Raulino, naquele seu jeitão de imaginar o céu e o inferno, era tão feliz, sem os questionamentos que faço hoje. Ele cria porque cria, e ponto final.


Crônica: por Levi B. Santos. Guarabira, 05 de Agosto de 2007