13 outubro 2016
Na Caverna Digital
15 setembro 2010
A ROTINA

Nunca envelhece essa companheira.
No curso do tempo, é sempre menina.
E em casa, como uma eterna inquilina,
É dominadora com rótulo de parceira.
Possui a força que roda os ponteiros
Do implacável relógio que é a vida.
Se presa a alma, a carne é impelida
A vagar num “frenesi” o dia inteiro.
Do assoalho é a poeira espalhada
Que imperceptível durante o dia cai.
No inverno ela é a água que se esvai
Pela fresta de uma telha avariada.
Importuna tanto, essa tal menina
E só aos domingos me reserva a paz.
De segunda à sexta sou seu capataz,
Ela é meu sustento, minha proteína.
Ela não cresceu, foi sempre menina.
Fez trocar meus anos pelo alimento.
Que criança é essa, fonte de lamento?
É a impiedosa e cruel ROTINA.
Versos por Levi B. Santos
Guarabira, 26 de Agosto de 2008
27 março 2009
A CHATICE DAS CONVENÇÕES

Os congressos e CONVENÇÕES,
..Com a melhor das INTENÇÕES
....Deixam os nervos em TENSÕES;
........Deixam a mil, .os ..CORAÇÕES,
..........Ao mostrar mais .INVENÇÕES,
..........,....Tal qual insossas REFEIÇÕES
....................Fornecidas ..nas ..PENSÕES.
....Tudo é coisa muito CHATA,
.......Que irrita a gente PACATA,
..........E que por educação ACATA
.............A discussão - INSENSATA.
................Recebe então uma - LATA,
...................Que tem por dentro a NATA,
......................Se comer, ela o MALTRATA.
..........Acabada a BRINCADEIRA,
.............Após muita FALADEIRA,
..................Ele enrola a BANDEIRA.
...................Levantando da CADEIRA,
.....................Se espreguiça de CANSEIRA,
........................Sai sentindo uma ZONZEIRA
............................De escutar tanta BESTEIRA.
30 janeiro 2009
A FERA INTERIOR

Um animal perigoso.
Está preso entre as grades,
Por ter algo venenoso.
Ponho guarda dia e noite,
Pois ele é contencioso.
..........Seu vil veneno entorpece
..........Nos deixando estonteado.
..........No sangue, o cálido desejo
..........Pode ser disseminado.
..........Quem não resistir a essa fera,
..........Termina envergonhado.
A mordedura desta fera
Envenena o coração.
Me induz a ver um argueiro
No olho do meu irmão;
Não deixa enxergar a trave
Na minha própria visão.
..........P’ra não expor esse monstro
..........Construí uma fachada.
..........Se ele mostrar suas garras
..........Logo dou uma recuada;
..........Lutarei contra esse instinto
..........Seguindo uma tabuada.
Na Bíblia o apóstolo Paulo
Desigual luta travou.
Com a fera dentro do peito,
Ele então assim falou:
Quando eu quero o bem fazer,
O mal diz aqui estou.
..........O que me ensina esse Livro
..........P’ra domar o animal?
..........Diz que eu não posso matá-lo,
..........É o meu espinho carnal.
..........E só então no fim dos tempos
..........Deus dará fim a esse mal.
Versos em prosa por Levi B. Santos
Guarabira, 27 de janeiro de 2009
26 agosto 2008
18 janeiro 2008
UM PAPO COM O CRIADOR

........PERGUNTA O PAI:
...................................Bom dia meu Criador!
...................................Dê licença, eu perguntar,
...................................Pois não consigo o que quero,
...................................E depois de tanto ensinar,
...................................O negócio saiu torto,
...................................Com o filho no meu lar.
...................................Nossa língua é a mesma,
...................................Mas os rumos diferentes.
...................................Discorda do que eu digo,
...................................Me trata como inocente
...................................Será que ainda consigo
...................................Que entenda a minha mente?
RESPONDE O CRIADOR:
....................................Filho! Você não esqueça,
....................................O que comigo aconteceu.
....................................Eu criei um casalzinho,
....................................P’ra fazer o gosto meu
....................................Depois de tanto trabalho
....................................Me deixou, e se perdeu.
....................................Olhe que naquela época
....................................Não tinha a televisão,
....................................Tinha apenas a serpente,
.....................................Mas estava na prisão.
.....................................Num descuido, de repente,
.....................................Ela enganou Adão.
O PAI FALA:
....................................Quer dizer que a Sua luta,
....................................Em querer tudo perfeito,
....................................O animal atrapalhou?
....................................Eu ficaria satisfeito,
....................................Se o Criador me desse
....................................O nome desse sujeito.
.................................... Eu vou ficar vigiando,
.....................................Por tudo que é de canto
.....................................Pra ele não atrapalhar
.....................................Nós aqui neste recanto.
.....................................E tudo sair direito,
.....................................Sem erro e sem espanto.
O CRIADOR RESPONDE:
.......................................Meu filho, esse animal,
.......................................A terra, contaminou,
.......................................Até o Filho que eu tinha,
.......................................Sua vida ele tirou.
.......................................Você tenha muita calma.......................................Com seu filho pecador.
.......................................Tenha muita paciência,
.......................................Com seu filho andador.
.......................................Se ele aqui fez o que fez,
.......................................O meu Adão derrubou,
.......................................Todo cuidado é pouco,
.......................................Contra esse usurpador.
.......................................Vou toda porta fechar,
.......................................P’ra esse bicho não entrar.
.......................................E não repetir o seu feito,
.......................................De teus planos desmanchar.
.......................................Vou estudar um projeto,
.......................................E a essa gente obrigar.
.......................................Vai ser uma guerra cruenta
....................................... Contra esse vil inimigo,
........................................Que perturba toda a alma.
........................................Não vou ser dele amigo,
........................................Nem de longe quero ver,
........................................Ele em mim não tem abrigo.
FALA O CRIADOR:
...................................Vou te dizer uma coisa
...................................Que tu vai enrubescer,
...................................Teu inimigo maior,
...................................Tu queres mesmo saber?
...................................Ele não vem de fora,
....................................Está dentro do teu ser.
.............Versos em prosa por: Levi B. Santos
.............Guarabira, 17 de Janeiro de 2007
12 janeiro 2008
O CÉU DE CÂNDIDO

.............Quanto a cabeça da gente.
.............Um imagina de um jeito,
.............O outro pensa diferente.
. ...........Como poderei entender
............ Se não sou onisciente?
.............O homem tem sentimentos,
.............Que o seu peregrinar
.............Não combina com o de Deus,
.............Pois só pode imaginar,
.............O que come, vê e apalpa,
.............Não sabe se dominar.
............Um filósofo lá da França
............Uma história escreveu:
............De um "ser" pretensioso,
............Que aqui na terra viveu.
............Subiu ao céu ansioso,
............Lá chegando não se deu.
.............O personagem de Voltaire
.............Chegou nesse “Eldorado”.
.............Viu tantas ruas de ouro,
.............Ficou impressionado,
.............Resolveu trazer o ouro,
.............Para fazer um apurado.
.............Cândido viu abismado,
.............Os anjos e suas altezas,
.............Não davam valor ao ouro,
.............Naquele céu de riqueza.
.............Nem as pedras preciosas,
.............Não viam nelas nobreza.
.............Ao ver a indiferença
.............Das pessoas do Lugar
.............Pediu licença aos anjos,
.............P’ra sua terra voltar
.............E em cima de carneiros,
.............Ouro e pedras, colocar.
.............O pensamento de Cândido
.............Estava cheio de razão.
.............O “bom” do Céu ia levar,
.............E ganhar um dinheirão,
.............Ao sair daquele tédio
.............De gente sem ambição.
.............O céu que ele pensou,
.............Fruto da imaginação,
.............Não resistiu a beleza,
.............Que feriu seu coração.
.............E o insensato desejo
.............Lhe intuiu essa ação.
..............Pelo caminho de volta
..............Com alegria sem par,
..............Do que melhor existia,
..............As ovelhas a carregar,
..............Para na sua cidade
..............Co’as gentes negociar.
...............De volta, no seu caminho
...............Ocorreu o inesperado.
...............Pelo seu carregamento,
...............Ele sofreu um bocado:
...............Frio, fome e doença,
...............Foi três vezes assaltado.
.............Perdeu tudo que trazia,
.............No meio da caminhada.
.............Seu corpo todo esfolado,
.............Não carregava mais nada,
.............E o que mais ansiava
.............Era o término da jornada.
.............Dentro do inconsciente,
.............Cândido desejava achar
.............O que na terra não teve,
.............Ouro a desabrochar,
.............P'ra na frente dos parentes,
.............Poder então debochar.
.............P’ra encurtar a conversa,
.............Cândido, a casa chegou
.............Sem nenhum fio de ouro,
.............Só uma pedrinha restou,
.............Para mostrar aos parentes
.............O que pelo Céu trocou.
.............Como um humano pensou
.............O céu como investimento,
.............Saudade, inveja e ganância,
.............Ciúme e ressentimento,
.............Nada disso, viu por lá,
.............Era outro o alimento.
.............E assim o homem vive
.............Desejando a outra vida,
.............Mas por ser carnal e fraco,
.............Mal prepara a partida,
.............Pois naquele Paraíso
.............Será outra a medida.
.............Ao sondar o Paraíso,
.............Dentro da imaginação,
.............O homem vê o que gosta,
.............Mas, é tudo enganação,
.............Deus não deu esse direito,
.............De explorar sua mansão.
..............“Prosa em versos”
...............Por: Levi B. Santos. Guarabira, l2 de Janeiro de 2008
06 agosto 2006
POEMA DE UMA AVÓ PARA UMA NETA

Fazer os laços que eu sempre desejei,
Calçar nos pés aqueles sapatinhos
Andar de mini-saia livre pelas calçadas
Lembro-me enfim mesmo por um tempinho
Daquilo que não tive em meio a criançada.
Agora sei bem o que é ser menina
Ao te ver tão frágil a repetir meus gestos.
É minha a tua face, tenho eu a impressão,
Quando os lábios se alongam e surge um sorriso
Uma saudade imensa invade meu coração.
Estas pequeninas pernas, será que foram as minhas
Por ter passadas ligeiras, me deram por apelido
Pernas finas corredeiras, como minha mãe chamava
Ao desembalar como tu, correndo pelas ladeiras,
Cai , cai acolá. E no chão liso escorregava.
Tempos vividos que tive, e estou revendo agora.
Imitando a tua fala, me faço de novo criança,
Então na rede em meus braços, feliz a te embalar.
Em sonhos eu me vejo lá na Santa Terezinha
Ouvindo então bem baixinho, mamãe a cantarolar:
BOI, BOI, BOI, BOI DA CARA PRETA, PEGA ESSA MENINA QUE TEM MEDO DE CARETA.
Guarabira, 06 de aAgosto de 2006