26 abril 2012

A ARTE DE CRIAR “FACTOIDES”




Por Levi B. Santos



Foi o escritor norte americano, Norman Kingsley Mailer, que em 1973 criou o termo “factoide”. Ele definiu factoides como fatos que inexistiam antes de aparecerem em uma revista ou periódico ― destinado a manipular a emoção da Maioria Silenciosa (Fonte – Aulete).  Este termo já foi bem absorvido pela nossa cultura tupiniquim, e serve, na maioria das vezes, aos que estão entronizados no poder.

O grande factoide do momento se chama “Cachoeira” e, às vésperas do que já se denominou o “Julgamento do Século” (O Mensalão), como  poderosíssima força de uma gigante cachoeira, vem com o propósito nobre e “sublime” de provar que todos são “farinha do mesmo saco”.

Numa briga encarniçada, esta semana, engalfinharam-se os representantes maiores de nossa republiqueta e seus fiéis vassalos petistas, para ver quem seria o alçado ao posto maior da investigação do faz de conta. O indicado para RELATOR foi o Odair Cunha do PT de Minas, que já deu o seu primeiro pontapé na bola, ao dizer: “O Carlinhos, suposto líder de um esquema de exploração do jogo ilegal, e pivô das “investigações”, só será ouvido pelos paralamentares da CPI mista, no momento adequado. (Fonte: site TERRA)

O criador do factoide do “Grande Circo Brasileiro” do momento, já disse a que veio, ao dar o seu tom maquiavélico, na voz do próprio relator, dando a entender que ela não chegará ao andar de cima. (rsrs)

Enfim, a CPI de Cachoeira começou esta semana, e a nós da platéia, só resta sentar em nossas poltronas ao lado de uma tigela de pipocas para assistir a mais um episódio de um filme interminável a que um dia deram o nome de “gigante pela própria natureza” que, no fundo no fundo, desde a sua “afundação” tem se transformado na “Casa da Mãe Joana”, onde todos se locupletam e fazem o que querem ao seu bel prazer.


Site da Imagem:  verdadebancoop.wordpress.com
Assista agora, caro leitor e amigo, a este sensacional vídeo –, o primeiro da nossa mais recente Novela do Horário Nobre: “O Factoide  Cachoeira” -  Elaborado pela Turma do "CQC"


11 abril 2012

O “Jardim da Infância” do Brasil — Ou o “Eterno Retorno”.




Esta semana dediquei-me a leitura de um livro espetacular de Eduardo Bueno — “A Coroa, a Cruz e a Espada” — que trata da chegada do nosso primeiro governador Geral às terras do “Pau Brasil”. A narrativa agradável saída da pena desse finíssimo escritor, me fez mergulhar no “jardim da infância” da nossa nação de 450 anos atrás.

Durante a leitura dessa obra, às vezes, tinha a nítida sensação de estar lendo a revista Veja ou a Folha de São Paulo com suas manchetes chamativas sobre  nepotismo, clientelismo e corrupção generalizada em todos os setores de nossa vida pública atual.

Mas vamos voltar no tempo, o tempo da nomeação do nosso primeiro governador Geral, pelo rei de Portugal — D. João III.

Mas não é que o nobre Tomé de Souza, só aceitou o cargo de Governador Geral da Colônia oferecido por dom João III, quando embolsou dozes meses de salários adiantados (400 mil reais). Tomé de Souza, em meados do século XVI, era lembrado na corte pelas suas coleções de frase célebres, publicadas no livro, “Ditos Portugueses Dignos de Memória”. “Todo Homem é Fraco e Ladrão”, é uma das frases célebres registradas por ele nesse livro.

Em 1549 uma trupe de corruptos e degredados zarpou de Portugal rumo às nossas terras: autoridades fiscais, ministros da fazenda, desembargadores, juízes, ouvidores, escrivães, almoxarifes, burocratas e o primeiro bispo do Brasil — Pero Fernandes Sardinha, que mais tarde provocaria uma onda de indignação na colônia ao perdoar os pecados dos fiéis em troca de dinheiro.
Eduardo Bueno, que pesquisou mais de 300 obras históricas, narra em detalhes,  a infância do nosso país, nascido em um “berço esplêndido” de corrupção e malversação do tesouro público.

Qualquer leitor desavisado que abrir esse livro a partir da página 64, com certeza, pensará que ele está descrevendo as bandalheiras que ocorrem nos tempos atuais na Capital da República. Passados quase quinhentos anos,  o que se vê no império petista, infelizmente, nada mais são que reprises de fatos como estes, que o autor brilhantemente, aqui, expõe em seu emblemático livro:

Pero Borges que foi nomeado ouvidor-geral pelo rei de Portugal, cargo que pode ser comparado, hoje, ao de ministro da justiça não tinha a ficha limpa, mas mesmo assim, foi promovido a desembargador, como prêmio para ajeitar a Colônia que vivia um caos com suas Capitanias hereditárias.  Em 1543, Borges, quando ocupava o cargo de corregedor da justiça em Elvas, no Alentejo, próximo a fronteira com a Espanha foi encarregado pelo monarca para supervisionar a construção de um aqueduto. As verbas se esgotaram sem que a obra estivesse pronta[...]. [...]Ante o clamor do povo, D. João III autorizou a abertura de um inquérito. As investigações comprovaram que Pero Borges desviara 114.064 reais — o equivalente a um ano de seu salário, como corregedor”.

Depois de quase meio século da chegada do primeiro governador geral, o nosso país tornou-se “adulto” (ou adúltero?). Hoje é a sexta economia do mundo e tem o maior programa eleitoral de distribuição de renda aos pobres e marginalizados — o bolsa família, criado pela turma do PT que ainda planeja se eternizar no poder, assaltando os cofres públicos com métodos cada vez mais sofisticados.

Olhando para trás, para a tenra infância desse “gigante adormecido”, não há como deixar de perceber que a figura do velho Pero Borges, parceiro do D. João III, se multiplicou e sobreviveu até os dias de hoje.

Os parceiros do Rei da atualidade, como nos velhos tempos, não dormitam; estão em plena atividade para reaver os seus poderes. Ávidos por verbas e enriquecimento ilícito, eles, com o beneplácito do Rei Lulla, tramam à la Pero Borges, se saírem de forma heróica e gloriosa do que denominam de perseguição  das elites pela imprensa. O Rei já saiu em defesa dos seus mensaleiros dizendo em alto e bom som: “Esse tal de mensalão nunca existiu”.

Incrível, como o passado longínquo da velha colônia portuguesa está tão perto de nós! — é o eterno retorno de que fala Nietzsche, senão vejamos o que diz o escritor Eduardo Bueno nesse parágrafo, sobre a infância de nossa "pátria mãe gentil”, nos idos de 1550:

“A Instituição, ainda assim, mantinha uma estrutura bastante simples: era composta apenas por um presidente, seis desembargadores, um porteiro, sete escrivães e um tesoureiro. Todas as sextas-feiras à tarde esses homens se reuniam com o Rei para discutir a formulação e a correção das leis, a designação de novos magistrados e condição política e legal do reino. Os encontros se davam  na Casa de Despacho dos Desembargadores do Paço, logo chamada de “casinha”.

“Nada mudou no Quartel d’Abrantes”, ou seja, pouca coisa mudou: o congresso brasileiro não funciona nas sestas-feiras.  Só até as quintas-feiras é que a trupe pode se reunir.


Por Levi B. Santos
Guarabira, 11 de abril de 2012


Site da imagem:  joelbueno.blog.uol.com.br