29 dezembro 2013

2014 ― O Ano Que Encolherá




Quando temos muitos afazeres e lazeres por dias ou meses seguidos, não percebemos o tempo passar, e dizemos comumente: “Como o tempo voa!” ou “Como o ano passou rápido!”

Preparem-se cidadãos brasileiros, pois, nas redes sociais já estão a propagar que o ano de 2014 não vai existir. Bem, não é nenhuma previsão catastrófica que se quer aqui anunciar. Trata-se de um ano inusitado, pela quantidade enorme de eventos programados. Ano de muitos feriados e pontos facultativos em que pouco se trabalhará e muito se folgará.

Como todos sabem, no Brasil, tudo só começa a funcionar depois do carnaval, mas só por pouco tempo, pois logo vem a Semana Santa. Só que depois da Páscoa, além do São João, vem a Copa do Mundo, que vai tomar todo o mês de junho e um pedaço de julho. Depois da refrega da Copa, com ou sem manifestações por Hospitais padrão FIFA, o país poderia começar a funcionar, mas aí vem o fuzuê pré-eleitoral, com as barulhentas e modorrentas campanhas para Presidente da República, Governador, Deputados Federais e Estaduais. Depois das eleições, vem o período de comemorações dos eleitos e as contestações de ilicitudes nos pleitos desembocando no STE. Com pouco mais de trinta dias estaremos novamente nas comemorações Natalinas, e o ano evaporou-se.

Sabendo que a mistura fantástica de “política” e futebol são a carne e o sangue do brasileiro, já se pode imaginar que nada de sério se produzirá no país do carnaval nesse ano que se aproxima. É de se esperar que dados fictícios de crescimento do país sejam expostos na imprensa, para acalmar o mercado. Com certeza, 2014 será o ano da ociosidade, e a ressaca de todo o mega-espetáculo ficará para 2015. E seja o que “Deus” quiser!

E se o Brasil for Campeão do Mundo? Claro que o PT e a Dilma faturarão para si o resultado. Caso isso aconteça, a multidão vestida com as cores nacionais não vai dar a mínima bola para, taxa de crescimento abaixo de zero, desvio de dinheiro público, estouro da bolha, crise de petróleo, subida do dólar, inflação, etc. Os fanáticos por futebol não vão tremer diante de manchetes jornalísticas arrasadoras, tipo: “Os gastos com a Copa do Mundo no Brasil foram maiores que a soma do que foi aplicado nas três últimas edições (no Japão, Coreia, Alemanha e África do Sul)”. Já pensou o presidente da FIFA queixando-se ao ministro dos esportes, sobre o exagero no superfaturamento nas obras executadas nos estádios?

Caso o Brasil venha perder a Copa, talvez surja o tal do “pacto democrático” em torno da volta de Lulla, para evitar perigos maiores.

A razão está a me dizer que a Alemanha ganhará fácil essa Copa. E se assim acontecer, vamos passar o resto do ano sofrendo do “Transtorno Pós-Traumático” ― uma espécie de reedição do que aconteceu na copa de 1950 contra o Uruguai, aqui mesmo no Maracanã.

Como há soluções mágicas para tudo no governo do PT, quem sabe se algo como uma “Bolsa anti-stress” ― a cargo do ministro da saúde, não irá amenizar o sofrimento e trazer um pouco de paz, aos torcedores fanáticos, no final de um ano em que nada de importante se construirá ou se executará na república das bananas, que ainda vive dos feitos do mito – Pelé - grande ídolo do futebol de eras passadas?


P.S.:

É bom ter em mente que se o Brasil for Hexacampeão do Mundo, continuará na amarga 73ª posição no ranking mundial do IDH (Índice de Desenvolvimento Humano)

Por Levi B. Santos

Guarabira, 29 de dezembro de 2013


Site da Imagem: Blog da Mary

22 dezembro 2013

NATAL: É Tempo de Rever "Nossos Anjos"


A história dos anjos se confunde com a história humana, estando, ao mesmo tempo, relacionada ao nosso lado profano e ao nosso lado divino. A presença dos anjos no universo se confunde com o universo de nossos sentimentos, ambições, virtudes e falhas. Uma história igualmente repleta de contradições. E isso pode ser verdadeiro, desde que se faça uma abordagem desses seres angelicais sob o pano de fundo da psicanálise.

Quem não se lembra de Erich Von Daniken, autor do best-seller. “Eram os Deuses Astronautas?”, que nos anos 70 promulgava que os anjos eram seres reais, porém, com origem extraterrestre, que interferiam em nossa evolução de uma forma ou de outra?!

O autor de “Anjos — A Historia” (David Albert Jones) diz que os anjos retratam a nossa ambivalência: “Anjos vivem entre dois mundos: entre o céu e a terra, entre a vida e a morte. Os anjos, assim como os adolescentes vivem em um espaço intermediário entre a infância e a idade adulta”.

Hoje, na era do cientificismo, se sabe que “anjos” nada mais são que representações simbólicas de nosso inconsciente. Apesar de não serem homens nem deuses, dizem muito de nossa natureza humana.

Joad Raymond, especialista na obra de John Milton (autor do best-seller - Paraíso Perdido), sobre anjos, assim fala: “Os anjos continuam sendo um meio útil pelo qual pensamos nosso mundo, uma maneira de dar significado à nossa existência e às nossas atitudes do dia a dia”.

Procurar padrões e figuras para unir ou diferenciar os seus afetos mais profundos, foi sempre uma preocupação do ser humano, e nessa inquietação atávica ele procura dar ordem ao caos, pois esse mundo impenetrável lhe produz assombros. Os “anjos-mensageiros” como complexos do “inconsciente/divino” estão sempre a revelar mensagens originadas no nosso lado obscuro. Nos moldes de nossa cultura e do nosso tempo, eles se apresentam como “imago-expressão” de nossas verdades e anseios primitivos.

Santo Tomás de Aquino (1225 – 1274) estudou os seres angelicais com mais profundidade, chegando à conclusão de que eles eram seres puramente espirituais, aproximando-os, dessa forma, dos conceitos de pensamentos e estados psíquicos.

Na modernidade, o psicanalista Carl Gustav Jung, com a descoberta dos “arquétipos”, conseguiu analisar a função religiosa da psique, transpondo o abismo entre ciência e religião. Compreendeu, enfim, que as afirmações, revelações e dogmas são padrões ordenados do que ele denominou “Inconsciente Coletivo”.

Segundo Gregório — o Taumaturgo -, o anjo Gabriel conversa com a virgem Maria, para que a serpente (anjo mau) não possa mais conversar com a mulher. Jung, vê nisso, o estabelecimento de um vínculo psicológico entre duas imagens, tanto por contraste como por similaridade. A obediência de Eva a serpente e a obediência de Maria ao anjo da Anunciação são eventos paralelos ou opostos, constitutivos de nossa psique.

O amor de Deus e a ira de Deus, sua luz gloriosa e seu fogo ardente pertencem inseparavelmente um ao outro e são a razão de nossa ambigüidade. Esses pólos aparentemente opostos aparecem no nosso imaginário como anjos de luz e anjos da escuridão, em consonância com o que está escrito em Isaias 45, 7: “Eu crio a Luz e crio a Escuridão. Eu, o Senhor, faço todas as coisas.”

O Natal — é a época propícia na qual a figura dos anjos é usada exaustivamente nos diversos meios de comunicação. Há “anjos de luz” portadores de mensagens que simbolizam a mais elevada espiritualidade, no sentido de oferecer consolo e paz, e há “anjos das trevas”, que aparecem como seres inspiradores do reino daqui de baixo, impulsionadores das vendas estratosféricas de presentes a serem trocados entre os familiares. Esses últimos, são anjos que atiçam o nosso instinto de consumismo desenfreado, responsável por um coroamento recorde de vendas, a cada Natal que passa. O estribilho de sua música preferida é esse: “muito dinheiro no bolso, saúde pra ‘dar’ e vender”.

E por falar em anjos, não poderia deixar de registrar aqui, “A Hora do Angelus (anjo em grego) ou Toque da Ave-Maria”, que é executada às 18:00 horas, na passagem da luz do dia para a escuridão das trevas, e traduz no dogma cristão, o momento da Anunciação — feita pelo anjo Gabriel a Maria — da concepção de Jesus Cristo. Gabriel, em psicanálise, significa a síntese entre os nossos “anjos de luz” e os nossos “anjos da escuridão”. Nele estão representados os nossos afetos ambivalentes. Ele sintetiza a nossa sombra acolhedora e paradoxal; simboliza, ao mesmo tempo, os nossos sentimentos de esperança e de nostalgia em épocas de mudanças ou crises existenciais.

Toda vez que ouço a prece musicada desse anjo simbólico, invade-me um misto de melancolia e paz. Trata-se da “Ave Maria de Schubert”, que eu ouvia emocionado todo o cair da tarde, pelos alto-falantes colocados em pontos estratégicos de minha cidade, nos meus tempos de menino.

P.S.:
Só poderia ser mesmo um "anjo de luz", o autor da magnífica sinfonia erudita (do vídeo abaixo), que nas cordas de um plangente violino conseguiu realizar um dos maiores milagres cósmicos: “tocar o lado divino da alma humana”.

Por Levi B. Santos
Guarabira, 21 de dezembro de 2010

09 dezembro 2013

A Neurociência, O Eleitor e Os Candidatos



Uma reportagem da revista Veja desta semana deixou-me de cabelo em pé. “O Cérebro Vai à Urna” ― é o titulo do artigo do jornalista, Kalleo Coura.

Jamais poderia imaginar que houvesse um laboratório de neurociência no Estado vizinho ao meu (em Pernambuco), para avaliar impulsos e desejos inconscientes dos eleitores. Pois foi o que pude comprovar lendo esse emblemático artigo. No ano de 2010, na campanha para governador, Eduardo Campos (PSB), usou os serviços de neuromarketing na disputa contra, nada mais nada menos, que o poderoso e carismático, Jarbas Vasconcelos.

Testes neurocientíficos realizados na Universidade de Michigan evidenciaram que apenas 3,5% dos eleitores americanos decidiam seus votos baseados em questões ideológicas. O redator de VEJA trouxe à baila uma fala do professor de Neurociência, Pedro Cabalez, confirmando o que já se sabe através da “Psicologia de Massas”: “Não somos tão racionais como gostamos de nos imaginar. Boa parte das decisões que pensamos ser racionais é tomada de maneira inconsciente”.

O Eduardo Campos é mesmo um danado em neuromarketing político. Em 2010, de posse do veredicto neurocientífico, viu que a emoção, e não o lado ideológico, era o afeto que nos fazia tomar decisões em eleições. Campos, com 83% dos votos válidos, foi eleito governador de Pernambuco.

Para as próximas eleições há dois laboratórios de neuromarketing atuando em três estados (Pernambuco, Rio de Janeiro e São Paulo). Segundo a reportagem, “o laboratório Neurolab vai atuar na campanha presidencial de Campos, usando uma touca de eletroencefalografia para captar ondas cerebrais vindas do profundo da psique dos eleitores, no sentido de identificar tanto a atenção quanto a emoção diante de um discurso”.

Grosso modo, o que diria Freud, vivo fosse, sobre essa tão almejada conquista tecnológica do inconsciente para fins eleitoreiros?

Não é que me lembrei, agora, da descrição de uma atribulada viagem de navio que o pai da psicanálise e seu discípulo Jung, empreenderam da Europa para os EUA. Contam os biógrafos que o velho barbudo, fumador de charutos, decepcionou-se sobremodo com seus colegas americanos.

No livro ― “Freud – O Lado Oculto do Visionário”, de Louis Breger (pag. 252), há uma menção ao espírito dos cientistas americanos ― que desagradou enormemente ao ilustre visitante. É que eles queriam converter a psicanálise em capital. O autor fala em um desprezo do fundador da psicanálise pelos EUA, que se manifestou por essa época, durando até o fim de sua vida.  “Os EUA são gigantescos, é verdade, mas um erro gigantesco; a América não serve mais para nada a não ser para trazer dinheiro” desabafou, Freud. 

De fato, foram lá nos EUA, que surgiram as primeiras grandes empresas do ramo de vendas, a tirar proveito dos estudos da neurociência. Os neuromarqueteiros de posse do conhecimento sobre o comportamento, impulsos e desejos dos consumidores explodiram as vendas de seus produtos, quase sempre exibidos com apelos chamativos nas vitrines dos shoppings. O Dr. Zaltman, professor em Harvard, desde o final dos anos 90, vem empregando os fundamentos da psicanálise, da neurobiologia e da lingüística para investigar a preferência dos consumidores. Conseguiu descobrir, com relativo êxito, um vínculo emocional entre uma marca ou um produto e o consumidor.

Pelo andar da carruagem, a profissão de neuromarqueteiro no Brasil terá de ser regulamentada com a exigência de no mínimo um diploma em neurociência. Que os certificados, de preferência, venham com o timbre da Universidade de Harvard.

A reportagem da maior revista da editora “Abril”, que saiu às bancas recentemente, traz um dado que vai dar muita dor de cabeça aos candidatos de oposição ao governo Dilma. O inglês Duncan Smith, diretor do laboratório Mindlab, fez uma descoberta que agradou em cheio aos governistas. Afirmou ele: “De maneira inconsciente, os eleitores identificam o próprio político que faz os ataques às qualidades negativas que ele atribui ao adversário”.

Pelos conceitos do neurocientista do Mindlab, quem falar mal do seu opositor na campanha presidencial que se aproxima, perderá eleitores.

E agora, Eduardo, Marina e Aécio? Como sair dessa?

Onde encontrar neurocientistas que possam desprogramar cérebros infantilizados por um paizão e um mãezona que lhes afagam o tempo todo com bolsas e outros apetrechos adquiridos com os nossos suados impostos?


Por Levi B. Santos
Guarabira, 09 de dezembro de 2013
Site da Imagem: neuropedagogianasaladeaula.blogspot.com

05 dezembro 2013

Entre o Opaco e o Transparente



Como nunca, a nossa complexa sociedade vem persistindo em transformar àquilo que para ela é: opaco ou obscuro em algo transparente. E, como sempre, seguindo a lógica física, se quer encontrar a causa da tal opacidade.

A normatividade elegeu a transparência como ideal a ser alcançado. O chavão ― “primo por uma forma de vida transparente” ― na pós-modernidade passou a ser banalizado. Está todo mundo desejando se enquadrar nesse perfil. 

Vladimir Safatle, psicanalista, professor de filosofia da PUC e colunista da Folha de São Paulo, em seu livro, “Cinismo e Falência da Crítica”, diz algo emblemático sobre essa tão sonhada “forma de vida não opaca”: “Chamamos ‘forma de vida’ um conjunto socialmente partilhado de sistemas de ordenamento e justificação da conduta nos campos do trabalho, desejo e da linguagem. Tais sistemas não são simplesmente resultados de imposições coercitivas, mas da aceitação advinda da crença de eles operarem a partir de padrões desejados de racionalidade”.

Mas a razão não suporta o paradoxo: Como ser transparente se temos em nossa psique conteúdo mentais fora do acesso da consciência? Como ser transparente se “a verdadeira relação intersubjetiva ocorre primeiro entre o sujeito e a sua estrutura peculiar e não entre o sujeito e o outro”.

Na psicanálise Lacaniana, o verdadeiro objeto não está no homem, e sim na estrutura social onde ele está inserido. Vladimir Safatle, em seu livro “Lacan” (pág 42), editado pela “PubliFolha”, diz o seguinte: “o homem não seria agente, mas apenas suporte de estruturas que agem em seu lugar. Como se, por exemplo, os sujeitos não falassem, mas fossem falados pela linguagem, como se não agissem mas fossem agidos pelas estruturas sociais” ― ideia essa, muito comum no estruturalismo de Levi-Strauss, que assim preconizava: “não pretendemos demonstrar como os homens pensam nos mitos (ou através das estruturas, o que neste contexto, dá no mesmo), mas como os mitos pensam nos homens”. Na ótica lacaniana, “se trata de afirmar que as estruturas sociais são autônomas e inconscientes em relação à vontade individual”.

“O ser humano receia descobrir em si características que rejeita em outro ser humano” ― disse o padre Beto (um sacerdote que recentemente questionou a moral católica), no livro, “Verdades Proibidas”, lançado recentemente no mercado. E o que dizer da célebre frase tão usada e abusada ― “minha vida é um livro aberto”? O intento desta assertiva seria o de  mostrar que o sujeito está a dizer toda a verdade do seu ser-em-si? 

Luiz Alfredo Garcia-Roza, no seu livro, Palavra e Verdade, chegou a uma sábia conclusão: “A verdade jamais é dada.[...] A verdade que o filósofo procura é uma verdade que ele previamente colocou lá; como a cartola do mágico: dela só retiramos o coelho que previamente colocamos ali”.

Volto a Vladimir Safatle, estudioso de Lacan, para encerrar esse opúsculo:

“É a partir do outro que eu oriento o meu desejo e minha relação com o mundo social. O homem só encontra em seu meio, imagens das coisas que ele próprio projetou; é sempre em volta da sombra errante do seu próprio ‘eu’ que se estruturarão todos os objetos do seu mundo, assim como sua percepção dos outros indivíduos.”

A tal “verdade transparente” talvez esteja presente quando o sujeito comete um ato falho ― situação em que ele revela o oculto que não queria dizer. O indivíduo concebe o ato falho como um “tropeço”, dizendo que não queria dizer àquilo. Que ele jamais venha esquecer essa célebre frase de Lacan:

“Nossos atos falhos são atos que são bem sucedidos. Palavras que tropeçam, são palavras que confessam.”


Por Levi B. Santos
Guarabira, 05 de dezembro de 2013

Site da Imagem: sobreorisco.blogspot

27 novembro 2013

Nosso Lado Melancólico e Cruel




Hipócrates, 400 AC, baseado nos quatro elementos da natureza (Terra – Ar - Fogo e Água), criou os quatro modelos biotipológicos para enquadrar os seres humanos

O Melancólico ― seria o sujeito triste, deprimido, poético e artístico.
O Fleumático ― seria aquele indivíduo tímido, lento, racional e coerente.
O Colérico ― seria o impetuoso, energético e apaixonado
O Sanguíneo ― era aquele afetuoso, alegre, otimista e confiante.

 Mas essa coisa de rotular os seres humanos dentro de instâncias estanques é coisa do passado. Nos idos de 1966, a minha mestra e psiquiatra, Maria de Lourdes Pereira, em umas de suas aulas práticas no manicômio Juliano Moreira, (João Pessoa), quando pagava a cadeira de Psicologia/psiquiatria disse algo que ficou gravado indelevelmente em minha mente: “Todos nós temos doses dos sintomas das pessoas rotuladas como loucas. Tudo é questão de grau, não existe essa tal de normalidade tão sonhada”.

Mas o que o pai da medicina viu, para incluir os poetas e artistas no rol dos melancólicos? Seria o melancólico aquele que vive de ilusões?

Os antigos astrólogos diziam que os melancólicos eram pessoas que tinham sido atingidas pelo mal de Saturno, caracterizados pela tristeza, o horror, enfim, o ”negro da coisa” ― daí, o nome de “doença da bile negra”. O termo “negro”, aqui usado no sentido pejorativo, talvez, evoque a primeira dor, o primeiro luto, o primeiro desamparo.

O que me levou a fazer esse breve preâmbulo, foi um trecho (diálogo entre um senhor e uma madame) que li recentemente, de autoria do poeta e cientista dinamarquês, Jans Jacobsen (falecido em 1885), colocado em destaque na primeira página do livro — A Crueldade Melancólica” —,do psicanalista Jacques Hassoun (1936 ― 1999). O brilhante excerto, que replico aqui, com os devidos créditos, é uma espécie de “Ode à Melancolia”. Esse afeto sombrio e cruel tem tudo a ver com o desejo atormentado de encontrar o impossível que foi perdido em um tempo distante, lá nas nossas origens. Mesmo sabendo que nada será como antes, procuramos incessantemente esse elo perdido:


― A senhora não sabe, Madame ― retomou Sti Horg, em voz lenta, aparentemente constrangido e sem saber se devia falar ou se calar —, a senhora não sabe, Madame, que há no mundo uma sociedade secreta que se poderia chamar de “a companhia dos ‘melancólicos”? São pessoas que, desde o nascimento, são diferentes das pessoas comuns; elas têm o coração maior e o sangue mais vivo, querem e desejam mais, aspiram com mais ardor e suas paixões são mais violentas, mais ardentes que as do homem comum[...]. Só que buscam na árvore da vida flores que outros nem imaginam a existência, flores que ocultam sob as folhas mortas e os ramos ressecados. E os outros, conhecem eles a volúpia da tristeza ou da desesperança?[...]
— Mas por quê? — perguntou Maria, dele desviando seus olhos com indiferença. — Por que o senhor os chama de “melancólicos”, já que, afinal, só pensam na alegria e nos gozos da vida e não no que é difícil e doloroso?
— Por quê? — exclamou ele, impaciente e com entonação desdenhosa. — Por que toda a alegria terrestre é breve e corruptível, falsa e imperfeita; porque a volúpia, apenas aberta como uma rosa, perde suas folhas como uma árvore no outono; porque cada prazer soberbo da vida, resplandecente de beleza e em plena floração, no instante mesmo em que vai apoderar-se de nós, é corroído por um câncer, de modo que nele percebemos, assim que se aproxima dos lábios, o espasmo da decomposição[...]. E a senhora pergunta por que os chamo de “melancólicos”, pois toda a volúpia, uma vez alcançada, muda de rosto e se torna fastio, pois cada transporte de contentamento é só o último suspiro de alegria, pois toda a beleza é a beleza que mente; toda a felicidade, uma felicidade que se rompe. (Jans Peter Jacobsen)


O drama do melancólico é o drama de Sísifo, personagem da mitologia grega, condenado indefinidamente a levar nas costas um bloco de mármore em direção ao cume de uma montanha, sem, no entanto, chegar a atingi-la, pois, quando está prestes a conseguir, o bloco escapa de si, rolando para o precipício.  Sísifo fracassa ao não conseguir o objetivo idealizado, e, desamparado, retorna ao ponto de partida para uma repetição sem fim de sua desventura.

Os poetas são melancólicos na medida em que retira do seu exaustivo e cruel percurso (ou do seu “sobe e desce da montanha existencial”), farto material para construir um poema; os escritores, de uma maneira geral também o são, ao brincar de palavras para não perceber o tempo passar; da mesma forma o oleiro, que diuturnamente contorna seu vazio, emoldurando-o em forma de vasos; ou o músico que faz da sua dor um acalanto, ou uma lânguida melodia.

“O melancólico é uma pessoa que perdeu o amor pela vida, e aspira à morte como uma bênção” — afirmou o Pai da Medicina. Mas o filósofo grego, Aristóteles, fez um contraponto a Hipócrates(seu contemporâneo), com esta emblemática pergunta deixada no ar: “Por que razão todos os homens que se dedicaram a poesia ou as artes são manifestamente melancólicos?”

Talvez, o desejo de normatizar o que é são e o que é doentio tenha influenciado o velho médico a conceituar a melancolia como um “mal” a ser tratado ou extirpado. Já o filósofo, aquele que cria e recria o seu "sublime/sombrio", aceitando a bipolaridade dos afetos, não hesita sorver a seiva “bile negra”, o “mal” (a volúpia da melancolia), para contrastar com  aquilo que é rotulado de  “bem” (a volúpia da alegria).


Por Levi B. Santos

14 novembro 2013

O Mito ― John Kennedy

Capa da revista “O Cruzeiro” ― Assassinato de John  Kennedy



Dia 22 de novembro (uma sexta feira), marca os 50 anos do assassinato do presidente dos EUA, John Fitzgerald Kennedy (1917 ― 1963). Na época eu tinha 17 anos, e estava iniciando o curso científico no Liceu Paraibano em João Pessoa.

Lembro que por esse tempo, “O Cruzeiro” ― a maior e mais difundida revista da América Latina ―, era o único semanário a chegar à minha cidade natal. Não tendo condições financeiras para comprá-los nas bancas, recorria aos sebos, para ler os números atrasados desse famoso periódico. Por um preço módico, adquiria o exemplar, duas ou três semanas após o seu lançamento. Para se ter uma idéia de grandeza desse periódico, basta dizer que sua tiragem passava dos 700 mil exemplares, quando o Brasil tinha apenas 50 milhões de habitantes. As feras que faziam parte do seu elenco de colunistas eram nada mais e nada menos que, David Nasser, Rachel de Queirós, Carlos Castello Branco, Austregésilo de Athaíde, Manoel Bandeira, Érico Veríssimo, Mario de Moraes, Péricles de Andrade, entre outros.

Três ou quatro dias depois da morte de John Kennedy, “O Cruzeiro” saiu com uma edição extra, estampando em sua capa a foto gigante do presidente americano e sua cobiçada esposa – Jacqueline.

Infelizmente, na internet, nada consegui garimpar da edição histórica da revista extra de “O Cruzeiro”, que saiu às bancas com o relato especial sobre o assassinato de John Kennedy.

Um livro publicado na época (início de 1964), por Nelson Werneck Sodré, sob o título ― “Quem Matou Kennedy” ― foi recolhido a mando dos marechais de ferro da ditadura militar instalada em fins de março de 1964. Quase todos os livros desse autor, que teve seus direitos políticos cassados por dez anos, foram apreendidos nas diversas livrarias do país.

Entre os dias 23 e 26 de novembro de 1963, o Jornal do Brasil, a Hora do Povo, a Estado de São Paulo e o Globo publicaram alguns escritos de Nelson Werneck sobre a conjuntura que levou a morte de Kennedy, que o/a leitor(a) pode conferir acessando o Blog do Dr. Sérgio Cruz.

Para evidenciar os pólos paradoxais, tão comuns nas figuras míticas, o jornalista e historiador Elio Gaspari, em um artigo publicado ontem (dia 13) na Folha de São Paulo, trouxe à baila sentimentos e desejos ambivalentes da vida do primeiro presidente católico dos EUA: “Passado meio século, criou-se a mitologia segundo a qual tudo seria diferente se ele não tivesse ido a Dallas. Kennedy queria sair do Vietnam. Tudo bem, mas quem entrou foi ele. Kennedy queria se aproximar de Cuba. Quem tentou invadi-la foi ele. De quebra, planejava o assassinato de Fidel Castro.

A ambivalência que sustentou o mito Kennedy, esteve também presente no emblemático episódio da descoberta dos mísseis soviéticos em Cuba: quando todos os militares esperavam a explosão da terceira guerra mundial, entre EUA e a Rússia (protetora da ilha de Fidel), eis que Kennedy resolveu dar marcha à ré, aguardando pacientemente que o governo russo retirasse seus mísseis do seu reduto comunista. O recuo do presidente foi entendido pelas forças armadas americanas como um sinal de fraqueza ou covardia.

Com o passar dos anos, os americanos reconheceriam que seu venerado herói, como todo personagem mítico, tinha em si um duplo “eu” ― ou um ser de duas faces: uma de vilão e outra de herói.

Abaixo, o leitor pode conferir em um vídeo, o registro do momento em que John Kennedy foi atingido por dois tiros: o primeiro no tórax e o outro, fatal, que lhe atravessou o crânio, quando desfilava com a esposa em carro aberto pelas ruas de Dallas.




Por Levi B. Santos

Guarabira, 14 de novembro de 2013

Site da Imagem: mercadolivre.com

04 novembro 2013

Somos Cópias Fiéis Deles



Lendo um ensaio do Nova-Iorquino, John Steinbeck (1902 ― 1968), autor do antológico “Vinhas da Ira” – obra que lhe deu o prêmio Nobel de Literatura em 1962 ―, é que pude perceber, claramente, a razão pela qual nossas vidas estão tão intrinsecamente ligadas ao povo dos EUA.

Do livro imperdível ― “A América e os Americanos” −, uma coletânea de 65 ensaios editados em 2002 pela editora Record para comemorar o centenário desse cultuado escritor norte americano, eu me detive no impecável artigo, que tem por título, “Paradoxo e Sonho”.

Fui me vendo por dentro, à medida que o autor descrevia os americanos como um povo contraditório, inquieto e eternamente insatisfeito. Alguns fragmentos que pincei do seu memorável ensaio mostram que somos muito parecidos com eles. Suas idiossincrasias são também as nossas. Se não vejamos:


“Nós emburramos e nos esperneamos com o fracasso e ficamos loucos de insatisfação frente ao sucesso. Passamos nosso tempo procurando segurança e a odiamos quando a conseguimos. Na maioria somos um povo destemperado: comemos demais quando podemos, bebemos demais, gratificamos demais nossos sentidos [...]. [...] parecemos estar num estado de torvelinho o tempo todo, tanto física quanto moralmente. Somos incapazes de acreditar que nosso governo é fraco, estúpido, dominador, desonesto e ineficiente e, ao mesmo tempo, estamos convencidos que é o melhor governo do mundo e gostaríamos de impô-lo a todo o resto do mundo. [...] Às vezes parecemos ser uma nação de puritanos públicos e devassos privados. Com certeza não há excessos como os cometidos por bons chefes de família longe de casa, numa convenção. Nós nos vemos como realistas de pé no chão, mas compraremos qualquer coisa que virmos anunciada, especialmente na televisão; e compramos não com referência à qualidade ou ao valor do produto, mas diretamente como resultado de número de vezes que ouvimos mencioná-lo. O absurdo mais extremado a respeito de um produto nunca é questionado. Temos medo de estar acordados, medo de ficar sozinhos, medo de ficar um momento sem o barulho e a confusão que chamamos de entretenimento”.                                           (John Steinbeck)


Falamos mal dos americanos, denominando-os de imperialistas. Mas lá no fundo quem não é? Freud, diria que inconscientemente os adoramos. Nos tempos primitivos nos escondíamos em cavernas para fugir do perigo lá de fora. Hoje continuamos a nos esconder da parte obscuramente perigosa de nós mesmos. A população dos EUA, por exemplo, após o “11 de setembro”, vive mais encurralada do que nunca, sem ter para onde fugir, num frenesi tremendo. Todos extremamente obcecados por segurança e ávidos por sistemas de espionagem contra terroristas que de vez em quando provocam graves atentados.

Assim estamos nós, aqui, a imitá-los, quando construímos nossas celas penais em apartamentos rodeados de todo tipo de parafernália anti-roubo ― para depois dizer aos outros: Olha! Estou seguro! Pura ilusão, pois quando saímos de nossas celas para os metrôs, shoppings e outras modalidades de recreio, ficamos como baratas tontas, temerosos de ser esmagados, ou assaltados, andando a passos de tartaruga em ruas apinhadas e barulhentas tomadas por um tráfego infernal.

Mas a presidente Dilma, recentemente, alvoroçou-se toda com Obama ― o representante maior dos americanos ―, ao tomar conhecimento de que estava sendo espionada por ele. Revoltou-se com o Tio Sam. Comportou-se igualzinha aos sobrinhos do Pato da Disney que faz a alegria da criançada brasileira e americana. Quem não se lembra dos gibizinhos do Pato Donald e seus inseparáveis e insuperáveis sobrinhos, Huguinho, Zezinho e Luizinho, que nos entretinham nos tempos de menino? Nos desenhos animados, os três sobrinhos tinham o mesmo timbre da voz do Tio ― falavam e agiam de forma muito parecida, muito embora, aqui ou acolá esperneassem contra as atitudes que o Tio tomava.
E não é que o Zezinho, o Huguinho e o Luizinho da equipe de Dilminha acertaram um projeto de contra-espionagem para irritar o odiado e ao mesmo tempo amado ― Tio Obama do Norte? É a vida imitando a arte das histórias em quadrinhos do Pato Donald e seus sobrinhos.

Vibrem bravos patriotas brasileiros! Já temos uma multinacional vencedora para contra-espionar os nossos irmãos do Norte: trata-se do consórcio francês, “Thalia Alenia Space ― principal empresa européia de sistemas eletrônicos de defesa. (vide link)

Enquanto dava os últimos retoques nesse artigo, noticias quentinhas da Folha de São Paulo, de hoje (dia 04), vieram fortalecer o escopo do ensaio ― o de que somos cópias fiéis dos nossos irmãos da América do Norte. Diz assim, a manchete do jornal: “Agência Brasileira Espionou Funcionários Estrangeiros”. Como o verbo espionar não é defectivo, deveríamos todos (por que não?) conjugá-lo no plural do presente do indicativo: “...nós espionamos/vós espionais/eles espionam”.

Então, viva Obama e viva o Pato Donald! Viva Dilma e viva os sobrinhos imitadores do maldoso e maravilhoso Pato! Nós brasileiros, agora, estamos em pé de igualdade com os Ianques. Se eles nos espionam, nós temos como dar o troco, fazendo a contra-espionagem. Cantem! Cantem! Façam coro com Ivan Lins!Somos todos iguais nesta noite:


“...Pede a banda
Pra tocar um dobrado
Olha nós outra vez no picadeiro
Pede a banda
Pra tocar um dobrado
Vamos dançar mais uma vez”.


Por Levi B. Santos
Guarabira, 04 de novembro de 2013



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30 outubro 2013

As Exéquias do Excêntrico Bioanalista

  

O laboratório era a sua segunda casa. A bem dizer, quase todos habitantes da pequenina cidade já tinham passado por suas mãos. Respeitavam-no, pois era a a quem recorriam; a quem entregavam seu sangue, seus excrementos sólidos e líquidos a ser examinados minuciosamente.

Na tarde cinzenta e fria de seu sepultamento ninguém ousou dizer uma palavra sequer. O sacerdote esperava que alguém se pronunciasse, antes do féretro descer à cova, mas nenhum tomou essa iniciativa. Aliás, nada podiam fazer, pois estavam perplexos, como que atacados por uma sisudez mórbida, como se uma aura paralisante tivesse caído abruptamente sobre seus nervos e músculos. Uma mistura de perplexidade e tristeza transparecia em todos os olhares.

O silêncio que reinou minutos antes do corpo do cientista descer à sepultura, talvez fosse resultado do clima de extrema religiosidade da população a colidir com a personalidade paradoxal do douto senhor. Talvez, os seus defeitos estivessem a anular as suas virtudes, impedindo os discursos fúnebres, que geralmente se nutrem do lado “bom” do sujeito. O certo é que um clima de temor caiu sobre os que estavam ao pé de sua última morada. Uns temiam que surgisse algum antipático a falar, ali, sobre as fraquezas e as excentricidades do defunto; outros receavam que as palavras de elogios ao morto, pudessem desaguar em um sonoro “não é verdade!”.

Não é que uma das garotas ali presente balbuciava ao ouvido da outra! É que o falecido tinha encontrado tantas variedades de vermes em suas fezes que, ao apresentar-lhe o resultado, chamou-a humoradamente de “verminosa” ― termo compreendido pela examinada como um xingamento.

Enfim, o doutor era o paradoxo em pessoa ― o que não é novidade nenhuma, pois é exatamente a contradição que caracteriza o humano. Por vezes, pessoas que compareciam a seu laboratório para lhe fazer perguntas sobre resultados de exames, recebiam como resposta, o silêncio, ou, quando muito, o lembrete: “Não abra o envelope, seu médico é quem vai informar o que você tem. Denotando todo o seu ser paradoxal, às vezes, quando inquirido insistentemente sobre o que tinha dado nos exames, disparava: Huuuuumm! Parece uma infecção aguda”.

Não encontrando fórmulas para dizer a verdade em toda sua plenitude sobre a vida do velho analista, naquele cair de tarde, a maneira melhor, mais simples e sincera que encontraram, foi não emitir opiniões sobre ele. Na falta de expressões que abarcassem toda a verdade sobre o falecido, resolveram aproveitar o silêncio ou o vazio de palavras do momento para recordar fatos pitorescos e engraçados da vida do doutor ― homem que conhecia muito bem o que estava oculto no sangue e nos excrementos de todos que o acompanhavam em sua última caminhada.

As últimas palavras do sacerdote confirmaram o que preconizam os filósofos e estudiosos da alma humana: “Não existe olhar neutro ― ele está sempre carregado de subjetividades nas relações que construímos uns com os outros”.

O enunciado bíblico “... e as suas obras o sigam” recitado pelo pároco no final do ritual fúnebre ―, mudara instantaneamente o ar dos velhos amigos de infância do analista a caminho de sua última morada. A estranheza denunciada pelos olhos deles, talvez se devesse a palavra “obra”. Este termo parece ter sido a senha para que viessem à tona fatos longínquos de suas vidas. É de se pensar que chegaram às suas mentes, lembranças reprimidas do tempo em que depositavam as latinhas com os dejetos de seus filhos e netos sobre o balcão de madeira do velho laboratório a fim de serem examinados. 
“Eu vim trazer a obra de meu menino para o senhor examinar”  era assim que seus ex-colegas de infância, com o olhar cabisbaixo e carregado de vergonha, se dirigiam ao homem sisudo, de avental branco, que vivia sempre cercado de tubos de ensaios e um antiquado microscópio bem ao centro de uma grande mesa de madeira de lei cheirando a clorofórmio. 

Depois do enterro de um ente querido, comumente, há sempre pessoas que têm o dom de contagiar o ambiente com suas traquinices, como que para quebrar a monotonia de fundo melancólico instaurada em ocasiões como essa. O certo é que ao descerem a ladeira do cemitério, rumo às suas casas, riram muito a respeito do paralelismo lingüístico entre “fezes” e “obras”(*). Até confidenciaram entre si que o falecido poderia (por que não?) ter sua função re-exercida na eternidade.


(*) Há na simbologia mítica uma relação intrínseca entre os significantes “fezes” e “obras”. No Dicionário Psicanalítico de Símbolos, as fezes representam a primeira manifestação criativa e concreta do poder individual; na Alquimia esses excrementos são considerados a matéria prima que acaba se transformando em ouro.


Por Levi B. Santos
Guarabira, 30 de outubro de 2013

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