Lendo
um ensaio do Nova-Iorquino, John Steinbeck (1902 ― 1968), autor do
antológico “Vinhas da Ira” – obra que
lhe deu o prêmio Nobel de Literatura em 1962 ―, é que pude perceber, claramente,
a razão pela qual nossas vidas estão tão intrinsecamente ligadas ao povo dos EUA.
Do
livro imperdível ― “A América e os
Americanos” −, uma coletânea de 65 ensaios editados em 2002 pela editora
Record para comemorar o centenário desse cultuado escritor norte americano, eu
me detive no impecável artigo, que tem por título, “Paradoxo e Sonho”.
Fui
me vendo por dentro, à medida que o autor descrevia os americanos como um povo contraditório,
inquieto e eternamente insatisfeito. Alguns fragmentos que pincei do seu
memorável ensaio mostram que somos muito parecidos com eles. Suas
idiossincrasias são também as nossas. Se não vejamos:
“Nós
emburramos e nos esperneamos com o fracasso e ficamos loucos de insatisfação
frente ao sucesso. Passamos nosso tempo procurando segurança e a odiamos quando
a conseguimos. Na maioria somos um povo destemperado: comemos demais quando
podemos, bebemos demais, gratificamos demais nossos sentidos [...]. [...]
parecemos estar num estado de torvelinho o tempo todo, tanto física quanto
moralmente. Somos incapazes de acreditar que nosso governo é fraco, estúpido,
dominador, desonesto e ineficiente e, ao mesmo tempo, estamos convencidos que é
o melhor governo do mundo e gostaríamos de impô-lo a todo o resto do mundo.
[...] Às vezes parecemos ser uma nação de puritanos públicos e devassos
privados. Com certeza não há excessos como os cometidos por bons chefes de
família longe de casa, numa convenção. Nós nos vemos como realistas de pé no
chão, mas compraremos qualquer coisa que virmos anunciada, especialmente na
televisão; e compramos não com referência à qualidade ou ao valor do produto,
mas diretamente como resultado de número de vezes que ouvimos mencioná-lo. O
absurdo mais extremado a respeito de um produto nunca é questionado. Temos medo
de estar acordados, medo de ficar sozinhos, medo de ficar um momento sem o
barulho e a confusão que chamamos de entretenimento”. (John Steinbeck)
Falamos
mal dos americanos, denominando-os
de imperialistas. Mas lá no fundo
quem não é? Freud, diria que inconscientemente os adoramos. Nos tempos primitivos
nos escondíamos em cavernas para fugir do perigo lá de fora. Hoje continuamos a
nos esconder da parte obscuramente perigosa de nós mesmos. A população dos EUA,
por exemplo, após o “11 de setembro”,
vive mais encurralada do que nunca, sem ter para onde fugir, num frenesi tremendo. Todos extremamente obcecados
por segurança e ávidos por sistemas de espionagem contra terroristas que de vez
em quando provocam graves atentados.
Assim
estamos nós, aqui, a imitá-los, quando construímos nossas celas penais em
apartamentos rodeados de todo tipo de parafernália anti-roubo ― para depois
dizer aos outros: Olha! Estou seguro! Pura ilusão, pois quando saímos de nossas
celas para os metrôs, shoppings e outras modalidades de recreio, ficamos como
baratas tontas, temerosos de ser esmagados, ou assaltados, andando a passos de
tartaruga em ruas apinhadas e barulhentas tomadas por um tráfego infernal.
Mas
a presidente Dilma, recentemente, alvoroçou-se toda com Obama ― o representante
maior dos americanos ―, ao tomar conhecimento de que estava sendo espionada por
ele. Revoltou-se com o Tio Sam. Comportou-se igualzinha aos
sobrinhos do Pato da Disney que faz a alegria da criançada
brasileira e americana. Quem não se lembra dos gibizinhos do Pato Donald e
seus inseparáveis e insuperáveis sobrinhos, Huguinho, Zezinho
e Luizinho,
que nos entretinham nos tempos de menino? Nos desenhos animados, os três sobrinhos
tinham o mesmo timbre da voz do Tio ― falavam e agiam de forma muito parecida,
muito embora, aqui ou acolá esperneassem contra as atitudes que o Tio tomava.
E
não é que o Zezinho, o Huguinho e o Luizinho da equipe de Dilminha
acertaram um projeto de contra-espionagem para irritar o odiado e ao
mesmo tempo amado ― Tio Obama do Norte? É a vida imitando a
arte das histórias em quadrinhos do Pato
Donald e seus sobrinhos.
Vibrem
bravos patriotas brasileiros! Já temos uma multinacional vencedora para contra-espionar
os nossos irmãos do Norte: trata-se do consórcio francês, “Thalia
Alenia Space” ― principal empresa
européia de sistemas eletrônicos de defesa. (vide link)
Enquanto
dava os últimos retoques nesse artigo, noticias quentinhas da Folha de São
Paulo, de hoje (dia 04), vieram fortalecer o escopo do ensaio ― o de que somos
cópias fiéis dos nossos irmãos da América do Norte. Diz assim, a manchete do
jornal: “Agência Brasileira Espionou
Funcionários Estrangeiros”. Como o verbo espionar não é defectivo, deveríamos
todos (por que não?) conjugá-lo no plural do presente do indicativo: “...nós
espionamos/vós espionais/eles espionam”.
Então,
viva Obama
e viva o Pato Donald! Viva Dilma e viva os sobrinhos imitadores do maldoso
e maravilhoso Pato! Nós brasileiros, agora, estamos em pé de igualdade com os
Ianques. Se eles nos espionam, nós temos como dar o troco, fazendo a contra-espionagem.
Cantem! Cantem! Façam coro com Ivan Lins! ― “Somos todos iguais nesta
noite”:
“...Pede
a banda
Pra
tocar um dobrado
Olha
nós outra vez no picadeiro
Pede a
banda
Pra
tocar um dobrado
Vamos
dançar mais uma vez”.
Por Levi
B. Santos
6 comentários:
“Quem não deve não teme”
O argentino Jorge Bergóglio, segundo a imprensa Italiana vem sendo espionado pela NSA (Agência Nacional de Segurança dos EUA).
Diferentemente de Dilma, o papa FranciscoI disse não está nem aí para a acusação. (rsrs)
Mas as manchetes dos jornais de hoje, deixaram a nossa presidenta em maus lençóis. É que no governo Lula e no seu, a espionagem internacional a cargo da ABIN, rolou solta.
Rir aí Obama!!!
Espionagem sempre houve. Nas décadas de 70 e 80, romances e filmes exploravam bastante o tema. O espião dos filmes e romances virou até artigo pop. Misteriosos e vivendo um vida dupla e cheio de aventuras, eles povoaram a imaginação da cultura pop.
Os EUA, eterno polícia do mundo, arvora-se para si o direito de espionar todo mundo com a desculpa de se precaver contra atos terroristas. Mas os motivos econômicos são um fator de peso.
Mas aí, todos caímos no mesmo balaio: Yes, temos também meio de espionar! Somos iguais aos americanos. Aos franceses, alemães...somos todos iguais, de fato!
A pitadinha nacional sobre o assunto veio do senador Ricardo Ferraço (PMDB-ES), que apoiou na semana passada a criação de uma CPI sobre a espionagem da NSA.
E a piada da vez.
E pelo visto, Francisco não tem nada a esconder...rss
A espionada se fazendo de vítima e por trás espionando diplomatas de países considerados amigos (rsrs).
Mas isso vem de longe, não é Edu?
Os governos são interesseiros, e como tal, nunca tiveram amigos verdadeiros. Uma prova disso é que os EUA, que são considerados eternos amigos de Israel, nunca deixaram de espioná-lo.
Agora, os filmes de espionagem vão ser explorados, como nunca, no mundo todo.
Uma pergunta: Quem foi o araponga brasileiro (o nosso “Snowden”) que descobriu as estripulias “secretas”do Governo do PT? (rsrs)
Veja a que ponto chegou a tal da espionagem, acessando esse LINK:
http://laudaamassada.blogspot.com.br/2013/09/dilma-e-espionagem-de-obama.html
Chegamos em determinado trecho da estrada evolutiva onde "espionar" não é muito diferente de "espiar". Nós brasileiros, assim como outros povos não achamos ruim dar um espiadinha (como dizia O Pedro Bial).
Precisamos nos fazer de ofendidos, mas acho, que lá no fundo, até gostamos, ora, se somos "espiados", é por que estamos em evidência.
Lembro-me dos tempos do falecido "Orkut", onde o interessante era saber quem forma as pessoas que deram uma "espionadinha" em nosso perfis, Somos todos iguais, copia da cópia, e chegará o dia em que estaremos tão apagados que não conseguiremos mais ler nossa própria história.
Belo texto meu amigo!
Boa pegunta, Levi, quem foi o araponga?? rsss
Edson, você está certo: espiar é da natureza humana...rss
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