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19 julho 2020

O EFEITO PLACEBO em Um Caso de Asma Brônquica






João Pereira Coutinho, além de doutor em Ciência Política pela Universidade Católica Portuguesa é ensaísta da Folha de São Paulo. Ele escreve sempre às Terças Feiras na última página do caderno “Ilustrada”. Achei por demais interessante sua abordagem sobre o efeito placebo”, em um artigo que publicou nesse Jornal, no dia 04 de setembro de 2018, sob o título “Nada de Novo Debaixo do Sol”.

Antes de o autor falar sobre o efeito placebo, fez referências ao fundamentalismo religioso, que ele considera não muito diferente do fundamentalismo daquele que se diz ateu. afirma em certa altura de seu texto. “...acreditar que só a ciência poderá redimir a condição humana é, nova ironia, uma transposição da linguagem religiosa para a do domínio da técnica”
Depois de confessar ser um hipocondríaco (e quem não tem um pouco disso?) há 42 anos em uma família de médicos, fez a seguinte revelação: “Em diversas ocasiões sei que fui enganado. Mas também sei que melhorei sempre: a visão de um comprimido funciona em mim como a promessa de um osso para um cachorro triste”.

O ensaio de João Pereira teve o condão de evocar em mim a figura de um paciente de adiantada idade, que no tempo em que dava meus plantões no setor de urgência (1980 à 2001) no Hospital Regional de Guarabira (PB), o via quase que semanalmente, em suas crises severas de asma brônquica. Certa ocasião em conversa com outros colegas chegamos à conclusão de que havia algo de fundo psicológico no desencadeamento da crise de falta de ar daquele senhor. Foi aí que decidimos aplicar o placebo da injeção de aminofilina que aplicada por via endovenosa fazia cessar imediatamente a crise. De tanto tomar a aminofilina ela já a conhecia de longe, pelo tamanho e cor da ampola. A ampola de água distilada, diga-se de passagem, tinha o aspecto semelhante ao do pequeno frasco de aminofilina. Saliente-se, aqui, que a água destilada é completamente inócua, quando se aplica bem lentamente na veia. Lembro que ele nunca deixava aplicar todo o conteúdo da ampola de 10 ml, pois com apenas um terço dela já se sentia completamente eupneico, e saía da sala de urgência rindo e agradecido.


Por Levi B. Santos
Guarabira, 19 de julho de 2020

02 janeiro 2019

CÉREBRO LIBERAL E CÉREBRO CONSERVADOR




Ela, a sempre Neurociência, não cessa de escavar os nossos cérebros na tentativa de desvendar o porquê de certas atitudes e comportamentos que adquirimos durante nossa trajetória existencial.

E não é que, recentemente, neurocientistas andam a conjecturar sobre a existência dos genes da ideologia?

O antropólogo e evolucionista americano, Avi Tuschman — autor de "Nossa Natureza Política: A Origem Evolutiva do Que Mais Nos Divide" — disse, em uma entrevista nas páginas amarelas da revista Veja da semana passada, "que cientistas pesquisadores da Universidade College London, escanearam cérebros de estudantes através da ressonância magnética e, pelas imagens obtidas, conseguiram prever quais alunos eram mais conservadores e quais eram mais liberais. Aqueles identificados com os valores de direita possuíam uma área do cérebro, amígdala cerebelosa direita mais desenvolvida[...]. Já aqueles estudantes que se identificavam com valores relacionados à esquerda apresentavam outra região cerebral mais desenvolvida — o córtex cingulado anterior”.

Quanto a esses fenômenos, seria importante esclarecer o que é causa, e o que é consequência, em analogia à velha pergunta: "Quem veio primeiro, o ovo ou a galinha?"

Neurocientistas trabalham com a hipótese de que o alinhamento ideológico(conservador e liberal) seria conseqüência ou decorrência de uma diferença estrutural cerebral existente em cada um dos grupos. E se a maneira de ser do indivíduo adulto forjada lá na sua tenra infância, pesando nisso a sua formação ambiental, paterna, cultural ou mesmo de fundo religioso forem a causa, e não consequência, de tais modificações em determinadas áreas do cérebro? Segundo Freud, a carga afetiva e reações psíquicas defensivas da criança nos seus quatro ou cinco primeiros anos de vida são cruciais para a formação de sua personalidade. Por essa época, tanto a submissão quanto a rebeldia a uma autoridade exercem um fascínio incomum sobre o infante. O rebelde de ontem não seria o rebelde e liberal de hoje? O submisso e medroso de ontem não seria o precavido e conservador dos dias atuais? Ou o que denominamos "ser liberal" e "ser conservador" são fases que se intercalam, ao sabor das circunstâncias, em nosso caminhar existencial? No clássico, “Os Irmãos Karamazov”, Dostoiévski mostra que a contradição faz parte da natureza humana. O filósofo e ensaísta, Luiz Felipe Pondé, fazendo uma abordagem sobre a obra desse autor russo, chegou a afirmar: “Não é possível descrever o ser humano, categorizá-lo, prendê-lo; só se pode ouvi-lo.”
  
“O que é você? Uma conservadora? Uma Liberal?" — perguntou, certa vez, um entrevistador a famosa e polêmica filósofa política de origem judia, Hannah Arendt, naturalmente, querendo saber de que lado ela militava. Não sei. Eu realmente não sei e nunca soube. Você sabe que a esquerda pensa que sou conservadora, e os conservadores às vezes pensam que sou de esquerda” — respondeu, de forma desconcertante e lúcida, a entrevistada.

Freud chegou à Ciência como um rebelde — ainda que fosse, politicamente moderado, liberal, ligeiramente conservador e não tivesse simpatia por bandeiras vermelhas e barricadas” — afirmou Zigmunt Bauman, para realçar a ambivalência reinante em nossas decisões (Modernidade e Ambivalência — Editora Zahar). O homem é ambivalente porque apesar de latejar em si o ideal liberal, não deixa de sofrer influência de seu lado conservador inconsciente e reprimido.  
  
“Um superego amistoso, benevolente e útil, seria a solução ideal, como contraponto ao superego que age de forma tirânica e ameaçadora”— fez ver Freud, com relação ao teimoso liberal e ao passivo, temeroso e subserviente.

Em suma, a psicanálise e a neurociência não são totalmente inconciliáveis, apesar de divergirem em suas abordagens. Não podemos negar que existe certo consenso entre esses dois campos científicos, que exploram os nossos afetos ambivalentes: “Há uma tendência de nos tornamos mais conservadores à medida que envelhecemos” — concluiu, Avi Tuschman, em sua entrevista à revista Veja —, em consonância com a frase atribuída ao grande estadista e médico francês, George Clemeceau, contemporâneo de Émile Zola:

“Um homem que não seja comunista aos 20 anos não tem coração e um homem que permaneça comunista aos 40 não tem cérebro.”


Por Levi B. Santos
Guarabira, 22 de janeiro de 2015

Site da Imagem:  fotosearch.com.br

03 janeiro 2017

Consulte o Google e Nada Lhe Faltará






O historiador Israelense, Yuval Noah Harari, autor de Homo Deus: Uma Breve História do Amanhã (Editora Companhia das Letras), em um artigo intitulado ― “Adeus Ao Livre-Arbítrio” ―, veiculado na última edição da Revista Veja do ano 2016, em rápidas pinceladas, discorre sobre o que ele considera um novo credo: o “Dataísmo”.

O Dataísmo percebe o universo como um fluxo de dados, veem os organismos como pouco mais que algorítmos bioquímicos e acreditam que a vocação cósmica da humanidade é criar um sistema de processamento todo-abrangente ― e depois fundir-se nele” ― diz o autor israelense.

Numa entrevista dada à Folha de São Paulo, há pouco mais de um mês, Yuval Noah acentuou que “a idolatria da informação, ou Big Data, pode substituir o humanismo liberal e tornar-se a “religião” do século XXI, com grave ameaça para aquilo que a ciência não consegue explicar com seus algorítmos: a consciência”.

Animados por dados de pesquisas comprovando que “estímulos de tecnologias digitais podem mudar o cérebro e a maneira como ele percebe as coisas”, os cientistas, de uma maneira geral, estão cada vez mais sonhando com o tempo em que a tecnologia desvendará, afinal, os segredos da alma humana.

Quem não se deslumbra ante a possibilidade de um dia ver a tecnologia do mundo virtual penetrar nas profundezas do cérebro humano para trazer, enfim, através de remodulações das conexões neurais, a tão sonhada felicidade? Freud concebia que o “princípio do prazer” regia o homem do seu tempo. Mas os deuses da religião advogavam e ainda advogam que o sofrimento é essencial para o amadurecimento. Lacan dizia que a falta ou vazio é que fazia nascer o desejo. Por essa época se pensava que a satisfação plena dos desejos poderia levar ao fim do homo sapiens e consequentemente do mundo.

Esse desejo ardente de desvendar os recônditos da psique, vem de muito longe. Encontrar o fundamento do universo humano foi a preocupação maior dos filósofos da antiguidade. “Conhece-te a ti mesmo” ― esse conhecidíssimo bordão atribuído ao personagem Sócrates, criado por Platão, resume todo o desejo de plenitude que nunca nos abandona. Hoje, a célebre máxima do grande filósofo, está sendo substituída por algo como: “Quer saber tudo sobre você? ― pergunte ao Google”.

Incrível, mas o Google, em certos casos, já substitui o médico. “Empresas on line já oferecem diagnósticos médicos em seu sistema de buscas”(Vide Link). Você pode fazer perguntas sobre temas de saúde que o Google responde automaticamente.

O Google, assim como o Deus-Pai da religião, sondará a alma dos que frequentam os templos cibernéticos e penetrará, nos arquivos privados ou secretos dos cidadãos para conhecer seus pontos fracos, nos mínimos detalhes. Se não sabia, fique sabendo que há trabalhos acadêmicos demonstrando que o espírito cibernético já supera o homem no desvendamento de problemas aparentemente insolúveis, numa rapidez imensurável. Ele já força a imaginação humana no sentido ou direção daquilo que bem deseja. “Onde a razão termina a criatividade do Google começa”. O Google é tão poderoso que já foi criado para si uma versão bíblica do Salmo 23 ― “O Google é o meu Pastor” (Vide Link)

Programas de computadores, dizem os modernos tecnocratas do mundo virtual, poderão futuramente substituir, os médicos, advogados, músicos e poetas. “Os heróis serão facilmente manipulados pelos supercomputadores”. Em vez de se dizer: “Ouça seus sentimentos!”, o Dataísmo ordenará: “Ouça seus algorítmos!. Eles sabem como você se sente”. Mas você, para atingir tal nível de conhecimento, “deverá permitir que o Google e o Facebook leiam todos seus e-mails, todos seus bate-papos e mensagens e mantenham um registro de todas as curtidas e cliques”. “...essas redes analisarão quantidades astronômicas de dados que nenhum humano é capaz de abranger, e aprendem a reconhecer padrões e a adotar estratégias que escapam à mente humana” ― advoga o autor de “Homo Deus”.

Discorrendo sobre a era Google, Carlo Ginzburg afirma que esse site é, ao mesmo tempo um poderoso instrumento de pesquisas históricas e um poderoso instrumento de cancelamento da história. Porque, no presente eletrônico, o passado se dissolve”. (Vide Link)

Provavelmente muitos de nossa geração não mais estarão aqui para presenciar a tecnologia digital interferir em áreas cerebrais responsáveis pela cognição, afetividade e tomada de decisões importantes. A alma humana, enfim, navegará por caminhos preconcebidos, e porque não dizer des-humanos.

Com certeza, não estarei mais aqui para experimentar essa gerigonça cibernética em forma de capacete que pretende fazer a humanidade viajar longe, na imaginação, até o terceiro céu, descrito pelo apóstolo Paulo há quase dois mil anos. Tenho a impressão de que a vida futura artificial criada pela tecnologia digital, ao pretender anular os traumas da primeira infância do sujeito, lhe trará consequências desagradáveis, entre elas, o apagamento do sentimento nostálgico ou de saudade, além dos desejos utópicos que tanto nos inspiram a escrever e versejar. Essa paz cibernética, reino onde tudo é preconcebido milimetricamente, transformará o homo sapiens em um ser autômato e sem graça. Ao deletar os nossos arquivos primevos, a neurociência digital tornará a vida muito insossa, pois a dessemelhança de nosso passado é que nos faz interagir, sonhar e dialogar. Sem o passado que nos move e nos inspira seremos seres semelhantes e, como linhas paralelas, caminharemos indefinidamente sem nunca encontrarmos.

Aí então, o Frankenstein (1817) ― ser humano artificial produzido pela fértil imaginação de Mary Shelley ―, deixará de ser ficção científica para se tornar a mais pura realidade.

Tempo virá em que, a um simples clique no seu computador, o Google revelará coisas maravilhosas que você jamais imaginou. Você experimentará prazer sem surpresa, e adeus sem lágrimas. Passeará por bosques soberbos, e subirá em altos carvalhos sem sair do canto. Tudo virá à sua mente sem o mínimo esforço. Você se encantará dentro de suntuosas catedrais, onde terá a oportunidade de escolher a sua música futurística predileta. Enfim, viajará por mares nunca navegados.

E quanto ao perigo do conectado morrer de uma overdose ao se embriagar com a felicidade virtual? Refletindo bem, não acredito que isso possa acontecer, pois, o algorítmo responsável pela inteligência artificial, ante o risco iminente de morte, desligará automaticamente as novas modulações de conexões neuroniais, trazendo o sujeito cibernético de volta ao modo natural de vida.

Quando o conectado entregar seu corpo e sua mente ao total controle da engenharia biológica da computação, deixará de ser risível a recente versão digital do Salmo 23 (Vide Link): “...Ainda que eu ande pelo vale da ignorância e da insensatez, não temerei mal algum, Porque Tu estás comigo diuturnamente. Os teus Links e os teus Arquivos me consolam”.



Por Levi B. Santos
Guarabira, 03 de janeiro de 2017


23 janeiro 2015

Cérebro Liberal e Cérebro Conservador?!




Ela, a sempre Neurociência, não cessa de escavar os nossos cérebros na tentativa de desvendar o porquê de certas atitudes e comportamentos que adquirimos durante nossa trajetória existencial.

E não é que, recentemente, neurocientistas andam a conjecturar sobre a existência dos genes da ideologia?

O antropólogo e evolucionista americano, Avi Tuschman — autor de "Nossa Natureza Política: A Origem Evolutiva do Que Mais Nos Divide" — disse, em uma entrevista nas páginas amarelas da revista Veja da semana passada, "que cientistas pesquisadores da Universidade College London, escanearam cérebros de estudantes através da ressonância magnética e, pelas imagens obtidas, conseguiram prever quais alunos eram mais conservadores e quais eram mais liberais. Aqueles identificados com os valores de direita possuíam uma área do cérebro, amígdala cerebelosa direita mais desenvolvida[...]. Já aqueles estudantes que se identificavam com valores relacionados à esquerda apresentavam outra região cerebral mais desenvolvida — o córtex cingulado anterior”.

Quanto a esses fenômenos, seria importante esclarecer o que é causa, e o que é consequência, em analogia à velha pergunta: "Quem veio primeiro, o ovo ou a galinha?"

Neurocientistas trabalham com a hipótese de que o alinhamento ideológico(conservador e liberal) seria conseqüência ou decorrência de uma diferença estrutural cerebral existente em cada um dos grupos. E se a maneira de ser do indivíduo adulto forjada lá na sua tenra infância, pesando nisso a sua formação ambiental, paterna, cultural ou mesmo de fundo religioso forem a causa, e não consequência, de tais modificações em determinadas áreas do cérebro? Segundo Freud, a carga afetiva e reações psíquicas defensivas da criança nos seus quatro ou cinco primeiros anos de vida são cruciais para a formação de sua personalidade. Por essa época, tanto a submissão quanto a rebeldia a uma autoridade exercem um fascínio incomum sobre o infante. O rebelde de ontem não seria o rebelde e liberal de hoje? O submisso e medroso de ontem não seria o precavido e conservador dos dias atuais? Ou o que denominamos "ser liberal" e "ser conservador" são fases que se intercalam, ao sabor das circunstâncias, em nosso caminhar existencial? No clássico, “Os Irmãos Karamazov”, Dostoiévski mostra que a contradição faz parte da natureza humana. O filósofo e ensaísta, Luiz Felipe Pondé, fazendo uma abordagem sobre a obra desse autor russo, chegou a afirmar: “Não é possível descrever o ser humano, categorizá-lo, prendê-lo; só se pode ouvi-lo.”
  
“O que é você? Uma conservadora? Uma Liberal?" — perguntou, certa vez, um entrevistador a famosa e polêmica filósofa política de origem judia, Hannah Arendt, naturalmente, querendo saber de que lado ela militava. Não sei. Eu realmente não sei e nunca soube. Você sabe que a esquerda pensa que sou conservadora, e os conservadores às vezes pensam que sou de esquerda” — respondeu, de forma desconcertante e lúcida, a entrevistada.

Freud chegou à Ciência como um rebelde — ainda que fosse, politicamente moderado, liberal, ligeiramente conservador e não tivesse simpatia por bandeiras vermelhas e barricadas” — afirmou Zigmunt Bauman, para realçar a ambivalência reinante em nossas decisões (Modernidade e Ambivalência — Editora Zahar). O homem é ambivalente porque apesar de latejar em si o ideal liberal, não deixa de sofrer influência de seu lado conservador inconsciente e reprimido.  
  
“Um superego amistoso, benevolente e útil, seria a solução ideal, como contraponto ao superego que age de forma tirânica e ameaçadora”— fez ver Freud, com relação ao teimoso liberal e ao passivo, temeroso e subserviente.

Em suma, a psicanálise e a neurociência não são totalmente inconciliáveis, apesar de divergirem em suas abordagens. Não podemos negar que existe certo consenso entre esses dois campos científicos, que exploram os nossos afetos ambivalentes: “Há uma tendência de nos tornamos mais conservadores à medida que envelhecemos” — concluiu, Avi Tuschman, em sua entrevista à revista Veja —, em consonância com a frase atribuída ao grande estadista e médico francês, George Clemeceau, contemporâneo de Émile Zola:

“Um homem que não seja comunista aos 20 anos não tem coração e um homem que permaneça comunista aos 40 não tem cérebro.”


Por Levi B. Santos
Guarabira, 22 de janeiro de 2015

Site da Imagem:  fotosearch.com.br