João
Pereira Coutinho, além de doutor em Ciência Política pela
Universidade Católica Portuguesa é ensaísta da Folha de São
Paulo. Ele escreve sempre às Terças Feiras ―
na
última página do caderno “Ilustrada”.
Achei por demais interessante sua abordagem sobre o “efeito
placebo”,
em um artigo que publicou
nesse
Jornal, no
dia 04 de setembro de
2018,
sob o título “Nada
de Novo Debaixo do Sol”.
Antes
de o autor falar sobre o efeito placebo, fez
referências
ao
fundamentalismo religioso, que ele considera não
muito diferente
do
fundamentalismo daquele que se diz ateu.―
afirma em certa altura de seu texto.
“...acreditar
que só a ciência poderá redimir a condição humana é, nova
ironia, uma transposição da linguagem religiosa para a do domínio
da técnica”
Depois
de confessar ser um hipocondríaco (e quem não tem um pouco disso?)
há 42 anos em uma família de médicos, fez a seguinte revelação:
“Em diversas ocasiões sei que fui enganado. Mas também sei que
melhorei sempre: a visão de um comprimido funciona em mim como a
promessa de um osso para um cachorro triste”.
O
ensaio de João Pereira teve o condão de evocar em mim a figura de
um paciente de adiantada idade, que no tempo em que dava meus
plantões no setor de urgência (1980 à 2001) no Hospital Regional
de Guarabira (PB), o via quase que semanalmente, em suas crises
severas de asma brônquica. Certa ocasião em conversa com outros
colegas chegamos à conclusão de que havia algo de fundo psicológico
no desencadeamento da crise de falta de ar daquele senhor. Foi aí
que decidimos aplicar o placebo da injeção de aminofilina que
aplicada por via endovenosa fazia cessar imediatamente a crise. De
tanto tomar a aminofilina ela já a conhecia de longe, pelo tamanho e
cor da ampola. A ampola de água distilada, diga-se de passagem,
tinha o aspecto semelhante ao do pequeno frasco de aminofilina.
Saliente-se, aqui, que a água destilada é completamente inócua,
quando se aplica bem lentamente na veia. Lembro que ele nunca deixava
aplicar todo o conteúdo da ampola de 10 ml, pois com apenas um terço
dela já se sentia completamente eupneico, e saía da sala de
urgência rindo e agradecido.
Por
Levi B. Santos
Guarabira,
19 de julho de 2020
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