26 novembro 2011

A Corrupção Que Nos Assombra




Francamente, não suporto mais, já cansei de ver as manchetes diárias que saem nos nossos meios de comunicação com denúncias escabrosas comprovadas por farto suporte de documentos, envolvendo as autoridades de nossa República, que deviam zelar pelo bem público.

O Congresso que deveria ser a mais sólida trincheira em defesa da ética e da moral está totalmente desmoralizado. A imprensa é quem vem fazendo a “faxina”, a ponto de em seis meses do governo Dilma, ter descoberto seis ministros com a mão na botija. A meu ver, em nenhum outro país, ocorreu um corte de tantas cabeças ministeriais em tão pouco tempo de governo.

O psicanalista gaúcho, Contardo Calligaris, dá uma explicação bem aprofundada sobre como se formam essas “cabeças corruptas”. Diz ele:

O Brasil destaca-se nessa triste situação não só porque é forjado na cultura individualista, mas por sua História, sempre vulnerável à corrupção”.

O presidente da Associação Psicanalítica de Porto Alegre acrescenta ainda: a história do país explica muita coisa, pois é fruto de uma cultura específica: instituições, organização social, costumes, crenças e mitos. Na fala e no inconsciente dos brasileiros, há a presença de duas figuras supostamente perdidas no passado: O ‘colonizador e o colono’. O colonizador abandonou a mãe-pátria, Portugal, por uma nova terra, que vai explorar. O que quer dizer explorar?. Conhecer e também arrancar seus recursos. Ele veio impor a sua língua e gozar a nova mãe sem o interdito do Pai. O colono, ao contrário, não veio gozar a América; queria construir um nome, encontrar um nova pai. Ser sujeito”.

Hilda Morana, coordenadora do Departamento de Psiquiatria Forense da Associação Brasileira de Psiquiatria, define o termo Corrupção, no sentido social. Segundo ela,o típico corrupto é o indivíduo que busca driblar regras em benefício próprio, sem levar em consideração outras coisas que não o próprio benefício”.

Frei Betto, em um artigo recente, faz uma descrição muita apropriada sobre o "perfil do corrupto, que achei por demais interessante trazê-lo à tona:

“Manifestações públicas em várias cidades exigem o fim do voto secreto no Congresso; o direito de o CNJ investigar e punir juízes; a vigência da Ficha Limpa nas eleições de 2012; e o combate à corrupção na política.

Por que há tanta corrupção no Brasil? Temos leis, sistema judiciário, polícias e mídia atenta. Prevalece, entretanto, a impunidade – a mãe dos corruptos. Você conhece um notório corrupto brasileiro? Foi processado e está na cadeia?

O corrupto não se admite como tal. Esperto, age movido pela ambição de dinheiro. Não é propriamente um ladrão. Antes, trata-se de um requintado chantagista, desses de conversa frouxa, sorriso amável, salamaleques gentis. Anzol sem isca peixe não belisca.

O corrupto não se expõe; extorque. Considera a comissão um direito; a porcentagem, pagamento por serviços; o desvio, forma de apropriar-se do que lhe pertence; o caixa dois, investimento eleitoral. Bobos aqueles que fazem tráfico de influência sem tirar proveito.

Há vários tipos de corruptos. O corrupto oficial se vale da função pública para extrair vantagens a si, à família e aos amigos. Troca a placa do carro, embarca a mulher com passagem custeada pelo erário, usa cartão de crédito debitável no orçamento do Estado, faz gastos e obriga o contribuinte a pagar. Considera natural o superfaturamento, a ausência de licitação, a concorrência com cartas marcadas.

Sua lógica é corrupta: "Se não aproveito, outro sai no lucro em meu lugar". Seu único temor é ser apanhado em flagrante. Não se envergonha de se olhar no espelho, apenas teme ver o nome estampado nos jornais e a cara na TV.

O corrupto não tem escrúpulo em dar ou receber caixas de uísque no Natal, presentes caros de fornecedores ou patrocinar férias de juízes. Afrouxam-no com agrados e, assim, ele relaxa a burocracia que retém as verbas públicas.

Há o corrupto privado. Jamais menciona quantias, tão somente insinua. É o rei da metáfora. Nunca é direto. Fala em circunlóquios, seguro de que o interlocutor sabe ler nas entrelinhas.

O corrupto “franciscano” pratica o toma lá, dá cá. Seu lema: "quem não chora, não mama". Não ostenta riquezas, não viaja ao exterior, faz-se de pobretão para melhor encobrir a maracutaia. É o primeiro a indignar-se quando o assunto é a corrupção.

O corrupto exibido gasta o que não ganha, constrói mansões, enche o pasto de bois, convencido de que puxa-saquismo é amizade e sorriso cúmplice, cegueira.

O corrupto cúmplice assiste ao vídeo da deputada embolsando propina escusa e ainda finge não acreditar no que vê. E a absolve para, mais tarde, ser também absolvido.

O corrupto previdente fica de olho na Copa do Mundo, em 2014, e nas Olimpíadas do Rio, em 2016. Sabe que os jogos Pan-americanos no Rio, em 2007, orçados em R$ 800 milhões, consumiram R$ 4 bilhões.

O corrupto não sorri, agrada; não cumprimenta, estende a mão; não elogia, incensa; não possui valores, apenas saldo bancário. De tal modo se corrompe que nem mais percebe que é um corrupto. Julga-se um negocista bem-sucedido.

Melífluo, o corrupto é cheio de dedos, encosta-se nos honestos para se lhe aproveitar a sombra, trata os subalternos com uma dureza que o faz parecer o mais íntegro dos seres humanos.


Enquanto os corruptos brasileiros não vão para a cadeia, ao menos nós, eleitores, ano que vem podemos impedi-los de serem eleitos para funções públicas".

Recentemente, o todo-poderoso ex-ministro de Lulla, José Dirceu, em seu blog, deu sua versão sobre o “mar de lama” da política Nacional. Desabafou ele: “A operação derruba ministros está a mil. Nossa mídia fantasiada de objetiva e neutra, mas na prática transformada em partido da oposição, opera no sentido de desmantelar a base de aliados do Governo, e criar um clima de “mar de lama”.

P.S. :

É, eu entendo onde o Zé quer chegar: “o que se passa nos bastidores da “base aliada” não é coisa para ser revelada aos colonos”. Caixa Preta sempre haverá. Ora, o “Caixa Dois” não foi considerado como coisa normal em um discurso de ex-presidente Lula na Televisão? Lembram-se?

O grande nó da questão é que a imprensa “sem rédias” vem descobrindo um jeito de tornar transparentes as paredes das “caixas pretas”. (rsrs)


Por Levi B. Santos

Guarabira, 26 de novembro de 2011

Site da imagem: pcbam.blogspot.com

20 novembro 2011

Revisitando a “Pietá” de Michelangelo



Foi após concluir a sua maravilhosa escultura, a Pietá, na Basílica de São Pedro no Vaticano que Michelangelo foi aclamado como o maior escultor da época. Olhando o conjunto da obra não há como deixar de se emocionar. “A figura do Cristo morto ainda parece ter vida correndo nas veias. Os olhos abaixados da Virgem, ao contrário da tradição, emocionam pela dor e pela resignação. Seu manto, majestosamente drapeado, arranca do mármore uma leveza inimaginável. Na visão idealista de seu autor, a profunda beleza das duas figuras é a melhor tradução de sua nobreza de espírito” retratou o site VEJA na História, sobre a insuperável obra desse artista.

A revista Superinteressante – arquivo 1992 traz a seguinte informação sobre esse grande escultor, contemporâneo de Leonardo da Vinci:

“A morte da mãe, quando tinha 6 anos, marcou sua personalidade e toda sua vida. Entregue a uma ama-seca, na família de um canteiro, um operário que cortava a pedra para construções, ele próprio considerou fundamental para sua vocação de escultor este período em que se misturavam afeto familiar, cuidados maternos e pedra entalhada”.

O Pai da psicanálise, via naquela escultura o resgate da figura feminina, que por longo tempo foi tida como protagonista principal da maldição do pecado original pregada pelo cristianismo. Sabemos que na formulação dos conceitos psicanalíticos que vigoram até hoje, a mãe serviu de base para o entendimento do psiquismo masculino e feminino. Desde a concepção, o bebê vive uma relação simbiótica com a mãe. Nos gens da mãe e do pai estão toda a potencialidade da criatura que irá se desenvolver. A mãe é o veículo responsável pela herança do filho. Filho, que ao receber o patrimônio filogenético dos pais, está sempre a pedir para ser reconhecido e amado.

A psicanalista, Françoise Dolto, uma das fundadoras da Escola Lacaniana de Psicanálise, disse certa vez: "Cada um de nós, ao nascer, é a linguagem do desejo dos pais".

O psicanalista, Rubem Alves, em um texto publicado no Caderno Sinapse da Folha de São Paulo de 12/10/03, se referindo a “Reverência pela Vida”, assim falou: Cheguei a sugerir uma nova especialidade médica, simétrica à obstetrícia: a "morienterapia", o cuidado com os que estão morrendo. A missão da morienterapia seria cuidar da vida que se prepara para partir. Cuidar para que ela seja mansa, sem dores e cercada de amigos, longe de UTIs. Já encontrei a padroeira para essa nova especialidade: a Pietà de Michelangelo, com o Cristo morto nos seus braços. Nos braços daquela mãe o morrer deixa de causar medo”.

A Pietá nos transmite uma força emocional arrebatadora ante a resignação de uma mãe que no momento de intensa dor se separa de uma parte de si, gerada em suas entranhas. O que pensa aquela mãe com seu filho inerte bem aconchegado no seu colo, vítima de uma violência brutal? A tentativa de apreender a intenção que o artista imprimiu na sua magistral obra de arte, me faz reportar à saga das mães brasileiras que perderam e ainda perdem seus filhos em plena flor da idade, vitimas de incompreensões e injustiças de uma sociedade violenta e hedonista.

A fotografia da Pietá de Michelângelo no topo desse ensaio é tão harmônica e perfeita que, a um olhar atento e minucioso, não há como impedir que se seja afetado pela irresistível, apaziguante e poderosa atração que dela emana. Talvez, quem sabe, na sua contemplação, esteja eu me reportando a um tempo idílico de minha tenra idade, quando em meio às doenças da primeira infância, era embalado e consolado pelas saudosas cantigas de ninar no aconchego do colo materno.


Por Levi B. Santos

Guarabira, 20 de novembro de 2011

12 novembro 2011

ESSE É O MEU PAÍS

Agnelo segura crise dando espaço a Zé Dirceu


No meu país nada funciona a contento. Entretanto, é a imorredoura esperança de que tudo melhore que embala os nossos sonhos. Meu país tem um povo altamente religioso que adora slogans e frases de incentivo, como as que são postas na traseira dos caminhões de cargas que transitam pelas nossas estradas esburacadas, tipo: “JESUS”, “Guiado por Deus”, etc.

Aqui tudo tem cheiro de Deus e dos habitantes de Sua morada. Armazéns, postos de gasolina, motéis, hotéis, têm nomes de Santos. A fé do brasileiro parece ser inata. As expressões: “Se Deus quiser” ou “Deus é Grande” é ouvida em todos os recantos, mesmo por aqueles que são guiados pela “Lei do Gérson” ― talvez a única lei a pegar, aqui na imensidão das terras de Dom João VI ― àquela da propaganda de cigarro Vila Rica, em que o protagonista diz: “Faça como eu, que gosta de levar vantagem em tudo”.

Não importa que sejamos uma das nações mais corruptas do mundo. O que importa é que estamos entre os países que mais enviam missionários para ensinar moral, ética e religião além fronteiras, em mais de uma centena de nações muito menos corruptas que a nossa.

Aqui, o que mais se ouve é; “Guenta firme irmão, tudo vai dar certo!” ― mesmo sabendo que as instituições não funcionam como deviam funcionar.

Aqui, nas hecatombes como enchentes e secas no Nordeste as soluções maravilhosas ainda são os mutirões. Nas áreas sempre carentes da saúde, estão na moda mutirões realizados em plenas feiras: mutirões de exames de vista, de exames de fezes e de sangue, mutirões de pequenas cirurgias, mutirões de cirurgia de cataratas etc ―, tudo feito de forma atabalhoada, sem nenhum critério, sempre coincidindo com épocas de campanhas políticas. Quem perde o mutirão de cirurgias de hérnias, tem de ter paciência, para esperar o próximo período pré-eleitoral (se estiver vivo) para, finalmente, ter chances de ser operado.

Um país que abdica do fornecimento de ações contínuas ou constantes de saúde para recorrer à mutirões esporádicos de saúde, não merece crédito.

Aqui, no trânsito enlouquecido, o individualismo é a regra, pois quem dirige pensa que é o único que está à frente da direção do automóvel. Aqui, nos shows de música na praia ou nos campos de futebol não é nada de mais ficar bloqueando a visão de quem está atrás. Nas salas superlotadas de cinema e de teatro, as pessoas atendem tranquilamente as chamadas de seus celulares, discutindo até com quem as critica.

Aqui, desde as primeiras letras o brasileiro é doutrinado a pensar que o mundo inveja a sua harmônica miscigenação ou democracia racial, que no dizer de Sérgio Buarque de Holanda, fez do brasileiro um “homem cordial”, muito embora, a figura do escravo submisso e do bom senhor esteja sutilmente em voga na sociedade.

Aqui é o país onde os cadernos de classificados dos jornais com ofertas de empregos ainda usam a especificação “deve ter boa aparência” ― que em épocas passadas embutiam o conceito de que, “nenhum negro devia se candidatar”.

Aqui, os partidos são de fachadas, pois todo mundo já está cansado de saber que, se não for o “por fora”, os mensalões, os valeriodutos, os propinodutos, etc, nada é votado no Congresso Nacional. Aqui é o país dos recordes: há um deputado que trocou de partido oito vezes. Aqui, tudo é inédito: na política, os que cometem mais abusos são alçados a assentos no posto máximo da moralidade: “O Conselho de Ética do Congresso”.

Aqui a maioria dos legisladores é astuta. Quando se pergunta: “De que lado o senhor está?”, responde-se: “O Governo mudou, mas eu não. Eu continuo com o Governo”.

Aqui, se deixa tudo para a última hora, a fim de dispensar as licitações, com o já fajuto bordão “urgência urgentíssima” ― método genuinamente brasileiro de encher os bolsos dos apadrinhados e parceiros do Rei. As obras da Copa do Mundo de 2014 que caminham à passos de tartaruga estão aí, e não me deixam mentir.

Aqui, a imprensa é que vem investigando e fazendo a faxina ética, ao trazer a publico, os escândalos que acontecem a cada semana nos bastidores da intricada teia dos conluios ministeriais. Só neste ano, em seis meses, seis ministros foram demitidos pela ação dos investigadores e jornalistas dos maiores periódicos do país, como a Veja e a Folha de São Paulo.

Aqui é o país que luta pela volta do imposto para financiar a saúde e, ao mesmo tempo, é a nação do mundo que mais protela a reforma política, em favor do caudaloso fluxo de corrupção representado pelos desvios de dinheiro público, que só na legislação pós - Lulla já somam cerca de 100 bilhões de reais.

Aqui é o pais das ONGS que recebem doações do governo sem precisar prestar contas.

Aqui é o país onde ninguém dá bolas para a guerra civil provocada pelo tráfico de drogas que mata muito mais que as guerras do oriente médio.

Aqui é o pais onde o governo toma do assalariado, sob a forma de impostos, o equivalente a quatro meses de salários para financiar a sua gastança nababesca.

Aqui é o pais onde os mensaleiros do maior escândalo já registrado na república, estão todos bem instalados em torno do poder público, bem próximos do gabinete da autoridade máxima, isto, às vésperas do que se tem como o maior julgamento da história.

Esse é o meu e o seu país, caro leitor: “Ame-o, ou deixe-o”.

P.S.:

Enquanto estou a escrever sobre o meu país, eis que surge mais uma notícia quente vinda da capital do escândalo (Brasília), saída do forno, hoje − manhã de 12 de novembro:

Em mais um movimento para retomar o controle do governo, abalado pela maior crise desde que tomou posse, o governador Agnelo Queiroz ampliou o espaço do PT ligado ao ex-ministro José Dirceu na equipe e designou o sindicalista Jacques Pena para a Presidência do Banco de Brasília (BRB). Petista de carteirinha, egresso do Banco do Brasil, ele vai tomar conta da chave do cofre do governo, cujo orçamento, de cerca de 25 bilhões de reais anuais, é todo centralizado no banco”. (Para ler o restante da matéria clique aqui)


Por Levi B. Santos

Guarabira, 12 de novembro de 2011

04 novembro 2011

ANTI-SEMITISMO: Uma Abordagem Psicanalítica




Em seu incisivo livro ― “A Questão Judaica” ―, Jean Paul Sartre, de forma corajosa, foge da vala comum de traduzir o anti-semitismo unicamente pelo viés sócio-político-econômico-religioso. Foi através desta obra que ficou mundialmente conhecida a sua frase: “É o anti-semita quem faz o Judeu”.

Sartre, para explicar o anti-semitismo, explorou, de forma convincente, a PROJEÇÃO — um dos mecanismos de defesa do ego, muito bem elucidado por Freud em seus trabalhos. Em psicanálise, PROJEÇÃO, é uma operação pela qual o indivíduo expulsa de si, coisas, qualidades, sentimentos que ele desconhece ou recusa, para localizá-los em outra pessoa ou grupo.
“Se o Judeu não existisse o anti-semita o inventaria” — disse, certa vez, o filósofo francês existencialista.

Douglas Garcia Alves, em seu livro ― “Depois de Auschwitz” ― ressalta bem os componentes psicológicos dos postulados de Adorno e Horkheimer: “O anti-semitismo baseia-se numa falsa projeção. A falsa projeção torna o mundo ambiente semelhante a ela. Os impulsos que o sujeito não admite como seus e que, no entanto, lhe pertencem são atribuídos ao objeto: a vítima em potencial” (página 48)

“O anti-semita escolheu ser criminoso, e criminoso de “mãos limpas”; mais uma vez, foge às responsabilidades; reprimiu seus instintos homicidas, mas encontrou um meio de saciá-los sem admiti-los. [...] O anti-semita é um homem que tem medo, certamente, não dos judeus, mas de si mesmo, de sua consciência, de sua liberdade, de seus instintos, de suas responsabilidades, da solidão, da sociedade e do mundo ― de tudo exceto dos judeus. Aderindo a essa postura, ele não adota apenas uma opinião, mas escolhe também a pessoa que quer ser” (“A Questão Judaica” ― Editora Ática, páginas 34 e 35)

Em “Origens do Totalitarismo” ― volumoso livro, tido pelos estudiosos como valioso instrumento de pesquisa sobre totalitarismo, liberalismo e socialismo, Hannah Arendt, diz: “a complexa psicologia do Judeu médio baseava-se numa situação ambígua: Os judeus médios sentiam simultaneamente o arrependimento do pária que não se tornou arrivista, e a consciência pesada do arrivista que traiu o seu povo, ao trocar a participação na igualdade dos direitos de todos por privilégios pessoais. Assim, a maioria dos judeus assimilados vivia um “lusco-fusco” de ventura e desventura, sabendo que tanto o sucesso como o fracasso, estão ligados ao fato de que eram judeus”. (página 89).

Sobre Sigmund Freud, que teve de fugir para a Inglaterra, perseguido por anti-semitas, assim se referiu o psicanalista Davi L. Bogomoletz, em um artigo publicado na Revista do Núcleo Interdisciplinar de Estudos Judaicos do Rio de Janeiro: "O homem que lutou quase sozinho contra os monstros do lado escuro da mente, lutou também quase sozinho contra a besta anti-semita. Via-se hostilizado por um fogo cruzado de um lado o alvejavam por seu judaísmo, e de outro por sua psicanálise, e ele sabia que havia algo em comum a essas duas "rejeições". Não fosse ele judeu, os europeus o rejeitariam por causa da psicanálise. Não fosse a psicanálise, ele seria recusado enquanto judeu".

Vale ressaltar aqui a expressão "bode expiatório", usada por Hannah Arendt, para designar uma pessoa ou grupo culpabilizado por algo que o faz alvo de múltiplas emoções, como raiva e medo, além do ressentimento.

Sobre o ressentimento, que é um dos afetos mais evidentes no psíquismo do anti-semita, Maria Rita Kehl, psicanalista da PUC de São Paulo, diz o seguinte, em seu livro ― “Ressentimento” ― Editora Casa do Psicólogo (página 19): “O ressentimento seria o avesso do arrependimento; seria uma cobrança indireta de um bem cedido ao outro por submissão ou covardia”. Na questão judaica, isso, de certa forma, corrobora que em sua queixa, o anti-semita não se arrepende, antes acusa. É algo como uma vingança imaginária.


O fato é que todos nós experimentamos o poder de projeção, milhares de vezes em nossa vida.

A projeção é um mecanismo de defesa involuntária do ego; em vez de reconhecer as qualidades que desgostamos em nós, as projetamos em outra pessoa. Projetamos nos pais, nos amigos, ou, até melhor, nas pessoas famosas que nem conhecemos. Aquilo que julgamos ou condenamos no outro é uma parte rejeitada de nós mesmos. Quando estamos em meio à projeção, parece que estamos vendo a outra pessoa, mas na realidade, estamos vendo aspectos ocultos de nós mesmos.” — relato sobre o lado obscuro da psique humana, por Debbie Ford, psicóloga da Universidade JFK – EUA, com obras traduzidas em mais de trinta línguas.



Por Levi B. Santos
Guarabira, 04 de novembro de 2011


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FONTES:

1. “A Questão JudaicaJean Paul Sartre – Editora Ática
2. Origens do TotalitarismoHannah Arendt – Editora Companhia das Letras
3. Depois de Auschwitz” Douglas Garcia Alves – Editora Annablume
4. “Ressentimento” Maria Rita Kehl ― Editora Casa do Psicólogo
5. Fazendo as Pazes Com os Outros Debbie Ford Editora do Grupo Leya

Site da imagem: culturahebraica.blogspot.com

01 novembro 2011

Reminiscências Musicais

Site da imagem: musica-na-agulha.blogspot.com


Nesse dia dedicado aos mortos, quero relembrar canções que marcaram minha adolescência. Na época dos meus nove ou dez anos de idade ainda não havia a energia da CHESF em minha cidade. Existia apenas um velho motor para iluminação das praças principais. O rádio da marca Pyonner, em cima de uma banqueta da sala de estar de minha casa, funcionava ligado a uma bateria de automóvel. Lembro que, balançado para cá e para lá em uma cadeira de balanço daquelas de assento de palhinha, eu me deleitava ao ouvir, extasiado, as músicas dos monstros sagrados da MPB da década de 1950.

Os saudosos cantores, durante quase todo o dia, desfilavam suas vozes melosas nos programas radiofônicos, denominados “Cartão Sonoro”, ocasião em que os locutores desembrulhavam as cartas que os ouvintes enviavam com as suas canções prediletas a serem rodadas em discos de 78 rotações.

O disco, mais parecia um bolachão pesado que deformava quando submetido ao calor do sol; comportava apenas uma música de cada lado. Recordo de uma estante velha onde meu pai guardava, com carinho, coleções de vinil adquiridos como muito sacrifício em Campina Grande ― cidade pólo da região em que morava.

As capas dos discos, quase sempre, eram bem simples: tipo papel madeira com os emblemas, na maioria, da RCA Victor, Odeon e Phillips. Meu pai gostava de ouvir intérpretes, como: Núbia Lafayette, Ângela Maria, Maysa, Elizeth Cardoso, Nelson Gonçalves, Orlando Dias, Anísio Silva, Luiz Gonzaga, entre outros.

Dentre as inúmeras canções que me marcaram, escolhi duas músicas de dois grandes compositores, na voz de uma grande intérprete da bossa nova (dos meus tempos de estudante secundarista). Eles já se foram, mas permanecem, mais do que nunca, vivos em minha memória: Nelson Cavaquinho (29/10/1911―18/02/1986), Ernesto Nazareth (1863 — 1934), Nara Leão (1942 — 1989)


Aos do meu tempo:

Luz Negra de Nelson Cavaquinho e Odeon de Ernesto Nazareth ― na voz de Nara Leão





Por Levi B. Santos

Guarabira, 01 de Novembro de 2011