17 abril 2021

A Primeira Comissão de Inquérito (PCI) da LÍMBIA



Sobre o planeta dos hominídeos, denominado LÍMBIA, o que se sabe é que, sob a forma de ‘Limbo’, ela já estava presente no Canto IV do ‘Inferno’ em ‘A Divina Comédia’ de Dante.

Em uma tradução apócrifa do Gênese bíblico, alguns estudiosos dos MITOS afirmam que a Límbia se originou da junção ou choque entre Sodoma e Gomorra. Na verdade, em tempos remotos, esses dois planetas entraram em rota de colisão, provocando a destruição de quase todos seus habitantes. Dizem míticos historiadores que essa grande hecatombe foi um castigo divino devido à desenfreada corrupção e prostituição que em Sodoma e Gomorra corriam frouxas. Se a tradução apócrifa, diz que o cataclismo destruiu quase todos habitantes desses dois planetas, pode até se pensar ou cogitar que alguns pecaminosos tenham escapado, só não sabemos de que forma.

Mal havia sido criada (ou inventada), a Límbia foi invadida por um miasma que deixava a muitos abatidos, e fazia outros desaparecerem como que por encanto. A maioria lá, acentue-se, era formada por místicos de pensamentos rudimentares. Todos faziam incontáveis rituais e elucubrações diárias que, mais tarde, a lógica, a metafísica, a Teologia e a Ciência tomariam para si como objeto de suas inúmeras análises.

A comunidade era ainda bem pequena e imatura, mas, devido a praga recente de miasmas, em suas mentes já dançavam as sombras da ansiedade e do medo da morte. A maioria dos límbicos asseveravam que a corrupção havia sido banida com o choque interplanetário, mas alguns não acreditavam nesse mito.

Aparentemente, eram todos iguais e pacíficos. Porém, as pequenas brigas e rixas que aqui e acolá pipocavam, eram uma prova insofismável de que o pecado da corrupção de antes não havia desaparecido por completo; melhor acreditar que esse sacrilégio estivesse apenas em um estado de latência. O certo é que devagarinho, mas bem devagarinho mesmo, o burburinho foi aumentando entre eles, a ponto de, em certa ocasião, se ouvir da multidão, o grito: “Alternativas! Precisamos de alternativas, urgente!”.

Foi aí, então, que dentre eles surgiu um senhor de alta estatura, vistoso e de porte atlético que, sem ao menos prestar suas credenciais, foi logo bradando: “Em mim foi plantada a incipiente ideia de um ser perfeito. Não adianta tergiversar sobre esse particular e onipotente dom que me foi dado de forma misteriosa!”. É de admirar que um homenzinho raquítico e sem formusura, eu diria um quase anão, surgisse de repente como que para agradar ao homenzarrão em sua indumentária espacial(ou divinal?), gabando-se a falar: “Grande senhor, vos louvo como o primeiro a nos acalmar o espírito diante desse miasma mortal! Falai-nos, somos todos ouvidos!” em tom de bajulação e com a voz miudinha e fina, deixando os outros desconfiados.

O homenzarrão, que alguns o chamavam de Seráphico, viu-se na condição de não poder ponderar com ninguém a respeito do maldito miasma. Quanto à amalucada teoria que pretensamente defendia, seus ares de misticismo denunciavam que ele acreditava piamente ter vindo de “paraísos celestiais”.

Diálogo, na acepção da palavra, praticamente ainda não existia em Límbia, mas, surpreendentemente, o grande senhor ouviu, nitidamente, alguém sussurrar o termo ‘dialética’, em Latim arcaico ou primitivo.

Certa noite, o grandalhão místico, sem conseguir conciliar o sono, teve uma espécie de devaneio onírico. Na sua visão distorcida viu algumas pessoas aglomeradas, e pasmem, além da discussão sobre o miasma que se disseminava, conseguiu escutar vindo da multidão uma frase começando pela palavra Deus’ (ou Zeus) , arquétipo que, em sua percepção, só a ele teria sido reservado o direito de O pronunciar.

Passado algum tempo, o grande místico ou seguidor de alguma entidade religiosa, (sabe lá, um remanescente dos Sodomitas/Gomorristas que conseguiu escapar do castigo divino/planetário?) ─, deu início a uma tensa reunião, tentando convencer os demais a respeito de suas supostas boas intenções. O reverendíssimo, de repente, ficou de pé e, chutando para o lado a cadeira na qual estava sentado, vociferou:

Não vos inquieteis caros irmãos, a corrupção foi banida, o que agora existe é o meu deus e o sagrado, que vocês, se quiserem, podem evidentemente perceber, em mim!. Prometo que a cura do miasma virá e não tardará!”. As palavras ditas pelo místico senhor serviram de senha para o início de outro grande tumulto.

Esse deus não é só seu, Ele também habita em nossos corações!” reclamaram, em uníssono, 11 pessoas (entre essas não estava o afoito e bajulador anão). Se servindo de ditos pinçados e decorados de um velho catecismo de sua bisavó, o fervoroso sacerdote, de pronto, arremata com bastante ênfase: “Em mim não há mácula, nem sombra de mentira. Deus conhece o meu coração, e sabe que desde o início dos séculos, eu já tinha sido o escolhido para reger o destino de vocês”.

E abriu-se o livro sagrado” que, até então, estava atado com sete fitas e selado com sete selos, para que todos pudessem estudá-lo por um certo tempo, até que do céu fosse determinada a ordem de instalação da Primeira Comissão Inquisitorial ou de Inquérito (PCI) do novo planeta que, primordialmente, trataria de investigar se realmente a ‘Cinchona’ (planta produtora de quinino, abundante na América do Sul), teria ou não o efeito milagroso de afugentar ou acabar com o miasma que estava ceifando vidas e deixando tristes e abatidos muitos dos primevos habitantes da recém-criada, LÍMBIA.

Finalmente, descobriu-se que para a Límbia não havia mesmo remédio, pois nada nela era levado a sério; nem o conhecimento nem a Ciência e nem as teses universitárias tinham sido por ela abrigadas. Na Límbia, supostamente sem pecado e sem pecadores, não se condena ninguém. Desde que apareceu essa ideologia de que os límbicos são incorruptíveis, as sentenças começaram a ser, indefinidamente, proteladas ‘ad-aeternum’.

E o que se vê, claramente, agora, é uma Límbia que não é dona de si. Como ocorre em todo planeta novo ou ressurgente, seus habitantes sempre herdam dos predecessores os mesmos vícios e males que não acabam em cada fim de mundo.

Os límbicos, em matéria de PCI(ou CPI), inconscientemente tendiam a seguir o mesmo roteiro traçado pelos hominídeos que os precederam. Até o refrão usado na Límbia era o mesmo da destruída Gomorra: “CPI tem dia para começar, mas não tem data para terminar!”

Então, o que ninguém jamais tinha imaginado, mais tarde ficou patente: a Límbia, com pouco tempo de inventada, ficou conhecida como a terra da ficção que virou verdade.


Por Levi B. Santos

Guarabira, 17 de abril de 2021


01 abril 2021

A Páscoa em Tempos de Banalização da Morte

 



Odi profanum vulgus et arceo’ ─ ‘Os que odeio conservo longe de mim’, cantou Horácio alguns anos antes do Nascimento de Jesus. Aristóteles também confirmou esse sentimento, quando falava do homem ideal: ‘Ele é franco porque ama o DESDÉM’.

Ontem, aqui nesse recanto, fiz menção a duas CAVERNAS. Na última Caverna, no sentido simbólico/metafórico, me reportei a que deu início a era Cristã que, continua a emanar seus eflúvios ainda hoje na contemporaneidade.

Tomando emprestado de G. K. Chesterton, assim escrevi, ontem:

o sentimento de algo desprezado e de algo temido. A CAVERNA, sob um aspecto, é apenas um buraco ou um canto para o qual são varridos como lixo os excluídos; no entanto, sob outro aspecto, é um esconderijo de algo precioso que os TIRANOS estão procurando como tesouro”. Há nessa Divindade enterrada uma ideia de ninar o mundo; de sacudir as torres e os palácios desde suas bases; exatamente como HERODES, o grande REI, sentiu aquele terremoto sob seus pés e oscilou com seu OSCILANTE PALÁCIO”.

O pensamento assassino/destruidor de Herodes Antipas se espalhou pelo Sinédrio, a ponto de dizerem, à boca pequena, a respeito de Cristo: “Se O deixarmos seguir livre, todos acreditarão Nele, e então virão os romanos e tomarão nossos CARGOS”. (João 11:48).

A Pandemia infernal que já dura mais de um ano, e agora se torna mais aguda, trouxe à tona a BANALIZAÇÃO das MORTES, como remédio ácido/amargo para acalmar a TURBA.

Impossível, deixar de lado o Calvário de Cristo sem citar o desmantelamento do grupo composto pelos seus 12 discípulos. Como ocultar através de manobras politiqueiras da época o não mencionamento do sanguinário Herodes Antipas, mais conhecido através dos relatos do Novo Testamento, por seu papel nos eventos que levaram a previamente articulada defenestração e morte de João Batista e Jesus de Nazaré?

Mas isso não é nenhuma novidade. Como ocorreu no longínquo passado e ainda ocorre em todos governos de cunho autoritário, o ENREDO construído para maquiar banalizar as mortes e os mortos é o mesmo do tempo de Cristo, sem tirar nem por.

Nesta Páscoa, há os que pelejam incessantemente a fim de tornar menos visível e mais palatina para a maioria do povo, a maior tragédia sanitária da história brasileira; tragédia que, pasmem, virou uma macabra estatística. A escalada sinistra deu conta, em apenas 24 horas, da passagem de 3.600 vítimas fatais para 4.000. Ah, mas o número absoluto de mortos não representa nada, são os números relativos que interessam! bradam os ‘otimistas estatísticos’. Por outro lado, entendo que a escolha, em parte inconsciente, de dourar um pouco a realidade dura e dolorosa frente a uma verdade desconfortável, às vezes requer, aqui ou acolá, esse tipo de recurso defensivo em prol de nossa estabilidade psíquica.

O sábio Salomão, com sua célebre afirmação “Nada há de novo debaixo do Sol!” sinalizava o ENREDO construído para banalizar as calamidades, as guerras e os mortos de seu tempo, o qual, iria ser o mesmo do tempo de Cristo, e dos dias atuais.

Não querendo me tornar cansativo, sirvo-me, novamente, de G. K. Chesterton, para encerrar o breve ensaio dessa Quinta-Feira da Páscoa:

A história de Cristo (e sua páscoa) é a história de uma JORNADA, quase na forma de uma marcha militar. É uma história que começa no PARAÍSO da Galileia, uma terra pastoril e pacífica que realmente sugere de algum modo o ÉDEN - e vai aos poucos galgando o interior que se eleva até as montanhas mais próximas das nuvens tormentosas e das estrelas, como se fosse uma MONTANHA do PURGATÓRIO”.


Levi B. Santos

Guarabira, 1º de Abril de 2021