31 agosto 2019

DA ANGÚSTIA DO JUIZ EM TEMPOS DE POLARIZAÇÕES




“A primeira lição que podemos extrair dos escritos de Sartre diz respeito à natureza existencialmente desafiadora do juiz. Ele é constantemente chamado a fazer escolhas que podem alterar radicalmente o curso de uma partida. [...]Segundo Sartre, o sentimento de contingência permeia a experiência humana da escolha. Por mais certeza que tenhamos sobre uma determinada decisão, temos consciência, não obstante, de que outra alternativa seria possível. Uma vez que cada caminho está cheio de possibilidades, parece que não podemos deixar de aceitar a responsabilidade sobre nossas escolhas. Sartre argumenta que esse sentimento de responsabilidade inescapável tende a provocar angústia”.

O Trecho acima entre aspas - sob o título - A Solidão do Juiz - é de Jonathan Crowe – replicado da Revista Piauí nº 50 (Novembro de 2010), e trata do dilema do juiz de futebol que, mesmo diante de um lance duvidoso, é obrigado a punir o time que ele supõe ter sido desleal.

Penso que o artigo - “A Solidão do Juiz” - pode ser aplicado aos momentos atuais de nossa frágil república. Ao fim e ao cabo, o veredicto cabe aos magistrados da mais alta instância jurídica. “Rigorosos/lenientes - intransigentes/complacentes” são adjetivos que retratam as características dúbias das almas dos dois grupos políticos que se digladiam para que suas argumentações, racionalizações ou manobras sejam acatadas pelos doutos ministros. 

Sobre o resultado imprevisível do jogo, Jonathan Crowe, assim se expressou:

"O bandeirinha pode sinalizar, os jogadores podem reclamar e a multidão pode rugir, mas em última análise tudo depende do juiz. Este é o momento da decisão, quando o destino do jogo pousa sobre os ombros do árbitro. 

É bom não esquecer do que, aqui, Sartre inferiu: "nenhum juiz está livre do sentimento de contigência"A contigência, que tem como fundamento a incerteza, quer se queira ou não, é produtora de angústia.



Por Levi B. Santos
Guarabira, 31 de agosto de 2019