31 março 2011

A Desculpa do Generoso

Ausência de Lula no almoço de Obama e Dilma com ex-presidentes



Flávio Gikovate — Conferencista e Psicoterapeuta da USP, em seu recente best-seller, Egoístas, Generosos e Justos”, faz uma afirmação muito lúcida, à respeito das características do indivíduo generoso”. Diz ele:

O generoso passa a acreditar que será bem quisto, amado mesmo, em decorrência de ser capaz de desenvolver essa virtude. Acreditará, por força da efetiva aceitação social e também da inveja que desperta nos outros, que atingiu um patamar superior de evolução”.

O raciocínio do autor em pauta cai, como uma luva, no recente caso da recusa do ex-presidente Lula em juntar-se aos demais ex-presidentes na recepção oferecida pela presidenta Dilma ao ilustre visitante, Barack Obama, em sua recente visita ao Brasil.

Em entrevista a jornalistas, Lula teria afirmado que não compareceria à recepção, para não “ofuscar” Dilma Rousseff. O jornalista e ensaísta J.R. Guzzo, na última página da revista Veja desta semana, à respeito da gafe Luleriana, diz assim, em um trecho do seu ensaio: “É verdade que Lula se considera o sol que ilumina a Terra, e está convencido de que tudo se apaga na sua presença[...]”. “[...] Agiu assim por puro e simples despeito — não quis cumprimentar Obama, a quem não perdoa o cartaz internacional desde que foi eleito presidente dos EUA, e não quis comparecer a um evento em que o convidado principal não era ele.”

Não resta dúvida de que a vaidade é a grande fonte das radicalizações que fazemos em nossa vida de relação interpessoal. A generosidade do altruísta deve estar sempre sendo propagada, para causar impacto nos oponentes, inimigos ou rivais — objeto de seus desejos. O generoso quando não é reconhecido se sente ofendido e, de modo sutil, procura esconder o seu sentimento de inveja através de um subterfúgio. Mas essa desculpa não resiste a um simples exercício de reflexão por aqueles que querem entender mais sobre seus demônios interiores. Há de se ter bastante atenção diante da desculpa ou fala do “generoso”, para saber, pelo menos, que ela deve ser lida ou traduzida sempre pelo avesso.

Quando o criador (Lula) infantilmente afirmou que não iria ao encontro para não “ofuscar” a sua criatura (Dilma), na verdade, estava executando um mecanismo de defesa psíquica — a “Negação” de que o ofuscado seria nada mais e nada menos do que ele próprio.

Parece que no nosso país, mais do que nos outros, quem é picado pela “mosca azul” do poder, está fadado a ser um eterno dependente desse doce desejo de ser visto como um pai generoso. Não custa lembrar que os recursos captados para prática do altruísmo político dos governantes não saem do bolso do generoso, mas da carga extorsiva de impostos que a plebe é obrigada a deixar nos vãos e desvãos da nação do “berço esplêndido.


Por Levi B. Santos

Guarabira, 31 de março de 2011

29 março 2011

A Suprema Estratégia




Se o mundo está repleto de inimigos

Três estratégias, três caminhos eu tenho:

Combatê-los, fugir, ou amá-los”.

Caim matou Abel

Mas ficou-lhe da alma do irmão, a marca

Jacó fugiu de Esaú

Mas errante vagou com seu fantasma.


Desejo — esse adesivo fluido e flexível.

Revela-me a excelente e suprema estratégia:

“De na estranheza do outro, me ver”.

Parar de odiar o estrangeiro?!

“Só se o meu desejo for também o dele...”

Se o amar for isso reconhecer

No “alto céu” de minha mente surgirá

Ao invés de um confronto uma síntese.


Por Levi B. Santos

Guarabira, 29 de Março de 2011

Imagem: http://iecpriopreto.blogspot.com/2008_12_01_archive.htm

25 março 2011

Sobre os Meus Medos — O Que Me Contaram e Não Me Contaram...



Contaram-me que o suave mar rumorejante era a perigosa morada dos demônios.

Contaram-me que o mundo era povoado por diabos, duendes, gnomos, monstros e fadas malignas.

Contaram-me que todos os crentes que se arrependessem receberiam o céu como prêmio ou garantia.

Contaram-me que a noite traz os seus monstros para nos provocar pesadelos.

Contaram-me que os desastres naturais resultavam de forças sobrenaturais de um comando divino.

Contaram-me que minha vida seria um sucesso quando vencesse os meus medos.

Só não me contaram que o medo plantado induziria-me a um outro medo ainda maior.

Só não me contaram que pagaria um alto preço pela minha efêmera liberdade.

Só não me contaram que a "religião" ainda assusta as pessoas supervalorizando o medo como parte necessária à sua sobrevivência.

Só não me contaram que o caminho do Paraíso é uma meta difícil de ser alcançada.

Só não me contaram que o direito à segurança não afugentaria meus temores.

Só não me contaram que o medo não passa de uma reação natural, e que mesmo os mais destemidos não estão tão aptos a vencê-lo.

Só não me contaram que na velhice, voltaria a ser criança, com meus pesadelos e temores, agora, escondidos sob a capa sutil dos refinamentos científicos.

Só não me contaram que a quantidade de informação científica acumulada não atenuaria meus medos, antes os intensificaria mais.

Só não me contaram que os remédios das doenças da alma que tanto estudei, não apagariam os meus fantasmas interiores.

Só não me contaram que eu poderia transformar todos meus temores e medos naturais em fonte de inspiração.


Por Levi B. Santos

Guarabira, 25 de março de 2012

Imagem: http://planetin.blogspot.com/2009/06/sonhos-significados-interpretar-sonhos_25.html


20 março 2011

O Choro Que Já Dura Quase 4.000 Anos




A revista Veja (N°2209) que saiu hoje nas bancas, traz como imagem da semana, na seção “Panorama”(página 49) uma cena que se repete há milênios no oriente médio: Encimando a reportagem está uma foto com corpos de uma família israelita que foi assassinada por árabes em disputa por assentamentos na Cisjordânia. Vê-se um casal e seus três filhos envolvidos em mortalhas com as cores da bandeira israelita, sob o olhar de lamento dos familiares e judeus ultra-religiosos que, acreditam estar cumprindo um mandato divino para reproduzir os limites bíblicos de Israel. Em represália, o governo de Israel, cumprindo o velho axioma javélico de “olho por olho, e dente por dente”, autorizou a rápida construção de mais casas nas regiões contestadas.

Mas é bom, em rápidas pinceladas, rever esse interminável conflito que nasceu de uma visão profética — um chamado de Javé:


“Por volta de 1850 a.C., um velho mercador da cidade de Ur, na Mesopotâmia (atual Iraque), recebeu um chamado de Deus. O Senhor ordenou-lhe que juntasse todos os seus pertences, abandonasse seu país natal e partisse em busca de um novo lar, rumo ao oeste: a terra de Canaã. Lá o mercador devia estabelecer sua descendência e dedicar-se ao culto de seu benfeitor, Jeová, o Deus único – uma novidade naqueles tempos politeístas. E lá se foi Abraão, com seu séqüito de parentes, escravos e concubinas.
Ao longo da jornada, o favorito divino teve dois filhos. O mais velho, nascido de sua serva Agar, foi batizado de Ismael. O segundo, filho de Sara, esposa legítima do patriarca, recebeu o nome de Isaac. O país prometido aos descendentes de Abraão era uma terra de desertos e oliveiras, banhada pelas águas do rio Jordão. Ficou conhecida ao longo dos séculos como a Terra Santa – paisagem dos grandes dramas da Bíblia, adorada pelas três maiores religiões do planeta e, hoje, palco do conflito mais importante de nosso tempo. Segundo a lenda, os tataranetos de Abraão deram origem a dois povos de aparência, língua e cultura muito parecidas, mas que agora se entrincheiram em lados opostos no front da política internacional: árabes e judeus”
[http://historia.abril.com.br/guerra/arabes-x-israelenses-sangue-mesmo-sangue-435007.shtml ]


Que paradoxo, dos paradoxos!

A promessa da “bênção” de bens terrenos oferecida a Abraão por Javé, há quase 4000 anos, com o advento de Cristo, passou a ser estigmatizada como tentação diabólica:

Quando foi tentado para ter todo o oriente médio a seus pés, Cristo conhecedor do Velho Testamento devia estar bem lembrado do episódio Abraâmico. Quando na sua mente surgiu o desejo ardente de possuir todos os reinos do mundo e a glória deles, para não cair na cilada abraâmica, o pensamento da posse de um império foi logo rechaçado com um: “Vai-te Satanás” (Mateus 4: 8 – 11)

Mais tarde, Cristo, em uma de suas sensacionais "tiradas", disse para os fariseus que se orgulhavam de ser seguidores e filhos de Abraão:

"Vós tendes por pai o diabo, pois quereis satisfazer o desejo de vosso pai" (João 8: 44)



Por Levi B. Santos
Guarabira, 20 de março de 2010

16 março 2011

A Dimensão “BEM — MAL” em Nossa Cultura




Como a nossa cultura está assentada na tradição judaico-cristã, não há como deixar de recorrer à história mítica da “Criação” do livro do Gênesis para compreender mais sobre os nossos desejos paradoxais.

Nilton Bonder — rabino e líder espiritual da Congregação Judaica do Brasil, doutor em literatura hebraica pelo Jewish Theological Seminary — em seu livro “A Alma Imoral” —, que deu origem a uma peça de Teatro que ficou por quatro anos ininterruptos (2006 à 2010)em cartaz no sul do país, diz o seguinte:

“Adão e Eva estão nus e tem um mandamento a cumprir (está implícito o descumprir). [...] O termo “alma” surgiu para explicar a dualidade do cumprir (bem) e do descumprir (mal). A alma seria parte do corpo, sua parte “transgressora”. (Os grifos entre parênteses são meus)
Para este autor, o “comer do fruto da árvore do bem e do mal”, significa passar a ter consciência, simbolizada no mito pela percepção do “nu”, e o ser humano a partir daí, dá início a sua condição de animal moral. “Vejam que toda a nossa sociedade está voltada para “vestir” a nudez humana”.

A dimensão “sagacidade” que traz a capacidade de transgredir está projetada de forma mítica na “serpente”.

Diz ainda o rabino, Nilton Bonder: “Essa imoralidade (que é tida como mal) que muitas vezes ameaça contundentemente o corpo, é o lugar onde o ser humano briga com Deus, e dessa contenda se inventa o novo homem — o homem de agora. Afinal, este é o temor de Deus, expresso no texto de Gênesis: o animal consciente, de posse da informação de sua mortalidade, pode querer ser imortal. Por que o “corpo nu” e que passa também a buscar de forma consciente sua preservação — é profundamente mortal. A obediência pura e simples seria a sua estagnação evolucionária [...]. Adão e Eva foram tentados pela alma para cumprir com seu desígnio de desobedientes. Foi expulso por sua outra natureza (má) — a que trai o corpo, e é empurrada para outro território pela alma. Para sobreviver nesse outro lugar que não era seu habitat natural, o corpo desenvolveu uma proteção conhecida como MORAL”.

O “sentimento religioso” é justamente esse desejo de religar-se ao Éden, naquela fase que não existia a discordância, quando desconhecíamos a ambivalência do Criador. Este sentimento existe de forma inconsciente em todo o ser humano, ateu ou não ateu. Quando os cientistas estão à procura de um planeta habitável, no fundo no fundo, estão movidos pelo mesmo nobre sentimento de se religar a um paraíso de paz, que já viveram de forma inconsciente em suas origens bio-psíquicas.
A paz, como ausência de mal, deve ter sido vivenciada naquilo que o Gênesis alegoricamente demonstra: existia, sim, no tempo em que éramos um ser sem consciência como se fôssemos uma extensão do corpo de nossa própria mãe. Não podíamos discordar por que éramos UNO. No mito de Gênesis já existia a figura da psique humana, representada pelo “céu” bíblico. Para mostrar as sementes dos afetos ambivalentes de nossa psique, o mito se valeu de Deus(como Pai autoritário) e seus filhos, representados pelos “anjos obedientes” e os “anjos rebeldes ou transgressores de uma ordem pré-estabelecida”

Mas tarde, Cristo, na "Parábola do Filho Pródigo", para demonstrar o que se passa no interior do homem com seus sentimentos paradoxais, faz uma analogia dos anjos que ficam e dos que decidem sair do convívio paterno no mito do Gênesis. A proposta da parábola nos faz ver que, no final, o filho transgressor ficou em melhor situação do que o seu irmão obediente e hipócrita que, pelo ressentimento que o tomou, demonstrou secretamente que invejava o seu irmão (talvez tenha lhe faltado coragem e a ousadia suficiente para romper com o pai). O ressentimento do irmão mais velho é uma prova de que lá no seu íntimo (ou no seu inconsciente), já residia o desejo de conhecer o mundo lá fora, mas não o fazia por medo.

O Pai que expulsou “o filho perdido” — figura dos “anjos rebeldes” do mito do Gênesis, agora, procura ardentemente a sua outra parte (o filho pródigo) que se perdeu dele, figurado pelos anjos rebeldes, os quais faziam parte intrínseca do seu ser antes da “fundação do mundo”, ou em outras palavras, antes do “nascimento da consciência”.

O desejo de partir para um mundo diferente, no coração do filho mais velho da parábola, era percebido por ele como um desejo mal, e por isso, esse sentimento foi reprimido. O desejo de partir do filho mais novo era o “bem” dele. O pai amoroso (representado por Cristo) recebe com festas o filho que o pai autoritário perdeu — no mito do Gênese – metáfora do “desejo de transgredir” (anjos rebeldes). O filho mais novo ao voltar com a auto estima baixa passa a se situar no pólo do bem. O filho que sempre estava ao lado do Pai ajudando-o, aparentemente era o filho bom, quando se ressentiu por inveja, passou a ser mal. Mas o que mostra essa parábola, senão a dança entre o medo de transgredir uma ordem (bem) e a coragem de transgredi-la(mal), simbolizados pelo filho mais velho e o mais novo da história. O sentimento religioso cristão aparece no filho mais novo, cujo desejo é o de “religar-se” com as suas origens. O filho mais velho da parábola é aquele que por não ter experimentado a “transgressão”, quer a volta do Pai autoritário que na sua ótica deveria jogar no inferno o filho desobediente. Os representantes do filho mais velho são os legalistas (a maioria?) que pregam céu para os “bons” e o inferno para os “maus”.

A conclusão de que o Bem é o Mal, causa perplexidade. Talvez resida aí o “porquê” da persistência ao longo dos milênios dessa dualidade, em que um jamais vence ou extermina de vez o outro. Quando discordo do outro num diálogo, eu posso até vê-lo como a parte má, da mesma forma que o outro pode ver em mim o mal. O mal dele é o meu bem, e vice-versa.
“O generoso(bem) só pode se alimentar se existir o egoísta(mal). Olhando por outro ângulo, os egoístas são bem-vindos, pois existem para alimentar o prazer dos generosos em serem parasitados. Bem aventurados os generosos (bem) e bem aventurados os egoístas(mal)” [Flávio Gikovate — psiquiatra e psicoterapeuta da USP]

Há um verso da canção “Meu Bem, Meu Mal”, do poeta Caetano Veloso, que explícita bem a dimensão “Bem—Mal” como uma dualidade afetiva (ambivalência) existente desde o princípio:

Você é meu caminho
Meu vinho, meu vício
Desde o início estava você.



Ensaio por Levi B. Santos
Guarabira, 16 de março de 2011



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FONTES:

1. A Alma Imoral — Nilton Bonder — Editora Rocco
2. Egoístas, Generosos e Justos — Flávio Gikovate — MG Editores
3. Psicanálise e Religião — Erich Fromm — Livro Íbero Americano
4. Letra de “Meu Bem, Meu Mal” — Caetano Veloso
5. Prólogo do Gênesis — Velho Testamento (Bíblia Sagrada)
6. Parábola do Filho Pródigo — Novo Testamento (Bíblia Sagrada)


Imagem: http://comunidadeindo.blogspot.com/2011/02/venca-o-mal-com-o-bem.html

13 março 2011

Imagem Chocante da Chegada do Tsunami sobre Miyako - Japão


Localizada na província de Iwate, a cidade de Miyako, no Japão, foi uma das muitas afetadas pelo tsunami que devastou a costa nordeste do país. A onda gigante veio depois do terremoto de 8,9 graus que sacudiu o país. O número de mortos não para de crescer. Números oficiais falam de centenas, mas já se especula que poderá haver mais de 10 mil mortos apenas na cidade de Miyagi.

De acordo com o primeiro-ministro do Japão, Naoto Kan, o país enfrenta a maior crise de sua história desde a Segunda Guerra Mundial.

Veja o vídeo veiculado em telejornal japonês:

09 março 2011

O Segredo dos Marqueteiros de Javé



A Teologia Neopentecostal, também chamada da Prosperidade, tem se expandido no nosso país de forma assustadora. Dentro da assertiva maquiavélica dos “fins justificam os meios”, as propostas salvadoras preconizadas pelos bispos e apóstolos da modernidade têm levado multidões a lotar mega-templos e estádios esportivos. Já existem até as sessões de tele-curas e tele-profecias sendo realizadas de quatro em quatro horas, com anúncios veiculados pelas emissoras de TV.

O campo de ação desses “marqueteiros de Javé” é o espírito do homem com suas angústias, suas inquietações e incertezas. Apesar de o avanço científico ter restringido alguns espaços da demonologia, ela ainda prospera, principalmente, quando a vil propaganda dos quadros grotescos de histerias coletivas é transmitida ao vivo e em cores pela mídia televisiva. A fé, nesse clima dantesco, é usada como um autêntico investimento, cujo retorno seguro é indispensável ao sucesso do empreendimento “Javelístico”, sendo que o seu discurso produz na psique do fiel um efeito tal, que o deixa como se estivesse na própria pele dos personagens bíblicos do Antigo Testamento.

Os bordões usados exaustivamente para fazer “brotar a fé” sempre obedecem a um mesmo padrão: “Está amarrado!”, “Eu determino”, “Coloque Deus contra a parede”, “Diga: eu exijo!”.

Os fiéis agem como se estivessem obrigando Deus a prestar-lhes contas, favorecendo ao marketing mercantilista episcopal. Os marqueteiros da prosperidade pregam que o sofrimento existencial deve ser superado com bênçãos materiais. O fiel tem que se esforçar ao máximo até que se conscientize de que é portador de direitos que Deus não pode negá-los, para isso, usam como referência os personagens bíblicos do Antigo Testamento.

Sobre a abundância de bens terrenos que eles adoram implorar, nunca usam como referência os discípulos de Cristo, pois, todos eram paupérrimos. Conta o livro dos “Atos dos Apóstolos”, que Pedro e João diante de um deficiente físico que pedia esmolas à porta do Templo, assim responderam: “Não temos ouro nem prata...” — O que equivale no Brasil, dizer: “não temos um tostão nos bolsos”.

É interessante observar, que os líderes do evangelho da prosperidade, citam em suas ladainhas mercantilistas, cem vezes mais o nome do personagem Gedeão do que o de Cristo — personagem central dos Evangelhos. Para quem não sabe, Gedeão, com seu exército reduzidos a 300 israelitas foi o vencedor da grande batalha contra 135 mil Midianitas. Nesse miraculoso embate cada soldado israelita deu conta de 450 soldados inimigos. Essa passagem bíblica continua, até hoje, sendo a mina de ouro do Bispo da IURD (Talvez, a maior potência mundial Javelística).

O mentor da maior Empresa episcopal, em suas falas emotivas, está sempre imprimindo na mente do seu fiel, a certeza de que é realmente a vontade de Javé, que ele seja outro Gedeão na batalha decisiva contra os “soldados-demônios”, os quais trabalham, incessantemente, para dilapidar o grande tesouro da “prosperidade Javelística”, que são a abundância de bens das pessoas de bem.

Parece que dentro do mercado religioso, as igrejas da prosperidade com sua síndrome salvadora econômica levam uma grande vantagem sobre aquelas que pregam o despojamento como virtude cristã (ainda existem?).

Mas, será que os mercadores da prosperidade estão totalmente errados? É bom lembrar que Javé disse uma vez ao patriarca Abraão: “Tudo isso te darei como herança para ti e a tua semente” (Gênesis 13: 15)

Por outro lado é bom não esquecer de que Cristo, uma vez, recusou a oferta de prosperidade de um “Grande” que veio lhe segredar aos ouvidos: “Tudo isso te darei, se prostrado, me adorares” (Mateus 4: 9)

A meu ver, a religiosidade dos “mercadores de Javé” caminha na contramão da prática de Jesus, na qual Ele jamais teve a tentação de explorar o Pai como meio de tirar vantagens para Si mesmo.


Ensaio por Levi B. Santos
Guarabira, 08 de março de 2011

05 março 2011

Carnaval de "Menino Crente"




Na volta da escola dominical em minha igreja(1958)
Meu rosto brilhava de satisfação — Era CARNAVAL
Época em que passeava pelas ruas de minha cidade
Para viver o maior espetáculo da terra.
Nada daquilo eu considerava coisa condenável.
A minha máscara de “crente”, eu a retirava por três dias.

Essa arte eu aprendi logo cedo.
Aprendi desde os tempos das primeiras letras:
Negar para não sofrer”.
Confirmava o que meus pais diziam, mas só da boca para fora:
“Carnaval é coisa do cão...”

Era um ensolarado domingo de Carnaval,
Belo dia, em que sem culpa e sem medo, podia satisfazer meu DESEJO.
No meu tempo de “menino crente
Enquanto uns colocavam suas máscaras
Eu tirava a minha para, escondidamente, frevar
Com o coração nas ruas alegres e engalanadas do meu torrão natal.

Sem me esconder por trás da máscara de “menino crente”
Dos tempos de outrora
Trago, hoje, uma amostra das marchinhas dos meus velhos carnavais.