.............Tantas imagens dos céus,
.............Quanto a cabeça da gente.
.............Um imagina de um jeito,
.............O outro pensa diferente.
. ...........Como poderei entender
............ Se não sou onisciente?
.............Quanto a cabeça da gente.
.............Um imagina de um jeito,
.............O outro pensa diferente.
. ...........Como poderei entender
............ Se não sou onisciente?
.............O homem tem sentimentos,
.............Que o seu peregrinar
.............Não combina com o de Deus,
.............Pois só pode imaginar,
.............O que come, vê e apalpa,
.............Não sabe se dominar.
............Um filósofo lá da França
............Uma história escreveu:
............De um "ser" pretensioso,
............Que aqui na terra viveu.
............Subiu ao céu ansioso,
............Lá chegando não se deu.
.............O personagem de Voltaire
.............Chegou nesse “Eldorado”.
.............Viu tantas ruas de ouro,
.............Ficou impressionado,
.............Resolveu trazer o ouro,
.............Para fazer um apurado.
.............Cândido viu abismado,
.............Os anjos e suas altezas,
.............Não davam valor ao ouro,
.............Naquele céu de riqueza.
.............Nem as pedras preciosas,
.............Não viam nelas nobreza.
.............Ao ver a indiferença
.............Das pessoas do Lugar
.............Pediu licença aos anjos,
.............P’ra sua terra voltar
.............E em cima de carneiros,
.............Ouro e pedras, colocar.
.............O pensamento de Cândido
.............Estava cheio de razão.
.............O “bom” do Céu ia levar,
.............E ganhar um dinheirão,
.............Ao sair daquele tédio
.............De gente sem ambição.
.............
.............
.............
.............O avarento Cândido,
.............Querendo viver no ócio,
.............Uma troca articulou.
.............Faria de Deus seu sócio,
.............Mas na triste empreitada
.............Fez do céu um mau negócio.
.............O céu que ele pensou,
.............Fruto da imaginação,
.............Não resistiu a beleza,
.............Que feriu seu coração.
.............E o insensato desejo
.............Lhe intuiu essa ação.
..............Pelo caminho de volta
..............Com alegria sem par,
..............Do que melhor existia,
..............As ovelhas a carregar,
..............Para na sua cidade
..............Co’as gentes negociar.
...............De volta, no seu caminho
...............Ocorreu o inesperado.
...............Pelo seu carregamento,
...............Ele sofreu um bocado:
...............Frio, fome e doença,
...............Foi três vezes assaltado.
.............Perdeu tudo que trazia,
.............No meio da caminhada.
.............Seu corpo todo esfolado,
.............Não carregava mais nada,
.............E o que mais ansiava
.............Era o término da jornada.
.............Dentro do inconsciente,
.............Cândido desejava achar
.............O que na terra não teve,
.............Ouro a desabrochar,
.............P'ra na frente dos parentes,
.............Poder então debochar.
.............P’ra encurtar a conversa,
.............Cândido, a casa chegou
.............Sem nenhum fio de ouro,
.............Só uma pedrinha restou,
.............Para mostrar aos parentes
.............O que pelo Céu trocou.
.............Como um humano pensou
.............O céu como investimento,
.............Saudade, inveja e ganância,
.............Ciúme e ressentimento,
.............Nada disso, viu por lá,
.............Era outro o alimento.
.............E assim o homem vive
.............Desejando a outra vida,
.............Mas por ser carnal e fraco,
.............Mal prepara a partida,
.............Pois naquele Paraíso
.............Será outra a medida.
.............Ao sondar o Paraíso,
.............Dentro da imaginação,
.............O homem vê o que gosta,
.............Mas, é tudo enganação,
.............Deus não deu esse direito,
.............De explorar sua mansão.
..............“Prosa em versos”
...............Por: Levi B. Santos. Guarabira, l2 de Janeiro de 2008
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