...........Como definir o que é graça?
Poderá um reles humano exprimi-la em palavras?
Por mais que tentemos explicar, reconhecemos que na graça, há um resíduo inexprimível ligado a nossa subjetividade e individualidade, que a linguagem falada ou escrita é incapaz de abordá-la em sua completude. Os evangelhos a mencionam diversas vezes, em vários tipos de situações e circunstâncias.
Talvez, a nossa acomodação em não refletir sobre a graça, tenha nos acostumado na maioria das vezes, a fazer-lhe referência de um modo tão mecânico, que terminamos por transformá-la em um bordão, utilizado, habitualmente, em começo e fim de textos. O evangelista S. João, sentindo a sua evidência, de uma forma bastante clara e inspirada, assim escreveu: “[...] a lei foi dada por Moisés, mas a graça e a verdade vieram por meio de Jesus Cristo”. ( João 1 :17)
Debrucemo-nos mais sobre esse tema ─ razão maior do cristianismo que abraçamos com tanta fé ─ e veremos que os saudosistas dos rituais Vétero-Testamentários estão aproveitando o vácuo da incompreensão sobre o que denominamos graça, para sem a intermediação de Cristo, enganar multidões, dizendo-se profetas-mensageiros de Deus. Na realidade, as realizações e façanhas desses “anticristos” de ocasião são puras elucubrações, não tendo nada de poder Divino.
Cristo não veio definir a graça, mas veio viver ao nosso lado para demonstrá-la, através de suas atitudes, nas diversas e emblemáticas situações com que se deparou no seu curto, porém profícuo ministério.
O que aqui escrevo em vários parágrafos, são retalhos extraídos da infinita profunda e multiforme Boa Nova do Evangelho, mas reconheço que ela é muito mais do que isso. Não tenho dúvida, de que o amigo(a) leitor(a) poderia acrescentar muito mais conceitos sobre graça, extraídos de sua experiência particular e única com Deus, além dos que aqui, passo a mencionar:
A graça é aquela misericórdia infinita que diz que devemos perdoar até setenta vezes sete.
A graça é aquela que nos sussurra diante dos julgamentos que são engendrados em nossa consciência contra o nosso próximo, e nos faz silenciar, ao soprar ao nosso ouvido: “Quem não tiver pecado seja o primeiro a lhe atirar uma pedra”.
A graça é aquela que esteve presente na afirmação enfática de Cristo, diante dos que exerciam juízo contra a prostituta: “Nem eu te condeno!”
A graça é aquela que fecha os olhos para os méritos, mas vê a simplicidade interior dos humildes que muita gente não vê.
A graça é aquela que não sabe amaldiçoar, pois só se alimenta do perdão.
A graça é aquela que cala a justiça dos homens, em benefício dele próprio.
A graça é aquela coisa que faz acender a nossa “luz vermelha”, pedindo que olhemos para dentro de nós, quando caímos em nossas contradições diárias.
A graça é aquela que superabundou onde o pecado abundou.
A graça é aquela que se revelou explicitamente no coração de Cristo, quando Ele explicou o motivo maior de não se odiar os que nos fazem mal: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem”
A graça é aquela que escolheu as nossas fraquezas para que o poder de Deus se aperfeiçoasse nelas.
A graça é aquela que nos alerta para não incorrermos no paradoxo de se pregar, fazer milagres e maravilhas, sem ter amor.
A graça é aquela que tem de ser buscada diariamente, para que nos nossos escorregos diários, não venhamos assumir de novo os fardos pesados da maldição da Lei.
A graça é aquela consciência adquirida através da fé em Cristo, de que não são mais necessários os sacrifícios ou penitências para apagar fatos do passado de nossa ignorância. É a certeza de que a verdade de ontem, firmada sem excepcionalidade nos severos ditames da lei, foi sepultada com Cristo, lá na cruz do calvário. Quem não tiver esta certeza ─ é uma pena ─, vai viver eternamente se cobrando por coisas que o sangue de Cristo já apagou de uma vez por todas. Nunca é demais, através de um exercício diário, impregnar a nossa mente com esse emblemático versículo: “[...] a lei foi dada por Moisés, mas a graça e a verdade vieram por meio de Jesus Cristo ( João 1: 17)
A graça é aquela que está sempre incluindo, e nunca excluindo.
A graça é aquela que ao inundar o nosso coração, faz calar a arrogância, dissipando toda soberba.
A graça é aquele bálsamo que invade o nosso interior, perdoando-nos e nos aliviando quando no mais profundo abismo do nosso ser, as feras terríveis, em revolta nos fazem sofrer.
A graça é aquela bondade regida pela misericórdia infinita, que a nossa natureza animal resiste egoisticamente, ao racionalizar a justiça Divina com vingança.
A graça é aquela que não anda junto com sacrifícios, votos e oferendas.
A graça é aquela que foi soprada ao ouvido do apóstolo de Tarso, quando ele desejou criar asas antes do tempo: “a mim te basta ─ Paulo!”
A graça é aquela que nos faz crescer quando mergulhamos em nós mesmos, e nos faz diminuir, quando intentamos ser melhor e maior que o outro.
A graça é aquela que entende que as aflições da vida, são contingências naturais de nossa caminhada, sem que signifique castigo ou maldição divina.
A graça é aquela que não usa o artifício do medo, para obrigar o homem a agir contra a voz de sua própria consciência.
A graça é aquela, que por ser dom gratuito de Deus, nunca se vende nem se deixa ser comercializada.
A graça é isto, e muito mais...
Ensaio por Levi B. Santos
Guarabira, 26 de junho de 2009