Esta semana dediquei-me a leitura de
um livro espetacular de Eduardo Bueno — “A Coroa, a Cruz e a Espada” — que
trata da chegada do nosso primeiro governador Geral às terras do “Pau Brasil”.
A narrativa agradável saída da pena desse finíssimo escritor, me fez mergulhar
no “jardim da infância” da nossa nação de 450 anos atrás.
Durante a leitura dessa obra, às
vezes, tinha a nítida sensação de estar lendo a revista Veja ou a Folha de São
Paulo com suas manchetes chamativas sobre nepotismo, clientelismo e corrupção
generalizada em todos os setores de nossa vida pública atual.
Mas vamos voltar no tempo, o tempo
da nomeação do nosso primeiro governador Geral, pelo rei de Portugal — D.
João III.
Mas não é que o nobre Tomé
de Souza, só aceitou o cargo de Governador Geral da Colônia oferecido
por dom João III, quando embolsou
dozes meses de salários adiantados (400 mil reais). Tomé de Souza, em meados
do século XVI, era lembrado na corte pelas suas coleções de frase célebres,
publicadas no livro, “Ditos Portugueses Dignos
de Memória”. “Todo Homem é Fraco e Ladrão”, é uma das
frases célebres registradas por ele nesse livro.
Em 1549 uma trupe de corruptos e
degredados zarpou de Portugal rumo às nossas terras: autoridades fiscais,
ministros da fazenda, desembargadores, juízes, ouvidores, escrivães,
almoxarifes, burocratas e o primeiro bispo do Brasil — Pero Fernandes Sardinha,
que mais tarde provocaria uma onda de indignação na colônia ao perdoar os
pecados dos fiéis em troca de dinheiro.
Eduardo Bueno, que pesquisou mais de 300 obras
históricas, narra em detalhes, a
infância do nosso país, nascido em um “berço esplêndido” de corrupção e malversação
do tesouro público.
Qualquer leitor desavisado que
abrir esse livro a partir da página 64, com certeza, pensará que ele está descrevendo as
bandalheiras que ocorrem nos tempos atuais na Capital da República. Passados quase quinhentos anos, o que se vê no império petista, infelizmente, nada mais são que reprises de fatos como estes,
que o autor brilhantemente, aqui, expõe em seu emblemático livro:
“Pero Borges que foi nomeado ouvidor-geral
pelo rei de Portugal, cargo que pode ser comparado, hoje, ao de ministro da
justiça não tinha a ficha limpa, mas mesmo assim, foi promovido a desembargador,
como prêmio para ajeitar a Colônia que vivia um caos com suas Capitanias
hereditárias. Em 1543, Borges, quando ocupava o cargo de corregedor
da justiça em Elvas, no Alentejo, próximo a fronteira com a Espanha foi
encarregado pelo monarca para supervisionar a construção de um aqueduto. As
verbas se esgotaram sem que a obra estivesse pronta[...]. [...]Ante o clamor do
povo, D. João III autorizou a
abertura de um inquérito. As investigações comprovaram que Pero Borges desviara 114.064 reais — o equivalente a um ano de seu
salário, como corregedor”.
Depois de quase meio século da
chegada do primeiro governador geral, o nosso país tornou-se “adulto” (ou
adúltero?). Hoje é a sexta economia do mundo e tem o maior programa eleitoral de
distribuição de renda aos pobres e marginalizados — o bolsa família, criado pela turma do PT que
ainda planeja se eternizar no poder, assaltando os cofres públicos com métodos cada vez mais sofisticados.
Olhando para trás, para a tenra
infância desse “gigante adormecido”,
não há como deixar de perceber que a figura do velho Pero Borges, parceiro do
D. João III, se multiplicou e sobreviveu até os dias de hoje.
Os parceiros do Rei da atualidade, como
nos velhos tempos, não dormitam; estão em plena atividade para reaver os seus
poderes. Ávidos por verbas e enriquecimento ilícito, eles, com o beneplácito do
Rei Lulla, tramam à la Pero Borges, se saírem de forma heróica
e gloriosa do que denominam de perseguição das elites pela
imprensa. O Rei já saiu em defesa dos seus mensaleiros dizendo em alto e bom som: “Esse tal de mensalão nunca
existiu”.
Incrível, como o passado longínquo
da velha colônia portuguesa está tão perto de nós! — é o eterno retorno de que
fala Nietzsche, senão vejamos o que diz o escritor Eduardo Bueno nesse parágrafo,
sobre a infância de nossa "pátria mãe
gentil”, nos idos de 1550:
“A
Instituição, ainda assim, mantinha uma estrutura bastante simples: era composta
apenas por um presidente, seis desembargadores, um porteiro, sete escrivães e um
tesoureiro. Todas as sextas-feiras à
tarde esses homens se reuniam com o Rei para discutir a formulação e a correção
das leis, a designação de novos magistrados e condição política e legal do
reino. Os encontros se davam na Casa de
Despacho dos Desembargadores do Paço, logo chamada de “casinha”.
“Nada mudou no Quartel d’Abrantes”,
ou seja, pouca
coisa mudou: o congresso brasileiro não funciona nas sestas-feiras. Só até as quintas-feiras é que a trupe pode se
reunir.
Por Levi B.
Santos