O famoso pesquisador, historiador e
crítico musical, José Ramos Tinhorão, no seu livro, “As Festas no Brasil Colonial”, mostra como o cortejo sacro (as
procissões católicas) no tempo do Brasil Colônia se misturou ao “profano” e
influenciou enormemente o que hoje temos como, Festas Carnavalescas, ou tríduo
momesco. Tinhorão descreve com riqueza de detalhes e farto material
histórico como se processou a mesclagem dos valores sagrados ibero-europeus com
os valores indígenas e africanos na Bahia, por volta do século XVI.
Segundo o historiador, em 1580, os
alunos do colégio dos Jesuítas na Bahia, encontravam nas procissões uma
oportunidade de extravasamento dos seus desejos carnais. Na data comemorativa do
“Corpus Christus”, havia um bloco
denominado, “O Mistério das Onze Mil Virgens”, uma procissão de
oportunismo lúdico, que angariou a simpatia da maioria da população.
As festas carnavalescas de ruas e as
diversões em ambientes fechados, como os bailes públicos, tiveram aí a sua origem.
Sobre o caráter de diversão da
procissão dos alunos do colégio dos Jesuítas, o francês Le Gentil de La Barbinais
quando passava por São Gonçalo, a convite do vice-rei Vasco Fernandes Cesar de Menezes,
narra como se desenrolavam os desfiles lúdicos nos arredores de São Salvador:
“Partimos em
companhia do Vice-Rei e de toda a Corte. Próximo a igreja de São Gonçalo nos
deparamos com uma impressionante multidão que dançava e pulava ao som de violas
e atabaques, que faziam tremer toda a nave da igreja. Tivemos, nós mesmos que
entrar na dança, por bem ou por mal, e não deixou de ser interessante ver numa
igreja padres, mulheres, frades, cavalheiros e escravos a dançar, misturados a
gritos de ‘Viva São Gonçalo do Amarante!’.
Nas procissões
do Espírito Santo, o padre Frei Antônio religioso do Carmo tocava
viola publicamente com o Cônego de Angola – o padre Manoel de Bastos, e entre eles no mesmo carro alegórico, uma Vicência crioula forra de Ouro Preto,
vestida de homem cantava o ‘Arromba’ e outras modas da terra. O bispo D. Antonio do Desterro era um folião inveterado
e saia para farra na procissão usando como peruca a cabeleira da imagem de
Cristo, isto em fins de 1759. Os lundus e os fados criados no século XVIII,
mais tarde, se transformariam nas precursoras
da música popular moderna”.
“Os grupos de manifestantes barulhentos que desfilavam na semana da Quaresma tinham nomes
muito parecidos com os blocos carnavalescos atuais: cornetadas, troças, chocalhadas,
latadas
e caçoadas”.
Tem mais: Os estandartes atuais dos
blocos carnavalescos e escolas de samba continuam como cópias fiéis dos que
eram içados pelos fiéis nas fogosas procissões do Brasil Colonial.
P.S.:
Perdoe-me o grande pesquisador José Ramos Tinhorão, mas eu vou
ficar com o Almirante que, numa música
carnavalesca escancarou toda a verdade: Tudo começou no dia 21 de Abril de 1500
com a descoberta, por acaso, do Brasil, exatamente dois meses após o carnaval,
como mostra o vídeo abaixo:
Por Levi B. Santos
Guarabira, 15 de fevereiro de 2012
Fonte de Referência: José Gomes Tinhorão ― “As Festas no Brasil Colonial” ― Editora 34
Guarabira, 15 de fevereiro de 2012
Fonte de Referência: José Gomes Tinhorão ― “As Festas no Brasil Colonial” ― Editora 34