Nas
palavras do historiador potiguar, Luís da Câmara Cascudo, “José
Leite de Santana, era um homem forte, resistente, ágil,
moreno escuro, atirador exímio, grande lutador de faca”.
Talvez por seu instinto predominantemente cruel, tenha recebido o
apelido Jararaca.
Jararaca
era um dos mais temíveis do bando de Lampião. A jornalista e
ensaísta, Adriana Negreiros, em um artigo sobre os “Anais do
Cangaço” publicado na Revista Piauí nº 130(de julho de 2017),
conta que Jararaca, homem acostumado a beber mais cachaça que o
recomendado, liderava um dos grupos mais ferrenhos dos bandoleiros de
Lampião, por ocasião da invasão sem sucesso da cidade de Mossoró
– RN, em 1927.
O
certo é que após muitas escaramuças o bando de Lampião foi
derrotado pela milícia estadual de Rodolfo Fernandes. “Jararaca
foi atingido por um tiro no peito. Mesmo machucado e ainda
embriagado, conseguiu levantar-se e correr, ocasião em que levou
outro balaço na coxa”.
“A
cela em que Jararaca ficou trancado tinha grades que davam para a
rua. Centenas de Mossoroenses amontoavam-se em frente ao local para
ver um cangaceiro de perto, como um leão feroz preso a uma jaula de
zoológico. Enchiam-lhe de perguntas. Queriam saber quantos homens já
havia matado. Se amealhara fortuna no cangaço. Quais eram seus
arrependimentos. Até hoje, corre a lenda que, nesse momento,
Jararaca teria confessado sentir um único remorso: de aparar
crianças com a ponta do punhal. […] O preso revelaria detalhes
operacionais da tentativa de invasão de Mossoró. O jornal Correio
do Povo traria uma entrevista bombástica com Jararaca: ao repórter,
o bandido citara nomes de políticos e coronéis nordestinos que
davam proteção e recebiam dinheiro de cangaceiros”. Segundo
a autora, Kydelnir Dantas, membro da Sociedade de Estudos
do Cangaço, lembra que um dos comandantes da resistência, sustentou
que Jararaca havia sido morto com uma coronhada do fuzil de um
policial, sem que seu corpo sofresse qualquer decepação. Esse
depoimento consta do livro “Lampião em Mossoró”.
Adriana
Negreiros que, em 2018 lançará uma biografia da cangaceira Maria
Bonita pela editora Objetiva, sobre o herói/vilão Jararaca, faz uma
narrativa digna de nota em seu artigo à revista Piauí: “Mossoró
(RN) tem, de fato, uma relação dúbia com os cangaceiros. 'Chuva de
Bala no País do Mossoró', espetáculo teatral em que cerca
de oitenta atores encenam a expulsão de Lampião, tratando o
intendente Rodolfo Fernandes como herói, é um dos pontos altos da
programação cultural da cidade, atraindo multidões de espectadores
de toda a região”.
Na Mitologia, a Serpente representa ao mesmo tempo "a vontade de avançar e a vontade de recuar", coisa que devia estar bem presente na psique do temível bandoleiro, Jararaca. Reza a psicologia que essa ambivalência(sentimentos paradoxais) é uma característica indelével do ser humano.
Diz então, Adriana Negreiros em seus anais do cangaço: o personagem Jararaca depois de ter sido preso, julgado, condenado sem que tivesse defesa, noventa anos depois de enterrado foi inocentado através de um julgamento simulado ocorrido em junho de 2017 na demasiadamente humana Mossoró. Um conselho de sentença, formado por um advogado, um padre, um jornalista, um médico e outros representantes da sociedade mossoroense, pelo placar de 6X1 absolveu o cangaceiro Jararaca.
Diz então, Adriana Negreiros em seus anais do cangaço: o personagem Jararaca depois de ter sido preso, julgado, condenado sem que tivesse defesa, noventa anos depois de enterrado foi inocentado através de um julgamento simulado ocorrido em junho de 2017 na demasiadamente humana Mossoró. Um conselho de sentença, formado por um advogado, um padre, um jornalista, um médico e outros representantes da sociedade mossoroense, pelo placar de 6X1 absolveu o cangaceiro Jararaca.
A
temperatura da inusitada e risível descrição da ensaísta chega a um ponto efervescente: “Encerrada a audiência, o juiz, alguns
jurados, advogados e jornalistas reuniram-se para almoçar num
restaurante especializado em costela da javali. 'Fiquei surpreso com
o resultado' ―
disse o juiz Breno Fausto, enquanto esvaziava uma concha de
feijão-verde no prato. 'Mossoró é um cidade peculiar. Ao mesmo
tempo que se orgulha da resistência absolve um cangaceiro', comentou
o juiz'”.
No
cemitério de São Sebastião, a uma distância de 10 metros um do
outro estão, hoje, o túmulo de Jararaca (o herói do Cangaço) e o
túmulo de Rodolfo(o herói da resistência), ambos ostentando em
suas superfícies de lousa fria e lisa, flores de variadas cores. A
professora Ludmilla Oliveira que participou do juri simulado do
famoso Jararaca saiu-se brilhantemente com essa: “Trata-se de um
simbolismo. Os resistentes não venceram qualquer um. Venceram
Lampião, O rei do Cangaço”. Não ficou para trás a prefeita
da cidade, quando agradando a gregos e troianos, assim terminou seu
discurso: “O maior resultado do julgamento é o resgate da
história da Resistência, independente da absolvição ou
condenação”.
Site da Imagem do Topo: https://www.folhetoteca.com.br/marca/costa-senna.html
Site da Imagem do Topo: https://www.folhetoteca.com.br/marca/costa-senna.html
P.S.:
[Resenha
- com citações de trechos do insuperável artigo de Adriana
Negreiros, sob o título ― “O Julgamento de Jararaca”. O
texto integral, composto de 14 colunas, encontra-se a disposição
dos leitores na Revista Piauí nº 130]
“Quis
o destino que o Juri simulado de Jararaca ocorresse no mesmo dia em
que, em Brasília, encerrava-se o julgamento da chapa Dilma-Temer no
Tribunal Superior Eleitoral” (Adriana
Negreiros).
O
vídeo abaixo replicado mostra a repercussão do Juri de Jararaca (o
cangaceiro que virou santo) em rede televisiva no Rio Grande do Norte