O
mitólogo, Joseph Campbell, falando sobre o PODER do Simbólico em
nossa realidade psíquica, o comparou a esfera do Sagrado. Disse ele:
“Um templo é uma paisagem da alma”.
Fui,
não nego, inundado por uma imensa tristeza, ao contemplar o Velho
edifício que nos serviu de Templo no início de nossa jornada como
acadêmicos de Medicina; templo, agora, em completa ruína e total
abandono.
Transtornado,
a mim mesmo perguntei e ao mesmo tempo respondi: o que aconteceu com
a nossa primeira CATEDRAL? Só pode ter sido vítima de uma violação
sacrílega.
Não
à toa, os nossos guias ou mestres eram denominados catedráticos. Se
vivos fossem, que diriam, hoje, os sacerdotes, Asdrúbal, Amílcar,
Aníbal, Vitorino, Genival Veloso, e outros que os arquivos travados
de minha memória, por ora, não me permitem trazer à tona?
Só
sei que esses denodados guias, foram os primeiros a abrir nossos
olhos para o estudo macroscópico e microscópico do corpo humano
inerte e fatiado, porém sagrado.
Que
extasiantes aulas recebíamos dos veneráveis mestres! Lembro de que,
lá fora, enquanto nossos “xamãs”(líderes inspirados pelos
espíritos para condução das cerimônias) se preparavam para
execução do doce/crucial rito (as aulas), as alamedas que
contornavam o Templo Sagrado, nos intervalos das ministrações, nos
serviam de espaço profano para extravasamento do lado oposto da
dualidade intrínseca de nosso mundo afetivo ou interno, como faz ver
bem, Elíade Mircea, no trecho, abaixo, pinçado de seu antológico
livro ─ “O Sagrado e o
Profano”:
“Sagrado
é todo aquele espaço, objeto, símbolo, que tem um significado
especial para uma pessoa ou grupo. Profano é tudo que não é
sagrado, toda a vida comum do dia a dia, os fatos e atos da rotina”.
O
certo é que quando adentrávamos nos recintos mais íntimos da
Catedral primeira de nosso passado de acadêmico, algo nos
transformava: um misto de medo, temor e tremor nos contagiava, algo
como uma voz angelical a imbuir em nosso espírito o mesmo sentimento
solene que assoma os corações dos fiéis que ascendem ao altar da
catedral para, em sua prece dominical, oferecer seus sacrifícios
vivos e agradáveis a Deus.
Cada
um de nós da turma de 1971, com certeza, guarda célebres lembranças
desse longínquo passado. O nosso colega Evaldo Carneiro, portador de
uma fantástica memória, foi buscar no baú de seu abismo psíquico,
memoráveis lembranças, uma delas retocadas pelo colega Joaquim. Não
poderia deixar de ressaltar, aqui, o brilhante passeio histórico que
saiu da pena do colega Jaime Xavier.
Quantas
imagens, quantas memórias surgiriam se o caleidoscópio do nosso
inconsciente coletivo daquele saudoso tempo pudesse, um dia,
destravar seus arquivos e deixar fluir seu conteúdo por completo.
Com certeza, livro nenhum caberia a autobiografia do nosso primeiro
ano de faculdade (peço vênias ao nosso genial biógrafo ― o irmão
Fonseca).
Ao
olhar demoradamente o que restou de nosso primeiro palácio sagrado,
me vieram à lembrança a melodia e a letra de “Saudosa Maloca”
─ magistralmente
interpretada pelos “Demônios da Garoa”. O estribilho desse
memorável samba, cai bem aqui, como epílogo de minha melancólica
descrição:
“Saudosa
maloca, maloca querida
Din
din donde nos passemos
Os
dias feliz de nossas vidas”
Por
Levi B. Santos
Guarabira,
14 de setembro de 2019