20 fevereiro 2023

Saudades dos VELHOS CARNAVAIS de Minha Adolescência em ALAGOA GRANDE(PB)

Me identifico muito com a melodia e a letra da marcha-rancho ‘Vila Esperança’ - imortalizada por Adoniran Barbosa em 1968 ─, um tributo que esse compositor, filho de imigrantes italianos, fez a sua amada Vila Esperança' (zona leste de São Paulo).
 Nos velhos carnavais de ruas, na minha adolescência, Alagoa Grande (e a aprazível lagoa do Paó em seu centro)) era a minha VILA ESPERANÇA repleta de foliões, blocos e troças - em fervente animação.
 Se hoje, o carnaval perdeu o brilho da prazerosa inocência, para gáudio dos nostálgicos daquele tempo, faço questão de ressuscitar a bela, tocante e saudosa marchinha ‘Vila Esperança’(vide vídeo abaixo) – iniciada com a voz arrastada e cansada de Adoniran Barbosa (1912 ─ 1982), também autor dos antológicos sambas: 'Saudosa Maloca', 'Trem das Onze', 'Iracema', entre outros. 
 GUARABIRA, 19 de fevereiro de 2023

03 janeiro 2022

As FACES PARADOXAIS do DEUS ‘JANUS’ (Janeiro)

 



As duas Faces do Deus ‘Janus’ 


A história do homem se repete porque ela é cíclica dentro do tempo infinito das eras. “O vento vai para o sul, e faz o seu giro para o norte; continuamente vai girando o vento, e volta fazendo o mesmo e eterno circuito". (Eclesiastes 1:6).

Na mitologia romana, a porta que o Deus dos INÍCIOS, ‘JANUS’(Janeiro) abre, é ao mesmo tempo, entrada e saída. No CARROSSEL do TEMPO, suas duas FACES (uma oposta a outra) simbolizam a metáfora mais autêntica de que o PASSADO, PRESENTE e FUTURO se intercalam ao sabor das circunstâncias.

As guerras de hoje, no fundo, têm a mesma força destruidora das de outrora. O ódio que as move vem do mesmo núcleo estrutural. Mudaram os personagens, mas a natureza humana continua a mesma. No lugar de armas toscas como lanças e espadas bíblicas usadas contra os inimigos de antigamente, temos hoje armas muito mais sofisticadas, como é o caso do arsenal mortífero em mãos das redes sociais. Pasmem, é em nome de Deus que executam com precisão a disseminação de notícias falsas com o intuito de desinformar e confundir a incauta população.

As desculpas e razões para explicar a intolerância entre as gentes continuam sendo as mesmas dos primórdios. Enfim, nada mudou debaixo do sol, como bem disse o autor de Eclesiastes. A incessante busca dos prazeres que consomem a maior parte da vida do homem é a mesma dos tempos remotos. Ela tem a mesma seiva de milênios de anos atrás. Os canais por onde deságua a agressividade latente que está em cada um de nós, em nada diferem daquela dos tempos passados. Mudam-se as formas externas, porém, na essência tudo continua igual.

Apesar de renovarmos nossas apostas por um ANO com menos dissabores, no campo da POLÍTICA, por exemplo, muda-se apenas a cobertura, e o BOLO permanece com os mesmos sabores e ingredientes dos que foram feitos em JANEIROS que já se foram.

Será que a hipocrisia que Cristo tanto combateu entre as lideranças de seu povo, não é a mesma de hoje?


O longo capítulo de Mateus 23 (Ai de vós hipócritas!) proferido por um Cristo indignado contra os Fariseus e Escribas de sua época, por acaso, não ressoa hoje com a mesma intensidade da proferida naquele longínquo passado? Será que atuais dirigentes e líderes dos povos sedentos de justiça não estão a reeditar os fatos do passado? Se a história é cíclica, ela se repete. Ficando claro e evidente que os fariseus e escribas, de hoje, continuam agindo e semeando a discórdia como faziam nossos antigos ‘líderes’. Todas as tiranias (as atuais e as de ontem) fazem parte da história de alguns indivíduos, ou grupos no poder, que se servem de violentos recursos para, inconscientemente, exteriorizar os seus sentimentos mais animalescos.


Raciocinando bem, o tempo não passa; nós é que passamos por ele. O que vemos hoje como novidade, já o foi no passado, como disse sabiamente o autor do livro de Eclesiastes (1:9): o que foi, isso é o que há de ser, e o que se fez, isso se tornará a fazer; nada há de novo debaixo do sol.”


Entra ano e sai ano, mas a caminhada implacável do tempo sempre é a mesma. O que notamos exteriormente em nós, de mudança, são apenas as marcas visíveis e indeléveis que o
TEMPO vai deixando em nossos corpos, à medida que passamos por ele. Em todo o tempo as virtudes, as vicissitudes e aflições são as nossas companheiras indissociáveis. Se nos despirmos dos trajes das representações no grande teatro de nossa vida de relacionamentos, e mergulharmos em nós mesmos, é que poderemos perceber os instintos mais rudes que estão escondidos lá no mais profundo do nosso ser o tenebroso e escuro oceano chamado pelo pai da psicanálise “inconsciente”. O apóstolo Paulo num dos seus profundos mergulhos em si mesmo, reconheceu que nele não habitava bem algum (Rom. 7:18), para logo depois, exclamar: “Miserável homem que eu sou! Quem me livrará do corpo desta morte?”(Rom. 7:24)


O homem criou fórmulas para encaixotar o tempo em calendários astronômicos e lunares uma tentativa de dar forma a mudança dos dias rigorosamente iguais. No girar constante do tempo a que denominamos semanas, meses, anos, décadas, séculos e milênios, nada mais fazemos senão transubstanciar o vazio do ‘NADA’, dando-lhe “carne e ossos” para chamá-lo de “tempo”.



Por Levi Bronzeado

Guarabira, 1° de Janeiro de 2022


19 dezembro 2021

Um CONTO a SER EXPLORADO antes do FINAL do ANO

 



Logo na semana natalina, quando a maioria das pessoas está assoberbada de tarefas para resolver em um exíguo espaço de tempo, o convite posto acima corre o risco, sim, de ser refutado como coisa chata ou fora de propósito. Logo agora, que doidice é essa, cara!?” ─ alguém poderá ARGUMENTAR.

Como filhos da LINGUAGEM, somos atraídos pelo PRAZER que as narrativas nos confere, especialmente na forma tradicional de LIVRO. Mas convenhamos, mesmo que seja uma boa história, em uma época especial como essa, fica evidente que muitos não podem dispor de ‘horas mortas’ para se transportar a esse encantado e idolatrado mundo da LEITURA. Contudo, mesmo diante da ansiedade natural reinante nesses frenéticos dias, deixo a critério do leitor ou leitora conferir ou não a envolvente historieta. Sei que o insólito e metafórico conto de três páginas e meia ─ 'IDEIAS do CANÁRIO' ─, de Machado de Assis, o bruxo de Cosme Velho(RJ), seria devorado em questão de mais ou menos 15 minutos.(rsrs)

UMA DEIXA: no conto/ficção machadiano, o estranho e sábio pássaro é quem dá as cartas, superando até seu próprio mestre. O canário entende os mundos a partir dele mesmo, contrariando o confuso ornitólogo. O professor estudioso dos pássaros, em seu mundo de ilusória racionalidade, tateia e patina diante de um passarinho bem mais ágil que ele. O canário surpreende o ornitólogo no entendimento das nuances evolutivas existenciais de um MUNDO centrado, de forma mecânica, no idealismo cego de uma elite supostamente científica e poderosa que costuma se apresentar como dona de todo o SABER.

A quem interessar a leitura, segue, abaixo, o atraente opúsculo que, apesar de ter sido publicado no longínquo 1889, parece ter sido profeticamente escrito para os intranquilos dias atuais (rsrs): 


                                         Ideias do Canário - de Machado de Assis

Um homem dado a estudos de ornitologia, por nome Macedo, referiu a alguns amigos um caso tão extraordinário que ninguém lhe deu crédito. Alguns chegam a supor que Macedo virou o juízo. Eis aqui o resumo da narração. 

No princípio do mês passado, — disse ele, — indo por uma rua, sucedeu que um tílburi à disparada, quase me atirou ao chão. Escapei saltando para dentro de urna loja de belchior. Nem o estrépito do cavalo e do veículo, nem a minha entrada fez levantar o dono do negócio, que cochilava ao fundo, sentado numa cadeira de abrir. Era um frangalho de homem, barba cor de palha suja, a cabeça enfiada em um gorro esfarrapado, que provavelmente não achara comprador. Não se adivinhava nele nenhuma história, como podiam Ter alguns dos objetos que vendia, nem se lhe sentia a tristeza austera e desenganada das vidas que foram vidas. A loja era escura, atualhada das cousas velhas, tortas, rotas, enxovalhadas, enferrujadas que de ordinário se acham em tais casas, tudo naquela meia desordem própria do negócio. Essa mistura, posto que banal, era interessante. Panelas sem tampa, tampas sem panela, botões, sapatos, fechaduras, uma saia preta, chapéus de palha e de pêlo, caixilhos, binóculos, meias casacas, um florete, um cão empalhado, um par de chinelas, luvas, vasos sem nome, dragonas, uma bolsa de veludo, dous cabides, um bodoque, um termômetro, cadeiras, um retrato litografado pelo finado Sisson, um gamão, duas máscaras de arame para o carnaval que há de vir, tudo isso e o mais que não vi ou não me ficou de memória, enchia a loja nas imediações da porta, encostado, pendurado ou exposto em caixas de vidro, igualmente velhas. Lá para dentro, havia outras cousas mais e muitas, e do mesmo aspecto, dominando os objetos grandes, cômodas, cadeiras, camas, uns por cima dos outros, perdidos na escuridão. Ia a sair, quando vi uma gaiola pendurada da porta. Tão velha como o resto, para ter o mesmo aspecto da desolação geral, faltava-lhe estar vazia. Não estava vazia. Dentro pulava um canário. A cor, a animação e a graça do passarinho davam àquele amontoado de destroços uma nota de vida e de mocidade. Era o último passageiro de algum naufrágio, que ali foi parar íntegro e alegre como dantes. Logo que olhei para ele, entrou a saltar mais abaixo e acima, de poleiro em poleiro, como se quisesse dizer que no meio daquele cemitério brincava um raio de sol. Não atribuo essa imagem ao canário, senão porque falo a gente retórica; em verdade, ele não pensou em cemitério nem sol, segundo me disse depois. Eu, de envolta com o prazer que me trouxe aquela vista, senti-me indignado do destino do pássaro, e murmurei baixinho palavras de azedume. — Quem seria o dono execrável deste bichinho, que teve ânimo de se desfazer dele por alguns pares de níqueis? Ou que mão indiferente, não querendo guardar esse companheiro de dono defunto, o deu de graça a algum pequeno, que o vendeu para ir jogar uma quiniela? E o canário, quedando-se em cima do poleiro, trilou isto:

— Quem quer que sejas tu, certamente não estás em teu juízo. Não tive dono execrável, nem fui dado a nenhum menino que me vendesse. São imaginações de pessoa doente; vai-te curar, amigo...

— Como — interrompi eu, sem ter tempo de ficar espantado. Então o teu dono não te vendeu a esta casa? Não foi a miséria ou a ociosidade que te trouxe a este cemitério, como um raio de sol?

— Não sei que seja sol nem cemitério. Se os canários que tens visto usam do primeiro desses nomes, tanto melhor, porque é bonito, mas estou que confundes.

— Perdão, mas tu não vieste para aqui à toa, sem ninguém, salvo se o teu dono foi sempre aquele homem que ali está sentado.

— Que dono? Esse homem que aí está é meu criado, dá-me água e comida todos os dias, com tal regularidade que eu, se devesse pagar-lhe os serviços, não seria com pouco; mas os canários não pagam criados. Em verdade, se o mundo é propriedade dos canários, seria extravagante que eles pagassem o que está no mundo. Pasmado das respostas, não sabia que mais admirar, se a linguagem, se as ideias. A linguagem, posto me entrasse pelo ouvido como de gente, saía do bicho em trilos engraçados. Olhei em volta de mim, para verificar se estava acordado; a rua era a mesma, a loja era a mesma loja escura, triste e úmida. O canário, movendo a um lado e outro, esperava que eu lhe falasse. Perguntei-lhe então se tinha saudades do espaço azul e infinito...

— Mas, caro homem, trilou o canário, que quer dizer espaço azul e infinito? 

— Mas, perdão, que pensas deste mundo? 

— Que cousa é o mundo?

— O mundo, redargüiu o canário com certo ar de professor, o mundo é uma loja de belchior, com uma pequena gaiola de taquara, quadrilonga, pendente de um prego; o canário é senhor da gaiola que habita e da loja que o cerca. Fora daí, tudo é ilusão e mentira. Nisto acordou o velho, e veio a mim arrastando os pés. Perguntou-me se queria comprar o canário. Indaguei se o adquirira, como o resto dos objetos que vendia, e soube que sim, que o comprara a um barbeiro, acompanhado de uma coleção de navalhas.

— As navalhas estão em muito bom uso, concluiu ele.

— Quero só o canário. Paguei-lhe o preço, mandei comprar uma gaiola vasta, circular, de madeira e arame, pintada de branco, e ordenei que a pusessem na varanda da minha casa, donde o passarinho podia ver o jardim, o repuxo e um pouco do céu azul. Era meu intuito fazer um longo estudo do fenômeno, sem dizer nada a ninguém, até poder assombrar o século com a minha extraordinária descoberta. Comecei por alfabeto a língua do canário, por estudar-lhe a estrutura, as relações com a música, os sentimentos estéticos do bicho, as suas idéias e reminiscências. Feita essa análise filológica e psicológica, entrei propriamente na história dos canários, na origem deles, primeiros séculos, geologia e flora das ilhas Canárias, se ele tinha conhecimento da navegação, etc. Conversávamos longas horas, eu escrevendo as notas, ele esperando, saltando, trilando. Não tendo mais família que dous criados, ordenava-lhes que não me interrompessem, ainda por motivo de alguma carta ou telegrama urgente, ou visita de importância. Sabendo ambos das minhas ocupações científicas, acharam natural a ordem, e não suspeitaram que o canário e eu nos entendíamos. Não é mister dizer que dormia pouco, acordava duas e três vezes por noite, passeava à toa, sentia-me com febre. Afinal tornava ao trabalho, para reler, acrescentar, emendar. Retifiquei mais de uma observação, — ou por havê-la entendido mal, ou porque ele não a tivesse expresso claramente. A definição do mundo foi uma delas. Três semanas depois da entrada do canário em minha casa, pedi-lhe que me repetisse a definição do mundo.

— O mundo, respondeu ele, é um jardim assaz largo com repuxo no meio, flores e arbustos, alguma grama, ar claro e um pouco de azul por cima; o canário, dono do mundo, habita uma gaiola vasta, branca e circular, donde mira o resto. Tudo o mais é ilusão e mentira. Também a linguagem sofreu algumas retificações, e certas conclusões, que me tinham parecido simples, vi que eram temerárias. Não podia ainda escrever a memória que havia de mandar ao Museu Nacional, ao Instituto Histórico e às universidades alemãs, não porque faltasse matéria, mas para acumular primeiro todas as observações e ratificá-las. Nos últimos dias, não saía de casa, não respondia a cartas, não quis saber de amigos nem parentes. Todo eu era canário. De manhã, um dos criados tinha a seu cargo limpar a gaiola e pôr-lhe água e comida. O passarinho não lhe dizia nada, como se soubesse que a esse homem faltava qualquer preparo científico. Também o serviço era o mais sumário do mundo; o criado não era amador de pássaros. Um sábado amanheci enfermo, a cabeça e a espinha doíam-me. O médico ordenou absoluto repouso; era excesso de estudo, não devia ler nem pensar, não devia saber sequer o que se passava na cidade e no mundo. Assim fiquei cinco dias; no sexto levantei-me, e só então soube que o canário, estando o criado a tratar dele, fugira da gaiola. O meu primeiro gesto foi para esganar o criado; a indignação sufocou-me, caí na cadeira, sem voz, tonto. O culpado defendeu-se, jurou que tivera cuidado, o passarinho é que fugira por astuto...

— Mas não o procuraram?

— Procuramos, sim, senhor; a princípio trepou ao telhado, trepei também, ele fugiu, foi para uma árvore, depois escondeu-se não sei onde. Tenho indagado desde ontem, perguntei aos vizinhos, aos chacareitos, ninguém sabe nada. Padeci muito; felizmente, a fadiga estava passada, e com algumas horas pude sair à varanda e ao jardim. Nem sombra de canário. Indaguei, corri, anunciei, e nada. Tinha já recolhido as notas para compor a memória, ainda que truncada e incompleta, quando me sucedeu visitar um amigo, que ocupa uma das mais belas e grandes chácaras dos arrabaldes. Passeávamos nela antes de jantar, quando ouvi trilar esta pergunta:

— Viva, Sr. Macedo, por onde tem andado que desapareceu? Era o canário; estava no galho de uma árvore. Imaginem como fiquei, e o que lhe disse. O meu amigo cuidou que eu estivesse doido; mas que me importavam cuidados de amigos? Falei ao canário com ternura, pedi-lhe que viesse continuar a conversação, naquele nosso mundo composto de um jardim e repuxo, varanda e gaiola branca e circular…

— Que jardim? Que repuxo?

— O mundo, meu querido.

—Que mundo? Tu não perdes os maus costumes de professor. O mundo, concluiu solenemente, é um espaço infinito e azul, com o sol por cima. Indignado, retorqui-lhe que, se eu lhe desse crédito, o mundo era tudo; até já fora uma loja de Belchior...

— De Belchior? — trilou ele às bandeiras despregadas. Mas há mesmo lojas de Belchior?

                                                        FIM

FONTE do CONTO: https://docplayer.com.br/188183228-Exercicio-1-leitura-o-texto-a-seguir-e-um-conto-escrito-por-machado-de-assis-ideias-do-canario.html



Por Levi B. Santos  

Guarabira,19 de dezembro de 2021                                                

06 maio 2021

A Volta das CRUZADAS do 'Deus Acima de Todos'





(Cavaleiro Cruzado)


Logo após o ataque às Torres Gêmeas (Nova Iorque ─ EUA) em 11 de setembro de 2001, o republicano George W. Bush decidiu reacender, em seu país, as ‘CRUZADAS’ da idade média do velho continente. Para nomear ou dar nome a essa guerra como ato de vingança, adotou o discurso maniqueísta de: os que estão do nosso lado são do BEM, e os que estão contra nós são do MAL. Osama Bin Laden foi, enfim, o nome escolhido por Bush para ser o inimigo ideal da nação ferida em seu orgulho; inimigo a ser caçado na Cruzada nominada ou batizada de ─ “Justiça Infinita” ─, sob a égide de um suposto “Deus que estava acima de tudo e de todos”.

O certo é que o conflito contra os muçulmanos (os do mal?), em nome do ‘Deus Acima de Tudo’ da geração do Tio Sam(os do Bem?), após o atentado às Torres Gêmeas, ressuscitou as CRUZADAS do período de 1096 à 1272 ─, guerra que visava a tomada da Jerusalém dos muçulmanos pelos cristãos dos principais países e reinos do velho continente, em um mega-conflito que durou quase duzentos anos. As Cruzadas foram um projeto tão criminoso que São Francisco se indignou a ponto de exclamar: "vim converter os infiéis e descobri que os que precisam de fé não são os guerreiros muçulmanos, mas os soldados de Cristo e,  antes de mais nada, os bispos que os conduzem" (Vide: 'O Livro Negro do Cristianismo' - página 18 - Ediouro)

Na pós-modernidade, estimulado pelo arquétipo dos cavaleiros cruzmaltinos, os cristãos americanos revestiram-se dos símbolos da idolatrada pátria para, num insano ufanismo nunca antes visto, editar mais uma vez a guerra fratricida(de irmãos contra irmãos) para fins terrenos, políticos e mundanos.

Não deu outra, Hollywood, ressurgiu para encetar uma TRÉGUA entre a face mercantil e mais sutil do 'Deus-Pai' da nação ocidental, sob o nome de Javeh, e a contra-face que, na ótica dos combatentes cristãos era a mais ameaçadora desse mesmo 'Deus-Pai', adorada pelos muçulmanos, com o nome de Alah (palavra que na língua árabe representava o mesmo Deus de Noé, Abraão, Moisés e Davi). 
O diretor de cinema, Ridley Scott, finalmente recebeu a autorização para, em 2005, lançar no mercado religioso o filme ─ ‘CRUZADA’ ─, espetáculo bem produzido para angariar a empatia tanto do público ‘cristão’, quanto do público muçulmano.

O presidente dos EUA, com sua mente doentia e perversa,  considerava-se o representante divino da ‘maior potência mundial’, agraciada com o poder de enfeitiçar os súditos, cuja missão principal era a de colocar seu próprio Deus no lugar mais alto do pódio, ou seja, em um lugar ‘ACIMA DE TUDO e de TODOS’, rebaixando aos lugares terrivelmente inferiores o Deus dos muçulmanos que eles consideravam vil. Coube ao republicano, George W. Bush, incendiar sua nação de fundamentalistas cristãos, trazendo de volta o espírito das antigas Cruzadas dos séculos X, XI e XII(tempo em que muitos muçulmanos, para não morrerem, foram obrigados a se “converterem” ao cristianismo).

Ainda hoje, os evangélicos de lá e os de cá do novo mundo usam o termo CRUZADA em suas campanhas de convencimento para ganhar almas para $eus rebanho$.

Pasmem senhores e senhoras, aqui, nas terras de D. João VI, consideradas o quintal do Império do Tio Sam, a ação perversa de se usar frases bíblicas ganhou contornos políticos e mundanos jamais imaginados. Em todas ações escusas e corruptas de propaganda política, intrometem, sem a menor cerimônia, o nome do ‘Deus-Javeh’ como meio mesquinho e ignóbil de angariar votos, apoio das massas e ‘favores’ inconfessáveis.

Os cruzados de outrora, à maneira dos militantes de hoje, eram também chamados de ‘militância de Cristo’ na ferrenha luta pela recuperação dos lugares alegadamente sagrados da Palestina; altaneiros, carregavam uma cruz em lugar bem visível de suas indumentárias, símbolo maior do ‘cristianismo’. Essa ‘Cruz de Malta’ tinha pouca diferença da ‘Cruz de Ferro’ que deu origem a suástica nazista. Por falar em suástica, coincidência ou não, saliente-se, que o morticínio dos judeus campeou tanto através das malditas Cruzadas, quanto sob o regime totalitarista do genocida maior do Terceiro Reich.

Nos dias atuais, mais do que nunca, versículos da Bíblia são pinçados e reverberados em alto som, como formas de seduzir o filão mais conservador da sociedade. “E conhecereis a verdade e a verdade vos libertará!” ─ é um dos bordões mais usados e abusados, hoje, para fins espúrios e nocivos. Mas esse artifício do reino das trevas vem de longe, e não se constitui nenhuma novidade. A História mostra que Deus, na sociedade festiva, nunca foi instrumentalizado para fins éticos, espirituais, transcendentais ou divinos, mas sim para vergonhosas barganhas e fins profanos. Não custa nada lembrar Hitler, cuja violência foi perpetrada no suposto nome do Deus Cristão. No livro Mein Kampf”, o genocida alemão cita 20 vezes o nome de Deus. No cinturão de todos os soldados ou guerreiros do Fuhrer estava lá escrito: 'Deus está conosco!' ─, lema que na idade média era monopólio da ‘Ordem Teutônica’.

EM RESUMO: a História das CRUZADAS é cíclica, ou seja, a essência de seu passado está sempre se repetindo, ou retornando à cada época de grandes  crises. Na verdade, aquilo que se percebe hoje como mudança, é apenas uma sutil e astuciosa enganação que não resiste ao crivo do tempo e da razão.


Por Levi B. Santos
Guarabira, 06 de maio de 2021


17 abril 2021

A Primeira Comissão de Inquérito (PCI) da LÍMBIA



Sobre o planeta dos hominídeos, denominado LÍMBIA, o que se sabe é que, sob a forma de ‘Limbo’, ela já estava presente no Canto IV do ‘Inferno’ em ‘A Divina Comédia’ de Dante.

Em uma tradução apócrifa do Gênese bíblico, alguns estudiosos dos MITOS afirmam que a Límbia se originou da junção ou choque entre Sodoma e Gomorra. Na verdade, em tempos remotos, esses dois planetas entraram em rota de colisão, provocando a destruição de quase todos seus habitantes. Dizem míticos historiadores que essa grande hecatombe foi um castigo divino devido à desenfreada corrupção e prostituição que em Sodoma e Gomorra corriam frouxas. Se a tradução apócrifa, diz que o cataclismo destruiu quase todos habitantes desses dois planetas, pode até se pensar ou cogitar que alguns pecaminosos tenham escapado, só não sabemos de que forma.

Mal havia sido criada (ou inventada), a Límbia foi invadida por um miasma que deixava a muitos abatidos, e fazia outros desaparecerem como que por encanto. A maioria lá, acentue-se, era formada por místicos de pensamentos rudimentares. Todos faziam incontáveis rituais e elucubrações diárias que, mais tarde, a lógica, a metafísica, a Teologia e a Ciência tomariam para si como objeto de suas inúmeras análises.

A comunidade era ainda bem pequena e imatura, mas, devido a praga recente de miasmas, em suas mentes já dançavam as sombras da ansiedade e do medo da morte. A maioria dos límbicos asseveravam que a corrupção havia sido banida com o choque interplanetário, mas alguns não acreditavam nesse mito.

Aparentemente, eram todos iguais e pacíficos. Porém, as pequenas brigas e rixas que aqui e acolá pipocavam, eram uma prova insofismável de que o pecado da corrupção de antes não havia desaparecido por completo; melhor acreditar que esse sacrilégio estivesse apenas em um estado de latência. O certo é que devagarinho, mas bem devagarinho mesmo, o burburinho foi aumentando entre eles, a ponto de, em certa ocasião, se ouvir da multidão, o grito: “Alternativas! Precisamos de alternativas, urgente!”.

Foi aí, então, que dentre eles surgiu um senhor de alta estatura, vistoso e de porte atlético que, sem ao menos prestar suas credenciais, foi logo bradando: “Em mim foi plantada a incipiente ideia de um ser perfeito. Não adianta tergiversar sobre esse particular e onipotente dom que me foi dado de forma misteriosa!”. É de admirar que um homenzinho raquítico e sem formusura, eu diria um quase anão, surgisse de repente como que para agradar ao homenzarrão em sua indumentária espacial(ou divinal?), gabando-se a falar: “Grande senhor, vos louvo como o primeiro a nos acalmar o espírito diante desse miasma mortal! Falai-nos, somos todos ouvidos!” em tom de bajulação e com a voz miudinha e fina, deixando os outros desconfiados.

O homenzarrão, que alguns o chamavam de Seráphico, viu-se na condição de não poder ponderar com ninguém a respeito do maldito miasma. Quanto à amalucada teoria que pretensamente defendia, seus ares de misticismo denunciavam que ele acreditava piamente ter vindo de “paraísos celestiais”.

Diálogo, na acepção da palavra, praticamente ainda não existia em Límbia, mas, surpreendentemente, o grande senhor ouviu, nitidamente, alguém sussurrar o termo ‘dialética’, em Latim arcaico ou primitivo.

Certa noite, o grandalhão místico, sem conseguir conciliar o sono, teve uma espécie de devaneio onírico. Na sua visão distorcida viu algumas pessoas aglomeradas, e pasmem, além da discussão sobre o miasma que se disseminava, conseguiu escutar vindo da multidão uma frase começando pela palavra Deus’ (ou Zeus) , arquétipo que, em sua percepção, só a ele teria sido reservado o direito de O pronunciar.

Passado algum tempo, o grande místico ou seguidor de alguma entidade religiosa, (sabe lá, um remanescente dos Sodomitas/Gomorristas que conseguiu escapar do castigo divino/planetário?) ─, deu início a uma tensa reunião, tentando convencer os demais a respeito de suas supostas boas intenções. O reverendíssimo, de repente, ficou de pé e, chutando para o lado a cadeira na qual estava sentado, vociferou:

Não vos inquieteis caros irmãos, a corrupção foi banida, o que agora existe é o meu deus e o sagrado, que vocês, se quiserem, podem evidentemente perceber, em mim!. Prometo que a cura do miasma virá e não tardará!”. As palavras ditas pelo místico senhor serviram de senha para o início de outro grande tumulto.

Esse deus não é só seu, Ele também habita em nossos corações!” reclamaram, em uníssono, 11 pessoas (entre essas não estava o afoito e bajulador anão). Se servindo de ditos pinçados e decorados de um velho catecismo de sua bisavó, o fervoroso sacerdote, de pronto, arremata com bastante ênfase: “Em mim não há mácula, nem sombra de mentira. Deus conhece o meu coração, e sabe que desde o início dos séculos, eu já tinha sido o escolhido para reger o destino de vocês”.

E abriu-se o livro sagrado” que, até então, estava atado com sete fitas e selado com sete selos, para que todos pudessem estudá-lo por um certo tempo, até que do céu fosse determinada a ordem de instalação da Primeira Comissão Inquisitorial ou de Inquérito (PCI) do novo planeta que, primordialmente, trataria de investigar se realmente a ‘Cinchona’ (planta produtora de quinino, abundante na América do Sul), teria ou não o efeito milagroso de afugentar ou acabar com o miasma que estava ceifando vidas e deixando tristes e abatidos muitos dos primevos habitantes da recém-criada, LÍMBIA.

Finalmente, descobriu-se que para a Límbia não havia mesmo remédio, pois nada nela era levado a sério; nem o conhecimento nem a Ciência e nem as teses universitárias tinham sido por ela abrigadas. Na Límbia, supostamente sem pecado e sem pecadores, não se condena ninguém. Desde que apareceu essa ideologia de que os límbicos são incorruptíveis, as sentenças começaram a ser, indefinidamente, proteladas ‘ad-aeternum’.

E o que se vê, claramente, agora, é uma Límbia que não é dona de si. Como ocorre em todo planeta novo ou ressurgente, seus habitantes sempre herdam dos predecessores os mesmos vícios e males que não acabam em cada fim de mundo.

Os límbicos, em matéria de PCI(ou CPI), inconscientemente tendiam a seguir o mesmo roteiro traçado pelos hominídeos que os precederam. Até o refrão usado na Límbia era o mesmo da destruída Gomorra: “CPI tem dia para começar, mas não tem data para terminar!”

Então, o que ninguém jamais tinha imaginado, mais tarde ficou patente: a Límbia, com pouco tempo de inventada, ficou conhecida como a terra da ficção que virou verdade.


Por Levi B. Santos

Guarabira, 17 de abril de 2021


01 abril 2021

A Páscoa em Tempos de Banalização da Morte

 



Odi profanum vulgus et arceo’ ─ ‘Os que odeio conservo longe de mim’, cantou Horácio alguns anos antes do Nascimento de Jesus. Aristóteles também confirmou esse sentimento, quando falava do homem ideal: ‘Ele é franco porque ama o DESDÉM’.

Ontem, aqui nesse recanto, fiz menção a duas CAVERNAS. Na última Caverna, no sentido simbólico/metafórico, me reportei a que deu início a era Cristã que, continua a emanar seus eflúvios ainda hoje na contemporaneidade.

Tomando emprestado de G. K. Chesterton, assim escrevi, ontem:

o sentimento de algo desprezado e de algo temido. A CAVERNA, sob um aspecto, é apenas um buraco ou um canto para o qual são varridos como lixo os excluídos; no entanto, sob outro aspecto, é um esconderijo de algo precioso que os TIRANOS estão procurando como tesouro”. Há nessa Divindade enterrada uma ideia de ninar o mundo; de sacudir as torres e os palácios desde suas bases; exatamente como HERODES, o grande REI, sentiu aquele terremoto sob seus pés e oscilou com seu OSCILANTE PALÁCIO”.

O pensamento assassino/destruidor de Herodes Antipas se espalhou pelo Sinédrio, a ponto de dizerem, à boca pequena, a respeito de Cristo: “Se O deixarmos seguir livre, todos acreditarão Nele, e então virão os romanos e tomarão nossos CARGOS”. (João 11:48).

A Pandemia infernal que já dura mais de um ano, e agora se torna mais aguda, trouxe à tona a BANALIZAÇÃO das MORTES, como remédio ácido/amargo para acalmar a TURBA.

Impossível, deixar de lado o Calvário de Cristo sem citar o desmantelamento do grupo composto pelos seus 12 discípulos. Como ocultar através de manobras politiqueiras da época o não mencionamento do sanguinário Herodes Antipas, mais conhecido através dos relatos do Novo Testamento, por seu papel nos eventos que levaram a previamente articulada defenestração e morte de João Batista e Jesus de Nazaré?

Mas isso não é nenhuma novidade. Como ocorreu no longínquo passado e ainda ocorre em todos governos de cunho autoritário, o ENREDO construído para maquiar banalizar as mortes e os mortos é o mesmo do tempo de Cristo, sem tirar nem por.

Nesta Páscoa, há os que pelejam incessantemente a fim de tornar menos visível e mais palatina para a maioria do povo, a maior tragédia sanitária da história brasileira; tragédia que, pasmem, virou uma macabra estatística. A escalada sinistra deu conta, em apenas 24 horas, da passagem de 3.600 vítimas fatais para 4.000. Ah, mas o número absoluto de mortos não representa nada, são os números relativos que interessam! bradam os ‘otimistas estatísticos’. Por outro lado, entendo que a escolha, em parte inconsciente, de dourar um pouco a realidade dura e dolorosa frente a uma verdade desconfortável, às vezes requer, aqui ou acolá, esse tipo de recurso defensivo em prol de nossa estabilidade psíquica.

O sábio Salomão, com sua célebre afirmação “Nada há de novo debaixo do Sol!” sinalizava o ENREDO construído para banalizar as calamidades, as guerras e os mortos de seu tempo, o qual, iria ser o mesmo do tempo de Cristo, e dos dias atuais.

Não querendo me tornar cansativo, sirvo-me, novamente, de G. K. Chesterton, para encerrar o breve ensaio dessa Quinta-Feira da Páscoa:

A história de Cristo (e sua páscoa) é a história de uma JORNADA, quase na forma de uma marcha militar. É uma história que começa no PARAÍSO da Galileia, uma terra pastoril e pacífica que realmente sugere de algum modo o ÉDEN - e vai aos poucos galgando o interior que se eleva até as montanhas mais próximas das nuvens tormentosas e das estrelas, como se fosse uma MONTANHA do PURGATÓRIO”.


Levi B. Santos

Guarabira, 1º de Abril de 2021