...............................Alagoa Grande - foto de 1946
.......................Tá vendo aquela cidade, moço
........................Foi ali que eu vim ao mundo.
........................Terra de Osvaldo Trigueiro,
........................Torrão grato, e fecundo.
........................Era tão bela e tranqüila
........................Não tinha um só vagabundo.
.........................Lembro a fase de menino,
.........................Revendo esta foto antiga,
.........................Que o tempo embotou.
.........................De saudade ela me instiga,
.........................Vendo-a, eu sinto a falta
.........................Da “patota” tão amiga.
.........................A Lagoa era tão limpa.
.........................Carás - eu pescava nela.
.........................Depois fritava na banha,
.........................Dentro de uma panela
.........................Misturadas na farinha,
.........................Eu jantava à luz de velas.
........................Não tinha energia elétrica.
.......................Tinha o calor da gente sua.
........................Sem postes, sem luminárias
.........................P’ra alumiar suas ruas,
.........................Mas tinha noites tão belas
.........................Com a claridade da lua.
.........................Tá vendo o centro da foto?
.........................Bem ali fica um coreto,
.........................Onde nos sábados à noite
.........................Com o coração em aperto,
.........................Eu ouvia a filarmônica
.........................Executando um concerto.
.........................Eram branquinhos e lisos:
...........................Os banquinhos lá da praça
.........................Onde contávamos estórias,
.........................E ríamos com toda graça.
.........................Não conhecíamos “stress”
..........................Que hoje nos amordaça.
.....................................Às cinco horas da tarde,
.....................................A cidade fervilhava.
.....................................Um mar de gente “azul”,
.....................................A Anderson Clayton soltava.
.....................................Era a turma do “Agave”,
.....................................Que à casa retornava.
....................................Às cinco horas da manhã,
....................................O apito do Trem se ouvia.
....................................Corria à velha Estação,
....................................Para visitar uma tia
....................................Que na Capital morava
....................................Lá chegava ao meio dia.
....................................O Futebol e o São João,
....................................O Carnaval e a vaquejada
....................................Faziam a nossa alegria.
....................................Todo mundo nas calçadas,
....................................Vendo a Banda desfilar
....................................Pelas ruas enfeitadas.
....................................Eram os mais influentes:
....................................Os Montenegros e os Farias,
....................................Os Onofres e os Zenaides,
....................................Eu via todos os dias.
....................................Paiva, Régis e Cavalcante,
....................................Alguns deles eu conhecia.
........................Contemplando a cidade, .........................Da aurora de minh’infância.
.........................Em pleno dia, tão deserta.
.........................Eu não troco sua elegância,
.........................Pelo “corre-corre” de hoje,
.........................Onde em tudo há ganância.
.........................Bem junto a grande Lagoa,
.........................Tinha uma Tamarineira,
.........................Que hoje não existe mais.
.........................Nossa boa companheira,
.........................Jogávamos a sua sombra,
.........................As "peladas" costumeiras
....................Dois partidos disputavam
....................A eleição para Prefeito.
....................Do Pê-essedê e a Udeene,
....................Eu tirava bom proveito,
....................Pois recebia os regalos,
................ ...Ao aclamar: Tá eleito!
....................... Um animador de comício,
.......................Que sempre estava presente,
.......................O chamávamos de “João cego”
.......................No palanque, logo à frente,
.......................Dizia em voz cavernosa:
.......................Vamos ouvir o suplente!
......................Hoje está tudo mudado.
......................Não mais existe decência.
......................Não tem mais aquela aura,
......................Dos tempos da inocência.
......................Tá tudo tão vergonhoso,
......................Só se vê malevolência.
.....................Dando uma última olhada
.....................Na minha antiga cidade,
.....................Eu sinto um nó na garganta.
.....................É tão forte a maldade,
.....................Que o humano desanima
.....................Da prática da piedade.
.....................
.....................Por: Levi B. Santos ( Guarabira, 03 de Janeiro de 2008)