31 dezembro 2009

ADIAMENTO


Falta apenas uma hora para o ano terminar. Os blogueiros meus amigos depuseram as armas (os teclados dos computadores) e só voltarão amanhã ou, talvez, depois de amanhã para tentar mudar o mundo do interior de cada um de nós, para que se possa mudar o de lá de fora.

Adianta ou não?

Podemos ou não apagar as escritas que os nossos antepassados fizeram sob a forma de sulcos profundos na parede de pedra dos nossos corações, quando ainda não tínhamos provado do fruto do bem e do mal?

Ah, lembrei-me de um verso do poeta Fernando Pessoa ─ “Adiamento”

Vou parar por aqui para ver o espetáculo de luzes de fogos multicores num céu enluarado, que vai me encantar por 15 minutos. E depois?

Depois de amanhã, ou amanhã mesmo, voltarei ao meu campo de batalha.

Tudo logo passará, é apenas um efêmero adiamento, a fim de que eu possa renovar as minhas forças para amanhã ou depois de amanhã, recomeçar.

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UM VÍDEO PARA REFLEXÃO NA PASSAGEM DE ANO



Postado no último entardecer de 2009

Levi B. Santos

29 dezembro 2009

O DEUS “JANUS” VEM AÍ DE NOVO





Estamos a dois dias da entrada de mais um JANEIRO, mês que recebeu esse nome em homenagem ao deus JANUS que na mitologia romana é o Deus dos “Inícios”.
É representado por duas faces em oposição, uma olha para o que começa, e a outra olha para o que é findo ou passado.

A porta que esse deus abre tem simultaneamente dois lados: a entrada é ao mesmo tempo a saída. Na metáfora de Janus o presente e o passado se confundem. O presente que vemos hoje une o passado ao futuro ─ que no carrossel do tempo já foi passado. Em suma, isso quer dizer que o tempo não passa, nós é que passamos por essa porta que é passado e futuro ao mesmo tempo. À cada passagem, o indivíduo vai somando marcas e cicatrizes ao seu ser, sob a forma de desventuras, decepções, sonhos desfeitos, amor que não veio, vitória adiada, projetos inacabados, alegrias efêmeras, etc.

É nessa época que renovamos nossas apostas por um ano com menos dissabores.. Todo ano participamos de olimpíadas nos vários setores de nossa vida: social, religiosa, familiar e política.
No campo da política, por exemplo, muda-se a cobertura, mas o bolo permanece o mesmo, com os mesmos sabores e os mesmos ingredientes dos que foram feitos nos anos que se foram.

Nas olimpíadas de 2009 a Politica se juntou com a religião para disputar a medalha de ouro da principal competição, denominada corrupção. Ganhou de modo quase unânime, a “Oração da Propina” dos políticos evangélicos de Brasília. A cobertura desse bolo foi uma das mais indigestas já vistas ─ servos do senhor altíssimo pedem a bênção de Deus para que Ele oculte das vistas dos inimigos o produto do roubo escandaloso, em que esse mesmo Deus ganharia o dízimo para aplicar na sua obra, em prol das pobres almas perdidas no lamaçal do pecado.

Janus se aproxima, e em lugar da reflexão mitológica sobre esse momento de passagem do ano, o que se ouve nos bastidores dos dois principais candidatos ao posto maior da nação é a soberba maniqueísta que mutila a política, com o “é dando que se recebe”. Três grandes grupos religiosos já estão oferecendo os seus rebanhos a quem ofereça a melhor recompensa.

Saindo da metáfora romana para o ensinamento bíblico do livro de Gênesis, de tanto olhar para trás, na reedição de atos de corrupção, estamos fadados a virar eternas estátuas de sal, como foi o triste caso da mulher de Ló.

Peçamos força e coragem a Deus para poder entrar pelos umbrais de Janus de 2010 com os nossos próprios pés, sem ajuda da seiva adocicada do deus Mamon, sem dinheiros escondidos em cuecas e meias, sem panetones de mentiras para serem doados aos pobres, sem os artifícios vergonhosos dos que legislam em seu próprio benefício e sem as chicanas jurídicas que através de peças intermináveis livram os influentes, patrocinando um patético teatro da impunidade.

Mas o que esperar de um ano eleitoral, meu Deus, senão mais imposturas sem fim num congresso desmoralizado? Em 2010 o Brasil comemora 25 anos de democracia. A soma do que deu errado de lá para cá é vasta. Só em 2009, a lista foi enorme de assaltos aos cofres públicos, indo do deputado do Castelo às verbas indenizatórias, dos atos secretos do senado à farra das passagens aéreas, culminando com a medalha de ouro da corrupção que foi o escândalo de Brasília.

Não meu Deus, tira esse filme de minha cabeça, é que ando tendo visagens, ando sonhando com escândalos e outros processos escusos mais sofisticados que poderão ser usados pela máquina estatal, ando antevendo a gastança estratosférica da campanha presidencial, que só espera o deus Janus entrar, para mostrar a sua cara.

Mas se Deus é brasileiro, que o ano de 2010 seja o ano da transparência. O olho da blogosfera está aí para não deixar passar nada. Não é Danilo, Leonardo, Hermes, Renato Vargens, Gresder, Marcio Alves, João Paulo, Eduardo Medeiros, Edson, Caio, Jasiel Botelho, Tony, Ricardo Gondim, e muitos outros que a minha gasta memória não lembra?


Tenham todos, um anão em 2010. (rsrsrs)

Quero agradecer ao meu grande amigo Eduardo Medeiros do Blog "Sala do Pensamento", por lembrar essa música de Milton Nascimento na voz de Maria Rita, que traduz de forma poética o ensaio por mim postado




Por Levi B. Santos
Gurabira, 29 de dezembro de 2009

25 dezembro 2009

SALDO DO NATAL: Almas e Bolsos Vazios



È nas festas de fim de ano que a sedução consumista que afeta milhões de pessoas, atinge o seu ápice. Trata-se de uma época em que se busca refúgio nas compras. Época em que nos iludimos com a idéia de que comprando, será possível aplacar angústias, ansiedades e dores que têm causas mais profundas. Época em que gostamos de nos divertir e nos enganar por algum tempo.


Passado o acalanto ilusório das festas de Natal, nos frustramos ao constatar que o presente bonito oferecido, não pode compensar lacunas afetivas. Esse irresistível impulso nos faz até ultrapassar os limites da razão, embotando a nossa visão para não enxergarmos o rombo futuro em nosso extrato bancário, ou do cartão de crédito.


O personagem dominado pela ânsia incomum das compras, talvez não saiba que, o que o seduz é unicamente o espírito impulsionador das estratosféricas vendas de um comércio que soube muito bem aproveitar o nascimento do Redentor da humanidade a seu favor. O "amor" embrulhado passou a ser objeto dos interesses comerciais. Durante todo o mês de dezembro, essa palavra é a mais citada e exaustivamente repetida.


Paremos um pouco para tomar conhecimento de um fato que ocorreu com uma senhora e sua filha mais velha, em um shopping de São Paulo:


Uma mulher aparentando seus 45 anos de idade, ofegante e apressada, carregando um montão de sacolas, comentava para a filha adolescente que a acompanhava nas compras: “Agora só falta comprar dois malditos presentes daquela lista que fiz!”. A jovem imediatamente respondeu: “Não mãe, faltam apenas o presente do meu pai e de meu irmão Junior!”.


Obviamente, ali, não existia nada que denunciasse a presença de amor, ainda mais, que os “malditos presentes” eram justamente para as pessoas mais próximas da senhora em questão.


O que realmente existia no coração daquela senhora era a obrigação de comprar para cumprir exigências da tradição de presentear, talvez, estimulada pelo conto dos três reis magos que levaram ouro, incenso e mirra para o menino Jesus.


Mas, por que essa tradição é tão forte, a ponto de vencer a nossa resistência, fazendo-nos tomar decisões baseadas na atitude dos outros, que não são nossas?


Longe de afirmar que o universo das pessoas nessa época é absolutamente sem Deus, pelo contrário, seu Nome é invocado a cada hora, e os ritos por elas executados garantem a sua lembrança.


Entretanto, serei sincero para expor o que fica em mim, após essas festanças Natalinas. Fica em mim, um sentimento estranho como se a Divindade se tivesse ausentado, tornando-se apenas um contorno de uma ausência ─ algo que não está lá, embora devesse estar.


O saldo do Natal parece me mostrar que um Deus se ausentou e deixou almas e bolsos vazios. Assusta-me o Deus desse Natal se tornar tão distante. Contudo, resta-me um mundo em que as pessoas têm de reconciliar-se consigo próprias, para conviver com seus dramas, suas desventuras e também suas raras alegrias.



Ensaio por Levi B. Santos

Guarabira, 25 de dezembro de 2009

20 dezembro 2009

OS EXCLUÍDOS DO NATAL




Que paradoxo! Cristo veio trazer a Paz, e o povo escolheu esse “frenesi” caótico do TER, que se prolonga por todo o mês de dezembro, culminando com o rega-bofe do dia magno da cristandade. As Boas Novas de paz para os homens, nessa época, vem sendo substituída por um espetáculo consumista e hedonista, que por instantes, encantam os olhos e entorpecem os corações.

É nos dias que antecedem a esta festa, que a tranqüilidade vai às favas. As ruas são transformadas em um caldeirão fervente de balbúrdia e correrias sem sentido. As nossas cidades, nessa época, não diferem muito da atual Belém da Judéia, cujas ruas e vielas ficam tomadas por um formigueiro de gente de todas as nacionalidades, que ali vai adorar, mais ao deus “Mamon” que ao Deus Cristão.

A epopéia do casal Maria e José ─ os excluídos da sociedade judaica que não tiveram direito a uma estalagem para abrigar o seu filho Jesus que estava prestes a nascer, hoje, são simbolizados por aqueles que nesse Natal estão longe das mesas repletas de guloseimas e vinhos; são representados por aqueles que estão bem distantes do burburinho da cidade engalanada e repleta de efêmeros atrativos. O drama dos pais de Jesus que não foram acolhidos pela sociedade daquela época, se repete diariamente na pele dos excluídos de nossa sociedade.

O vídeo que segue abaixo aponta para aquilo que muitas vezes nos recusamos a ver. Ele obriga-nos a confrontar nossas próprias mazelas, nossa miséria social e afetiva, nossa hipocrisia em relação aos excluídos e marginalizados. O conteúdo da gravação contradiz a nossa religiosidade e vinculação com o transcendente que, em analogia ao nosso Hino Nacional, “está entorpecida e deitada eternamente em berço esplêndido”. Eles, os excluídos, tão somente nos revelam grandes verdades que o espelho distorcido e deformado de nossas consciências teima em não querer enxergar.

Ao assistir a este vídeo, veio imediatamente a minha mente as palavras de Cristo: “...tive fome e não me destes de comer; tive sede e não me destes de beber; fui desprezado e não me recolhestes; estive nu e não me vestistes; estive enfermo e preso e não me visitastes.”


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Por Levi B. Santos
Guarabira, 20 de dezembro de 2009

14 dezembro 2009

REMINISCÊNCIAS DE UMA NOITE DE DEZEMBRO



...........De quando em vez me surpreendo assoviando uma estrofe de uma cantiga dos meus tempos de estudante ginasial. A melodia dessa canção faz a minha mente viajar para trás suscitando-me uma regressão aos tempos do meu paraíso edênico.

Lá se vai a minha velha embarcação caminhando em sentido contrário à corrente do rio que é a vida, corrente essa que teima em se nutrir mais do olhar para frente, do que o andar para trás. Sinto lá nos recônditos da alma, o rumor das águas do rio de minha vida pueril. Vejo dentro de mim, cenas do turbilhonar dessas águas. Elas estão represadas não sei onde, e de vez em quando, extravasam através das comportas estanques da memória, sob a forma de reminiscências. É especialmente na época do Natal, que as águas do meu passado distante transmitem-me um sentimento de nostalgia de algo prazeroso que vivenciei nos tempos em que o meu “eu” não conhecia a Lei que mais tarde poria dentro do meu ser a inimizade entre o profano e o sagrado.

No convés de minha embarcação, navegando para trás, encontrei o menino de 13 anos de idade, cantando alegremente num grupo orfeônico, em uma festa natalina após as provas do final de ano letivo. Os olhos da alma insistiam em querer ver o que a embarcação já deteriorada pela ação do tempo não permitia enxergar. A velha embarcação construída há sessenta e três anos, demorou demais no trajeto inverso, e eu só pude reter, ou rever a segunda parte daquela canção que tanto marcou os meus Natais pela vida afora. Essa parte da melodia foi a que o barco de memórias conseguiu resgatar, e correspondia a uma dolente sinfonia em tom menor, que eu, por toda a vida de adulto assoviara. Sem a letra, hoje considerada profana, só restou o assovio da metade da bela modinha reverberando nas cordas do meu violão.

O cérebro, esse antiquado computador, deletou a primeira estrofe da canção que cantei jubilosamente com os meus coleguinhas de classe, num salão imenso ornamentado de luzes multicores, e árvores carregadas de nacos de algodão, que mais tarde eu viria saber que eram para imitar a neve que naturalmente decoravam as árvores no natal dos países frios. Que bons tempos aqueles do coral orfeônico de minha saudosa escola. Era sob a batuta do experiente e paciente maestro que a música transformava-me em um corpo coletivo. As notas musicais transportavam-me a outro mundo, e eu me identificava com os outros, meus colegas, meus irmãos, numa efusão prazerosa de felicidade e êxtase. O que mais me interessava não era a letra da canção e sim a beleza extra-subjetiva dos acordes que mergulhava o meu coração na atmosfera harmônica indescritível carregada de uma inefável serenidade.

Essa máquina maravilhosa ─ o computador ligado a rede mundial de informação, como um poderoso cérebro, foi buscar, nos seus antigos e raros arquivos, essa obra musical monumental de autoria do nosso grande compositor Heitor Villa Lobos, intitulada "Canto do Pajé

Através do vídeo abaixo, pude adentrar de novo a Catedral do mundo estrutural e espiritual dos meus verdes anos, quando o maniqueísmo do bem e do mal, do sagrado e do profano não tinha ainda se entranhado em meu ser.

A emoção que como adulto sinto no momento, nada mais é que a REPETIÇÃO de minha primeira experiência no mundo sublime da música, refletida no meu imaginário.



Crônica por Levi B. Santos

Guarabira, 14 de dezembro de 2009



08 dezembro 2009

É POSSÍVEL AMAR O ESTRANHO?






“Amarás o teu próximo como a ti mesmo” ─ este enunciado, que é considerado um dos pilares básicos do Cristianismo, tem sido objeto de muitas interrogações através dos tempos.

O pai da psicanálise, que se debruçou durante toda a sua vida, estudando os meandros da alma humana, achou esquisita essa formulação Neo-Testamentária.

Podemos amar o inimigo? Isso é possível? O amor como algo precioso, se deve gastá-lo com qualquer que não o mereça ─, como àquele que nos é estranho?

Foi o psicanalista Jacques Lacan (1959 e 1960) quem se aprofundou no tema, fazendo uma releitura das obras de Freud (Judeu pelo lado paterno e Cristão pelo lado materno).

Lá onde Sigmund Freud parou, ante o paradoxo do enunciado cristão, Lacan retoma a especulação sobre o amor ao inimigo, afirmando categoricamente: “Amar o seu semelhante é amar a si mesmo; é amar ao outro, mas um outro, que está em mim mesmo, e não somente quando o outro é amável, mas também quando o outro conhece a angústia ou o sofrimento, pois esta angústia já foi ou poderá, talvez ser minha um dia. Amar o inimigo é entender que a maldade que eu pressinto no outro está igualmente em mim e não tem por efeito encorajar a agressividade, mas ao contrário, visa contê-la, limitá-la e fazer barreira. Se o outro é a minha imagem, lhe fazer mal será fazer mal a mim próprio. Destruir o outro seria um atentado contra meu próprio “eu”.

Quando nos lançamos sobre o outro com sadismo, ferocidade e ódio, ele já não é mais nosso semelhante, e sim um objeto a mercê de nosso bel prazer.

Na história que o evangelista Lucas conta do Samaritano, levanta-se uma questão: Por que este samaritano esteve tão tocado de compaixão? Por que ele e não os outros, representantes da Lei, que passaram de modo indiferente junto ao ferido? Talvez, simplesmente, porque neste homem ferido à beira da estrada, o Samaritano pode se enxergar. Ele teve a capacidade de se ver no outro. O sofrimento do outro era o seu sofrimento. Deve ser por este mesmo motivo que quando choramos sobre um doente, derramamos lágrimas sobre a imagem de nós mesmos, representado pelo moribundo.

Por outro lado, quando, com conhecimento de causa acusamos o outro de invejoso, estamos simplesmente corroborando que um dia já experimentamos secretamente a inveja, Ao ver ali a nossa frente o indivíduo com este sentimento a aflorar, reprovamos nele aquilo que já foi ou ainda faz parte de nós.


Se o outro não é percebido como nosso semelhante, se o outro não permite mais essa identificação, então surge a indiferença, que pode culminar lá mais na frente com a produção da agressividade.

Para a ontologia do relacionamento humano não importa, talvez, o que Deus é em sua essência, mas sim o que Deus é naquele que pensa diferente de nós. À medida que nos afastamos do outro que nos é estranho, nos distanciamos do verdadeiro “ser”.

O homem só pode corresponder à relação com Deus da qual ele se tornou participante, se ele na medida de cada dia atualiza ou vê Deus no outro e no mundo.

O pensar midiático dos dias atuais tem nos transformados em “estrangeiros” de nós mesmos. Ficamos exilados em nossas próprias casas. Sentenciados a entender os outros e por ninguém ser entendido. Por vezes, deixando a frivolidade errante que leva nossos pensamentos a lugares comuns, às vezes paramos e nos massificamos com o “isto” ou “aquilo”, provocadores de efêmeros gozos. Mas, logo, logo, somos transportados a um deserto, aonde iremos descobrir um raio de silêncio em meio ao infernal tumulto sem sentido do cotidiano. É neste silêncio que começamos a sentir, e ouvir o inominável “estrangeiro” dentro do nosso Ser, que nada mais é, que o nosso outro incomodado pela estranheza da diferença.



“Ao estrangeiro não afligirás, nem o oprimirás, pois estrangeiro fostes na terra do Egito”. (Êxodo 22: 21)




Ensaio por Levi B. Santos
Guarabira, 08 de dezembro de 2009

05 dezembro 2009

O SAGRADO E O PROFANO JUNTOS





Os dias estão mudados
Que grande decepção
O Profano e o Sagrado
Trocaram de posição
O inferno foi levantado
E o “céu” ficou no chão.


Em cima fica o motel
Para os prazeres carnais
Embaixo ergueram o “céu”
Para expulsar Satanás
Mas em cima Jezabel
Oferece prazer fugaz.


Se sexo não é demônio
Assim falou o Impostor
Sele o nosso matrimônio.
Tu frequenta meu andor,
E eu o teu patrimônio
Transvestido em sedutor.


Esse verso de cordel
É pra igreja Mundial
Que juntou sua Babel
Com o paraíso carnal
Veja agora esse bordel
No Jornal Nacional:







Por Levi B. Santos
Guarabira, 05 de dezembro de 2009

02 dezembro 2009

NO INÍCIO ERA A DÚVIDA...



Era um garoto de apenas oito anos de idade, que não conseguia aprender nada na escola, por ser muito confuso da cabeça.

O professor e reverendo Engle, por diversas vezes, chegou a perder a paciência com esse menino agitado e perguntador, de cabelos eternamente despenteados, que se recusava a decorar as lições, diferente dos demais alunos de sua classe, e ainda por cima ouvia mal.

Naquele ano de 1855, o pastor era o único professor da única sala de aula da cidadezinha de Milan, no estado americano de Ohio, perto da fronteira com o Canadá. “Cabeça oca” ─, foi o terrível diagnóstico dado por seu impaciente mestre, o que, de certa forma, contribuiu para que a criança abandonasse a sua carreira de estudante tão cedo. No entanto, à medida que ela crescia, a inquietude, a vontade de saber e o excesso de curiosidade o dominavam cada vez mais.

Lia a Bíblia com avidez incomum. Ficava por longo tempo extasiado com o Livro da história da criação (Gênesis), principalmente a parte que se referia à criação da luz, quando Deus disse: “Haja luz, e houve luz”. Tinha pavor à escuridão, e à noite, em sua cidadezinha, sentia-se incomodado com a fraca luz dos lampiões de gás, que deixava o seu mundo numa penumbra mais triste e melancólica do que as manhãs nubladas da estação de inverno

Um belo dia, lá estava o rapazote com a velha Bíblia de seu pai a tiracolo, imóvel como uma estátua, mal piscava os olhos que se encontravam fixos em Hebreus 11, 1: “Ora, a fé é a certeza das coisas que se esperam, e a prova das coisas que não se vêem”.

Não sabia ele, que a fé iria brotar do imenso território de dúvidas do seu ser. Não sabia que, da dúvida entre aceitação passiva da pequenez do seu mundo e a não conformação com o estado de sua cidadezinha pobre em iluminação, nasceria algo de extraordinário em benefício de toda humanidade. Diariamente, a dúvida ─ sua insistente e inseparável companheira ─ assomava-lhe a alma deixando-o perplexo e mentalmente carregado de pensamentos paradoxais, como as duas correntes elétricas opostas de Faraday. Nas cordas do seu coração reverberava as vozes da ambivalência, sob a forma de gritos: “Posso, não posso? Devo, não devo? Crio, ou não crio algo para clarear a tristonha penumbra em que minha cidade encontra-se mergulhada em suas longas noites?”

A eterna dúvida consumia o seu juízo, deixando-o insone por muitas noites, Às vezes, nesse constante movimento pendular da mente, ficava perguntando para si mesmo: “Nesse meu intento de querer que a noite vire dia, não estarei eu, contrariando o que Deus fez como imutável?

De tanto pensar em inventar algo que iluminasse o seu mundo noturno, ele uma noite sonhou. Sonhou que a sua pequena cidade tinha se tornado uma metrópole, e que nela não havia noite, pois ao por do sol, várias bolotas incandescentes como que soltas no ar, iluminavam-na de tal maneira, que se permitia encontrar até um alfinete no chão de pedras da rua.

O terceiro versículo da primeira página do livro de Gênesis, junto com o que lera na carta aos Hebreus, dera-lhe ânimo incomum para seguir no seu projeto, naquilo que seria sua mais audaciosa invenção. Agora sim, sentia-se imbuído daquela fé, de que o autor do livro dos Hebreus escrevera. O enlevo, que o fazia sonhar acordado, imprimira-lhe no seu espírito a certeza de que não demoraria muito a realização do seu maior intento, tudo era uma questão de tempo. De experimento em experimento, ele chegaria um dia, a criar algo que pudesse resistir à tensão entre o pólo positivo e o pólo negativo da eletricidade, algo que unisse esses dois condutores aparentemente paradoxais, sem provocar explosões ou destruição.

O dia ansiado e sonhado chegara. Surgiu, quase que por acaso, um resistente filamento de carbono que tinha o poder de segurar e controlar a força dos dois elementos contrários e, finalmente, transmitir o clarão que transformaria suas noites de trevas, em dias iguais aos de sol de verão.

............Antes de batizar com o nome de “Resistência”, o filamento incandescente da lâmpada, o inventor tinha lido e refletido sobre o que estava escrito e grifado em sua Bíblia, lá em Efésios 6, 13: “Portanto tomai toda a armadura de Deus, para que possais “resistir” no dia mau e, havendo feito tudo ficar firmes.”

.............Por um tempo, continuou folheando o Livro Sagrado, até que, num ato repentino, pegou de um lápis e escreveu a palavra “lâmpada”, riscando o termo “lamparina” que estava escrito no livro dos Salmos. “Lamparina para os meus pés é a Tua palavra [...]”, ficou assim, na sua nova versão: “Lâmpada para os meus pés é a Tua palavra [...]”.

.............No intuito de rever ou percorrer com a mente todos os seus passos até a grande descoberta, deixou rabiscado na contra capa de sua gasta Bíblia a seguinte oração: “Do escorregadio e minado campo da dúvida, nasceu a FÉ, que me fez ver o amanhã com os olhos do coração, que por meio das aflições dos experimentos infindáveis, infundiram em mim a paciência para que eu perseverasse pelo tempo que fosse necessário, nas mãos de Deus, como um instrumento Seu na consecução de uma dádiva que seria para toda humanidade”.

P.S.: A invenção da lâmpada por Thomas Edison, entre suas muitas descobertas, completou 130 anos no dia 21 de outubro do corrente ano.



"A todo cientista minucioso deve ser natural algum tipo de sentimento religioso, pois não consegue supor que as dependências extremamente sutis por ele vislumbradas tenham sido pensadas pela primeira vez por ele. No universo incompreensível revela-se uma razão ilimitada. A opinião corrente de que sou ateu baseia-se num grande engano. Quem julga deduzi-la de minhas teorias científicas, mal as compreendeu. Entendeu-me de forma equivocada e presta-me péssimo serviço..."

(Albert Einstein (1879–1955), ganhador do Prêmio Nobel de Física de 1921)



Ensaio por Levi B. Santos

Guarabira, 02 de dezembro de 2009