Sou um leitor contumaz desde os meus tempos de aluno do curso ginasial. A cada mês devoro com avidez um ou dois livros, daqueles que suscitam reflexão e auxiliam-me a repensar conceitos que antes eu tinha como intocáveis.
Tenho sempre comigo a mania de riscar ou grifar tudo que leio e acho relevante, ou de muita significação. Não sei se isso seja produto do um desejo latente em querer deixar para filhos, netos e amigos mais chegados, algo que um dia eu considerei de suma importância. Há quem veja nisso uma vaidade. Se for vaidade o gosto pela escrita ─, bendita vaidade, essa dos antigos escribas que, através de um árduo trabalho, nos legaram em duas línguas irmãs (aramaico e hebraico) os Escritos que hoje estão reunidos no maior e mais lido livro de todos os tempos ─ a Bíblia Sagrada.
Acabei de ler um livro provocador e absorvente: “Por Que Você Não Quer Mais Ir à Igreja” ─ de Wayne Jacobsen e Dave Coleman (Califórnia -EUA). Em várias páginas dessa obra ficcional deixei lá os meus grifos, e, achei por bem registrar aqui os trechos que considerei mais instigantes por tratarem de questões fundamentais inerentes ao cristianismo sem Deus da atualidade. As afirmações contidas nesse formidável livro, eu considero irrefutáveis. Seria demasiada hipocrisia de minha parte, não reconhecer a existência das “verdades incômodas” que já não podem mais ser olvidadas ou escondidas nos escaninhos dos bastidores eclesiásticos. Verdades, que esses autores, com coragem e audácia resolveram trazer à tona, imbuídos do desejo de um dia poder ver o cristianismo depurado das extravagantes formalidades.
Os fatos narrados em forma de ficção pelos dois escritores são similares aos que vivenciei e ainda estou vivenciando no meio cristão. Alguns excertos por mim grifados (atendendo a minha velha mania de riscar o que leio e acho importante) seguem em destaque logo abaixo. Creio que eles serão de grande valia, para os que com espíritos desarmados, queiram refletir sem parcialidade, debruçando-se sobre o tema “igreja”.
*“Nenhum modelo de ‘igreja’ irá produzir a vida de Deus em nós. [...] Foi aí que a religião causou o seu pior estrago. Ela tornou as pessoas dependentes de líderes e assim fez o povo de Deus ser passivo no seu próprio crescimento espiritual”.
▪ “Chamamos de ‘culto’ o cantar juntos, e ‘comunhão’ a freqüência regular à ‘igreja’. Estamos convencidos de viver em comunhão apenas porque comparecemos regularmente aos cultos, mas raramente esse é um movimento que parte do coração. Temos ensinado as pessoas a se comprometerem com nossas cerimônias religiosas e nossos programas, e chamamos isso de ‘igreja’.”
▪ “Tem gente tentando reformar a ‘igreja’ há dois mil anos, e o resultado é quase sempre o mesmo: Um novo sistema surge no lugar do antigo, mas acaba sendo substituído por outro igual a ele. [...] Deus não tem o mesmo entusiasmo em reformar máquinas.”
▪ “Há os que gostam de liderar e há os que desejam desesperadamente ser liderados. Esse sistema tornou o povo de Deus tão passivo, que a maioria nem é capaz de imaginar a vida sem um líder humano com quem possa se identificar”.
▪ “As regras e os rituais podem ser muito escravizantes, pois, nós os adotamos com a intenção de agradar a Deus. Nenhuma prisão é tão forte quanto à obrigação religiosa”.
▪ “Boa parte do que hoje chamamos de ‘igreja’ não passa de uma encenação bem planejada, com pouquíssima ligação efetiva entre os fiéis”.
▪ “Cansei de tentar estabelecer uma comunhão com gente que concebe a igreja apenas como um lugar onde o grupo passa duas horas por semana expiando a culpa, enquanto vive o restante da semana com as mesmas prioridades mundanas".
* "Possivelmente todos nós já experimentamos alguma espécie de dor ao tentar adequar a vida de Deus às instituições. Durante bastante tempo muitos se mantiveram nela na esperança de que, mudando algumas coisas, tudo iria melhorar. Embora possamos ter tido algum êxito em certos momentos de renovação, acabamos descobrindo que a adaptação que toda instituição exige é incompatível com a liberdade de que as pessoas necessitam para crescer em Cristo".
P.S.: Se os fragmentos que postei suscitaram no caro leitor o desejo pela leitura do livro, na íntegra, é só entrar em contato com a Editora Sextante
Levi B. Santos
Guarabira, 28 de agosto de 2009