“deixarei com meu Pai a responsabilidade pela solução de toda essa situação provocada pelos que estão assentados na cadeira de Moisés. Além do mais, vim para trazer a paz e não para usar da força contra os sacerdotes ungidos de Deus que, desavergonhadamente, estavam fazendo do templo um covil de ladrões”.
Ao mesmo tempo, tomado por uma ambivalência, perguntava para si: “Não seria essa minha racionalização de deixar tudo para Deus resolver, um ato de pusilanimidade?”
Via passar por sua cabeça, nesse momento, os escabrosos procedimentos, quando fora levar um animal para ser sacrificado, há mais ou menos um ano. Naquela ocasião, o espetáculo deprimente o deixara bastante indignado.
Ultimamente, o comércio chegara a um ponto extremo, invadindo todos os recantos do Templo. Não só nos átrios como na nave do templo, um formigueiro de ladrões negociava abertamente os dízimos, os impostos anuais do templo, e os animais a serem sacrificados no altar. E Ele, intensamente irado, via o grande volume de dinheiro que era extorquido dos mais pobres, dos que eram obrigados a comparecer anualmente ao recinto sagrado.
Nesse dia, próximo ao lugar denominado “santo dos santos”, Ele mesmo, assistiu a uma luta encarniçada entre a família corrupta de Anás e os sacerdotes saduceus, que com ganância incomum, disputavam o dinheiro da vendas dos animais a serem sacrificados. Não podia crer no que estava vendo: O comércio mais lucrativo da cidade de Jerusalém, estava ali, ocorrendo dentro dos átrios da casa que seu Pai mandou construir para que os fieis pudessem dirigir-se a Ele, em oração e adoração.
Foi depois de uma noite inteira sem dormir, que Ele, após meditar sobre a situação lastimável a que chegou o gerenciamento do templo, decidiu que não esperaria pela resposta do Pai, e agiria com suas próprias forças, respaldado por alguns que não se dobraram ante a corrupção sacerdotal; não ligando muito para o sentimento de ambivalência que por alguns instantes, aflorava em sua mente, fazendo com que temesse, pois já estava em grandes dificuldades diante das autoridades religiosas. Ele sabia que o que iria executar, seria rotulado como uma atitude “anti-ética” pelos que o perseguiam. A violência do ato que iria ser protagonista, certamente, seria usada ardilosamente contra ele. Mas estava decidido: Iria partir para o tudo ou nada.
Imbuído de uma coragem como nunca tinha lhe acontecido antes, partiu para um protesto que ficaria conhecido na história como “A Expulsão dos Vendilhões do Templo”.
O abuso dos que, extorsivamente, vendiam ou negociavam animais para sacrifícios, tinha passado da conta. As pessoas pobres que formavam a grande maioria do povo eram as mais exploradas, e, não raramente, eram obrigadas a deixar todas as suas economias nas mãos dos cambistas. Aproveitavam-se os falsos sacerdotes, do fato de que o povo tinha necessidade de ofertar em holocausto os animais, para fugir da “maldição divina”. As pombas eram vendidas aos pobres, que as ofereciam em seus sacrifícios, e, embora tais aves tivessem pouco valor comercial, o lucro tirado dessa atividade era criminosamente exorbitante.
Jesus, antes se dirigir ao templo para executar o seu maior ato de rebeldia, pareceu ouvir uma voz, que dizia: “Tu vais atacar o poder que tem a capacidade de tirar a tua vida!” ─ o que de fato veio ocorrer uma semana depois.
Se quisesse continuar vivo, poderia ter se mantido em silêncio, ou feito apenas um protesto verbal, como milhares e milhares de pessoas faziam.
Ao olhar para dentro do templo, quis chorar, mas a indignação era tamanha, que pediu um chicote emprestado a um cavaleiro e saiu derrubando mesas aos gritos: “Ladrões! Ladrões, raça de víboras, fizestes da casa de meu Pai um antro, um covil! Para fora vagabundos, já!".
Não tardou a reação dos sacerdotes e fariseus, após os seus representantes, que roubavam em nome de Deus, serem expulsos do Templo.
Os principais sacerdotes e escribas vendo os seus negócios serem afetados, procuravam um modo de tirar a vida de Cristo. Planos formais foram traçados nesse sentido, após o fatídico acontecimento. Diziam eles a uma só voz: “esse homem tem que ser preso e morto, pois só assim não tolherá mais os nossos lucrativos negócios!”.
O plano dos negociadores do templo funcionou de maneira admirável e fácil, porquanto, foram capazes de assassinar Cristo, no breve espaço de uma semana.
P.S.: Diz a mídia, que o deus dos “cambistas dos templos e da TV” é brasileiro, pois, até agora, nenhum deles foi parar nas barras da Justiça para prestar contas do comércio ilícito, mantido sob o rótulo falso de “GANHAR ALMA$ PARA CRI$TO”.
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FONTE: Mateus 21: 12 e 13 ─ O Novo Testamente Interpretado versículo por versículo (Volume 1). Autor: Russel Norman Champlin, Ph. D.
Por Levi B. Santos
Guarabira, 20 de abril de 2009