— Tudo isso te darei – Bradou o anjo com voz tonitruante.
Por Levi B. Santos
Guarabira, 31 de agosto de 2010
— Tudo isso te darei – Bradou o anjo com voz tonitruante.
Por Levi B. Santos
Guarabira, 31 de agosto de 2010
Postagem original: "A Nova Ordem Mundial" - via "Descanso da Alma"
É só na aparência que a criança se separa da mãe. Na realidade, ela só se separa de uma parte de si mesma que ficou dentro da mãe. A criança cresce sem ter essa lembrança, mas ela não sabe que na fase adulta, as separações e reencontros que vivencia em sua existência são rescaldos da presença e ausência materna, fruto do primeiro desamparo, da primeira solidão, quando “desligou-se” das doçuras do seio materno.
Mas, pergunto eu: “Não seriam os balbucios estranhos (a glossolalia), uma experiência DIRETA com o inconsciente? Não poderia por intermédio desse fenômeno, o indivíduo está realizando um retorno daquele antigo “gozo”, em que repetia as fonetizações diante dos pais, quando ficava todo radiante ao pronunciar as primeiras sílabas de forma desajeitada?
Quantas vezes, nós adultos, experimentamos o medo, sem saber de onde ele vem! Quantas coisas, nós adultos dizemos hoje, que nada mais são que reflexos dos tempos maravilhosos de nossa meninice. Às vezes, na ânsia de bloquear os afetos infantis, o que conseguimos é a indiferença ou reações defensivas representadas pela amargura, revolta e ressentimento. Às vezes, na ânsia de não ser criança de novo, reprovamos o outro quando ele se mostra infantilizado, sem saber que ao ridicularizá-lo, estamos rindo de nós mesmos.
.................
................Quando a gente tenta
.....................De toda maneira
......................Dele se guardar
...................SENTIMENTO ilhado
....................Morto, amordaçado
.....................Volta a incomodar.
................(estrofe da canção “Revelação” de Clodô e Clésio – gravada por Fagner)
...............Ensaio por Levi B. Santos
...............Guarabira, 21 de agosto de 2010
Ele adorava se por à frente do espelho. Passava horas e horas, embevecido, fitando a sua imagem naquela lâmina refletora presa na parede do seu quarto, logo acima de sua velha escrivaninha. Interessava-se bastante pela a imagem no espelho, por achar que era só sua e de mais ninguém. Ali, ele passava horas e horas em êxtase, absorto, olhando os mínimos detalhes impressos pelo tempo, no seu rosto.
Certo dia, um vento forte arrancou o seu espelho da parede e o despedaçou no chão do seu quarto, privando-o do gozo do auto-enlevo, que o fazia, não sentir a falta de ninguém. Apavorava-lhe, depois desse incidente, a idéia de que ficaria impedido de apreciar a sua bela fisionomia pelo resto da vida. A falta do espelho trouxe-lhe muito desespero e ansiedade. “Como poderei, agora, ver a minha face? Como poderei saber como estou? Como estão as janelas da minha alma que são os meus olhos?” — perguntava de si para si. Deixara-o mais tranqüilo, a notícia de que um primo viria morar com ele e compartilhar do seu quarto.
“Por que andas tão triste?” —, foi a primeira pergunta que o primo lhe fez. A frase que acabara de ouvir, realmente, coincidira com os sentimentos mais profundos de tristeza que estava a experimentar naquele instante. Esse fato constituiu-se na senha milagrosa, a fim de que ele pudesse substituir o espelho quebrado pela opinião do seu primo, a respeito de si. O espelho que falaria sobre si, passaria a ser o outro. Doravante, seu primo, seria o “espelho” a quem ele recorreria para saber como estava o seu ser. A imagem sua refletida no espelho seria, agora, traduzida pelo que o outro iria relatar, observando as janelas da alma, em suas ondulações sentimentais diárias. Ele, que pensava que sua vida após a quebra do espelho não tinha mais razão de ser, agora, sentia a pulsão de vida fluir, pois ser visto pelo outro, passou a ser o motor de sua existência. As esperanças se reacenderam em seu peito, quando ele disse de si para si: “Se o outro me vê, logo existo”.
Com o tempo, pode perceber que o “primo-espelho” estava lhe oferecendo mais atrativos que o velho espelho quebrado, pois, passara a lhe interessar o engrandecimento de sua própria imagem, ao se servir da linguagem do outro para “gozo” próprio.
Depois, foi que veio compreender que ao fazer do outro seu espelho, estava corroborando que o “seu desejo era o desejo do outro”. Na aceitação da linguagem do outro, como se fosse sua, ele estava compensando o narcisismo perdido com a quebra do espelho original.
Agora, ele já mais amadurecido, anotava tudo que vinha a sua cabeça. E não é que já se enfronhava pelo mundo da filosofia! Entre as suas primeiras anotações, estavam essas: “O meu mundo resulta da minha percepção de mundo, e da percepção de mim no mundo pelo outro, e da percepção que tenho do outro” — “Do espelho estilhaçado na infância dos afetos, nasceu a ALTERIDADE” — “Que bom, o espelho ter se quebrado! Se assim não fosse eu nunca elegeria o outro como espelho de mim”.
Na experiência construída no diálogo entre os dois primos, formou-se um campo comum de reciprocidade, em que as abjeções de um, quase sempre arrancavam do outro, pensamentos que eles não sabiam que já existiam dentro de si de forma latente, antes de viverem juntos sob o mesmo teto.
A última frase anotada em seu caderninho de filosofia foi essa: “Cada um deve emprestar seus pensamentos para ampliar a compreensão do outro”.
P.S.: A quebra do espelho primitivo narcisista fez surgir os relacionamentos mútuos entre dois seres humanos. O fato de cada um ser o espelho do outro, constituiu-se no fator “sine qua non” para o aparecimento da INTERSUBJETIVIDADE. A síntese entre “Eu e TU” funda a intersubjetividade, que diz: “sou nomeado por ti quando falas sobre mim, ao mesmo tempo, que sentes ser nomeado por mim quando eu falo de ti”.
Ensaio por Levi B. Santos, baseado na peça “Entre Quatro Paredes” de Jean-Paul Sartre, e no “Estágio do Espelho” de Jacques Lacan.
Guarabira, 17 de agosto de 2010
Foi no dia 06 de agosto de 2006, que resolvi adentrar no mundo da internet. Substituí o papel por uma tela de computador, e a minha caneta troquei por um teclado. De lá para cá, já se vão quatro anos que vivo engolfando a minha alma nesse recanto cibernético. É de frente a uma telinha luminosa que eu me exercito na arte de escrever como também na arte de ouvir, e, enquanto passam as páginas cinzentas dos dias e as páginas negras da noite, vou interagindo com uma grande rede de amigos virtuais, com os quais me identifiquei, talvez por terem histórias muito parecidas com a minha.
Talvez, quem sabe, esse desejo impulsivo de Ler — Escrever — Ler — Escrever... que me anima, seja um reflexo dos meus treze e quinze anos de idade, quando encolhido sob as tábuas de um banco de minha velha mãe, comercializava roupas e tecidos na Grande feira de Sábado em Alagoa Grande (PB). Era nos intervalos entre as vendas que eu me escondia a fim de matar a fome de leitura.
Lembro-me daquela época como se fosse hoje. E não é que pareço sentir o júbilo incomum que tomava conta de mim, quando esparramado no chão de cimento e pedra lia com avidez incomum, velhos jornais e revistas semanais, como O Cruzeiro e Manchete, que eram usadas como papeis de embrulhos para as roupas comercializadas. Recordo que recortava secretamente, com todo esmero, os artigos de Rachel de Queiroz, de Mário de Moraes e de David Nasser, para guardá-los em casa a sete chaves, no fundo de uma mala, sem saber que naquele solitário e nobre ato, estava inaugurando a minha primeira e rústica biblioteca. Passam na minha mente, agora, as grandes coleções de ensaios e crônicas do cotidiano daquela época, que se perderam, decerto, nas arrumações de casa efetuadas de tempos em tempos. Por achar que todo aquele monte de papeis velhos e encardidos de nada valia, alguém, provavelmente, deve ter jogado fora todo o meu acervo literário dos tempos de minhas primeiras incursões no mundo fantástico das letras.
Hoje, embora sentindo o peso da idade, posso assegurar que não desvaneceu a chama que me queimava o peito nos tempos de outrora. Nesse intercâmbio virtual intermediado pela PALAVRA, tenho feito muitas amizades. São inúmeros os amigos com quem troquei idéias e confidências, a maior parte deles está no quadro de seguidores no topo do blog. Entre os seguidores amigos, destaco Leonardo Gonçalves, Danilo Fernandes e Luis Paulo que foram os primeiros da blogosfera a me incentivarem, republicando com coragem e ousadia diversos ensaios “heréticos” de minha autoria em seus blogs de Apologética.
A todos que nesses quatro anos, interagiram aqui no “Ensaios & Prosas”, especialmente os amigos do peito da "Confraria dos Pensadores Fora da Gaiola"[C.P.F.G.], da qual faço parte, dedico-lhes a minha primeira postagem publicada em 6 de agosto de 2006.
............. CONTOS ESCONDIDOS
..........
.........Ah! Se realmente soubesses...
.......A minha alma empolgada
.......Embebida nos teus contos.
..........Seria aquilo inveja?
.......Versos enfim escondidos
........Por não saírem de mim?
........Se foi inveja escondida,
......Hoje o que agora escrevo
........É fruto de tua escrita
.....Pois ela encontrou guarida
.......Fez ninho, gerou, nasceu
........No coração deste velho
........
........Me deste total apoio
....Ao leres meus pensamentos,
......Que p’ra contê-los teria
.....Que negar a própria fonte,
.Que por ser tua e também minha
.......Quis jorrar esta poesia.
Guarabira, 06 de agosto de 2010
Agora, ouça o editor do blog no seu velho piano alemão, tocando "Feira de mangaio" do saudoso sanfoneiro paraibano Sivuca.