1972 em Saigon após um ataque americano
Michael Dibdin, romancista britânico, falecido em 2007, em seu livro “Lagoa Morta”, trata de forma romanceada a intricada rede das identidades civilizacionais. Zen, o demagogo nacionalista veneziano do romance, diz: “Não é possível haver amigos verdadeiros sem inimigos verdadeiros. A menos que odiemos o que não somos, não podemos amar o que somos. Essas são as verdades antigas que estamos penosamente redescobrindo depois de mais de um século de cantilenas sentimentais. Aqueles que as negam, negam sua família, sua herança, sua cultura, seu direito inato, seus próprios seres! Eles não são perdoados”
O discurso dos direitos humanos faz parte da agenda política das nações do mundo ocidental, porém, basta um simples olhar para se constatar que há poucos motivos para se nutrir esperanças quanto a possibilidade de o homem se mostrar algum dia mais humano com seus semelhantes.
Nós, ocidentais, desejamos uma civilização universal que, trocando em miúdos, não passa de um anseio de poder disseminar os padrões de consumo e da cultura popular onde estamos inseridos.
Recentemente esse mundo ocidental se moveu de “íntima compaixão” pelos sofredores dos regimes ditatoriais dos países árabes. Ventos da democracia do “Tio Sam” varreram as mentes dos jovens do oriente médio fazendo-os sair às ruas para protestar contra seus governantes. É certo que muitos grupos de jovens orientais receberam apoio logístico, (treinamentos e financiamentos) dos EUA, como também notório é, o fato de que passada a euforia, muitos jovens que foram escorraçados das fronteiras de seus países estão hoje numa grande enrascada: “A União Européia está fechando as fronteiras para os emigrantes”.
Os grandes defensores dos direitos humanos que atiçaram os espíritos dos jovens árabes na recente “Primavera Histórica”, estão, de maneira hipócrita, tirando os seus corpos do imenso caldeirão fervente que atearam fogo, ao não receberem em seus próprios países os “heróis” árabes dissidentes, sob a alegação de que não têm emprego para tanta gente.
Segundo um recente relatório do Governo Chinês, “os EUA não só tem um terrível histórico doméstico de direitos humanos como também são a principal fonte de muitos desastres desses direitos em todo o mundo”
Samuel P. Huntington, em seu livro, “O Choque de Civilizações”, afirma: “O problema fundamental nas relações entre o Ocidente e o “Resto do Mundo” é, consequentemente, a disparidade entre os esforços do Ocidente – em especialmente dos EUA – para promover uma cultura ocidental universal, e a sua decrescente capacidade para fazê-lo”.
Na hora de uma crise global, o que conta mesmo para as pessoas é o sangue, a crença, a fé e a família. Nessa hora, elas se congregam com as que têm semelhanças de ascendência. E os outros? Ora, os outros são os outros, não são nosso sangue.
Até quando o mundo ocidental com seu modelo mercantil de lidar com as pessoas vai entender que não se pode querer a igualdade de pensamentos e sentimentos? Até quando o Ocidente vai remar contra a correnteza que diz que a perda da identidade de um povo é uma ameaça a sua sanidade e o desistir da espontaneidade e da individualidade é uma mutilação da vida?
Por Levi B. Santos
Guarabira, 28 de junho de 2011