28 dezembro 2011
Pré-visões Republicanas Para o Brasil em 2012
24 dezembro 2011
NATAL É POESIA
19 dezembro 2011
Uma Canção Nostálgica
Ouçamos:
Guarabira, 19 de dezembro de 2011
09 dezembro 2011
Ali Bem Perto do Rio Jordão
O Rio Jordão, onde os evangelhos contam que Jesus foi batizado, deságua no Mar da Galileia junto a pequenos rios que descem das Colinas de Golan (antes denominadas, Colinas da Síria). As Escrituras narram que foi ali nos arredores do mar da Galileia ou lago de Genesaré, a poucos quilômetros da Síria, que Cristo teria recrutado quatro dos seus doze apóstolos, para uma missão que duraria três anos.
O solo dessa região faz parte do “crescente fértil” ― a antiga Mesopotâmia ―, terra “maldita” e “sagrada” de deuses antagônicos que, desde os tempos de Noé, vem sendo alimentada e encharcada com o sangue dos seus descendentes em conflitos infindáveis.
Ao introjetar em suas mentes um deus que exclui o diferente, três religiões e muitos profetas transformaram a região considerada o berço da civilização, em um verdadeiro inferno. Mas os cruzados, de ontem e de hoje, não entendem que os inimigos aos quais desejam destruir, são apenas “espelhos” que refletem o próprio “lado mal” de sua natureza. Que bom seria se eles pudessem conceber a fé religiosa como um diálogo entre o homem e seus próprios “sentimentos de dependência”. Quão bom seria se, a invés de repelir uma parte inerente de si, o religioso entendesse que o dinamismo da alma, gira, graças aos dois pólos opostos intrínsecos da natureza humana.
Por felicidade, os poucos e frágeis momentos de paz entre os povos desse inóspito e cálido deserto têm funcionado como um “oásis”, como um bálsamo fugaz entre fratricidas, naquilo que nesses 2.000 anos de história, resumiram em uma palavra que nem eles acreditam mais — Armistício.
Ao invés da paz interior entre os nossos afetos opostos, pregada pelo pacificador, cognominado como o Messias ― Jesus Cristo, filho do casal Maria e José ―, o que se vê, é o que Freud denominou de “instinto de morte ou destruição”, uma carnificina provocada pelo fanatismo religioso inconseqüente, em que cada grupo de guerreiros ferrenhos rivais crê que fala e luta por Deus.
O jornalista e sociólogo, Ali Kamel, em seu livro “Sobre o Islã” (Editora Nova Fronteira), disse uma verdade insofismável: “para os extremistas religiosos desse deserto fértil, não há diferença entre matar dezenas, ou morrer para matar milhares”
Desta vez, é a Síria (Capital – Damasco) que está em guerra civil que na semana passada atingiu o seu ápice. O cientista político carioca, Paulo Sérgio Pinheiro, que comandou uma equipe do Conselho de Direitos Humanos da ONU para investigar a situação nessa região, dá conta de que, 4.000 pessoas, dentre elas 307 crianças entre dois e catorze anos foram cruelmente torturadas antes de serem assassinadas. (leia aqui a reportagem)
Paradoxo dos paradoxos: muitos, nessa época, extasiam-se percorrendo os embelezados shoppings decorados com temas natalinos, ficam deslumbrados com o espetáculo das luzes coloridas que piscam, ininterruptamente, nas noites engalanadas de suas cidades, encantados com os Papais Noéis que fazem a alegria da garotada do mundo ocidental, a deslizar em trenós entre artificiais estrelas cintilantes e gigantescas árvores da Natal. Enquanto, ali, bem perto do Jordão (rio considerado sagrado pelos cristãos), o que está a ocorrer não é um solene batismo nas águas, como foi o de Cristo ― personagem principal de uma tão sonhada fraternidade entre judeus e gentios ―, mas um batismo de sangue de inocentes crianças que nem ao menos sabem por que estão morrendo.
Relatam os evangelhos que sobre esse Homem sofredor, pesaram os anseios de um povo por um messias que restauraria Israel do jugo Romano. No mais íntimo do nosso ser, ainda reverberam as palavras desse Homem que, lá do alto de um monte, ao avistar a Jerusalém das classes dominadas, entre lágrimas de impotência, fez ecoar: “Quantas vezes eu quis juntar os teus filhos, como a galinha junta os pintinhos seus debaixo das asas, e tu não quiseste”
Ali, na Síria, bem perto do Rio Jordão, onde o intitulado “Filho do Homem”, de 30 anos de idade, iniciava seu périplo em prol da paz e da fraternidade entre as gentes de um mesmo sangue, neste momento, o governo do tirano e insano Bashar Assad, está a metralhar o seu próprio povo nas ruas e nas praças, num quadro não tão diferente daquele do início da era cristã.
Apesar de ter sucumbindo com requintes de extrema brutalidade aos 33 anos de idade, o Homem de Nazaré deixou um legado de vida, que fendeu a História em dois períodos: “Antes” e “depois” Dele.
De Jesus, se diz que sofreu a oposição do espírito de sua época. Tenho uma leve impressão de que o espírito transvestido de natalino, que no mês de dezembro move o mundo ocidental, é o mesmo que incomodou João Batista e o Homem de Nazaré.
P.S.:
Bateu-me uma imensa vontade, e eu não resisti à tentação de, duas semanas antes da ceia íntima e familiar do próximo dia 24, compartilhar com os amigos, um vídeo de Arnaldo Jabor, que trata de mais uma reedição do insolúvel e violento conflito que agora, tem como palco a Síria, ali, bem perto do rio Jordão, onde o filho do carpinteiro José, foi batizado pelo destemido João Batista ―, profeta que mais tarde foi degolado por não compactuar com o corrupto rei Herodes.
Por Levi B. Santos
Guarabira, 09 de dezembro de 2011
Site da imagem 1: ebdweb.com.br
Site da imagem 2: noticias.uol.com.br
04 dezembro 2011
“Ateísmo 2.0” ― Reaviva o Sentimento “Religa-re”
O filósofo Alain de Botton na escadaria da Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro (foto: Orestes Locatel)
O escritor e filósofo ateu, Alain de Botton, natural de Zurique (Suíça) afirmou, recentemente, que o mundo necessita urgentemente de um “ateísmo 2.0”, que deixe de lado a luta histérica para provar que Deus não existe, a fim de tirar proveito do que as religiões têm a oferecer.No seu best seller, “Religião Para Ateus”, lançado esse ano pela editora Intrínseca, ele propõe um resgate de tudo que a religião reivindicou como domínio exclusivo de sua área que deveria pertencer a toda humanidade.
Para exemplificar o seu intento, afirmou: “o que existe de melhor no Natal gira em torno de temas da comunidade, festividade e renovação que, na sua ótica, antecedem o contexto em que foram colocados ao longo dos séculos pelo cristianismo”.
Em uma recente entrevista à revista VEJA, Alain de Botton, quando perguntado por que achava que os ateus estavam exagerando no intelectualismo e na racionalidade, assim se expressou:
“O ponto de partida das religiões é que somos crianças e que precisamos de orientação. O mundo secular em geral se ofende com isso. Essa postura ofendida pressupõe que todos os adultos são maduros e devem odiar o didatismo, a orientação e a instrução moral. Mas é claro que somos crianças, grandes crianças que precisam de orientação, de guias que nos lembrem como devemos viver, embora o sistema de educação moderna negue isso, ao nos tratar como seres demasiadamente racionais, razoáveis e controlados. Nós somos muito mais desesperados do que o nosso sistema de educação reconhece. Todos estamos à beira do pânico e do terror quase todo o tempo – e a religião reconhece isso”.
No livro “Religião Para Ateus”, ele descarta os dogmas e o sobrenatural, mas faz uso das ferramentas empregadas pela religião para mitigar alguns dos males mais persistentes e negligenciados da vida secular.
Há descrições ousadas, como esta de retirar da missa e dos cultos elementos para imaginar como deveria ser o modelo do seu restaurante comunitário, que cognominou deÁgape:
“Tal restaurante teria uma porta aberta, uma modesta taxa de entrada e um interior projetado para ser atrativo. A distribuição dos assentos romperia os grupos e as etnias em que normalmente nos segregamos; parentes e casais seriam separados e amigos seriam favorecidos em detrimento de familiares. Todos teriam segurança para se aproximar e dirigir a palavra sem medo de rejeição ou censura. Pelo simples fato de ocuparem o mesmo espaço, os convidados estariam — como em uma igreja — sinalizando sua adesão a um espírito de comunidade e amizade. A proximidade exigida por uma refeição — algo que tem a ver com passar as travessas para os outros, pedir o saleiro a um desconhecido — perturba nossa capacidade de nos agarrar à crença de que estranhos que vestem roupas incomuns e falam com sotaques distintos merecem ser atacados ou mandados para casa [...]. [...] Graças ao restaurante Ágape, nosso medo de estranhos diminuiria. O pobre comeria com o rico, o negro com o branco, o ortodoxo com o secular, o bipolar com o equilibrado, trabalhadores com gerentes, cientistas com artistas.” (Religião para Ateus – páginas 37 e 40).
Freud, foi um que pretendeu, talvez de forma inconsciente, purificar a religião de suas impurezas. Ao sustentar o objetivo do desenvolvimento humano amparados nos seguintes ideais: razão, verdade, logos, amor fraternal, estava, na verdade, corroborando com os princípios éticos de todas as grandes religiões, quer orientais, quer ocidentais, baseadas nos ensinamentos de Confúcio, de Buda, dos profetas e deJesus.
Jung, por sua vez, tratou de transpor para a linguagem psicanalítica, a experiência religiosa de submissão a um poder superior, sucedâneo do pai natural, que no caso da religião é simbolizada por Deus, Javé, Buda, etc, naquilo que foi denominado por ele de"arquétipo patriarcal".
Auguste Comte quis fundar uma religião que não se agarrasse às tradições eclesiásticas, descartando alguns dos seus elementos beligerantes, ao mesmo tempo em que se aproveitou dos aspectos mais relevantes e racionais da Eclésia, para utilizá-los em sua excêntrica teoria.
No fundo, no fundo, não vejo outra coisa em Freud, Jung, Comte e no novato Alain de Botton, que a presença do nobre sentimento RE-LIGARE, afeto este, exteriorizado pela preocupação em compreender as experiências interiores do homem religioso e sua necessidade de rituais de limpeza, cuja finalidade é a de reduzir o próprio sentimento de culpa internalizado em seu ser.
Erich Fromm, discípulo de Freud, certa vez, dissertando sobre o sentimento religioso, disse: "Se focalizarmos nossa atenção na compreensão da realidade humana que preside às doutrinas religiosas, verificaremos que a mesma realidade serve de alicerce a diferentes religiões, e que atitudes humanas opostas se ocultam atrás de uma mesma religião. Por exemplo, a realidade emocional que preside aos ensinamentos deBuda, de Isaías, Cristo, Sócrates e Spinosa, é essencialmente a mesma; o anseio pelo amor, a verdade e justiça caracteriza-a" (Psicanálise e Religião - páginas 77 e 78).
Ora, bem sabemos hoje que, o anseio de paz, de fraternidade e de comunhão entre os diferentes, são ressonâncias de um desejo primitivo de RE-LIGAÇÃO ao "Éden idílico"impresso na gênese de nossa formação (real conceito de religião). Esse sentimento indestrutível arquivado indelevelmente na memória tanto do ateu, quanto do não ateu, como um motor, está sempre funcionando no sentido de expandir os anseios e desejos humanos por um mundo melhor e mais justo.