Sócrates
(século V a. C.) já dizia que a chave para a felicidade seria descobrir “o verdadeiro eu”. Passado quase dois
mil anos do surgimento das idéias socráticas, eis que o existencialista Soren
Kierkegaard (1813 ―1855) reporta-se ao repisado tema com a
concepção de que o desespero do homem não deriva da depressão, e sim da alienação do eu.
O
filósofo, rotulado de “existencialista cristão”, afirmava que a negação do “eu”
é avassaladora. Nesse sofrimento avassalador está evidenciado “o
desespero de um homem que quer afastar-se de si mesmo, que não possui a si
mesmo; que não é ele mesmo.”
O “Livro da Psicologia” (As Grandes
Ideias de Todos os Tempos), de colaboradores ingleses, lançado em Londres, Nova
York, Melbourne e Nova Déli, que foi recentemente traduzido e editado no Brasil pela
Editora GloboLivros, traz no capítulo (página 26) sob o título ― “Ser Quem realmente Somos” ―, uma
sucinta e clara abordagem sobre a questão da alienação do sujeito pela ótica de
Kierkegaard, como mostra o diagrama abaixo:
Foi
com a descoberta do Inconsciente, na época de Freud e Jung,
que se pode dissecar a questão do EU com mais propriedade. A formação do “eu
reativo” ou social, que Jung denominou “sombra”, começa na tenra idade. Os pais, movidos por conceitos
racionalistas, começam a moldar a personalidade da criança muito cedo com
conselhos tipo: “Homem que é homem não
chora!”, com regras e etiquetas em
que, geralmente, o menino ou menina são obrigados a dizer que algo é bom e
bonito quando na verdade acham feio e de mau gosto.
E
quanto à religião, a repressão funciona nos mesmos moldes: os pais fazem ver aos
seus filhos que “maus” pensamentos e emoções sinceras com as quais discordam
são desastrosas, incutindo neles um terror moral de enfrentar a sua própria
vida. Resultado disso tudo é que a criança reprime os seus afetos primitivos, ocultando-os
em troca de um desejo de ser OUTRO, passando
a viver segundo um script
pré-fabricado. Então, para que possa sobreviver, a criança adota medidas de
proteção, escondendo seus genuínos sentimentos. No mecanismo de negação, inconscientemente, existe o desejo de
angariar uma boa aprovação dos pais. A primeira conseqüência desse estado
psicológico é a castração de sua espontaneidade. Dessa forma, a criança
constrói uma resistente parede, para esconder seus medos, seus prazeres
naturais e legítimos, iniciando assim o tenso atalho de negar a si mesma,
dizendo que tudo vai bem quando na verdade não é o que acontece. É o caso de se
dizer que a fraqueza da criança em
não poder demonstrar o que ela é, acaba sendo promovida à virtude, pela força coercitiva dos pais.
P.S:
Bebendo da fonte de Freud e Jung ― dois gigantes que se debruçaram de forma incansável sobre os meandros da alma
humana ―, pude, através dos dois últimos parágrafos desse breve ensaio, encetar
um resumo do que foi, em sua essência, a vida da criança, Soren Kierkegaard, de
formação luterana.