21 abril 2013

O DESEJO DE SER OUTRO ― EM KIERKEGAARD




Sócrates (século V a. C.) já dizia que a chave para a felicidade seria descobrir “o verdadeiro eu”. Passado quase dois mil anos do surgimento das idéias socráticas, eis que o existencialista Soren Kierkegaard (1813 ―1855) reporta-se ao repisado tema com a concepção de que o desespero do homem não deriva da depressão, e sim da alienação do eu.

O filósofo, rotulado de “existencialista cristão”, afirmava que a negação do “eu” é avassaladora. Nesse sofrimento avassalador está evidenciado “o desespero de um homem que quer afastar-se de si mesmo, que não possui a si mesmo; que não é ele mesmo.”

O “Livro da Psicologia” (As Grandes Ideias de Todos os Tempos), de colaboradores ingleses, lançado em Londres, Nova York, Melbourne e Nova Déli, que foi recentemente traduzido e editado no Brasil pela Editora GloboLivros, traz no capítulo (página 26) sob o título ― “Ser Quem realmente Somos” ―, uma sucinta e clara abordagem sobre a questão da alienação do sujeito pela ótica de Kierkegaard, como mostra o diagrama abaixo:


Foi com a descoberta do Inconsciente, na época de Freud e Jung, que se pode dissecar a questão do EU com mais propriedade. A formação do “eu reativo” ou social, que Jung denominou “sombra”, começa na tenra idade. Os pais, movidos por conceitos racionalistas, começam a moldar a personalidade da criança muito cedo com conselhos tipo: “Homem que é homem não chora!”, com regras e etiquetas em que, geralmente, o menino ou menina são obrigados a dizer que algo é bom e bonito quando na verdade acham feio e de mau gosto.

E quanto à religião, a repressão funciona nos mesmos moldes: os pais fazem ver aos seus filhos que “maus” pensamentos e emoções sinceras com as quais discordam são desastrosas, incutindo neles um terror moral de enfrentar a sua própria vida. Resultado disso tudo é que a criança reprime os seus afetos primitivos, ocultando-os em troca de um desejo de ser OUTRO, passando a viver segundo um script pré-fabricado. Então, para que possa sobreviver, a criança adota medidas de proteção, escondendo seus genuínos sentimentos. No mecanismo de negação, inconscientemente, existe o desejo de angariar uma boa aprovação dos pais. A primeira conseqüência desse estado psicológico é a castração de sua espontaneidade. Dessa forma, a criança constrói uma resistente parede, para esconder seus medos, seus prazeres naturais e legítimos, iniciando assim o tenso atalho de negar a si mesma, dizendo que tudo vai bem quando na verdade não é o que acontece. É o caso de se dizer que a fraqueza da criança em não poder demonstrar o que ela é, acaba sendo promovida à virtude, pela força coercitiva dos pais.

P.S:
Bebendo da fonte de Freud e Jung ― dois gigantes que se debruçaram de forma incansável sobre os meandros da alma humana ―, pude, através dos dois últimos parágrafos desse breve ensaio, encetar um resumo do que foi, em sua essência, a vida da criança, Soren Kierkegaard, de formação luterana.


 Guarabira, 21 de abril de 2012
Site da Imagem: mantenedordafe.org

3 comentários:

Eduardo Medeiros disse...

Levi, parece que eu estava me vendo outra vez, criança, sendo incluído nesse sistema de negação. Tai uma verdade que qualquer um pode verificar, se fizer uma autoanálise e for sincero consigo mesmo; com seu verdadeiro eu.

Levi B. Santos disse...

EDU

O Soren Kierkegaard, expressou em suas obras, de forma muito bem aprofundada, o drama de ser nomeado pelo Pai para representar um EU que não o dele.

Também vi-me na pele desse grande existencialista, ao ler, bem a vagar, sobre sua dolorida infância.

Eduardo Medeiros disse...

tai uma boa dica, amigo, para minhas futuras leituras: me aprofundar mais nos escritos de Kierkegaard.