Faltava ainda cerca de meia hora para a abertura da
Copa. Esse espaço de tempo durou uma eternidade. Em sua
cabeça fervilhavam as vozes da dúvida: “Faço ou não faço?. Falo ou não falo?”.
Se permitissem, só queria dizer apenas quatro palavras, e ponto. Lembrou-se de Nelson Rodrigues, seu autor predileto que tanto gostava de citar
em suas falas. A célebre frase do Nelson que dizia que “no
Maracanã vaia-se até minuto de silêncio”, aumentava mais a sua ansiedade.
Nesse ínterim, parecia ouvir uma voz a lhe dizer: “Tu
não estás no Maracanã! Estás no
Itaquerão! O Itaquerão é do povão
corintiano. O Itaquerão é do povão grato pelo ‘bolsa família’! Portanto rompe o
script, e fala! Eu porei em tua boca
o que hás de dizer!”.
Mesmo sem ser católica praticante, lembrou-se
instantaneamente do episódio bíblico da “tentação de Cristo pelo Diabo”. E, em
pensamento, retrucou imediatamente: “Pra
trás de mim Satanás!”
Por alguns minutos passou a ver imagens. Viu o
presidente da África do Sul, Jacob Zuma, abrindo a Copa de quatro anos atrás em um discurso tão pequeno que não levou mais que três minutos. Tinha
exatamente em mente, as simples palavras do maior representante daquele país
Africano, que tem em Mandela, seu maior ícone: “Senhoras e senhores, nós, como país,
aceitamos a honra de receber esse grande evento do mundo. A África está feliz.
Essa Copa é da África. Declaro aberta a Copa!”
“Não, não! Não seria ela a primeira representante de
um país a ser impedida de fazer a abertura da Copa. Vou falar. Não vou cair no
conto de soltar pombinhas, no lugar do meu discurso” ― dizia de si para si.
O Blatter, nesta hora, bate no ombro
da presidenta e pergunta o que ela está balbuciando, quando faltavam apenas 15
minutos para o início do grandioso evento.
“Não é de sua conta. Não atrapalhe minhas meditações nesse difícil
momento de abertura da Copa!” ―
respondeu a presidenta, com um ar de quem comeu e não gostou.
“Tem nada não. Já que me cassaram o discurso, no primeiro gol que o Neymar fizer eu vou pedir que as câmaras me focalizem, para que a minha alegria de
torcedora fanática seja transmitida em três D para o mundo todo. Não é possível
que me vaiem, só por que estou comemorando um gol do meu querido Brasil” ― pensou a presidenta
com seus botões.
O endiabrado Neymar faz o gol da virada, quando o Brasil perdia
por 1X0. A torcida comemora em exaustão. A presidenta explode de alegria com os
braços para o alto, e recebe desrespeitosas vaias.
Não se passou meio minuto, depois do gol, lá
estava Blatter, morto de vergonha, a
consolar a sua amiga:
― Minha cara amiga, feche os ouvidos para essa elite
que tem dinheiro de sobra para pagar ingressos caríssimos. Esse povo que está
aqui lotando o estádio não é aquele que vai fazer você ser re-eleita. Os xingamentos não vêm do povão que você está
a ajudar em sua gestão. Essa falta de compostura da elite que diz ser contra a
corrupção em seu governo, está em evidente contradição, pois, ela mesma, não reclamou
do gol roubado, quando da marcação de um pênalty inexistente pelo juiz (mui
amigo) do Japão.
Foi nesse momento que o Todo-Poderoso da Fifa
sussurrou de maneira carinhosa aos ouvidos da presidenta:
“Esse
penalty foi um presente a
maior colônia japonesa do mundo, que reside aqui em São Paulo, minha estimada
amiga. Anime-se!”
E não é que os dois, dessa vez, riram em secreto sem
nenhuma vaia a incomodá-los.
Por Levi
B. Santos
3 comentários:
kkkkkkkkkkkkkkkkk Levi você tem uma mente mui fértil.
Realmente, os ricos gostam dos tucanos. Se eles estivessem lá não teriam recebido xingamentos ou vaias.
Qui pra nós, "tomar no cu", é terrível, porque será que os homos gostam?
Não teria havido esse tipo de hostilidade se, para a abertura da Copa, o estádio estivesse tomado pelas famílias que recebem benefícios do governo, os bolsa escola, os do “bolsa família”, os da "minha casa minha vida", os do “meu carro - minha aventura".
O deus Mamon falou mais alto e foi atendido, quando a presidenta resolveu sair no telão em imagem três D no alto da arquibancada para 2 bilhões de pessoas que em todos os países do mundo estavam naquele momento de olhos na telinha. O padrinho Lula deve ter dito a Dilma o que sempre o humorista José Simão repete diariamente na Folha de São Paulo: Nós sofre, mas nós goza!!” (rsrs)
Mas isso é de quem entra na política rasteira e perversa do nosso país. É bom não esquecer que o messias de que fala os evangelhos, para não se corromper, recusou a proposta de um poderoso político que no episódio da “Tentação do Deserto” lhe soprou aos ouvidos:
“Tudo isso será teu, se tu e os que te seguem votarem mim”.
Se no ano passado Dilma se expôs excessivamente (tanto na abertura da Copa das Confederações quanto na recepção do papa), tenho o palpite de que o PT estudou inserções mais discretas da presidenta. Dessa vez, ela não vai se intimidar com as vaias e xingamentos. Logo, suponho que, mantendo a mesma discrição do dia 12, dina Dilma ainda apareça em outros jogos da seleção antes do encerramento do Mundial.
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