Acredito
que no Brasil nunca se falou tanto em corrupção, quanto vem ocorrendo nesta campanha
presidencial entre Dilma e Aécio. Já não se suporta mais tanta
lavagem de roupa suja sendo exibida pelos candidatos nos meios de comunicação ―
um verdadeiro “vale tudo”, rotulado como “debate
de ideias”, entre dois “vendedores de bondades” postulantes ao cargo máximo
da república.
Não
há como deixar de recorrer ao famoso conselheiro dos príncipes da idade média ―
o italiano Nicolau Maquiavel (1469 ―1527) ―, para se compreender bem a
agressividade e os desaforos trocados entre os dois meliantes.
O filósofo
e historiador americano e ex-consultor do Conselho de Segurança dos EUA, Michael
A. Ledeen, em seu livro ― “Maquiavel
e a Liderança Moderna” ― mostra de forma inteligível o quanto os lideres políticos
contemporâneos, com a sua tendência em perdoar os grandes erros de todo o
mundo, estão se descuidando daquilo que preconizava Nicolau Maquiavel.
O
autor de “O Príncipe” (o preferido
de Napoleão),
em suas lições, falava sobre a importância de punir os grandes malfeitores de
uma forma a mais dramática possível, para que influísse no estado psicológico
do povo. Sobre o efeito da punição, diz Michael A. Leeden (página 156/157)
de seu livro: “Em primeiro lugar, o povo
sente um assombro reverente pela violência do ato, que derruba por terra algum
personagem poderoso. Isso lhes mostra que mesmo os mais poderosos estão sujeito
à justiça da Lei [...]. O segundo elemento psicológico é a ‘satisfação’, o tipo
de catarse por que passa à platéia enquanto assiste uma tragédia clássica. [...]
Nossos expurgos periódicos de políticos corruptos são exatamente o tipo de
coisa que Maquiavel tinha em mente, seja Watergate nos EUA, a
destruição da velha classe política italiana, ou a humilhação de políticos e
gerentes no Japão.”
O
autor de “Maquiavel e a Liderança
Moderna” faz ver que os conselhos
de Maquiavel
não estão desatualizados, foram apenas substituídos por outra forma de pena.
Afirma ele: “Hoje ao invés de tirar a
vida se destrói a reputação e a carreira dos corruptos, mas o efeito sobre o
público é o mesmo, especialmente porque muitos de nossos carrascos modernos são
jornalistas e comentaristas de TV que proporcionam o palco necessário e levam o
drama a uma grande platéia. Não há nada que lembre tão eficazmente ao povo que
seus líderes precisam agir dentro dos limites legais quanto botar na cadeia
alguns homens poderosos que se acreditavam acima da lei ou destruí-los por meio
do escândalo”.
Em
tempos de maquiagem de contas públicas, lavagem da dívida do país para
patrocinar superávits mentirosos, diante de bate-bocas com alto potencial
demagógico e acusações sem limites entre debatedores guiados por marqueteiros
de ocasião, torna-se imperativo registrar uma magistral fala de Tocqueville,
que tem muito a ver com essa trágica palhaçada de atores “mal” treinados, montada
nos sofisticados palcos de nossos principais canais de Televisão para elevar a
audiência e o faturamento das emissoras.
“O
povo nunca penetrará no escuro labirinto das intrigas palacianas e sempre terá
dificuldade em perceber a torpeza que espreita sob os modos elegantes, os
gostos refinados e a linguagem graciosa. Contudo pilhar a bolsa do povo e
vender os favores do Estado são artes que o mais ordinário vilão compreende e
espera praticar por sua vez.”
Por
último, quero aqui ressaltar o emblemático epílogo da obra de Michael
A. Ladeen (página 179):
“As
regras de Maquiavel
se apóiam numa claríssima visão da
natureza humana. Se você acha que as pessoas são essencialmente boas e, quando
deixadas por conta própria, criarão comunidades amorosas e bons governos, você
nada aprendeu com ele”.
Por
Levi B. Santos
Guarabira,
20 de outubro de 2014