Na
Literatura, Política, Psicologia e Sociologia muito já se debateu e
se escreveu sobre “ressentimento”. Foi no livro “Aurora”(página
237), que Nietzsche expôs, de forma simples e sem rodeios, o que vai
no âmago da alma do ressentido:
“Aquele
que é incapaz de realizar certa coisa, acaba por exclamar cheio de
revolta: 'Que o mundo inteiro pereça!'. Este sentimento
odioso é o cúmulo da inveja que gostaria de deduzir: 'uma vez que
não posso ter uma coisa, o mundo inteiro não deve ter nada! O mundo
inteiro deve não ser!”.
Na
atualidade, esse sintoma social, como uma colante vestimenta, anda
tão arraigado em nossas vidas, que já o percebemos como coisa mais
natural do mundo. Mesmo sabendo que o ressentimento nos prejudica,
recusamos sair debaixo de seu guarda-chuva protecional. A doutora e
psicanalista da PUC (São Paulo), Maria Rita kehl, logo na introdução
de seu livro “Ressentimento”
(Editora Casa do Psicólogo) deixou uma pérola de definição sobre
o que seria esse afeto que grassa como uma epidemia nos mais variados
relacionamentos interpessoais.
“Ressentir-se
significa atribuir a um outro a responsabilidade pelo que nos faz
sofrer. Um outro a quem delegamos, em um momento anterior, o poder
de decidir por nós, de modo a poder culpá-lo do que venha a
fracassar. […] O ressentido não luta para recuperar àquilo que
cedeu e sim para que o outro reconheça o mal que lhe fez”.
Em
todos os setores do mundo contemporâneo, o ressentimento se
encontra sutilmente imiscuído na quase totalidade dos conflitos
sociais. Para o ressentido ―
àquele que não duvida de suas certezas sintomáticas —,
o problema está sempre no outro, seu superior na escala hierárquica.
Por
sua vez, Jacques Lacan, ao fazer uma releitura de Freud, percebeu que
o ressentido, no fundo, “não quer esquecer o objeto
perdido”, razão pela qual mantém sua queixa indefinidamente. Ele
faz da lamentação seu maior gozo.
Hegel,
na dialética do Senhor (àquele que conseguiu ser vitorioso
arriscando a própria vida) e do Servo (àquele que abdicou da guerra
para não perder a vida) mostra que o ressentido, é o eternamente
queixoso que, para compensar o que perdeu, vive inconscientemente
adiando sua vingança. A agressividade daquele que se tornou servo
para preservar a vida, retorna sobre a forma de ressentimento, afeto
este expresso na forma de uma acusação moral contra o seu Senhor
(representação daqueles que estão na escala social mais alta).
Discorrendo
sobre o ressentimento
na esfera política da sociedade brasileira, Maria Rita Kehl, no
trecho abaixo, nada mais faz que ressoar o que Nietzsche tão bem
dissecou sobre este ambíguo afeto em sua emblemática obra -
“Genealogia
da Moral”:
“Ora,
a origem do ressentimento reside justamente no apartamento entre os
sujeitos e sua própria potência de agir. Nesses termos, a decepção
com as promessas não-cumpridas não predispõe à ação; ela produz
um exército de queixosos passivos, prontos a (se)realinhar ao que
existe de pior entre os conservadores, como forma de reação amarga
e estéril, carregada de desejos de vingança”.
Por
Levi B. Santos
5 comentários:
Bebendo o seu próprio veneno o ressentido fica estagnado, mas sempre buscando destruir o objeto do seu ressentimento.
Gosto sempre de consultar o meu coração evitando esta doença de caráter.
Muito bom o texto.
Já dizia Camus: "o ressentido deleita-se antecipadamente com uma dor que ele gostaria de ver sentida pelo objeto de seu rancor"
Porventura há alguém que nunca tenha experimentado esse afeto?
Impossível
Impossível
No fundo, o ressentido deseja estar bem com o seu desafeto, mas ainda não sabe como se reconciliar. É imaturo nas suas ações e exige reconhecimentos e desculpas extravagantes. Não sabe esperar e nem consegue lidar com as próprias frustrações.
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