Aprendi desde os tempos das primeiras letras:
“Negar para não sofrer”.
Na volta da escola por meu pai sabatinado:
Brigou com alguém?! — Olhe isso no seu rosto!
— Escorreguei, bati com a cabeça na parede.
Mostre-me o boletim, quero ver suas notas?!
—A professora nesse bimestre não entregou.
Transformei-me em um artista
Na arte de evitar o padecimento pelas cobranças paternas.
Aprendi que a negação sempre adia o sofrimento.
Pra que mentir?!
Meus pais já se foram – sou um adulto
Agora não preciso mais negar o que sinto em oculto.
Eis que num belo dia não pude revelar um DESEJO.
A mesma sensação dos tempos de escola
Reapareceu. Voltou?!
Lá estava entranhada a velha opção
Lá estava o vigia
Que da sala de minha consciência tomava conta.
E para não incorrer no risco doloroso
De ver o meu desejo ser exposto pelo Rigoroso Guarda
Protegi-me com o manto da ansiedade.
Algo em mim me fez agir como o débil aluno de outrora
Fiquei tenso, de rosto avermelhado
Quando Ele perguntou-me:
“Ainda sonhas acordado?”
Neguei para não sofrer de novo...
Enquanto bradava um “Não” bem forte
Em secreto, lá dentro, eu inquiria:
“Por que não me abandonaste, ó Pai?!
Como gostaria de continuar Te negando
Para continuar LIVRE do sofrer!”
Guarabira, 12 de novembro de 2010