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A
canção
“A
Moça
do Sonho”
─
de
Chico
e
Edu Lobo ─,
foi esboçada para o show Cambaio em
2001. Em
uma nova e magistral interpretação - foi incluída no recente
Show
e CD “CARAVANAS” de
Chico Buarque.
Foi
lá no magnífico Teatro Pedra do Reino – João Pessoa (15 de
setembro de 2018 – pouco mais de duas semanas antes do primeiro
turno da eleição para presidente da república), que tive a
oportunidade de ver um Chico de pé (com sinais na face, denunciando
seus setenta e quatro anos de idade). Impassível, só as mãos meio
trêmulas acompanhavam, sob a forma de sentidos gestos, sua voz melancólica.
Teatro lotado. Na plateia nenhum pio se ouvia, e as estrofes da
dolente canção “A Moça do Sonho” extravasavam de sua boca,
agitando e vibrando as cordas dos corações daqueles que estáticos
o ouviam sentados em aconchegantes poltronas.
“Arrisquei
perguntar: Quem és?
Mas
fraquejou a voz
Sem
jeito eu lhe pegava as mãos
Como
quem desatasse um nó
Soprei
seu rosto sem pensar
E
o rosto se desfez em pó.
Por
encanto voltou
Cantando
a meia voz
Súbito
perguntei: Quem és?
Mas
oscilou a luz
Fugia
devagar de mim
E
quando a segurei, gemeu
O
seu vestido se partiu
E
o rosto já não era o seu.” (Primeira
parte de “A Moça do
Sonho”)
O
poeta é o rei das metáforas.
“É
impossível pensar em qualquer sonho sem que uma motivação original
não tenha passado pela mente: quer seja um desejo, anseio ou
impulso. O Sonho simplesmente é produto de uma elaboração
dramática que parte dos fragmentos históricos pré existentes no
subsolo de nosso aparelho psíquico”. (Já
dizia Freud, em “A
interpretação dos Sonhos” – página 86)
E
Chico, o poeta maior da MPB, por fim, como um exímio artista em “A
Moça do Sonho”, exibia seus próprios desejos, seus próprios
sonhos, sua utopia, sua esperança/desesperada, seu anseio em
retornar ao “Jardim do Éden”, seu gozo imaginário por um
venturoso “Milênio de Paz e Justiça” de que trata a religião
cristã no livro do Apocalipse Bíblico.
Como
metáfora para os dias atuais, por que não traduzir a “Moça do
Sonho”, como a Democracia sonhada por muitos, principalmente, em
tempos sombrios de mudança de governo?
Sou
da época de Chico Buarque, e aprendi nos livros de História que a
Democracia (ou sonho democrático) nasceu na Grécia de Péricles e
Aristóteles - 500 Anos a.C.. Mas a coitada, creio eu, foi tão
maltratada que já chegou ao Novo Mundo desdentada.
A
título de realce, não poderia deixar de repetir, aqui, o que
escreveu o pai de Chico (o Historiador Sérgio Buarque de Holanda)
sobre nossa suposta cordialidade democrática ─ no antológico
clássico ─ “Raízes do Brasil”:
“A
democracia no Brasil foi sempre um lamentável mal-entendido. […]
Nossa independência, as conquistas liberais que fizemos durante o
decurso de nossa evolução política vieram quase de surpresa; a
grande massa do povo recebeu-as com displicência ou hostilidade”.
E
por falar em “sonho democrático”, não é que o cartunista,
André Dahmer, da Folha de São Paulo (no Caderno Ilustrada da Folha
de São Paulo de 10 de novembro de 2018) publicou um humorado
quadrinho (Vide Figura no Topo do texto) que, muito bem, poderia ter esse título: “Você Beijaria
a Democracia Banguela?”
Bem,
pelo menos em sonhos (utopia), o poeta maior da MPB deixa implícito
na pungente canção, o desejo (que também é o nosso) de um dia
encontrar essa “Moça”, e não voltar jamais (que fique claro:
com todos os dentes e não banguela)
“Há
de haver algum lugar
Um
confuso casarão
Onde
os sonhos serão reais
E
a Vida não…
Um
lugar deve existir
Uma
espécie de Bazar
Onde
os sonhos extraviados
Vão
parar
Entre
as escadas que fogem dos pés
E
relógios que andam pra trás
Se
eu pudesse encontrar meu amor
Não
voltava jamais”. (final
da letra de “A Moça do Sonho”)