Há
três dias, quando ranços do autoritarismo ameaçavam destruir
nossas instituições democráticas, o membro mais antigo, desde
2007, da Suprema Corte, o respeitado nacional e internacionalmente
decano, Celso de Mello, veio a público para fazer um alerta
mais que necessário, pois estava sendo acusado pelo próprio presidente da república e seus assessores, de ter se excedido na aplicação da lei. Em meio às pressões dos incomodados, o decano do STF, em
alto e bom som, comparou o Brasil atual com a Alemanha Nazista.
Aos
desavisados que nada conhecem da História Mundial e não sabem que
os acontecimentos de cunho autoritário e fascista tendem, vez ou
outra, a se repetir no decorrer do tempo, achei por bem trazer à baila as
Cavernas de Aladim. Elas, sem sombra de dúvida, ainda estão por aí, a esconder maléficos
fantasmas. Para aqueles que estão sempre fazendo releituras do
passado totalitarista na História da Humanidade, creio, não ser
difícil de perceber o “por quê” dos temporariamente
amnésicos ficarem tão surpresos e suspensos com a fala firme do
decano. “É preciso resistir à destruição da ordem
democrática, para evitar o que ocorreu na República de Weimar
quando HITLER, após eleito pelo voto popular e posteriormente
nomeado pelo presidente Paul Von Hindenburg
como Chanceler da Alemanha, não exitou em romper e em nulificar a
progressista democrática e inovadora Constituição de Weimar,
impondo ao país um sistema totalitário de Poder” ─ disse do
alto de sua envergadura, o veemente ministro Celso de Mello.
Em
meio a três calamidades de um desgoverno, na Política, na Saúde e
na Economia, tenho pra mim que, mais do que nunca, é tempo de avivar
a memória. Me disponho a fazer um pequeno retrospecto histórico,
revisitando a maior autoridade em “Totalitarismo e Banalidade do
Mal” ─ a alemã, Hannah Arendt (1906 ─ 1975),
historiadora e jornalista política, que participou em Jerusalém do
longo julgamento do genocida Adolf Eichmann, responsável
direto pelo Holocausto de mais de seis milhões de Judeus que foram
exterminados em câmaras de gás nos campos de concentração. Tanto Eichmann,
quanto o monstro, Hitler, tinham Adolf como primeiro
nome.
No
seu magnífico livro ─ “Eichmann em Jerusalém” (Editora
Companhia das Letras) ─, Hannah Arendt faz uma
desconcertante revelação: “Eichmann havia
sido descrito pelos PSIQUIATRAS como um homem obcecado, com um
perigoso e insaciável impulso de matar, uma personalidade
pervertida e sádica. Nesse caso, seu lugar seria o asilo de
alienados”.
Os
trechos de Hannan Arendt (replicados abaixo), fala da infância
de Eichmann, que por incrível que pareça, corrobora
exatamente com o pensamento de Freud em seus estudos
sobre o desenvolvimento psíquico, quando afirmava que a
personalidade, essencialmente, estaria formada
por volta dos cinco anos de idade.
“A
infelicidade, começou cedo; começou na escola. O pai de Eichmann,
contador da Companhia de Bondes de Solinger, teve 5 filhos, quatro
homens e uma mulher, dos quais, ao que parece, só Adolf, o
mais velho, não conseguiu terminar a escola secundária, nem se
formar na escola vocacional para engenharia na qual foi matriculado
então. Ao longo de toda a sua vida, Eichmann enganou as
pessoas sobre suas primeiras dificuldades.”
Surpreendentemente,
Eichmann falando a respeito de seus pais diante dos juízes
que o julgavam em Jerusalém, se comportou como uma pessoa
ressentida, como bem demonstra o trecho abaixo:
“Eles
não teriam se enchido de alegria com a chegada de seu primogênito
se fossem capazes de ver, que na hora de meu nascimento, para
provocar o gênio da felicidade, o gênio da infelicidade já estava
tecendo os fios de dor e tristeza em minha vida. Porém, um véu
suave e impenetrável impedia meus pais de enxergar o futuro”.
(Eichmann em Jerusalém –
página 39 - Companhia da Letras)
A
reflexão histórica que Hannah,
brilhantemente, levou a termo, naquilo que ela mesma rotulou de “Um
Relato Sobre a Banalidade do Mal”, que
ainda hoje serve como
fonte inesgotável de
consultas procedidas
por
políticos, filósofos,
historiadores, sociólogos, universitários
e psicanalistas, no intuito
de se conhecer
melhor os meandros maléficos
que rondam a psique de um
genocida, como
foi o caso de Adolf
Eichmann.
No
dia 11 de maio de 2020
(três semanas atrás) fez exatamente 60 anos que Eichmann
foi capturado e sequestrado de
um subúrbio de Buenos Aires na Argentina pelo exército Israelense,
para ser julgado pela Corte Máxima de Jerusalém, por CRIMES CONTRA
A HUMANIDADE.
No
último capítulo e começo do epílogo
do livro “Eichmann em
Jerusalém”, obra
de leitura obrigatória
para quem quer se debruçar de
forma profunda sobre o tema
NAZISMO e ORIGENS do
TOTALITARISMO, a
alemã, filha de pais judeus
não praticantes, Hannah
Arendt, com
seu olhar de águia, foi
fundo ao “Coração das Trevas” ameaçadoras das sociedades
democráticas de seu tempo.
Fica
a cargo do leitor ou da leitora aquilatar o
que nesse breve
ensaio postado há de
semelhança com os momentos atordoantes por que passa a nossa frágil
república. Ontem, dia 02, o
país contabilizava
o total de
31.000 mortes, sendo 1.262
só nas
últimas 24 horas, de uma
pandemia que, ao que parece, ainda está longe do pico.
Inacreditavelmente, essa
imensa
mortandade, na
mídia televisiva, é assunto
abordado de forma secundária. A
primazia no noticiário na
TV, pasmem, cabe
as
querelas da baixa politicagem
─ uma espécie
de ópera bufa que castiga nossos ouvidos durante toda a
noite, numa
briga sem fim de egos inflamados nos três poderes, sempre
girando em
torno da figura central de um
governo que, incessantemente, incita e desafia as próprias
instituições que deveria
respeitar. Recentemente,
o nosso
maior mandatário ao ser inquirido
por uma apoiadora sobre os
enlutados no dia em
que o número de mortos bateu
todos os recordes, respondeu
de forma curta e grosseira:
É o Destino de Todo
Mundo!”
Mas
voltemos
a história do carrasco nazista alemão:
No
cadafalso, diante da morte, Adolf
Eichmann,
ainda teve a audácia de proferir umas de suas frases clichês
secas, demonstrando
de forma cabal sua total
insensibilidade:
“Esse é o Destino de
Todos!”. Viva a
Alemanha, viva a Argentina!.
Assim,
escreveu
Hannah Arendt,
no final do último capítulo “Julgamento,
Apelação e Execução”
de seu memorável livro:
“Foi
como se naqueles últimos minutos estivesse resumindo a lição que
esse longo curso de maldade humana nos ensinou ─ a lição da
temível banalidade do mal, que desafia as palavras e os
pensamentos”.
Por falar em Banalidade do Mal, é triste a constatação de que em nossa república das bananas esse MAL, esteja simbolizado pelo descaso do governo federal com o infectado que a cada minuto morre de covid - 19 e pelas FakesNews financiadas com dinheiro público, detonadas aos montes nas redes sociais. Até o "Deus que deveria estar acima de todos" vem sendo vergonhosamente BANALIZADO para FINS PROFANOS.
Por
Levi B. Santos
Guarabira,
03 de junho de 2020