25 janeiro 2021

“A Mercadologia da Fé é Um Subproduto do Cristianismo” (*)


(*) O artigo acima é sub-título de um capítulo do excepcional livro editado pela CPAD ─ “Pentecostalismo e Pós-Modernidade”(página 93) ─ de César Moisés Carvalho ─ pastor, pedagogo, pós-graduado em Teologia pela PUC – Rio.



O autor faz um paralelo entre o emocional e o espiritual no meio pentecostal, evidenciando as polarizações extremistas responsáveis pela banalização do sagrado e desprezo pelo que é racional, cultural e científico. No dizer de César Moisés, “O objetivo da maioria das mensagens é o convencimento do auditório à custa do suicídio da razão e com uma vergonhosa apelação emocional em nome do Espírito Santo. Quem nunca ouviu uma mensagem cujo tom parece querer impor que a experiência do pregador é que deve ser o critério da verdade e não a Escritura?" (página 151).


Ainda na página 151 de seu livro, César Moisés faz referência a uma afirmação de John Scott ─ em sua obra ─ “Cristianismo Equilibrado”: “Eu me sinto constrangido a dizer o que é mais perigoso dos dois extremos é o anti-intelectualismo e depois a entrega ao emocionalismo. Vemos isto em algumas pregações evangelísticas, que não consistem em outra coisa senão um apelo pela decisão com pouquíssima, ou nenhuma pregação do Evangelho e pouca, ou nenhuma argumentação com o povo a respeito, à maneira dos apóstolos”. Chegando ainda a afirmar, sem generalizar, “que a maioria da pregação supostamente 'ungida' ou 'de fogo' que se ouve atualmente é uma mistura de salivação, altíssimos decibéis e autoajuda”.


Detenhamo-nos, agora, nos trechos lúcidos de César Moisés, sobre a “Mercadologia da Fé”, os quais replico, abaixo, com os devidos créditos:


"É uma lástima que em tudo o que os homens colocam a mão transforme-se em algo terrível, manipulador, ruim. Por isso, não temo em afirmar que a Mercadologia da Fé, representada pela multiplicidade de igrejas, é um subproduto do cristianismo. Mas esse fato não diminui em nada a importância do evangelho, a fé em Deus, ou alegria da salvação". (página 93)

"Recentemente disse a um grupo de alunos meus que existem, para tudo, ao menos três formas de ver as coisas: a) a maneira como nós a vemos; b) a forma como alguém as apresenta para nós; e c) a maneira como elas realmente são. Simplificando, é possível entender que a fé não pode ser responsabilizada pelo que fazem em nome dela. As igrejas que são regidas pelas leis consumistas do mercado e exploram as pessoas não podem servir de desculpas para a extinção de todas ou para acusação indevida de que o cristianismo é uma fuga intelectual ou muleta psicológica. O fato de alguns transformarem suas igrejas em verdadeiras “loterias da fé”, onde pessoas são desafiadas e coagidas a apostar suas economias não significa que foi para isso que Jesus morreu".(página 93)

Sobre as Raízes Históricas do Anti-intelectualismo Pentecostal, afirmou, César Moisés:

"O pentecostalismo precisa se libertar da chamada 'interpretação espiritualizada' da Bíblia. Quantas interpretações são justificadas por interpretações descabidas, cujo único critério é o subjetivismo individual e manipulador? Sobre esse assunto cita o teólogo Alexander Carson que afirma categoricamente: 'Homem algum tem o direito de dizer, como alguns costumam fazê-lo: 'o Espírito me diz que tal ou tal é o significado de uma passagem'. 'Como pode estar ele seguro de que  é o Espírito Santo, e não um espírito enganador, a não ser pela evidência de que a interpretação é o sentido legítimo das palavras?. Todos os fundadores de seitas e as maiores heresias que existem se esgueiram na zona cinzenta da 'criatividade interpretativa' do texto bíblico'".(página 157). 

(Capa do livro Pentecostalismo e Pós-Modernidade de César Moisés Carvalho)


Por Levi B. Santos

Guarabira, 24 de janeiro de 2021


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