01 novembro 2011

Reminiscências Musicais

Site da imagem: musica-na-agulha.blogspot.com


Nesse dia dedicado aos mortos, quero relembrar canções que marcaram minha adolescência. Na época dos meus nove ou dez anos de idade ainda não havia a energia da CHESF em minha cidade. Existia apenas um velho motor para iluminação das praças principais. O rádio da marca Pyonner, em cima de uma banqueta da sala de estar de minha casa, funcionava ligado a uma bateria de automóvel. Lembro que, balançado para cá e para lá em uma cadeira de balanço daquelas de assento de palhinha, eu me deleitava ao ouvir, extasiado, as músicas dos monstros sagrados da MPB da década de 1950.

Os saudosos cantores, durante quase todo o dia, desfilavam suas vozes melosas nos programas radiofônicos, denominados “Cartão Sonoro”, ocasião em que os locutores desembrulhavam as cartas que os ouvintes enviavam com as suas canções prediletas a serem rodadas em discos de 78 rotações.

O disco, mais parecia um bolachão pesado que deformava quando submetido ao calor do sol; comportava apenas uma música de cada lado. Recordo de uma estante velha onde meu pai guardava, com carinho, coleções de vinil adquiridos como muito sacrifício em Campina Grande ― cidade pólo da região em que morava.

As capas dos discos, quase sempre, eram bem simples: tipo papel madeira com os emblemas, na maioria, da RCA Victor, Odeon e Phillips. Meu pai gostava de ouvir intérpretes, como: Núbia Lafayette, Ângela Maria, Maysa, Elizeth Cardoso, Nelson Gonçalves, Orlando Dias, Anísio Silva, Luiz Gonzaga, entre outros.

Dentre as inúmeras canções que me marcaram, escolhi duas músicas de dois grandes compositores, na voz de uma grande intérprete da bossa nova (dos meus tempos de estudante secundarista). Eles já se foram, mas permanecem, mais do que nunca, vivos em minha memória: Nelson Cavaquinho (29/10/1911―18/02/1986), Ernesto Nazareth (1863 — 1934), Nara Leão (1942 — 1989)


Aos do meu tempo:

Luz Negra de Nelson Cavaquinho e Odeon de Ernesto Nazareth ― na voz de Nara Leão





Por Levi B. Santos

Guarabira, 01 de Novembro de 2011

11 comentários:

Anônimo disse...

Cresci ouvindo esses interpretes da MPB. Boas lembranças, ouvia estórias infantis e as músicas dos adultos e ficavam pendurada nas janelas dos salões de festas ( matinés )vendo os casais dançando tão juntinhos com os olhos fechados, achava aquilo muito engraçado ! na minha cabeça de criança, eu tinha uns oito anos de idade. Sabia todos os boleros de cor e as letras da Núbia lafayete.Muito bom isso !

Eduardo Medeiros disse...

levi, adoro ler essas tuas postagens culturais e "reminiscencias"...rsss

lembro-me que meu tinha um desses bolachões, só não vou lembrar de que cantor(a) era. cresci ouvindo luiz gonzaga, nelson gonçalves, trio arakitan, agnaldo timóteo da parte de pai e luiz de carvalho, feliciano amaral, otoniel e oziel por parte de mãe...rssss

pena que depois que meu pai "se converteu" ele deixou de ouvir essas grandes cantores pois era pecado ouví-los naquela época. só há pouco tempo, já entrado nos 70, voltou a procurar os cds dos seus cantores antigos favoritos, e conseguiu muita coisa, principalmente do rei do baião.

adoro a voz doce, calma, bonita e afinada da nara.

Unknown disse...

Confesso que sou um apaixonado por essa palavra, Reminiscência, ainda mais acompanhada pela MPB torna melhor ainda.

Belo, belo.

RODRIGO PHANARDZIS ANCORA DA LUZ disse...

Dos meus tempos de criança, recordo que em casa havia aquele aparelho de som que tocava os discos de vinil de cantores como Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Roberto Carlos, Clara Nunes, Maria Betânia e a saudosa Elis Regina. Era o final dos anos 70 e começo dos 80. Felizmente as músicas estrangeiras ainda não tinham se massificado tanto entre a população brasileira. Se bem que meu falecido pai gostava dos Beatles. Aliás, papai era um ateu marxista e que tinha como livro de cabeceira não uma Bíblia, mas sim uma versão estrangeira de O Capital.

Cresci e confesso que não tive uma cultura musical muito profunda na adolescência. Talvez por não ter tido amigos nesta época e passado aqueles anos muito isolado. Por outro lado, minha mente preconceituosa não aceitava o estilo dos roqueiros e não conseguia simpatizar com o Cazuza, uma das vítimas da AIDS.

E, lembrando do meu avô, recordo que ele gostava de Gaúcho da Fronteira, Sérgio Reis, do Luiz Gonzaga, Roberta Miranda e também do boêmio Nelson Gonçalves. E, sendo um militar rigoroso, vovô detestava a vida noturna, de modo que parece meio contraditório ele ter se interessado por Nelson Gonçalves.

Agora observando esta sua última mensagem e conhecendo outras postagens suas, pude observar que o seu pai não parecia ser um religioso muito radical, embora eu suponho que ele devesse ser frequentador de igrejas. Ainda mais naqueles velhos tempos em que crente não podia fazer praticamente nada em termos de vida secular...

Abraços.

Levi B. Santos disse...

Caro Anônimo


O seu comentário evocou em mim as escapulidas noturnas que eu dava de casa, para o único clube recreativo de minha cidade, e lá ficar nas pontas dos pés a “brechar” pela frestas das janelas, os casais dançando ao som dos instrumentos de sopros da Orquestra Tabajara da Capital do meu Estado. Foram momentos de total deslumbramento.

O bolero “Besame Mucho”, se eu não me engano, foi a música que ouvi, ao vivo, pela primeira vez. (rsrs)


Abraços,

Levi B. Santos disse...

Edu


Temos uma herança parecida (rsrs).
Tudo que escrevi aqui, na verdade, foi ”em nome do pai” — como se diz no jargão evangélico (rsrs).

em nome de minha mãe ficaram gravadas em mim, de forma indelével, as emocionantes letras e melodias, interpretadas pelos velhos e conhecidos Feliciano Amaral, Vitorino Silva, Luiz de Carvalho e Ozéias de Paula.

Abçs nostálgicos

Levi B. Santos disse...

Prezado Thiago Azevedo, do blog "Descanso da Alma" (Ihhhh! está até combinando com o dia de finados - rsrs)


As letras e as melodias das antigas MPB têm o condão de nos levar de volta ao paraíso edênico do verdor dos nossos anos.

Nos re-ligamos a esse lugar utópico toda vez que escutamos o que deimortal esses monstros sagrados da música nos legaram.

Abraços,

Levi B. Santos disse...

Rodrigão


Meu pai era tido pela comunidade evangélica, como um herege. Eu me lembro vagamente que ele se reconciliou com a sua igreja umas três vezes, mas não resistia à tentação de aproveitar o que a vida lhe ofericia de belo.

Lembro-me que não houve cerimônia religiosa por ocasião do seu velório. Recordo bem o que diziam sobre ele. É que quando sofreu o acidente de lambretta que o levou a morte no centro de minha cidade, estava cantarolando uma das antigas músicas carnavalescas. Era mês de fevereiro (1962) e estava bem próximo do carnaval ― festa que ele adorava demais. (e eu também – rsrs)

Abraços

Isaias disse...

Grande Levi, bela postagem. Também sou fã do Nelson Cavaquinho e do Ernesto Nazareth. Gosto muito do disco do Nelson de 1972, principalmente das gravações de "A Flor e o Espinho" e "Luto".

Lembrando que Nelson Cavaquinho não é recomendado para depressivos, rsrs.

Abraço.

Levi B. Santos disse...

Caro confrade Isaias


Você citou em seu comentário, "a Flor e o Espinho do velho Nelson, que vivo fosse teria completado 100 anos dia 29 de outubro.

E não é que antes estava com a intenção de postar o vídeo "A Flor e o Espinho" ao invés de "Luz Negra".

Freud talvez explique, o "porquê" de minha rápida mudança.

Pode ser que a expressão "Luz Negra" e o sentimento de finitude que dela transparece, tenha mais a ver com o dia de Finados (rsrs)

Abraços nostálgicos

Levi B. Santos

Donizete disse...

Caro Levi,

Somos privilegiados pelos avanços tecnológicos. De sorte que podemos ouvir aqueles mesmos sons com uma qualidade superior à daquela época.

Eu que fui fanzaço do ABBA, não passo uma semana sem ouvir pelo menos uma música deles. Por isso é algo que mantenho tão vivo na minha memória, que não sei se trata de raminiscências.

Abraços.