Foi em agosto de 2006 que resolvi registrar em um blog, alguns ensaios, prosas, versos e crônicas de minha autoria. Dei inicio postando alguns textos em rascunhos, que tinha juntado ao longo de quatro ou cinco anos. De lá para cá, venho me aventurando no delicado campo da linguagem escrita, redigindo dois ou três textos mensais. Tenho preferência pelo estilo de escrita em forma de crônica. Ela nos confere mais intimidade no jogo das palavras, na retratação dos fatos emblemáticos que inundam o nosso dia-a-dia, neste movimento contínuo e cheio de surpresas, que é a VIDA.
A etimologia confirma o alto valor da crônica. O termo grego que deu origem a palavra crônica foi “chronus” – o Deus do tempo. Na mitologia esse deus devorava os filhos impiedosamente. Na nossa vida o deus “chronus” representado pelo tempo devora com avidez os momentos de alegrias, de prazeres, risos e tristezas, deixando no rasto algumas reminiscências entre fatos sepultados no mar do esquecimento.
As águas do rio que atravessamos em tempos remotos não são mais as de hoje, apesar do leito desse rio ser o mesmo. Ah, quem nos dera esconder e retardar a caminhada inexorável do tempo. Enchemo-nos de vontade, porém é inútil a tentativa de parar o relógio das horas. Ricardo Reis em um de seus poemas escreveu: “Envelhecemos. Não vale a pena fazer um gesto. Não se resiste ao deus atroz que os próprios filhos devora...”.
À medida que escrevemos uma crônica vamos recriando uma imagem daquilo que se experimentou como realidade, acrescentando pitadas de sentimentalismo, humor e sátira, que dão um sabor especial aos acasos revividos e passados para a escrita. E, essa recriação envolve tanto a área do humano, como a área do Divino. Na crônica, registramos coisas efêmeras que logo são esquecidas, como também escrevemos sobre coisas que não envelhecem e ficam sempre jovens. Ângelus Silesius (1624 -1667), místico e poeta, sugeriu que vivemos em dois tempos diferentes. Ele disse: “Nós temos dois olhos. Com um olho vemos o que se move no tempo e desaparece. Com o outro, vemos o que é eterno e permanece”. Os gregos tinham consciência desses dois tempos, por isso, usavam a palavra “chronos” para definir o tempo dos homens, cadenciado pelas batidas do relógio. Usavam por outro lado o termo “kairos” que significava o tempo medido pelas batidas do coração.
Enquanto o deus “chronos” avança paulatinamente no seu percurso, deixando em mim as marcas dos anos, vou anotando sem perda de tempo, o que o coração, através de suas pulsações de vida me leva a digitar nesse cantinho cedido pelo "google". Em dois anos de atividade, este espaço virtual que no americanês denominamos de BLOG, se tornou o local propício para expor minhas reflexões e divagações, assim como local para colher os ecos das críticas e opiniões dos amigos, acerca do que escrevo. E, nesta dialética cibernética vou renovando os meus conceitos, desconstruindo-me e reconstruindo-me na batida cadenciada desse relógio duplo chamado "coração-tempo".
Ensaio por: Levi B.Santos
Guarabira, 06 de Agosto de 2008
Um comentário:
Caro Levi,quem vos fala é o Luiz Alberto, médico colega seu de Guarabira.Pela primeira ves hoje,acessei ao seu blog.Adorei,foi amor a primeira leitura.Já li algumas cronicas e poesias.Todas possuem a sensibilidade e o conhecimento próprio de um escritor nato.Vc nos parabeniza com sua escrita atual,sincera e cotidiana. Continue perseguindo novos temas,para que possamos desfrutar um pouco da sua humilde sapiencia.Parabens,voltarei a fazer novos comentários.
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