17 outubro 2009

O NEUROTIZANTE “PODER” DOS LÍDERES RELIGIOSOS DE MASSAS




A obra do sociólogo Gustave Le Bon ─ “Psicologia das Massas” (1895), que ainda é muito lida hoje em dia e foi traduzida em numerosas línguas, descreve muito bem a noção de multidão e o papel de seus líderes na sociedade moderna.

A instituição eclesiástica é a mais sólida e antiga instituição humana que não sobrevive sem o poderoso desejo dos fiéis por um líder que leve sobre si os seus anseios mais prementes.

Le Bon admite que o desamparo, as incertezas, o desemprego e o estremecimento entre as culturas levam as multidões a reclamar por um mestre que os comandem com firmeza. As multidões querem um chefe que forneça referenciais, que diga claramente quem é amigo e quem é inimigo.

Para os antimodernistas, a salvação da humanidade estaria numa estrutura religiosa autoritária. Acontece que nossas capacidades criadoras e inquietas, nosso poder de invenção nascido com o “Iluminismo” possibilitou a saída para a maioridade do homem. O homem passa a se servir do seu próprio entendimento. Um sujeito novo nasceu com Descartes, em que a dúvida é a condição de uma verdadeira certeza.

Tanto a igreja como o exército são instituições baseadas na fidelidade a hierarquia, na disciplina e na ameaça de exclusão.

O líder religioso de massas “ama” aos seus seguidores ou comandados, e, em resposta, os fiéis “amam-se” como irmãos na fé. A importância do líder está em ocupar esse lugar à frente da multidão de servos que o veem como mestre (a quem entregam o comando de suas vidas). Foi assim, que os Alemães abdicando de suas próprias consciências, entregaram-se de corpo e alma à sanha do seu sanguinário e neurótico líder (Hitler), o qual via no povo Judeu a encarnação do próprio diabo.

Há grupos religiosos que mantém uma estreita dialética com o seu líder, da seguinte forma: cada indivíduo permite o aumento de sua submissão à emoção transmitida pelo pastor; ao mesmo tempo, experimenta a diminuição no controle da razão. E isso se dá por “sugestão”, que é confundida com manifestação do poder Divino. O Pastor ou líder carismático, diante das massas, se comporta como um hipnotizador, e pela sugestionabilidade permite o afrouxamento dos impulsos instituais do grupo. O que se vê então são fenômenos arcaicos aflorando através das mais bizarras reações, fenômenos esses, que estariam reprimidos há muitos anos num grande e oculto porão chamado “Inconsciente”.

O magnético líder religioso revestido de “todo poder” atribuído a Deus, cuida de desenvolver estratégias de sedução e de defesas, impondo ao homem as suas pretensas “verdades eternas”. O fiel como receptáculo da energia exalada de seu chefe espiritual, encontra o seu gozo ao identificar-se com a “alegria” ou sintomas neuróticos do seu comandante.

Os grupos religiosos, na verdade, anseiam pela glória de Deus na pessoa do seu pastor, esquecendo o que disse Lutero: “O Deus “absconditus” não pode ser encontrado, pois Ele se dá somente, de agora em diante, como Deus “revelatus”, isto é, Deus em PALAVRA”. Este Deus não pode ser alcançado diretamente, e, portanto, “possuído” num esforço legalista, místico ou especulativo.

Mas o que finalmente conseguem as massas empolgadas e seus líderes?

Conseguem apenas descarregar a libido reprimida, através de manifestações grotescas, próprias da neurose coletiva, semelhantes em tudo aos distúrbios do pensamento e da conduta, de que trata a medicina psiquiátrica. Infelizmente, toda essa manifestação doentia das massas regida pela batuta do magnético líder é rotulada indevidamente de poder Divino e religioso.




Ensaio por Levi B. Santos
Guarabira, 17 de outubro de 2009

15 comentários:

Leonardo Gonçalves disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Leonardo Gonçalves disse...

Levi,

Muito do que vemos nas manifestações carismáticas são, na verdade, resultado da sugestionalidade dessas pobres almas.

Quanto aos líderes religiosos, devemos ser honestos em dizer que há verdadeiros líderes. Estes são aqueles que abdicando de todo status que lhe possa conferir a função ministerial que exerce, veste-se com a toalha da humildade e lava os pés dos conservos.

"Aquele que quiser ser o maior entre vós, será servo dos demais..."

Devemos guardar nossos corações para que, a causa do colapso religioso hodierno, não venhamos a duvidar da manifestação do Espírito humano agindo na psychê humana, conferindo a paz prometida pelo mestre Jesus.

Não fossem as exceções, o texto seria um retrato fiel do cristianismo.

Levi B. Santos disse...

Caro amigo Leo

Que Interação rápida, hein?

Agradeço o seu comentário. Toda generalização é perigosa, por isso, eu lhe disse no e-mail anterior: "Você sabe muito bem a que grupo religioso o ensaio foi dirigido (rsrsrs)

A fidelidade à hierarquia deve estar fundamentada no amor, para não se tornar doença.

A artificialidade aparece em certos grupos, cujo laço primordial é a obediência irrestrita ao líder carismático.

A ilusão de que existe tal lugar para o líder(divino e superior aos demais), explica por que o indivíduo ingressa em grupos religiosos neurotizantes, mesmo sabendo que pagará um preço muito alto:
o da castração de sua própria liberdade de pensamento.


Um grande abraço,


Levi B. Santos

Esdras Gregório disse...

Levi:

A primeira vez que enviei um e-mail na vida foi há sete meses atrás, internet conheci a partir de janeiro deste ano, os blogs comecei a ler no mês de junho e a dois meses comento assiduamente em uns cinco blog e as vezes em outros, mas principalmente no geniza, gosto do movimento, daquele vuco-vuco todo, da dinâmica que deixa a gente sempre atrasado, e principalmente do leyaute amplo e arejado, que é o que falta no blog do Leonardo pra ficar perfeito.

Bom! Nessas andanças eu criei três afinidades, primeiro o Leonardo, pois já disse pra ele que eu sou ele em uma outra dimensão de um universo paralelo rsrsrs, isso ao ler as respostas dele no blog que seriam idênticas a minha, em vários pontos. Paradoxalmente depois daquela revolta toda, me interessei pelos textos e comento assiduamente no blog do Isaias Medeiros, que por sinal não esta mais revoltado rsrsrs. Gosto dele, me vejo nele se eu fosse um fundamentalista.

E a você que descobri naquela discussão sobre o existencialismo, pois diferente do objetivovismo frígido do Josemar Bessa (caminho que às vezes o Leonardo toma, acho que ele aprendeu isso nos dias que o Feliciano apareceu por lá para apresentar seu currículo rsrsrsr) você me pareceu humano em suas crenças, pois pra mim o que interessa não é o credo correto de um homem, mas suas duvidas e opiniões subjetivas do coração. Tanto é que leio seus textos com imenso prazer desde aquele do: “ser cristão é isso”

Vejo nos seus escritos e comentários, calma e serenidade de espírito (não to dizendo que você é um santo e nunca se encrespa ai com a patroa rsrs) de gente que por ter tanta confiança no fato em si da fé, dele faz irreverente poesia.

Ao ler este texto se assentou em mim mais uma vez afinidade de pensamento (isso não quer dizer que um dia a gente não vai se confrontar, mas com respeito é claro), pois meu livro: “A arte dos sofistas na pregação pentecostal” trata deste assunto (tanto é que a capa dele leva uma foto semelhante a essa ai que você escolheu).

Mande seu endereço que eu te envio um pelo correio, você será o terceiro blogueiro a ganhar. Ate agora minha amizade com você foi pura, mas neste caso eu estou com falsidade rsrsrs, pois quero que você faça com o livro o mesmo que você faz com as matérias das revistas.

Um abraço carinhoso a você e sua família.

Levi B. Santos disse...

Meu jovem amigo Gresder


Em tão pouco tempo já criamos algumas afinidades. Fico feliz em ver um moço de tua idade preocupado com as coisas espirituais, com as coisas do alto, quando a maioria da juventude vive em meio a um hedonismo fútil e desenfreado.
Que Deus te conserve sempre assim.

Noto que Já és bastante adulto no falar. Isso é bom, porque dá a sensação de que interiormente não temos nenhuma diferença de idade, apesar de cronologicamente teres a idade de ser meu filho. Por sinal, tu tens dois anos a menos que o meu filho mais velho.

Tens já dois livros publicados ─ , então já és imortal; entendendo por imortalidade, aquilo que de nós, deixamos escrito para, naturalmente, outros que virão depois, venham conhecer e beber (ou não) da água da fonte que jorrou de nosso peito.

Diz a sabedoria popular, que o indivíduo em sua jornada de vida carrega duas sacolas: uma sacola cheia de virtudes ele carrega na frente sobre o peito; a outra é a sacola de defeitos, que ele carrega às costas. Só quando se anda em fila indiana é que o que vai caminhando na retaguarda vê a sacola de defeitos do que vai a frente.
É na troca de posições que um vê o defeito do outro. Mas o que eu digo defeito aqui, na verdade, simboliza o conjunto de nuances inerentes ao nosso lado “humano”.

É claro, que diferenças entre nós surgirão com o nosso caminhar. E isso é salutar, porque se não existissem as diferenças não haveria o diálogo.

De antemão, sinto-me honrado com o livro que queres me presentear, que por sinal, trata de um tema empolgante que eu ventilei, coincidentemente, em poucas linhas no último texto postado em meu blog.

Será o meu primeiro presente real recebido de um amigo virtual, nesses três anos em que estou militando nesse recanto do Google.

Terei o grande prazer de divulgar o teu livro no "Ensaios & Prosas".

Um grande abraço,



Levi B. Santos


P.S.: O meu endereço para correspondência foi enviado para o teu e-mail.

Guiomar Barba disse...

Parece que estamos incomodados, você com o seu análise profundo e intelectual e o meu, apesar de simples diz um pouco que estamos pensando o mesmo. rsrsrs

Nos nossos dias um número incontável de crentes preguiçosos vive correndo de uma igreja a outra em busca de unção, de profetas, de palavras que respondam aos anseios de sua alma. Esta demanda se dá pelo fato de que essas pessoas não estão dispostas a pagar um preço de oração, jejum, perseguição, solidão, sobretudo de obediência à Palavra para tornarem-se agentes modificadores nas suas congregações, pessoas com quem Deus possa contar. Preferem buscar igrejas já estruturadas, com cultos especiais de oração lotados, onde a manipulação das suas emoções lhes traga prazeres instantâneos, embora passageiros, e a palavra não os confronte, não tenha em si poder suficiente para transformar as suas vidas, indo assim de emoções a emoções, de profetada a profetada. Levam, portanto, uma vida sem frutos dignos, sem o bom perfume de Cristo. São pessoas que não deixam pegadas por onde transitam, porque sempre estão dependendo espiritualmente de outrem, quando Deus determinou ao nosso pai da fé Abraão: “Sê tu uma benção.” (Gêneses 12.2).

Antônio Ayres disse...

Caro Levi:

Um dos comentários anteriores refere-se a você como um homem que tem serenidade de espírito, opinião da qual compartilho plenamente.

Mas, existem mais duas qualidades, entre tantas outras, que, se me permite, sem qualquer intuito de bajulação, gostaria de destacar em sua pessoa.

A primeira delas é a precisão de suas lentes para focalizar com a devida profundidade, temas que são relevantes para a compreensão do verdadeiro cristianismo, que em sua essência, precisa ser apresentado despojado das invencionices de cartilhas eclesiásticas.

O cristianismo de Jesus é simples.

A segunda é a sua coragem em dizer as verdades que enxerga, sem subterfúgios.

Digo isso, pois a falta dessa qualidade foi, durante muito tempo,uma de minhas maiores fraquezas.

Este seu post fez-me refletir a respeito.

Durante cerca de 18 anos fui pastor de uma das maiores denominações pentecostais deste país.

Conheci de perto o lado neurotizante a que você se refere, bem como a habilidade inacreditável de certos "líderes" em utilizar a força hipnótica da sugestionibilidade em prol da autopromoção e da autoglorificação.

Corria "por fora" dentro da denominação, pois percebia, calado, essa confusão de manifestações histéricas como sendo manifestações do poder de Deus.

E ainda sofrendo por dentro por que sabia que as verdadeiras manifestações do poder de Deus existem e estão presentes na Igreja de Cristo.

Preferi exonerar-me de meu cargo ministerial da denominação e desvincular-me das Convenções a que estava ligado.

É, portanto, nesta condição de "pastor desgarrado" (mas ainda servo do Senhor Jesus Cristo)que vejo em você essa coragem de dizer aquilo que, durante muito tempo eu não disse.

Penso, então, que podes imaginar a minha alegria em ver pessoas como você e o Leonardo, esse jovem sábio também corajoso, utilizando a blogosfera para ajudar o rebanho de Cristo a ser trazido de volta aos verdadeiros trilhos, nos quais não deve haver espaço para a autoglorificação e a egolatria humanas.

Receba um abraço fraternal deste seu amigo.

Em Cristo.

adeildes disse...

Prezado Levi. Li alguns comentários seus no blog do Gresder e logo percebi que iria gostar do teu blog.

Seu texto é excelente, tanto no assunto tratado quanto na estilística. Estou tentando um dia quem sabe, escrever tão bem assim.

Sua análise do assunto é perfeita. Disse tudo. O mais engraçado é que os tais "neurotizantes" se acham o supra sumo da vocação pastoral. São arrogantes, nada humildes, enfatuados pelo "sucesso" ministerial; possuem a profundidade de uma poça d'agua em matéria de cultura e conhecimento bíblico, mas dizem a milhares o que fazer, como se conduzir, quanto ofertar, qual sacrifício oferecer. E o pior é que o gado vai atrás sem pestanejar. "Não se pode tocar no ungido de Deus"...quantas vezes já ouviu isto?

Dito isto, concordo com o leonardo que disse que há pastores que não se deixaram hipnotizar pelo fascínio do tal "sucesso ministerial". Eu mesmo conheci alguns. Deixa eu lembrar...uns 2...

Jesus não fundou o cristianismo. Porque tanta gente pensa assim? Quem quiser ser um líder espiritual, que siga o exemplo de Jesus: pouca "teologia" e mais práxis (nada contra a teologia,pelo contrário), e que lave os pés dos seus discípulos.

Estarei sempre por aqui, abraços.

Eduardo Medeiros disse...

oi levi, onde você lê "Adeildes", leia "Eduardo Medeiros". É que eu e a patroa estamos juntos no orkut e o comentário saiu sem eu perceber no nome dela, ok?

abraços

Eduardo Medeiros disse...

Prezado Levi. Li alguns comentários seus no blog do Gresder e logo percebi que iria gostar do teu blog.

Seu texto é excelente, tanto no assunto tratado quanto na estilística. Estou tentando um dia quem sabe, escrever tão bem assim.

Sua análise do assunto é perfeita. Disse tudo. O mais engraçado é que os tais "neurotizantes" se acham o supra sumo da vocação pastoral. São arrogantes, nada humildes, enfatuados pelo "sucesso" ministerial; possuem a profundidade de uma poça d'agua em matéria de cultura e conhecimento bíblico, mas dizem a milhares o que fazer, como se conduzir, quanto ofertar, qual sacrifício oferecer. E o pior é que o gado vai atrás sem pestanejar. "Não se pode tocar no ungido de Deus"...quantas vezes já ouviu isto?

Dito isto, concordo com o leonardo que disse que há pastores que não se deixaram hipnotizar pelo fascínio do tal "sucesso ministerial". Eu mesmo conheci alguns. Deixa eu lembrar...uns 2...

Jesus não fundou o cristianismo. Porque tanta gente pensa assim? Quem quiser ser um líder espiritual, que siga o exemplo de Jesus: pouca "teologia" e mais práxis (nada contra a teologia,pelo contrário), e que lave os pés dos seus discípulos.

Estarei sempre por aqui, abraços.

Levi B. Santos disse...

Prezada irmã Guiomar

Essa sua frase resumiu brilhantemente todo a essência do texto e do meu pensamento:

"[...]Preferem buscar igrejas já estruturadas, com cultos especiais de oração lotados, onde a manipulação das suas emoções lhes tragam prazeres instantâneos, embora passageiros, e a palavra não os confronte,[...]

Agradeço, mais uma vez, a sua valiosa colaboração.


Levi B .Santos

Anônimo disse...

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