20 abril 2010

O 1º Embate da Era Cristã Contra o Mercado da Fé

Há dias, Ele vinha meditando sobre a melhor maneira de por fim ao comércio espúrio nos lugares sagrados. Passara muitas noites de insônia, pensando sobre qual o melhor modo de agir. Às vezes, uma nuvem de dúvida pairava com fortes tonalidades na sua mente. Refletindo, dizia para si mesmo:

“deixarei com meu Pai a responsabilidade pela solução de toda essa situação provocada pelos que estão assentados na cadeira de Moisés. Além do mais, vim para trazer a paz e não para usar da força contra os sacerdotes ungidos de Deus que, desavergonhadamente, estavam fazendo do templo um covil de ladrões”.

Ao mesmo tempo, tomado por uma ambivalência, perguntava para si: “Não seria essa minha racionalização de deixar tudo para Deus resolver, um ato de pusilanimidade?”

Via passar por sua cabeça, nesse momento, os escabrosos procedimentos, quando fora levar um animal para ser sacrificado, há mais ou menos um ano. Naquela ocasião, o espetáculo deprimente o deixara bastante indignado.

Ultimamente, o comércio chegara a um ponto extremo, invadindo todos os recantos do Templo. Não só nos átrios como na nave do templo, um formigueiro de ladrões negociava abertamente os dízimos, os impostos anuais do templo, e os animais a serem sacrificados no altar. E Ele, intensamente irado, via o grande volume de dinheiro que era extorquido dos mais pobres, dos que eram obrigados a comparecer anualmente ao recinto sagrado.

Nesse dia, próximo ao lugar denominado “santo dos santos”, Ele mesmo, assistiu a uma luta encarniçada entre a família corrupta de Anás e os sacerdotes saduceus, que com ganância incomum, disputavam o dinheiro da vendas dos animais a serem sacrificados. Não podia crer no que estava vendo: O comércio mais lucrativo da cidade de Jerusalém, estava ali, ocorrendo dentro dos átrios da casa que seu Pai mandou construir para que os fieis pudessem dirigir-se a Ele, em oração e adoração.

Foi depois de uma noite inteira sem dormir, que Ele, após meditar sobre a situação lastimável a que chegou o gerenciamento do templo, decidiu que não esperaria pela resposta do Pai, e agiria com suas próprias forças, respaldado por alguns que não se dobraram ante a corrupção sacerdotal; não ligando muito para o sentimento de ambivalência que por alguns instantes, aflorava em sua mente, fazendo com que temesse, pois já estava em grandes dificuldades diante das autoridades religiosas. Ele sabia que o que iria executar, seria rotulado como uma atitude “anti-ética” pelos que o perseguiam. A violência do ato que iria ser protagonista, certamente, seria usada ardilosamente contra ele. Mas estava decidido: Iria partir para o tudo ou nada.

Imbuído de uma coragem como nunca tinha lhe acontecido antes, partiu para um protesto que ficaria conhecido na história como “A Expulsão dos Vendilhões do Templo”.

O abuso dos que, extorsivamente, vendiam ou negociavam animais para sacrifícios, tinha passado da conta. As pessoas pobres que formavam a grande maioria do povo eram as mais exploradas, e, não raramente, eram obrigadas a deixar todas as suas economias nas mãos dos cambistas. Aproveitavam-se os falsos sacerdotes, do fato de que o povo tinha necessidade de ofertar em holocausto os animais, para fugir da “maldição divina”. As pombas eram vendidas aos pobres, que as ofereciam em seus sacrifícios, e, embora tais aves tivessem pouco valor comercial, o lucro tirado dessa atividade era criminosamente exorbitante.

Jesus, antes se dirigir ao templo para executar o seu maior ato de rebeldia, pareceu ouvir uma voz, que dizia: “Tu vais atacar o poder que tem a capacidade de tirar a tua vida!” ─ o que de fato veio ocorrer uma semana depois.

Se quisesse continuar vivo, poderia ter se mantido em silêncio, ou feito apenas um protesto verbal, como milhares e milhares de pessoas faziam.

Ao olhar para dentro do templo, quis chorar, mas a indignação era tamanha, que pediu um chicote emprestado a um cavaleiro e saiu derrubando mesas aos gritos: “Ladrões! Ladrões, raça de víboras, fizestes da casa de meu Pai um antro, um covil! Para fora vagabundos, já!".

Não tardou a reação dos sacerdotes e fariseus, após os seus representantes, que roubavam em nome de Deus, serem expulsos do Templo.

Os principais sacerdotes e escribas vendo os seus negócios serem afetados, procuravam um modo de tirar a vida de Cristo. Planos formais foram traçados nesse sentido, após o fatídico acontecimento. Diziam eles a uma só voz: “esse homem tem que ser preso e morto, pois só assim não tolherá mais os nossos lucrativos negócios!”.

O plano dos negociadores do templo funcionou de maneira admirável e fácil, porquanto, foram capazes de assassinar Cristo, no breve espaço de uma semana.




P.S.: Diz a mídia, que o deus dos “cambistas dos templos e da TV” é brasileiro, pois, até agora, nenhum deles foi parar nas barras da Justiça para prestar contas do comércio ilícito, mantido sob o rótulo falso de “GANHAR ALMA$ PARA CRI$TO”.



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FONTE: Mateus 21: 12 e 13 ─ O Novo Testamente Interpretado versículo por versículo (Volume 1). Autor: Russel Norman Champlin, Ph. D.



Por Levi B. Santos
Guarabira, 20 de abril de 2009

20 comentários:

Anônimo disse...

Levi, um texto brilhante, sem dúvida. Às vezes me pergunto se tudo isso que nós chamamos de "Cristianismo" já não acabou e esqueceram de nos avisar...

A mercantilização do/no Templo é ao mesmo tempo literal e figurativa. É "no" Templo quando se refere ao comércio de quinquilharias gospel, tais como CD's, DVD's, estudos e etc. E é "do" Templo quando se trata da venda das modernas indulgências, da compra da salvação e da "prosperidade" por meio de pagamentos nada módicos e continuados.

Lamentável esse (estado?) de coisas.

Abraço.

Unknown disse...

Amigos

Este é meu novo endereço de blog: http://centelhasde1coracao.blogspot.com/

Ainda faltam alguns ajustes

Esdras Gregório disse...

Levi como eu já estou cheio de desgastar a minha mente com a situação religiosa dos evangélicos deste país, eu vou entrar aqui na questão historia de Jesus.

Discordo desta frase: “O plano dos negociadores do templo funcionou de maneira admirável e fácil, porquanto, foram capazes de assassinar Cristo, no breve espaço de uma semana.”

Para mim Jesus era excepcionalmente inteligente o suficiente para não cai em nem um plano, mas antes ele mesmo provocou isso, o plano foi dele, Jesus é o maior suicida religioso que já se viu em toda historia, ele fez isso parra deixar uma marca profunda na historia da humanidade para que todos pudessem ver e refletir sobre suas palavra sobre Deus e declarações sobre si mesmo.

Desculpe sair do tema, mas acho que somos impotentes para poder resolver estes problemas atuais, que Deus tenha misericórdia de nossas almas, para que não se revele em nos o nosso Malafaia interior.

Anônimo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Levi B. Santos disse...

Caro confrade Isaias


O aforisma de número 45 - que trata sobre o criminoso e o que lhe é afim, em seu livro "O crepúsculo dos ídolos"(Nietzsche) traz a seguinte "profecia":


"Aproxima-se o tempo - eu prometo - em que o sacerdote será considerado como o tipo mais baixo, como o nosso chandala, como a espécie de homem mais mentirosa, mais indecente..."

Reproduzi acima, à título de comentário, o emblemático epílogo de uma postagem recente no blog do meu amigo Tony:

http://psicoterapeutacristao.blogspot.com/2010/04/o-cumprimento-da-profecia-de-um-ateu.html


Abraços,

Levi B. Santos

Anônimo disse...

Que texto maravilhosoooo!!

Sobre a questão do comércio espúrio nos lugares sagrados...até mesmo eu, coloco-me a perguntar quando vejo aqueles "camelôs" dentro das igrejas...vendendo livros, chaveiros, adesivos, camisetas....etc e tal..para onde é que vai todo aquele dinheiro, adquirido através das necessidades de fé dos fiéis??!!....

Claro, que podemos ver pelo lado "positivo" de arrecadar "fundos" para a igreja...mas então se é para arrecadar "fundos"...pra onde é que vai o dinheiro do dízimo?!

Sabe, eu acho que o homem age muito pela vontade do homem....e em muitos casos, não buscam a aprovação de Deus...pois como lembramo-nos dos antigos templos, Jesus chegava e descarregava toda a sua ira...isto não era ato de APROVAÇÃO ..

Abraços querido!!

Levi B. Santos disse...

Gresder

Como você bem falou:

"acho que somos impotentes para poder resolver estes problemas atuais..."

O emblemático acontecimento da expulsão dos vendilhões do templo por Cristo, muito provavelmente, foi um agravante para fazer com que as autoridades religiosas o denunciassem como reacionário, revolucionário e ameaçador da órdem pública e dos negócios estatais do Templo.(olhando pelo lado histórico e político)

Não foi só com Cristo, qualquer um que se dispor em tentar ou enfrentar o mercado da fé, sofrerá desilusões e ameaças.

Nada mudou debaixo do sol.
O pessoal do "abafa" do início da era cristã, tem ainda hoje os seus representantes: um dos seus seguidores "sacerdote da manhã dos sábados", está ameaçando arrebentar, processar e prender os que estão se insurgindo contra a exploração comercial "em nome da fé".

Essa mistura de FÉ e DINHEIRO me deixa muito indignado. Nã há nada mais explosivo que esse espúrio acasalamento.

Talvez, meu caro Gresder, um dia isso se torne banal, e eu nem venha a me tocar. Não! Não gostaria de viver esse tempo...

Peço a Deus que nem eu, nem meus filhos e netos venham um dia a achar que toda essa bandidagem em nome de Deus seja coisa perfeitamente normal, seguindo a tônica maquiavélica de "que os fins justificam os meios".

Levi B. Santos disse...

Cara Paulinha


As igrejas e grande parte de suas lideranças, estão fazendo do recinto sagrado um camelódromo de venda de amuletos e objetos afins.

A religião tornou-se, vazia, utilitarista e dogmática, nada podendo acrescentar à vida desprovida de significação.

Foi observando esse tipo de religião que Nietzsche, mui apropriadamente, afirmou: "DEUS ESTÁ MORTO!"


Aqui fica um indignado com esse estado de coisas,

Levi B. Santos

Marcio Alves disse...

LEVI

A igreja tal qual como conhecíamos inescapavelmente venho a falir e já não é mais, talvez a única alternativa ainda viável de sobrevivência é os pequenos grupos chamados respectivamente de koinonia, mas também me pergunto, se mesmo em tais grupos não se levantaria aproveitadores que manipulariam os pobres e necessitados da fé?

Acho que estamos indo rumo a um processo de desreligiosidade da conscientização, onde não mais se precisará de rituais ou templos, mas cada qual será o seu próprio templo interior.

Abraços

Oseias B. Ferreira disse...

Levi,

Essa conversinha da "ganhar almas para Cristo" já enriqueceu um bocado de gente, não é mesmo?

Estamos de olho "neles", Levi.

Abraço

Edson Moura disse...

Bravo Leví meu mestre Bronzeado!

Jesus mexeu num vespeiro ao afrontar os mercadores e cambistas que extorquiam os quase 1 milhão de fiéis cadastrados no templo.

Uma dúvida me aflige:

Há 4 ou 5 anos eu fiz um estudo detalhado sobre este incidente no templo...e percebi que a morte de Jesus se deu aproximadamente 36 horas após o acontecimento. Será que minhas fontes eram erradas?

De qualquer forma eu acredito que o verdadeiro motivo pelo qual Jesus fora sumariamente assassinado, não é outro senão sua atitude frente à tamanha ladroagem.

Parabéns Levi, seus textos podem contribuir muito para que os mais leigos ou menos assíduos nos estudos sócio-políticos da história, possam ver por outro prisma os reais motivos que levaram os sacerdotes do templo a convocar uma assembléia as pressas para na "calada da noite" maquinar a morte do mestre.

Abraços meu amigo!

Ps. "A pascoa de sangue" é um livro que vale muito à pena ser lido...se não me falha a memória a editora é MERCÚRIO...mas o autor eu já não lembro.

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...

Mestre Levi;

Parabens por sua abordagem, me desculpe o atraso,...ando meio atribulado com questões pessoais e espirituais, e como se não bastasse estou reformulando meu blog.

Diante do exposto; Hoje eu me pergunto, quem terá a coragem de se manifestar, como fez Jesus contra este mercantilismo cristão? Ainda que já o fazemos protestando em nossos blogs...Infelizmente o povo está entorpecido com toda está droga.

Forte abraço.

Eduardo Medeiros disse...

Levi, tô chegando atrasado rsssss

Olha, ler as suas releituras são um prazer para o espírito e para a mente. Com teu maravilhoso texto você nos chama à reflexão para o fato de que a coisa começou a bastante tempo...

Deixa eu repetir a frase que marcou a minha leitura:

“Não seria essa minha racionalização de deixar tudo para Deus resolver, um ato de pusilanimidade?”

Seria? Seria? "O que será que será..."

guiomar barba disse...

P.S.: Diz a mídia, que o deus dos “cambistas dos templos e da TV” é brasileiro, pois, até agora, nenhum deles foi parar nas barras da Justiça para prestar contas do comércio ilícito, mantido sob o rótulo falso de “GANHAR ALMA$ PARA CRI$TO”.

Ou seria que falta em nós amor suficiente pelo rebanho, que nos impulsione a virar as mesas e desmascarar esta corja maldita?

O tony Ayres é mais uma voz que estamos fazendo ecoar junto a sua...

Não quero me acomodar, estou usando meu tempo disponível para propagar estas mensagens de repúdio contra estes mercenários da fé. Já coloquei uma mensagem sua no noso blog.
Abraço.

Anônimo disse...

Grande Levi,

No sábado passado, mudando de canal, dou de cara com o Malavéia.

Achei interessante ele repetir por três vezes:
"Eu convido vocês para o culto, blábláblá, na Igreja Assembléia de Deus blábláblá com ENTRADA FRANCA".

Caramba, só falta ele mandar colocar roleta e cobrar "passagem" aos bestas (digo fiéis).

Abraços,

Evaldo Wolkers.

Levi B. Santos disse...

Prezado Edson


Apesar dos evangelhos ser em sua essência uma narrativa mítica, com um pouquinho de esforço, podemos pescar alguma coisa do contexto político e histórico daquela época, e perceber que este fato ocorrido pesou muito no desfecho da prisão e morte de Cristo,fruto de uma trama corrupta realizada nas caladas da noite.

Ainda hoje, cada um que quiser se levantar contra o "status quo religioso", provavelmente será réu das mesmas manobras politiqueiras, de que foi vítima aquele que se revoltou, pública e abertamente, contra as safadezas dos sacerdotes hipócritas do seu tempo.

Levi B. Santos disse...

Prezada Guiomar


Enquanto houver fôlego em nosso peito não poderemos calar diante das aberrações pregadas pelos semeadores do evangelho da prosperidade financeira.

Eles vão ter que nos aturar!

Abraço fraterno,


Levi B. Santos

Levi B. Santos disse...

Meu caro amigo Evaldo


A entrada no circo gospel é FRANCA. O PAGAMENTO é feito na saída. (kkkkkkkk)

Os representantes do Mamon pentecostal no Brasil não dão murros em ponta de faca. (rsrsrs)

Unknown disse...

AMIGOS CONFRATERNOS;

INFORMO QUE POR NECESSIDADE FINANCEIRA, TEREI QUE ME DESFAZER DO MEU COMPUTADOR, POR ESTE MOTIVO ME AUSENTAREI POR ALGUM TEMPO DESTA E DAS SALAS DOS NOSSOS CONFRATERNOS; ESPERO QUE COMPREENDAM ESTE MEU MOMENTO.

ESPERO MUITO EM BREVE VOLTAR COM FORÇA TOTAL E COM NOVAS POESIAS.

CONTINUAREI ME DEDICANDO A POESIA, JÁ RESERVEI UM CADERNO, ONDE ESTOU ESCREVENDO MAIS POESIAS.

FORTE ABRAÇO A TODOS.